domingo, 12 de novembro de 2023

FESTA SIMPLES OU ABASTADA


Já na chegada, percebe-se que a festa de gente simples, quando cotejada com a de pessoas mais abastadas, se revela bem diferente.


Os ricos, no geral, comem pouco, sem estardalhaço, às vezes falando em tom baixo, quase imperceptível.


Já os mais simples não se preocupam em comer farta quantidade, sendo felizes assim.


Nessa toada, podem repetir os pratos vezes seguidas, na certeza de constante fartura.


Nas comemorações próprias de gente rica, quase não se bebe aguardente, privilegiando bebidas sofisticadas e importadas.


Geralmente, os festejos dos ricos não avançam o horário, terminando cedo. Logo, a maioria ruma em direção à sua casa.


Quando de gente simples, predomina o clima de festa, som alto, que só termina quando tudo é consumido.


Nas duas espécies de comemoração, há os insatisfeitos que se dirigem ao bar mais próximo para a indispensável ‘saideira’. Estes, só então, altas horas, retornam para seus lares — com a noite já querendo acordar.


Vezes há em que, no fecharem o pileque, não se envergonham de chegar ao seu pedaço na companhia do sol, já raiando. 


Vão sem saber que vão! Vão para onde os impele o andar perdido na noite!


Não por outra razão, gente simples não gosta nem se satisfaz com o modo de festejar dos ricos ou dos que posam como se o fossem. 


No seu jeito ‘maneiro’ de expressar, dizem que eles ‘são tristes'.


Nessa forma diversificada de comportamento, quem sai lucrando, imagine só, são os simples. Sim, porque, na hora de se entregarem aos braços de Morfeu, se deliciam no sono profundo.


Estatisticamente, o mesmo não se dá com os ricos ou com quem por estes se passam, de modo costumeiro. 


É até desnecessário vincar que grande parte deles se faz dependente de um arsenal de ansiolíticos. Não assim, dificilmente conseguiria pegar no sono superficial, pouco repousante.


Acho deselegante, até mesmo uma ‘sem-gracice’, separar as pessoas por classes sociais. Fossem dadas a elas oportunidades iguais, isso não aconteceria. E o mundo de todos, é o que acredito, seria feliz.


O refrão ‘se todos fossem iguais a você’, pude encontrá-lo só nos poemas das canções da bossa nova, obra dos moradores dos bairros da zona sul do Rio de Janeiro.


Esses poetas da música popular brasileira integravam a classe média carioca. Seu cântico tinha como foco os ricos, quase nunca voltado aos que encontravam sua morada nos morros.


A desigualdade de classes sociais remonta à mais remota antiguidade, sabedor de que haverá de percorrer os séculos.


De certo modo, é a própria escravidão que continua a nos espancar sem dó nem piedade, camuflada sob modernas denominações.


No fundo, no fundo, a história se repete: quando a liberdade das pessoas é tolhida, a justiça só abre seu guarda-chuva para dar abrigo à classe dominante.


Gabriel Novis Neves

25-9-2023






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