segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Erotismo e pornografia


A rica e próspera indústria pornográfica não raro vende os seus produtos como eróticos, o que nem sempre é verdade.
O erotismo está sempre envolto por muita criatividade e delicadeza, enquanto que a pornografia é grosseira e, com frequência, agressiva.
A percepção desse pequeno limiar entre uma e outra é o que distingue as pessoas mais ou menos requintadas na sua sensibilidade.
Plagiando Arnaldo Jabor com as suas considerações entre sexo e amor: A pornografia seria a prosa e o erotismo a poesia.
“A Casa dos Budas Ditosos” é um livro do falecido escritor João Ubaldo Ribeiro. Foi publicado em 1999 e faz parte da série “Plenos Pecados”. Tem a luxúria como o pecado-tema.
Foi adaptado para o teatro em forma de monólogo - a primeira vez em 2004 e depois em 2015. Encenado pela atriz Fernanda Torres em ambas as apresentações.
O primeiro espetáculo causou muito mais impacto que o segundo, como era de se esperar.
São relatos de uma sessentona que resolve contar suas experiências sexuais vividas durante a revolução sexual dos anos sessenta.
Era muito difícil, após gerações e gerações de repressão, enfrentar aquela nova mulher que tudo queria e que tudo podia.
Na época, a obra foi considerada pornográfica e, após todos esses anos, tornou-se interessante apenas pelo trabalho da atriz, considerado excelente.
Os tempos mudaram, mas, ao que pude constatar através da reação da plateia, é que a repressão continua muito forte.
Risos histéricos e desconfortáveis diante da sexualidade do momento, aberta para todas as suas formas, não me pareceram condizentes com uma sociedade em que as mídias incentivam até o poliamor como forma melhor de relacionamento.
Pessoas que viveram o deslumbramento da ausência da repressão sexual, excessiva até então, experimentaram a total quebra de todos os limites, apelando, inclusive, para o   uso de todos os tipos de drogas do momento.
Muitos não conseguiram reverter esse quadro e se perderam na procura do êxtase perene.
Enfim, a cabeça das pessoas continua reprimida quando o assunto é sexo, ainda sem conseguir distinguir bem o sexo exuberante, praticado sem culpa, da pornografia agressiva, como se diabólica fosse.
Que o João Ubaldo em 1999 tenha sido tumultuado pelo tema, dá para entender, mas, passados quase vinte anos, em que todos os conceitos estabelecidos foram tragados pela modernidade, inclusive, com o aparecimento do amor na era da tecnologia, causa-me espanto essa reação histérica da plateia, mais do que a peça em si.

Gabriel Novis Neves  
06-09-2015

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