quinta-feira, 2 de novembro de 2023

CONVERSA DE ADULTOS


Dia desses, palestrando com pessoas de minha faixa etária, houve quase unanimidade quanto a este pensar: ‘ninguém gostaria de sofrer para morrer’!


No dizer dos antigos — como eram sábios! —, o melhor tipo de morte é quando, à noite, nos deitamos para dormir e emendamos para o profundo sono da eternidade.


Lembrei a eles que o morrer em casa encerra um problema: a liberação do atestado de óbito.


Significa que deixaríamos esse trabalho a nossos descendentes ou amigos. Em casos que tais, o corpo deve ser conduzido ao Instituto Médico-Legal.


Por certo, um sofrimento a mais para os que ficam, não bastasse a dor da perda. Desde que essa, de fato, seja objeto de sofrimento.


Houve quem, na nossa roda de bate-papo, desejasse, egoisticamente, ter o privilégio de alguns minutos com aqueles que partiam.


Finalidade era fazer uma como que despedida, ocasião em que se proporia a receber conselhos e a pedir desculpas. 


Convenhamos: algo pra lá de estranho, a comprovar que isso não lhes fora habitual em vida.


Em bem da verdade, somos assim: primeiro pensamos em nós. Depois de novo em nós. E mais um pouquinho em nós. E se houver sobra de um naco de tempo, pensamos no outro. Mesmo que o tema a ser enfrentado nos seja a morte!


O conceito de morte com parada dos batimentos cardíacos mudou para ‘morte cerebral’. 


Nos dias que correm, os bons hospitais possuem máquinas com tecnologia de ponta. Intento é prorrogar ao máximo a ‘vida cerebral’.


No mapa do nosso cotidiano, já se inscreveu o entendimento de que a doença se nos traduz grave quando o paciente está internado em uma UTI.


Aliás, quanto maior for sua permanência nela, mais complicada se nos transpira a doença.


A UTI, nos dias de hoje, funciona como ‘verdadeiro passaporte’ para a vida eterna.


Tenho um amigo cujo pai morreu trabalhando, vítima de um infarto agudo do miocárdio. Sem dor alguma.


E meu amigo nunca se conformou. Não com a morte do pai. Mas sim com o fato de não ser facultada a ele a possibilidade de uma ‘última conversa’.


Meu pai faleceu em casa, no alto de seus 88 anos de idade. Eu, lado a lado com ele. E lembrar que inexistiu a última conversa!


Em agonia, nem de longe percebeu que sua mulher e seus nove filhos estavam ali, à volta de sua cama. Todos em preces para que o Pai dos pais, pleno de carinho, viesse a abraçá-lo.


Paro por aqui. As conversas entre adultos nem sempre nos conduzem às conclusões mais inteligentes e humanas. 


Está a sinalizar que, no tocante a temas do Alto, a competência não é de nossa alçada. A Deus, a palavra!


Gabriel Novis Neves

02-11-2023




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