Os dias da minha semana são cheios de ruídos, do amanhecer ao anoitecer, mesmo vivendo no vigésimo andar de um edifício em área residencial.
Durmo com portas e janelas fechadas, enquanto o som suave do ar-condicionado, ajustado a 19 graus, mantém o ambiente fresco e silencia os barulhos externos. Só trovões e raios, raros por aqui, conseguem atravessar essa barreira.
Tenho um certo apreço por chuvas torrenciais e barulhentas durante o dia. São espetáculos que gosto de observar e ouvir, mas o teto de concreto do apartamento me priva da experiência simples e deliciosa de escutar a chuva calma batendo nas telhas, como era na casa da rua do Campo, onde vivi.
Quando retornei do Rio de Janeiro para exercer a medicina, os tetos das casas já eram forrados de madeira, e os tempos das goteiras e dos borrifos de chuva se tornaram apenas memória.
Ao despertar, desligo o ar-condicionado, abro as janelas e me debruço no parapeito de mármore. De lá, contemplo o sol emergindo no horizonte, anunciando um novo dia.
Os galinheiros das redondezas entram em festa com o canto dos galos. Cães vadios celebram a manhã com latidos, enquanto procuram companhia. Morcegos, cansados da noite, recolhem-se aos seus esconderijos, prometendo voltar ao cair do dia.
Os pássaros, sempre alegres, brindam os ouvidos humanos com seus cânticos, que muitos tentam, inutilmente, imitar.
Os caminhões da coleta de lixo, que passam pela madrugada, deixam atrás de si um ruído familiar. O amanhecer chega acompanhado do ronco dos motores: ônibus, carros e motos, todos apressados em ocupar o asfalto.
De vez em quando, o barulho de um avião corta o céu, e sempre me fascina pensar na grandiosidade do “mais pesado que o ar” voando sobre nós.
Pássaros visitam meu jardim, e as pombas, sempre fiéis, procuram um refúgio seguro para seus ninhos, como a soleira da janela do meu escritório. É a natureza nos ensinando, discretamente, a alegria das coisas simples, como o pôr do sol.
Mas o domingo chega diferente. Pela manhã, o silêncio das ruas me assusta. É como se a cidade, cansada do barulho incessante, tirasse uma pausa para respirar.
Os moradores urbanos, habituados ao som constante da vida moderna, talvez não entendam o privilégio daqueles que vivem no campo: o som puro da natureza, o espetáculo do nascer do sol e a mágica despedida de sua luz no poente.
Gabriel Novis Neves
29-12-2024
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