segunda-feira, 6 de novembro de 2023

VISITA DE SURPRESA


Em uma semana em que recebi muitas homenagens, tive a felicidade de uma visita não programada.


Não lhes nego: sentimo-nos muito à vontade.


Minha casa sempre foi muito frequentada. Isso eu credito à minha mulher, anfitriã como poucas. Albergava o dom de a todos cativar.


Aliás, isto era dela: a passear, preferia receber em casa seus convidados.


Embora eu pudesse fazê-lo, em tempo algum a nomeei a cargos importantes. O curioso é que ela não se fazia presente aos eventos que a liturgia do cargo me impunha. Respeitava-lhe.


Passado o tempo, não mais escondo a causa: entendia que muitos compareciam só para homenagear o cargo, não o seu ocupante.


Hoje, chego à conclusão de que os eventos se revestem dessa verdade. Sempre foi assim. O sexto sentido dela não a traiu.


Uma das minhas irmãs me disse que no aniversário comemorativo dos 88 anos de uma querida amiga e cliente, houve quem cuidou de constranger os presentes. No decorrer da festa toda.


Na ocasião, trouxe à cena o fato de não haver contratado sua filha única. Por sinal, minha afilhada.


Fico eu aqui a imaginar o constrangimento que causou a todos. Quero crer que isso veio ao encontro do pensar da minha mulher.


Sem meias palavras, dizia ela: ‘A essas solenidades vão muitos que só querem aproveitar do cargo que você ocupa para tirar algum proveito pessoal’.


Arrematava: ‘São pessoas que não gostam de você e, na primeira oportunidade, irão apunhalá-lo pelas costas’. Como desdizê-la?


As visitas que tenho o privilégio de receber em casa encartam outro viés: afetividade.


Taí um sentimento que, em muito, revigora nossa saúde física, mental e até espiritual.


Nesses encontros, a gente não vê a hora passar. O papo corre gostoso, como se uma cachoeira fosse, águas jorrando de montão.


Há alguns amigos que me visitam e trazem até ‘merenda de casa’.


Ora saladas de frutas ou bolinhos de arroz feitos pela dona Eulália, lá do bairro da Lixeira. Sejam bem-vindos!


Ao lado deles, a conversa fluía tão prazerosa que nem via o relógio andar. Às vezes, precisava alertá-los do avançado da hora.


A última visita que recebi foi toda encanto, repleta de amenidades. Sabe aquela pessoa que nunca se socorreu de você? É a própria. Amizade tardia, conquistada na maturidade.


Foi uma visita surpresa, com direito a apetitoso lanche.


O melhor: não se comentou sobre a guerra entra judeus e palestinos na Faixa de Gaza, com centenas de crianças mortas.


Nada a respeito do futuro da nossa Santa Casa de Misericórdia, com um passivo financeiro impagável.


Nem sobre a conquista da Taça Libertadores pelo Fluminense.


O encontro, ao final, exalava aquele ar de ‘quero mais’. Espero haja outros. Sabedor de que o espaçamento, entre um e outro tem o mérito de gerar expectativa que ainda mais nos afeiçoa.


Gabriel Novis Neves

04-11-2023






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