sábado, 31 de agosto de 2024

O TAL DO CURRÍCULO


Quando criança não conheci o tal do ‘currículo de vida’, documento indispensável nos dias atuais.


Não me lembro também de ter necessitado dele.


O que valia muito eram as célebres ‘cartinhas de apresentação’.


A primeira carta de apresentação que encaminhei do governador de Mato Grosso para o seu colega da Guanabara, não fui atendido.


A pretensão do nosso Estado foi rasgada, e eu chamado de vagabundo em 1962.


Era para trabalhar na recente Fundação de Saúde Pública de Mato Grosso (FUSMAT) sem ônus para a Guanabara.


Por acaso, em 1964 encontrei-me no elevador do Ministério da Saúde na avenida Rio Branco no Rio de Janeiro meu contemporâneo do Largo da Mandioca, o Bugrinho, filho da dona Janoca.


Há tempos não nos encontrávamos.


Ele bacharel em Direito em Cuiabá e político influente.


Eu terminando os meus estágios para retornar à minha cidade natal.


O elevador parou e nós dois saímos.


Era o gabinete do ministro da saúde.


Sabedor da minha ambição de retornar, sacou da sua pasta de couro cor marrom um bloco de papel do partido do qual era presidente estadual e rabiscou:


Fadul


Preciso do Gabriel em Cuiabá!


Urgente


Freire


Esse foi o ‘bilhetinho’ que facilitou o meu regresso ao meu torrão natal.


Já médico, forneci ‘cartas de apresentação’ aos colegas pobres aprovados no vestibular de medicina para se matricularem nas faculdades.


Como reitor da UFMT foi-me solicitado com urgência o meu Currículo de Vida.


Sabia ser um trabalho árduo e detalhado.


Assim, cheguei à saudosa professora Eugênia Paredes para a confecção do trabalho.


Currículo passou a ser sinônimo de conhecimento, e quanto mais volumoso ele fosse, mais sábio o portador.


De lá para cá acumulei tantas ações, que resolvi utilizar o meu ‘currículo simplificado’ quando solicitado.


Não ultrapassa uma folha de papel e quem o recebe sempre exclama: só?


Vou escrever o ‘currículo do marido da cozinheira’, que está desempregado e deseja trabalhar como motorista com carteira assinada.


Gabriel Novis Neves

16-08-2024




O AMOR DE UMA CRIANÇA


Ele se manifesta das mais variadas formas, e o abraço e beijo são as mais frequentes.


Já o meu bisneto João exterioriza esse seu amor também pelo choro.


Ele não pode ver alguém sofrendo que desaba em choro compulsivo, querendo logo sair do local.


Ele ainda não completou três anos e entende quando alguém está doente.


Esperto, telefonou para mim ontem à tardinha numa alegria sem fim, me avisando que viria com a sua mãe se despedir de mim.


Viajaria no outro dia, para festejar o aniversário de casamento dos seus pais com a sua irmã de sete anos completos, cursando o segundo ano do ensino fundamental.


Ele está acostumado a me encontrar sempre no escritório escrevendo no computador ou sentado na cadeira de balanço, no almoço da família.


Chega de braços abertos me abraçando, beijando e tirando fotos sentado em meu colo.


Ontem quando chegou, me encontrou deitado na cama, aguardando o lanche me ser servido na mesinha de acrílico.


Ele viu também um minúsculo ‘band-aid’ no meu cotovelo esquerdo, protegendo uma simples escoriação.


Interpretou o quadro como se eu estivesse doente e sofrendo.


Ainda me beijou e iniciou um ‘choro sentido’ pedindo para sair do quarto, quando parou de chorar.


Não veio se despedir de mim e em silêncio saiu pela porta dos fundos rumo ao elevador.


Interessante como os sentimentos humanos se exteriorizam nas crianças!


Quando criança me lembro que brincava de médico, e no Natal escrevia ao Papai Noel para que trouxesse para mim uma ambulância.


Meu bisneto é ‘vidrado’ em carros estrangeiros de marca, inclusive sabendo o nome deles.


No futuro deveria ser piloto de Fórmula 1 — e não tem medo de alta velocidade.


