terça-feira, 27 de outubro de 2015

Sequelados digitais


A medicina já começa a se preocupar com a nova doença do século XXI - os sequelados da era digital.
Tudo muito relacionado à imensa solidão que dimensiona o número de amigos pela maior ou menor quantidade de pessoas conectadas virtualmente.
São pessoas que, para se sentirem permanentemente conectadas, começam a usar de dois a três celulares. Quando, por alguma razão, a conexão não pode ser estabelecida, passam a desenvolver sintomas de abstinência, tais com sudorese e taquicardia.
Isso já tem sido observado com relativa frequência nos ambulatórios clínicos.
A tecnologia moderna, apesar de sua absoluta relevância, tem desencadeado inúmeros casos de dependência, exatamente como as drogas ilegais, já que a linha entre o usuário digital compulsivo e o viciado em drogas é muito tênue.
Crescem também os problemas ortopédicos, em função das quedas daqueles que não abandonam a verificação de suas mensagens nem durante a deambulação. 
Dia desses, numa de minhas viagens ao Rio, durante a encenação de uma excelente peça teatral, cujo conteúdo demandava uma grande atenção da plateia, um senhor ao meu lado conferia neuroticamente as mensagens recebidas, numa total demonstração de compulsividade.
Fiquei a pensar sobre a gravidade desse fato que se repete em todos os ambientes.
Isso para os jovens é devastador, já que as nossas mais profundas experiências e emoções estão ligadas ao tato, ao olfato, à audição e à visão.
São os nossos bilhões de neurônios sensoriais privados de suas verdadeiras funções em virtude de uma enorme perda de tempo em busca de emoções virtuais, na maioria das vezes frustrantes.
Estamos todos nos tornando cegos em relação às nossas próprias percepções e, portanto, mais suscetíveis a uma visão de mundo vendida pela obnubilação da coletividade.

Gabriel Novis Neves
08-10-2015

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