quinta-feira, 30 de novembro de 2023

AS EMOÇÕES DE UM MÉDICO


Todo médico, no alto de seus sessenta anos de exercício da profissão, guarda, nos escaninhos da alma, um baú de lindas emoções.


Esse oceano de sentimentos, a meu ver, semelha ao nascimento dos meus filhos, netos e bisnetos. Quantos partos, cirurgias e atendimento ambulatorial em minha vida profissional!


A Medicina não é uma ciência infalível. Se bem assim, na marcha do seu desempenho, pode haver pedaços inexplicáveis.


Embora tenha presenciado um pouco de tudo, não titubeio em afirmar que só não me foi dado assistir à ‘ressureição dos mortos’.


Hoje, privilegiados, os médicos têm, à sua disposição, uma moderna tecnologia. Conseguem prolongar o caminho dos enfermos graves, aqueles que se debatem agarrados à vida cerebral.


O que trago comigo é que o profissional da área é um intransigente defensor da vida, que é finita.


Uma, em meio às mais significativas emoções que senti, foi no atendimento a pacientes no consultório e no hospital universitário.


Não me apagam da mente aquelas que vivenciei nos ambulatórios e, de igual, nos prontos-atendimentos, orientando alunos de medicina, hoje médicos de erguida estatura.


É gratificante municiar um aluno seu, preparando-o para receber um paciente! Passar a ele a técnica de uma eficaz anamnese, sequenciada do exame físico detalhado, que bênção!


Orientá-lo nos pedidos de exames laboratoriais, quando necessidade houver, e na hipótese diagnóstica, isso não tem preço!


Não existe um paciente igual ao outro. O médico tem que estar preparado para atendê-lo, recorrendo ao melhor da ciência. Isso sem emprestar relevo a seu nível social, cultural, nem religioso. 


Não se faz relevante saber da opção de gênero, nem atentar à cor política do paciente. Desimportante é sua procedência e sua atividade profissional. Importa, isto sim, respeitá-lo sempre.


Antigamente, os clientes

 ficavam tão próximos do seu médico, que acabavam por se tornar ‘parentes’. Daí, batizavam seus filhos, nascendo o ‘compadre e a comadre’, em vez do ‘doutor’. Mas o respeito profissional, esse não esmorecia.


O resultado do tratamento se agiganta quando a relação ‘médico–paciente’ flui tranquila. O homem é, antes de tudo, um ser emocional, e a maioria das doenças encarta um fundo amarrado à mente.


Muitos pacientes, à simples ‘presença do médico’, ficam curados. Esse relato reproduz o pensar deles próprios. É de cair o queixo!


Tenho comigo que aí está uma das maiores emoções do médico, tão frequente em meu fazer clínico.


Uma paciente a quem eu muito atendi, sendo parteiro da sua primeira e segunda gerações, em certa ocasião sugeriu que eu ‘aumentasse o valor dos honorários’. Não soou.


Pus, em funcionamento pleno, duas faculdades de Medicina em Cuiabá: uma pública federal, outra particular.


Ambas — isto me orgulha — obtiveram nota cinco, a maior no crivo de avaliação do MEC!


Essas emoções vividas estão inscritas no meu âmago. Jamais foi do meu feitio compartilhá-las com aqueles que pouco me dizem. 


No crepúsculo da minha existência, alimento a certeza de que elegi não só a profissão certa. Soube escolher o local ideal — melhor não poderia encontrar! — para exercê-la: Cuiabá.


Embora assim, a despeito das inesquecíveis venturas que a Medicina, ao longo dos meus dias, me pôde proporcionar, não me furto a assinalar que ela encerra uma profissão ‘ingrata’!


Que o confirmem meus colegas médicos!


Gabriel Novis Neves

02-7-2023




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