segunda-feira, 19 de outubro de 2015

ANIVERSÁRIO DA BARATA VOADORA


Se viva estivesse estaria completando no dia 31 de julho cinquenta e um anos.
Infelizmente partiu deste Planeta muito precocemente, sem ao menos saber do papel que o seu sacrifício desempenhou na minha vida.
Vítima de politraumatismo ao se chocar violentamente contra o guarda roupa do meu dormitório, não resistiu ao sofrimento.
Foi ela a responsável pela minha permanência definitiva na cidade natal – Cuiabá.
Aqui nasceram meus três filhos e seis netos. Aqui também descansa minha mulher, há nove anos, no Cemitério da Piedade.
As oportunidades e desafios que me foram ofertadas, e jamais rejeitadas, por questão até de sobrevivência, tentei da melhor maneira possível aproveitá-las, trabalhando em benefício da sociedade.
O sacrifício da minha barata voadora fez com que desaparecesse de Cuiabá o preconceituoso e desumano “Hospital Colônia de Alienados do Coxipó da Ponte”, surgindo em seu lugar o Hospital Adauto Botelho, modelo na época.
A partir do “hospital dos loucos” cheguei à Secretaria de Educação do Estado, quando inseminei as sementes das duas futuras universidades federais (Cuiabá e Campo Grande).
O ensino fundamental e médio passou por grandes transformações, com a qualificação dos professores e a criação e funcionamento dos “Ginásios Orientados para o Trabalho”.
Depois, foram onze anos implantando no cerrado do Coxipó o orgulho de uma geração e a admiração e gratidão de todos - “A Cidade Universitária”, com seus professores e servidores valorizados, cursos voltados ao desenvolvimento regional e guardiã da nossa cultura e tradições.
Outras tarefas desempenhei por seis secretarias de Estado, sempre trazendo inovações tecnológicas.
A implantação do primeiro curso de Medicina em universidade privada no Estado, com Hospital Universitário próprio e Residência Médica, foram complementadas pela fundação e pela honra de ser o primeiro Presidente da Academia de Medicina de Mato Grosso.
No mês da barata voadora a Academia Nacional de Escritores Médicos me convidou para ocupar a Cadeira nº 28 como Acadêmico Titular. Convite aceito.
A indicação foi feita a minha revelia, por colegas de turma de medicina de 1960 da Faculdade de Medicina da Praia Vermelha (hoje UFRJ).
Para quem não conhece o porquê da minha homenagem à barata voadora, recomendo a leitura de um antigo artigo que escrevi há alguns anos – “A Barata Voadora”, facilmente encontrado no Google.
Nele conto que, se não fosse a firme decisão da minha mulher tomada no dia do nosso retorno à Cuiabá para início das minhas atividades profissionais como médico generalista, este artigo hoje não estaria sendo escrito, e nada do relatado teria tido a minha participação.
Foi a decisão de permanecer nesta cidade, mesmo diante do pavor impensável do choque do corpo da barata no guarda roupa, com o tremendo ruído produzido na escuridão e o silêncio da madrugada, o responsável pelo resgate deste ponto luminoso.
O outro lado fica o sempre mistério do “se”.  “Se” eu tivesse voltado para o Rio de Janeiro diante do pânico da minha companheira, o que teria acontecido em minha vida?
Não há como se esquecer desta data - 31/07/1964!
Obrigado, minha barata voadora!

Gabriel Novis Neves
06-09-2015

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.