O seu choro ao me ver deitado na cama em uma hora não usual, demonstra o seu imenso amor aos enfermos.


Aposto que seguirá a carreira do biso na sua sétima geração.


As lágrimas da dor serão transformadas em lágrimas de felicidade na profissão de médico.


Gabriel Novis Neves

16-04-2024




quinta-feira, 29 de agosto de 2024

JOGANDO PENSAMENTO FORA


As pessoas solitárias adquirem o hábito de jogar pensamento fora.


Durante a semana não tanto! Isso acontece pela movimentação da casa.


Durmo cedo e não dou espaço para o meu pensamento.


Mas nos sábados e domingos, mesmo que não queira, estou sempre lutando contra os meus pensamentos.


É ruim brigar com eles, já que não fomos preparados para fazer contabilidade emocional.


Sempre aparecerá o certo e errado.


Nunca me esforcei para saber o que é certo e errado no pensamento.


Com idade avançada, saúde, solitário, tenho a inconveniente situação de estar sempre pensando.


E no cordão dos pensamentos estou sempre a criticar tudo aquilo que fiz.


Às vezes discordo de uma decisão que tomei no início da minha carreira profissional, e hoje me arrependo.


Nesse momento, tal num tabuleiro de xadrez, presto a máxima atenção na próxima decisão.


Assim o tempo vai passando e o sofrimento aumentando de tanto rever meus pensamentos, que são muitos.


Conversando com uma colega psiquiátrica sobre o pensamento, ela concorda que ficar ‘ruminando-o’ produz sofrimento e mal-estar a saúde mental.


Tão diferente de jogar conversa fora, que é um tipo de lazer!


Você conversa, conta novidades, fala da vida alheia, participa de um lanche caseiro e até de umas pitadas de cigarro.


Jogar conversa fora é um ato de despoluição mental.


Já o pensamento é de uso exclusivo nosso, queiramos ou não.


O pensamento povoa fortemente a mente dos poetas, artistas, músicos e compositores.


No nosso cancioneiro quantas vezes o pensamento é lembrado em frases amorosas.


‘Eu amanheço pensando em ti, eu anoiteço pensando em ti, eu não te esqueço, é dia e noite pensando em ti.


Eu vejo a vida pela luz dos olhos teus, me deixe ao menos por favor pensar em Deus.


Nos cigarros que eu fumo, te vejo nas espirais, nos livros que eu tento ler, em cada frase tu estás.


Nas orações que eu faço, eu encontro os olhos teus, me deixe ao menos, por favor pensar em Deus’!


Assim é o nosso pensamento traduzido pelo cancioneiro popular.


Gabriel Novis Neves

18-08-2024




quarta-feira, 28 de agosto de 2024

PAU QUE DÁ EM CHICO DÁ EM FRANCISCO


Este provérbio designa a isonomia que deve existir entre as pessoas.


É muito utilizado em nosso meio.


Há dias recebo reclamações de amigos dizendo que não estão tendo acessos à internet.


Respondo que talvez possa ser um problema da sua ‘rede’, e que será logo solucionado pela sua operadora.


Continuo os meus trabalhos, sem lembrar que ‘pau que dá em Chico dá em Francisco’.


Amanheci sem a internet que abastece o meu laptop e celular.


Fiz as manobras recomendadas pela operadora, e nada.


Pensei em ligar para pedir socorro e desisti.


Das outras vezes me enrolavam, e eu irritado ficava a ‘ver navios’.


Depois de muita luta abandonei o ‘campo de batalha’’.


Dei descanso ao meu computador, e fui fazer nada aproveitando esse friozinho para rolar na cama.


Hoje o computador está diferente do normal, com voltinhas rodando sem fim.


Quando param, pedem para ‘tentar novamente’.


Achei que chegou o momento de chamar o técnico para me socorrer.


Ontem foi a vez do técnico de TV. O aparelho da copa estava sem sinal.


O preço do conserto é quase igual ao de uma televisão nova, o que me faz pensar.


As indústrias, para fazerem os seus produtos girarem rapidamente nos seus galpões, encurtaram em demasiado o seu ‘tempo de validade’.


