sábado, 1 de julho de 2023

ANOS DECISIVOS DA MINHA VIDA - AMIZADES PRECIOSAS


Em 1961 concluí a segunda metade do CPOR (Curso Preparatório de Oficiais da Reserva).


A primeira etapa foi realizada em 1955, quando estava no primeiro ano de medicina, e a segunda etapa depois de formado.


Fiz estágio no Ambulatório da Policlínica Central do Exército, no período da tarde, próximo ao Hospital Moncorvo Filho.


Após cumprir essa etapa recebi a carteira de 2º tenente reservista de Saúde do Exército Brasileiro, cujo prazo de validade era indeterminado.


Essa identidade foi de extrema utilidade para mim no período militar, pois ocupei importantes cargos públicos que me obrigavam a viajar muito.


Os aeroportos eram super vigiados, e mesmo possuindo uma identificação de Reitor e RG, o que valia mesmo no embarque era a carteira de militar.


Com a mudança da capital federal para Brasília muitos médicos da rede pública do Rio de Janeiro receberam incentivos do governo federal e se mudaram para lá.


Para ocupar as vagas abertas, a prefeitura do Rio de Janeiro contratou como médicos os acadêmicos de medicina que haviam passado no concurso.


Na minha época faltavam médicos no interior do Brasil e o curso tinha terminalidade.


Assim que o aluno de medicina concluía o seu curso e recebia o seu diploma, ele retornava à sua cidade natal para exercer a sua profissão de “médico generalista”, apto a cuidar de adultos e crianças.


O meu foco no período de faculdade foi ginecologia-obstetrícia, e urgências e emergências médicas.


Iniciei a minha profissão com o salário de médico da Prefeitura do Rio, que correspondia a cinco vezes ao salário de um médico do Estado de Mato Grosso.


Mais um salário de 24horas por semana da Maternidade Álvaro Dias, de Jacarepaguá, e alguma coisa da Maternidade Pro-Matre.


Permaneci nesses lugares até o retorno à minha cidade natal.


Tinha condições financeiras de permanecer mais um tempo estagiando em clínicas para ser médico do interior.


Nunca tive compromissos amorosos em Cuiabá obrigando o meu retorno imediato, e nem sérios no Rio.


Estagiei em várias clínicas onde obtive conhecimentos necessários para atender adultos e crianças.


Recusei uma bolsa de estudos do meu professor Sílvio Fraga para fazer patologia da pele, nos Estados Unidos da América do Norte, para me instalar no Rio de Janeiro.


Seria o único especialista da cidade do Rio de Janeiro, e iria ficar rico.


Mas eu precisava retornar à minha cidade natal.


Meu pai já estava velho, em situação financeira difícil, eu era seu filho primogênito e com muitos irmãos precisando de ajuda.


O namorico com a Regina, que se iniciou depois da minha formatura, virou namoro, noivado e casamento em 09-12-1963, com a presença dos meu pais.


O dinheiro ficou curto para me manter no Rio.


Todos os meus colegas de turma já estavam trabalhando e ganhando dinheiro em Cuiabá.


Aluguei uma casinha conjugada com oitenta metros quadrados e mandei a minha mudança.


O governador do Estado de Mato Grosso, solicitou ao seu colega da Guanabara minha disponibilidade sem ônus do seu governo.


Eu temia pela adaptação da minha mulher, uma jovem argentina-carioca, e esperando seu primeiro filho para quarenta dias após a nossa chegada.


Carlos Lacerda, em um despacho raivoso, fez um X na solicitação de Fernando Correa da Costa, escrevendo:


“Não! Quem não quiser trabalhar, demita-se!!!”


Em campanha para a Presidência da República pregava a interiorização dos médicos!


Desempregado, com a mudança em Cuiabá, seis meses de aluguel vencido, sem poder contar com a ajuda financeira do meu pai, por acaso encontrei o meu salvador.


Em fevereiro de 1964 estava numa enorme fila de acesso ao elevador social do prédio da avenida Rio Branco no Rio de Janeiro onde funcionava o gabinete do ministro da saúde, Wilson Fadul.


Desligado há quase doze anos da cidade, perdi muito dos meus contatos de infância, e não sabia o que eles faziam na “terrinha”.


Ouço alguém me chamar na porta do elevador privativo do ministro, e nunca poderia imaginar que fosse o Bugrinho, filho da dona Janoca, do Largo da Mandioca.


Foi logo me perguntando, pois tinha pressa: o que fazes aqui?


Respondi: hoje é dia de audiência pública e consegui, pela amizade do meu tio médico-sanitarista Oswaldo Novis com o Dr. Cláudio chefe de gabinete do ministro, uma audiência.


Relatei o drama que estava enfrentando sem ajuda de ninguém.


Ele abre a sua pasta de couro marrom clara cheia de documentos, retira um bloco de papel branco com a bandeira do PTB, e embaixo: Presidência do Partido Trabalhista Brasileiro-Diretório Estadual de Mato Grosso.


Em letras garrafais escreveu:


"Fadul, preciso dessa nomeação para Cuiabá."


Silva Freire


Subiu de elevador comigo, chegou na ampla sala de espera, cumprimentou todos os funcionários, não esperou ser chamado, passou a mão na maçaneta da porta do gabinete do ministro e ficou com ele por cerca de quinze minutos.


Na saída disse que o meu problema estava resolvido, e que não esquecesse de entregar o bilhete ao ministro Fadul.


Fui nomeado interinamente para ocupar a única vaga que havia, que era atender o ambulatório de doenças mentais em Cuiabá.


Como não pertencia a essa área, o Ministério da Saúde me ofereceu uma vaga em curso que estava iniciando para trinta psiquiatras brasileiros.


Fui o quarto colocado no exame e retornei com a Regina para Cuiabá, no dia 31-07-1964.


Pela manhã atendia no Posto de Saúde da rua 13 de junho, o ambulatório de doenças mentais do Ministério da Saúde.


Gabriel Novis Neves

01-07-2023





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