terça-feira, 6 de outubro de 2015

INTOLERÂNCIA


Foi perguntado a um famoso economista brasileiro qual era, na opinião dele, a crise mais grave no Brasil. Ele não titubeou em apontar a crise política como a origem de todas as outras crises.
Interessante observar que, diante dessa verdadeira catástrofe a que fomos reduzidos, há um pudor em citar a palavra corrupção como a célula maligna dessa doença que ameaça nos matar.
Horas e horas são gastas em discussões acadêmicas tentando explicar a crise na Europa, na China, e agora atingindo os países emergentes, como o Brasil.
Jamais ouvimos dizer que tudo teve início no descobrimento do Brasil com a implantação da corrupção.
Durante séculos fomos vítimas desse mal e, quando pensamos que a República fosse resolver o problema, apenas notamos o seu aprimoramento.
Atualmente a corrupção se transformou em uma organização criminosa complexa, com alta tecnologia e com operadores superpreparados para as funções. 
O governo, para justificar o total fracasso com a nossa economia e programas sociais essenciais, defende-se dizendo que o que existe de fato é uma grande intolerância da classe média para com os pobres.
Os ricos são parceiros das elites do poder e, como aliados, jamais são citados como principais causadores desses problemas.
Quando alguém da quadrilha de assaltantes dos cofres públicos é preso, é considerado vítima da burguesia insatisfeita com o seu trabalho em defesa dos pobres.
O pavor de citar a palavra corrupção me fez lembrar a história de um pesquisador inglês. Para concluir sua tese de pós-doutorado em antropologia, procurou os índios ao norte do nosso Estado.  Com um enorme gravador tentou captar se um descendente pré-colombiano, ainda que moribundo, pronunciava a frase “eu vou morrer”.
Saiu frustrado, pois essas civilizações jamais pronunciam a palavra morte.
Cumprida a missão, com resultado negativo da pesquisa, retornou a Londres.
Assim estamos nós, sendo devorados pela corrupção, mas jamais citamos essa palavra como causa principal de nossos males.
Preferimos culpar a crise na China.
Temos intolerância absoluta em confessar a causa principal dos nossos males.
Este é o Brasil do jeitinho.

Gabriel Novis Neves
20-09-2015

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