sexta-feira, 1 de março de 2024

UNIVERSIDADE ASSASSINADA


Esse título é do escritor Ruy Castro. Há pouco publicou artigo sobre os 90 anos da Universidade do Distrito Federal, do Rio de Janeiro, antiga sede do governo federal.


Conhecer a história das nossas universidades é dever do mundo acadêmico.


Não se ignora que passaram, por dificuldades imensas em sua implantação. Algumas nem chegaram a vingar.


O texto aqui apresentado é, todo ele, da lavra do grande jornalista Ruy Castro. 


Não fosse por Alceu Amoroso Lima e Gustavo Capanema, a UDF, fundada no Rio em 1934, estaria fazendo 90 anos.


Grande ano para a educação no Brasil, 1934! 


Nasceram duas importantes universidades: a USP, de São Paulo, e a Universidade do Distrito Federal, do Rio.


A primeira está fazendo 90 anos. A segunda não teve essa oportunidade.


A UDF, continua Castro, foi criada pelo educador Anísio Teixeira e pelo prefeito Pedro Ernesto.


Começou com cinco faculdades e reunia um corpo docente nunca visto no Brasil. Entre outros, Gilberto Freyre, Arthur Ramos, Heloisa Alberto Torres, Álvaro Vieira Pinto, Gastão Cruls.


Outros mais: Sergio Buarque de Hollanda, José Oiticica, Lucio Costa, Cecília Meirelles, Candido Portinari, Arnaldo Estrela, Heitor Vila Lobos.


Adicione a esse grupo os franceses que Afranio Peixoto, seu reitor, foi buscar em Paris. Todos de notório saber, contratados sem concurso.


Ela era diferente e experimental. Não se propunha a formar ‘elites dirigentes’, mas o contrário: a educação deveria ser de base.


Começou com 500 alunos e uma enorme variedade de cursos opcionais em cada faculdade.


 As provas parciais — à base de interpretação e não de decoreba — permitiam a consulta a livros. E defendia o ensino laico — sem educação religiosa.


Alceu de Amoroso Lima, líder intelectual e religioso de prestígio, foi contra esse modelo de universidade para o Rio de Janeiro.


Classificou seus professores de comunistas, a começar pelo jovem Anísio Teixeira, de formação jesuíta e admirador da educação americana.


Com o levante comunista frustrado de 1935, a UDF teve professores e alunos presos por até um ano.


Isso deu pretexto ao ministro de Educação, Gustavo Capanema — que temia o prestígio e independência de Anísio —, para afastá-lo e esvaziá-lo.


Em 1938, Capanema, incrivelmente, nomeou Alceu como reitor, no que muitos professores se demitiram.


Capanema então transferiu várias de suas faculdades para a Universidade do Brasil, sob seu domínio, e, em 1939, fechou de vez a UDF.


Impossível calcular o que ela seria hoje. 


Gabriel Novis Neves

2- 2-2024






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