domingo, 16 de julho de 2023

ÀS MARGENS DO COXIPÓ


A produtiva escritora cuiabana Sueli Rondon nos brinda com mais um dos seus contos.


Com rara sensibilidade escreve em conto como era a Cuiabá do início do século XX para as novas gerações.


Nasci na primeira metade do século vinte e me lembro bem distante desses fatos reais narrados como contos pela Sueli.


Passo a transcrever para publicar no meu blog mais esse conto poético da minha velha Cuiabá e o querido Coxipó que tanto amo. 


“O rio Coxipó de águas claras e mornas era o clube dos cuiabanos da época.


Sem oferecer perigo a seus frequentadores, havia trechos com praia de areia e pedrinhas, de onde se podia chegar à outra margem com água à altura do tornozelo.


Era muito frequentado pelos cuiabanos.


Famílias abastadas tinham chácaras de veraneio com casas confortáveis avarandadas, para receber convidados.


Ali eram realizadas comemorações de batizados, casamentos, aniversários, e seo Nhonhô possuía uma das mais bonitas das redondezas da qual ufanava-se ser a mais bonita da região.


Naqueles tempos, Nhonhô Balduino, homem próspero, reputação ilibada entre seus pares, possuía uma fazendola próspera, fornecedora de leite.


Ordenhado às 4 da matina, era trazido para a cidade em galões de alumínio, ocupando toda a parte traseira da charrete.


Assim que a charrete apontava na esquina, já estavam os portões da lateral do casarão abertos de par em par, para que a charrete fosse introduzida no pátio.


Ali os galões de leite eram acrescidos d'água para aumentar o produto e o ganho na venda.


Nhonhô, Sinhá Dona, e dois ajudantes se encarregavam de executar a tarefa rapidamente, porque logo cedo a freguesia batia à porta com seus potes de vidros, galões menores, caldeirões, para comprar a sua porção.


Ninguém desconfiava, porque o leite era tão gordo, que mesmo misturado, não se notava diferença, pois ao ser fervido, a nata subia à superfície e era resgatada com espumadeira, para ser batida e transformada em excelente manteiga.


Foi num dia festivo de comemorações e todos graus de parentesco se encontravam presentes que se deu o acontecido, e se tornou pilhéria compartilhada em reuniões e festas dali pra frente.


Um compadre se aproximou de Nhonhô que contemplava do barranco a algazarra das crianças n’agua.


Já imaginou compadre se tudo isso aí fosse leite? - Indicando o rio.


Estaríamos milionários!


Ao que Nhonhô retrucou:


E aonde buscaríamos água pra misturar”?


Gabriel Novis Neves

11-07-2023




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