Quando criança não conheci o tal do ‘currículo de vida’, documento indispensável nos dias atuais.
Não me lembro também de ter necessitado dele.
O que valia muito eram as célebres ‘cartinhas de apresentação’.
A primeira carta de apresentação que encaminhei do governador de Mato Grosso para o seu colega da Guanabara, não fui atendido.
A pretensão do nosso Estado foi rasgada, e eu chamado de vagabundo em 1962.
Era para trabalhar na recente Fundação de Saúde Pública de Mato Grosso (FUSMAT) sem ônus para a Guanabara.
Por acaso, em 1964 encontrei-me no elevador do Ministério da Saúde na avenida Rio Branco no Rio de Janeiro meu contemporâneo do Largo da Mandioca, o Bugrinho, filho da dona Janoca.
Há tempos não nos encontrávamos.
Ele bacharel em Direito em Cuiabá e político influente.
Eu terminando os meus estágios para retornar à minha cidade natal.
O elevador parou e nós dois saímos.
Era o gabinete do ministro da saúde.
Sabedor da minha ambição de retornar, sacou da sua pasta de couro cor marrom um bloco de papel do partido do qual era presidente estadual e rabiscou:
Fadul
Preciso do Gabriel em Cuiabá!
Urgente
Freire
Esse foi o ‘bilhetinho’ que facilitou o meu regresso ao meu torrão natal.
Já médico, forneci ‘cartas de apresentação’ aos colegas pobres aprovados no vestibular de medicina para se matricularem nas faculdades.
Como reitor da UFMT foi-me solicitado com urgência o meu Currículo de Vida.
Sabia ser um trabalho árduo e detalhado.
Assim, cheguei à saudosa professora Eugênia Paredes para a confecção do trabalho.
Currículo passou a ser sinônimo de conhecimento, e quanto mais volumoso ele fosse, mais sábio o portador.
De lá para cá acumulei tantas ações, que resolvi utilizar o meu ‘currículo simplificado’ quando solicitado.
Não ultrapassa uma folha de papel e quem o recebe sempre exclama: só?
Vou escrever o ‘currículo do marido da cozinheira’, que está desempregado e deseja trabalhar como motorista com carteira assinada.
Gabriel Novis Neves
16-08-2024