terça-feira, 27 de fevereiro de 2024

DA PERIFERIA PARA O CENTRO


De onde me encontro, do alto dos meus bem vividos oitenta e oito anos, tenho condições privilegiadas para verter os olhos ao passado.


Consegui chegar ao miolo de uma vida deveras participativa, protagonista que fui, pra minha gente, de conquistas sociais.


Já no crepúsculo de minhas horas, não mais na condição de médico, dei início a novo trabalho. Nem em sonho imaginei enveredar por ele.


Foram-me apoio os leitores e alguns membros de nossa Academia. Abracei a difícil arte de dialogar com o cotidiano.


Assim, aliás, sempre ocorreu comigo. Ocupei funções complexas, que nada diziam de minha área de atuação. No geral, obtive aprovação acima do esperado.


Já escrevi e publiquei, no blog do Bar do Bugre, quase tudo sobre minha biografia. Está ao alcance de quem vier a se interessar.


Sem enfadá-los, passo a relatar um fato curioso. Por sinal, trata-se de um empurrãozinho gostoso que recebo nessa minha nova atividade: a de escrever.


Moro em um apartamento com trinta anos de uso. O tempo está a exigir uma manutenção de constante.


É raro o mês em que não tenho algo a fazer em minha moradia. Convoco ora o gesseiro, ora o pintor, ora outro profissional.


Esses prestadores de serviço, quando terminam seus afazeres, são trazidos pela funcionária da casa até meu escritório para receber os honorários devidos.


Não por acaso — este o prazer que acaricia meus dias —, sempre me encontram digitando uma crônica no computador.


A pedido, leio a eles a crônica do dia. A atenção é total. Fazem-me perguntas sobre o tema. Comumente, solicitam-me uma cópia para mostrar aos de sua casa.


Muitos têm filhos na escola. Houve alguns que, tomados de orgulho, me disseram que têm filho ou filha cursando a UFMT. Seus olhos brilhavam.


É nessas horas que me acode o bem sem tamanho que a nossa Universidade Federal anda derramando por este Estado gigante! 


É de admirar: todos, sem exceção, possuem celular e WhatsApp, operando-os maravilhosamente bem.


Há dos que solicitam que seu nome seja adicionado nas Listas de transmissão do meu iPhone. Assim, passam a receber a crônica.


Saem agradecidos com o presente, ficando incluídos num grupo específico de prestadores de serviço.


Taí a periferia literária: eles provêm do mesmo lugar de onde, um dia, também eu saí, ensaiando os primeiros passos.


Que todos continuem a perseguir os sonhos que carregam, descortinando aos filhos um amanhã melhor! É o que desejo.


Gabriel Novis Neves
28-2-2024



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