quinta-feira, 1 de fevereiro de 2024

O MAL QUE ME ASSOMBRA


Como tenho todo o tempo a meu dispor, quando finalizo as crônicas, já à noitinha, deitado na cama, fico a ‘bisbilhotar’ meu WhatsApp.


Para surpresa minha, encontrei um número considerável de ‘pessoas solitárias’, no geral querendo puxar uma ‘conversinha’.


Comecei a prestar atenção, e nova surpresa! Em sua maioria, cuida de mulheres entre 60 e 70 anos.


Todas têm uma história para justificar o viver só, metidas no escaninho de sua casa por meses a fio. Gosto de ouvi-las, pois sei que isso lhes faz bem.


A meu favor, tenho a idade e a profissão de médico. A isso se soma minha história de vida.


Elas ‘se abrem’ comigo e tento ajudá-las. Elas sabem que vivo só, acolitado por minhas cuidadoras.


A situação é um tanto semelhante, embora elas sejam bem mais novas que eu, já a passos largos para os noventa.


Fiquei ‘assombrado’ com o número de pessoas, mesmo neste período festivo, que preferem o recesso do lar.


Não acho patológico gostar de ficar em casa, pois, na vida, sempre nos acaricia o ‘voltar para casa’.


Numa viagem de férias bem aproveitadas, nada melhor do que retornar para nosso ‘cantinho’. É o lar que, braços abertos, nos acolhe.


Sei que minha presença costumeira em casa — pelo menos nos últimos seis ou sete anos —, incomoda a muitos de minha própria família.


Não me estranhem: das minhas três netas casadas e morando na mesma cidade, só fui à casa de uma.


De meus irmãos, parentes e amigos, já não me recordo quando lhes fiz a última visita.


O mal que me assombra, isto sim, é ficarem as pessoas absolutamente sem nenhuma companhia!


Essas — é o que suponho —sofrem com a solidão, muitas das vezes resultado de algo desenhado por seu destino.


É difícil ficar em casa sem ter com quem conversar, impossibilitado de trocar um simples bate-papo.


Motivo de alívio é quando encontram alguém ‘perdido’ no WhatsApp, com quem se pode ‘jogar conversa fora’, como diz o zé-povinho.


Nem de longe pensar em carinhos ou troca de afetos. Até a palavra ‘abração’ lhes desperta vivos sentimentos de conforto, dada a falta que uma companhia lhes faz.


Tenho comigo que melhor, bem mais, é ‘estar’ sozinho — mergulhado nos próprios pensamentos — do que ‘se sentir’ só ao lado de alguém que não o ama.


Diria o poeta solitário e solidário: ‘pra meu consolo, tenho as estrelinhas do céu; o livro e o violão, pra meu pobre coração’!


Gabriel Novis Neves

30-12-2023




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