É assim que funciona a roda da produtividade, quando os bens industrializados têm que ser substituídos todos os anos para não se desvalorizarem.


A geladeira da casa dos meus pais era a mesma que encontrei quando retornei médico do Rio de Janeiro.


Os taxis que faziam ponto em frente ao bar do meu pai eram os mesmos de quando viajei para estudar.


Numa casa antiga sempre existe um conserto a se realizar para evitar que isso vire um entulho inabitável.


E o ditado popular continua a nos ensinar a cuidar das coisas, sempre arrumando uma coisa aqui e outra acolá.


Gabriel Novis Neves

13-08-2024




terça-feira, 27 de agosto de 2024

O SEGREDO


Diziam os antigos que o ‘segredo’ era a alma do negócio.


Existem outras expressões semelhantes com o mesmo fim, como ‘santo do pau oco’ e ‘come quieto’.


Temos o popular ‘escondendo o jogo’ como sinônimo de segredo.


Já fui chamado erroneamente de todos eles.


Sempre fui muito tímido, dando essa falsa impressão aos meus íntimos e parentes.


Como médico fiz o Juramento de Hipócrates: ‘cego, surdo e mudo’ ao exercer a minha nobre profissão de ‘médico do corpo e da alma’.


Não tive a mínima dificuldade em exercer os ensinamentos do ‘Pai da Medicina”.


Isso é chamado de ética médica e sigilo profissional.


Fui muito auxiliado pela minha formação caseira, quando as crianças eram convidadas a se retirarem da sala onde adultos conversavam e fechavam as portas.


Não havia ‘promiscuidade’ entre crianças e adultos e a separação entre eles era respeitado.


Cansei de me retirar da sala, quando a conversa dos adultos era iniciada.


Hoje não existe mais ‘este pudor’ de separar as crianças das conversas de adultos.


Daí a minha timidez que julgo educacional.


Minha mãe me acompanhava nas aulas da catequese, na velha Matriz de Cuiabá.


Quando a professora catequista falava dos ‘pecados veniais’, a minha mãe ‘puxava suavemente a minha orelha’ para que eu prestasse bem atenção para não os cometer.


Eu envergonhado perante meus colegas não sabia o que fazer.


Tive uma educação infantil com muito amor, e hoje reconheço, com certo autoritarismo.


A minha formação educacional foi toda construída para guardar segredos, aumentada com a profissão de médico.


Isso foi muito bom para mim, despertando em meus clientes, ‘ares divinos’ o que me ajudou muito no processo de cura dos pacientes.


Dezenas de centenas de clientes sabem do que estou dizendo.


‘Em boca fechada não entra mosca’, é uma sábia lição!


Gabriel Novis Neves

20-06-2024




segunda-feira, 26 de agosto de 2024

NEGÓCIOS DA CHINA


A expressão ‘negócio da China’ é usada para descrever um negócio muito lucrativo ou maravilhoso.


Ela é tão usada no Brasil, que já foi tema de telenovela de grande sucesso de audiência, exibida pela Globo em 2008!


Negócio bom é negócio da China.


Nos shoppings populares são facilmente encontrados produtos chineses, bem mais baratos que os fabricados no Brasil.


A China é um dos países mais populosos do mundo, e fornece mão de obra qualificada e barata às suas centenas de milhares de fábricas.


Tem um comércio forte e seus produtos são vendidos para todos os países.


Difícil não encontrar em casa de brasileiros produtos chineses.


Fabricam e vendem de tudo, entretanto, assisti a um vídeo pelo Instagram de um Bispo vendendo ‘pedaços de madeira da Arca de Noé’!


O preço é de dez mil reais e serve para ‘abençoar sua casa’, ‘escritório ou local de trabalho’.


O Bispo diz no leilão que essas madeiras consagradas estão quase terminando, restando poucas no estoque.


Madeiras ungidas e consagradas por apenas dez mil reais para te proteger.


Pois bem, estão vendendo madeiras da Arca de Noé, um verdadeiro negócio da China.


Gostaria de comprar um pedacinho dessa madeira da Arca de Noé para abençoar a minha casa, me proteger e inspirar no meu ofício de escrever.


O estoque do Bispo está terminando e não sei como comprar.


