quinta-feira, 22 de outubro de 2015

INTOXICAÇÃO SOCIAL


Sinto que ando meio intoxicado com toda essa encenação social que somos obrigados a fazer durante a vida a fim de que sejamos aceitos como seres normais.
Ela acaba se estendendo para todos os níveis, seja o econômico, o político, o das amizades - nem sempre tão amigas.
Vamos tornando-nos verdadeiros autômatos na arte da convivência, na maioria das vezes frios, cínicos e hipócritas.
Qualquer um de nós tem a percepção exata desse tipo de pessoa que nos cerca nos mais diversos ambientes.
A coisa vai se tornando generalizada até que, num determinado momento, não mais sabemos quem somos nem o que verdadeiramente pensamos.
Daí para a baixa autoestima e a sensação de falta de identidade, é apenas um passo.
Mas, como tudo que não é verdadeiro acaba tendo o seu ponto de saturação, surge o desequilíbrio entre o psíquico e o somático.
Finalmente aprendemos que o nosso corpo dá gritos de alerta antes de adoecer. É a chamada fase funcional da doença
Fazendo parte de todo esse aprendizado mentiroso, a nossa cultura costuma desprezar esses sinais, uma vez que nossos questionamentos comportamentais e dos circunstantes, nunca devem ser levados em conta na fabricação de doenças.
Felizmente, esses conceitos estão sendo revistos, mas ainda me lembro de que na época de estudante a medicina psicossomática era totalmente rechaçada.
No fundo, adoecemos para impedir a nossa loucura, loucura no sentido da dificuldade de vivenciar as nossas ambivalências.
Isso é o que nos diferencia dos bichos que, além de não modificarem a natureza, quando livres, nascem, vivem e morrem.
Quando domesticados, atrelados às nossas leis e distorções sociais, também se tornam, tal como nós, diabéticos, neuróticos, obesos, artríticos, cancerosos.
Imagino que apenas na velhice, quando perdemos a nossa grande utilidade como máquina de gerar lucros, consigamos ter esse insight de quantos anos se perderam durante todo esse teatro de vida e, o que é mais grave, de quantas doenças poderíamos ter nos livrado se não tivéssemos sido obrigados a engolir tantos sapos.
Sim, porque, num determinado momento, eles serão expelidos através da somatização por algum de nossos órgãos de choque.
Quem trabalha em gastroenterologia sabe bem do que estou falando ao tratar de gastrites, colites, úlceras gastrointestinais e, até, de patologias bem mais graves.
Ando preferindo pertencer ao grupo dos chamados egoístas, que apenas dizem e fazem o que querem, mantendo profundo desprezo   pelas condutas condizentes com os códigos sociais preestabelecidos.
Estes, pelo menos, são pessoas bem mais saudáveis, e que pouco ou nada se agridem.

Gabriel Novis Neves
18-10-2015

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