domingo, 21 de julho de 2024

QUINTO GRAU


Nasceu a minha prima do ‘quinto grau de parentesco’.


Estava recém-chegado à minha cidade natal para exercer a minha profissão.


Foram quase doze anos afastado da minha cidadezinha querida para estudar medicina no Rio de Janeiro.


Não vou escrever das dificuldades que enfrentei ou da solidariedade que recebi.


Uma manhã passei pela Maternidade de Cuiabá na rua 13 de junho para saber se algum colega precisava de um auxiliar.


Subia a rampa para o andar da obstetrícia quando uma ‘atendente de enfermagem desesperada’ estava ao telefone procurando um auxiliar para ajudar um colega na sala de parto.


O pai da criança, muito nervoso, deixava as cinzas do cigarro caírem na sua blusa.


Quase correndo cheguei ao vestuário dos médicos e com ‘muito cuidado’ entrei na ‘sala de parto’.


O médico obstetra era famoso, e foi ele quem fez o parto da minha mãe na rua de Baixo quando eu nasci.


Ele não se importunou com a minha presença, e me fez um relato do que acontecia.


Perguntei se ele precisava da minha ajuda.


Pediu que eu colocasse a luva e fizesse um exame na parturiente.


O feto, pela ausculta do ‘estetoscópio de Pinard’, estava bem, porém, com enorme bossa serosanguinolenta.


A parturiente estava exausta e não tinha forças para uma boa expulsão do feto.


Sugeri ao médico, que me fez nascer, a aplicação do ‘fórceps de alívio’, que ele carregava em sua maleta.


Cansado, e ‘sabedor pelas atendentes’ que eu sabia manipular bem o aparelho, pediu que eu fizesse o procedimento.


Passei as ‘colheres do fórceps de Simpson’, que se articularam com perfeição.


Usei toda a técnica obstétrica para ajudar a criança nascer.


Naquela época não existiam pediatras na ‘sala de parto’.


Após o nascimento, saí com o recém-nascido para uma salinha auxiliar fazendo a sua reanimação.


Chorou, levou as mãozinhas na boca, urinou e eliminou mecônio.


Levei o bebê como um ‘troféu a sua mãe’.


Ganhei do médico o fórceps do parto.


Muitos anos depois ‘fiz o parto da mulher daquele bebê que ajudei a nascer’, na Clínica Femina.


O menino que nasceu na Maternidade de Cuiabá, foi pai na Femina e agora é avô.


Felicidade a toda numerosa família.


Gabriel Novis Neves

16-07-2024




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