O vídeo feito por brasileiros deixa muito a desejar.


Não fornecem o endereço para a compra e se a moeda real será aceita.


Desconfio até que esse ‘negócio da China’ funciona em um dos morros do Rio de Janeiro, oficializados pelo poder público.


Em época de eleição, nada como distribuir aos eleitores madeira da Arca de Noé.


Será um votinho certo no dia das eleições que o candidato da madeira abençoada terá.


Vou indagar para saber se descubro o local da venda dessa madeira milagrosa, antes que ela acabe.


Ajude-me encontrar o local, meu querido editor.


Gabriel Novis Neves

21-08-2024




domingo, 25 de agosto de 2024

O TRAUMA E A DESCOBERTA


A morte de um ícone provoca uma verdadeira convulsão social.


É nesses momentos que sentimos, de uma maneira nítida, que precisamos de tão pouco para viver bem.


O trauma está relacionado, geralmente, a perda de alguém muito conhecido e vencedor.


Os departamentos de jornalismo dos vários meios de comunicação escrito, falado e televisado, só comentam esse assunto.


Valorizo muito o ‘vencedor ético’.


‘Aquele’ que vem das camadas mais sofridas da sociedade e se coloca como uma das suas referências.


Poderia citar vários exemplos de vitoriosos discípulos da ‘faculdade da vida’.


Nesses dias de choque nos passam os valores humanos de uma vida simples e feliz.


Tudo tão simples, fácil e ignorado pela maioria!


Verdadeiras aulas de autoajuda desfilam pelos nossos olhos e ouvidos.


Para esses pregadores de virtudes dos ícones, a impressão que fica é que viver é mais fácil que morrer.


Tudo que aprendi na catequese para fazer a minha 1ª Comunhão, tenho lido, ouvido e visto nestes últimos dias.


A transformação de um vendedor ambulante em multi-empresário vitorioso, fez surgir a cartilha da alegria de viver com tão pouco.


Concordo com as virtudes e méritos do grande brasileiro, e a sua morte veio a nos lembrar das coisas importantes da vida, e que são simples.


A alegria contagiante e seu exemplo de trabalho é o legado maior que deixa.


Grande parte do domingo ficava entretendo pela televisão a população brasileira, sempre com muito bom humor, alegria e brincadeiras.


Com a idade avançada partiu para o ‘plano espiritual’, e suas virtudes retiradas do fundo ‘do seu baú’ de relíquias e disseminadas pela sociedade.


Só um grande trauma, como a morte, poderia me animar a escrever sobre esse assunto.


Gabriel Novis Neves

19-08-2024




sábado, 24 de agosto de 2024

METAS


Confesso que em toda a minha vida nunca trabalhei para cumprir metas.


Procuro executar bem a tarefa do dia, e os resultados sempre foram excelentes.


Estudava para ‘aproveitar bem as aulas’, e não para ser o ‘primeiro aluno da turma’.


Ficava entre os melhores.


Nos cargos públicos e privados que ocupei, meu esforço era o de ‘me esforçar ao máximo’ para não ‘prejudicar a coletividade’.


E assim foi até a minha aposentadoria aos oitenta anos, quando senti a necessidade de contar a minha história de vida.


Não tracei metas a serem alcançadas, e escrevo todos os dias.


Fui avisado pelo editor do blog do bar do bugre, meu amigo Dr. João Nunes da Cunha Neto, que chegamos ao marco de 3.500 crônicas escritas por mim, revisadas por Christina Meirelles e editadas, ilustradas e publicadas por ele.


Não escrevi visando a alcançar metas, mas agora pretendo chegar às 5.000!


Colegas, amigos e leitores procuraram o ‘motivo da minha descoberta tardia pela literatura’.


Alguns definiram como a opção que descobri no outono da minha vida para ‘envelhecer com dignidade’.


Outros, uma maneira de ‘matar o tempo’.


Muitos afirmam que os velhos não necessitam de profundos conhecimentos da língua portuguesa para ‘contar histórias’.


Já expliquei em crônicas anteriores, que iniciei a escrever para preencher a lacuna do ‘ninho vazio’.


Viúvo, com três filhos casados e morando ‘longe da casa onde se casa’, tinha tempo suficiente para fazer nada.


Minhas caminhadas pelas madrugadas, quando meus joelhos permitiam, foram fontes inesgotáveis de inspiração.


Cheguei a me assustar com a minha produtividade, embora hoje escreva mais que no início.


Fui colaborador dos principais jornais da cidade com uma crônica inédita todas as semanas, revistas, sites e TV.


Eleito por unanimidade para a Academia Brasileira de Médicos Escritores (ABRAMES) com sede no Rio de Janeiro.


Sou o único médico cuiabano e mato-grossense da ABRAMES.


Sem metas a cumprir, acho que fui longe demais nessa minha ‘atividade literária’.


Com as crônicas publicadas, poderia imprimir ‘35 livros de 100 crônicas’!


Pensando em metas, ‘gostaria de escrever a crônica 5.000’!


Gabriel Novis Neves

25-08-2024




sexta-feira, 23 de agosto de 2024

A ALGAZARRA DOS MEUS BISNETOS


Sábado é um dia diferente para mim.


Não escrevo após o almoço, e muito menos à noite.


Como existe exceção, estou usufruindo deste benefício.


Deixei o conforto de assistir à uma partida de futebol para passar para no papel toda a minha emoção com a balburdia dos meus bisnetos.


Vieram, como de costume, almoçar comigo.


Quando chegam vão cumprimentar o biso sentado na cadeira de balanço da sala de visita.


Beijos e abraços apertados.


Na mesinha de centro pastéis de carne e queijo. Esfirras abertas e fechadas com carne moída.


A menorzinha, de quase quatro meses, a tudo observa e chora para expressar a sua alegria.


O ambiente é de uma alegria contagiante, deixando o sábado mais relaxado.


 O almoço é servido.


A caçulinha se afoga com a abundância do leite materno e aproveita para encher as fraldas.


Tudo é belo nessa idade.


Não sei porquê as crianças crescem e se tornam adultas!


Como gostaria de ter sempre a companhia dessa gente miúda com odor de saudades!


Sofro ao lembrar que terei que ficar com a ausência dos meus bisnetos por mais uma semana.


É tão dolorosa essa espera, que nem escrever consigo!


A casa fica silenciosa, e só adquire vida com a alegria dos pequerruchos.


Não poderia imaginar que pudesse ficar tão agarradinho a essas criancinhas, que só poderiam estar no céu.


Fico sem entender o elevado número de congressistas que são favoráveis ao aborto.


Defendem o assassinato de inocentes no útero materno, e promulgam leis severas de proteção aos animais chamados de irracionais.


Precisamos é cuidar mais das nossas criancinhas com educação de qualidade e saúde para podermos ter uma sociedade mais justa e igualitária.


O homem sem descendentes é um pobre coitado, contando os seus dias para nos deixar.


Que venham mais bisnetos para acrescentarem dias aos meus dias.


Os sábados sem os pequeninos, minha casa fica triste, e nem parece que a semana findou.


Gabriel Novis Neves

18-08-02024




quinta-feira, 22 de agosto de 2024

23 DE AGOSTO


Se vivo, meu pai estaria completando hoje 130 anos de idade.


Procuro preservar a sua memória escrevendo sobre ele e publicando esses textos no meu blog, que é uma homenagem a ele e sua ferramenta de trabalho — o ‘Bar do Bugre’.


Administrou por cinquenta anos o ‘Bar Moderno’, registrado na Junta Comercial de Cuiabá, mas conhecido por ‘Bar do Bugre’ apelido caseiro do meu pai.


Conseguiu assim educar seus nove filhos — cinco mulheres e quatro homens.


Três rapazes tiveram que viajar para o Rio de Janeiro, para concluir seus estudos superiores.


Tornaram-se dois médicos e um economista, que retornaram à cidade natal para o exercício das suas profissões.


Todos casados com mulheres educadas no Rio de Janeiro.


Das minhas cinco irmãs, duas estudaram na UFMT: Pedagogia e Serviço Social.


Outras três terminaram o ensino médio e se casaram.


Meu irmão caçula e afilhado bacharelou-se em Direito na UFMT, tem registro na OAB.


É aposentado como consultor jurídico da Assembleia Legislativa de Mato Grosso.


Todo esse trabalho educacional só foi possível pelo apoio e dedicação da minha mãe Irene Novis Neves.


O casal possuía de formação só o curso primário, e ela nos ajudava nos trabalhos caseiros da escola.


Assim fez o ensino médio com seus filhos e aprendeu suas disciplinas para nos ensinar.


Meu pai sempre foi um otimista com relação aos estudos dos seus filhos.


Nunca falhou ou atrasou com o ‘envio da mesada’, sempre depositada no primeiro dia útil do mês na agência do Banco do Brasil no Centro.


Esse apoio foi muito importante para a tranquilidade nos meus estudos.


Ele comemorou muito a minha aprovação no vestibular de Medicina da Universidade do Brasil, na Praia Vermelha em 1955!


Nunca imaginou que seus filhos que estudaram fora, retornassem para trabalhar pela criação e implantação da universidade federal em Cuiabá.


Até então só aqueles que possuíssem algum recurso familiar, poderiam ser ‘Médico, Engenheiro Civil, bacharel em Direito’!


No ano em que ele fechou o bar por falta de sucessor, acompanhou o trabalho do seu filho primogênito, na implantação da ‘cidade universitária no Coxipó da Ponte’ e seus cursos incluindo a Medicina.


Meu pai foi um homem extremamente modesto, simples, de vida familiar.


Recebeu uma homenagem da Associação Comercial de Mato Grosso, por ter sido um dos seus fundadores.


O saudoso vereador Coutinho lembrou do seu nome para ser nome de rua.


Mudou a política e sumiram com a rua que ele emprestava o nome.


A minha mãe, mulher educadora e cujo primeiro filho implantou a UFMT, nunca foi homenageada em Cuiabá.


Sorte da minha mulher argentina carioca que empresta o seu nome a um Centro Educacional da periferia.


Que Deus o tenha, com toda a certeza, para o nosso grande reencontro.


Obrigado meu pai!


Gabriel Novis Neves

23-08-2024




quarta-feira, 21 de agosto de 2024

ENGRENAGEM DEMORADA


Há certos dias que a gente acorda e demora para ‘engrenar’ na rotina do dia a dia.


Hoje estou assim.


Já li os principais jornais do país.


Vasculhei o celular e sinto que falta algo que não consigo identificar.


É ruim a sensação que nada está bom.


Saudade, tristeza, monotonia, lembrança de não poder estar com alguém?


Limitações que a idade nos impõe nos deslocamentos?


Por isso não posso sair de casa ou receber visitas, exceto os familiares, quando estou à vontade para me retirar e deitar na cama.


Escrevo tentando ‘engrenar’ e prosseguir meu devaneio, sem querer transferir esse meu ‘desencanto’ a terceiros.


A ‘disautonomia’ que ganhei e não me abandona, talvez seja a causa do meu sofrimento em não ‘engrenar’.


Se estivesse deitado para dormir é como se ouvisse o ‘tic-tac’ do despertador na mesinha da cabeceira da cama.


Nada aconselhável para servir de companhia.


Escrever sobre doenças não é agradável aos leitores, mas útil.


Quantos são ‘portadores sem saber’, desse mal que não mata, mas não tem cura?


A ‘tonteira’ que a disautonomia causa, me obrigou a mudar de hábitos, como fazer a barba de pé, em frente ao espelho do banheiro.


Hoje estou demorando para ‘engrenar’ e isso me chateia muito.


Escrevo não concentrado, com o meu pensamento passeando pelas minhas sinapses cerebrais.


Não gosto de fazer comparações, mas, me julgo um felizardo com a vida que ganhei.


Mesmo demorando a ‘engrenar’ em certos dias, agradeço ao Senhor, pelas bênçãos recebidas em abundância.


Consegui terminar de escrever esta crônica, mesmo ‘sem engrenar’.


Gabriel Novis Neves

12-06-2024




terça-feira, 20 de agosto de 2024

GRATIDÃO


Recebo, às vezes, como respostas das postagens que faço todos os dias pelas ‘Listas de Transmissão’, a palavra ‘gratidão’.


Gratidão tem origem bíblica e consta com clareza marcante na ‘cura dos dez leprosos’.


Eles haviam procurado o Salvador para se curarem.


Cristo encaminhou-os ao sacerdote para as providências.


Apenas um voltou ao Senhor para agradecer o milagre alcançado beijando os seus pés.


Jesus então perguntou ao samaritano: e os outros?


Então ‘Ele’ disse: Vás! A tua fé te curou’.


Os outros continuaram leprosos.


A demonstração de gratidão ao seu semelhante é um sentimento nobre de agradecimento a algo recebido em um dia.


Às vezes, quem envia gratidão como resposta ao simples ato de recebimento de uma mensagem, demonstra todo o seu bom caráter.


Como médico atuante, e não de emprego que não tem contato com o paciente, presenciei inúmeras ‘curas milagrosas’, e sou grato por elas.


A fé desses pacientes e de alguns médicos tinha propiciada a cura.


Minha gratidão ao Senhor que salvou o garoto que caiu com garrafas nos braços.


Apresentou lesões arteriais e precisou ser operado no centro cirúrgico da antiga Santa Casa de Misericórdia de Cuiabá com anestesia geral.


Durante o ato cirúrgico fez parada cardíaca com anóxia cerebral grave.


Seu caso era gravíssimo, e após vinte dias de coma, ressuscitou pela fé da sua família e minha.


Obteve alta, está vivo e não apresentou nenhum tipo de sequela — fato acontecido no ano de 1965.


A puérpera que veio para o Hospital Geral e Maternidade de Cuiabá com pressão zero.


Seu sangue não coagulava, e fiquei o sábado todo ao seu lado para tentar deixá-la em condições de retirar o seu útero.


Todo o estoque de sangue do Banco de Sangue foi utilizado em seu tratamento.


Graças à minha fé ela ficou curada, e voltou para a Chapada dos Guimarães onde morava.


Isso aconteceu em 1967 e até hoje ela é minha amiga.


Relatei apenas dois casos que a fé curou meus pacientes, e tenho muita gratidão pelo acontecido.


Gabriel Novis Neves

23-07-2024




segunda-feira, 19 de agosto de 2024

OS SUSTOS DIÁRIOS


Quando criança não era acometido pelos ‘sustos diários’ que tenho atualmente.


Tem sido raro o dia da semana que a ‘notícia inevitável’ não chega ao meu conhecimento.


Ontem, foi o falecimento do ‘primeiro assessor de comunicação da UFMT’, único profissional com curso superior de jornalismo no nosso Estado.


Hoje, a irmã da minha cozinheira.


Ambos dez anos mais novos que eu.


A morte, destino de todos nós, continua a ser um mistério para muitos, apesar de ser um ‘mote’ para os humoristas.


Esses artistas passam a vida ganhando dinheiro contando piada sobre os mortos e da morte.


Quando chegam para eles as famílias os escondem, como se isso fosse coisa feia.


A cultuação dos seus amados se faz presente nessas ocasiões de acordo com as suas religiões.


Que profissão bonita fui escolher, de cuidar do próximo!


É quando sentimos a presença de um ‘Ser Superior’, e quando somos pequenos em relação a ‘Ele’.


É o momento propício para meditar sobre a nossa chegada e partida deste mundo.


Nada trazemos, nada levamos.


Precisamos de tão pouco para vivermos bem, não havendo necessidade de acumularmos riquezas!


Partiremos para a eternidade despidos de bens materiais.


Levaremos o modelo de vida exemplar, justa, honesta, de amor ao próximo.


Não deixaremos lágrimas de saudades, já que não nos distanciaremos.


Como católicos aguardaremos o ‘dia da ressurreição’ para o reencontro esperado no ‘Paraiso Celestial’.


O sofrimento da separação inevitável é uma dor egoísta, cuja prova haveremos de passar e vencer.


Os extremos da nossa vida são de lágrimas: de alegria e tristeza.


Assim quis o Criador que fosse a nossa vida, cheia de ‘sustos’ a cada chamado divino.


Gabriel Novis Neves

14-08-2024