terça-feira, 7 de janeiro de 2025

CERTOS DIAS


Em certos dias de dezembro, sinto um misto de vazio e saudade que torna difícil pensar e escrever.

 

Dezembro é um mês de festas, mas para mim traz a angústia dos dezembros da minha infância.

 

Meu pai trabalhava no bar nas vésperas do Natal e Ano Novo.

 

Ficávamos em casa com minha mãe, Irene, e meus irmãos mais novos.

 

Dormíamos cedo e descobríamos os presentes debaixo das camas, deixados pelo Papai Noel.

 

Meu pai saía para trabalhar no Ano Velho e voltava no Ano Novo.

 

Só comecei a celebrar as ceias de Natal e Ano Novo após retornar a Cuiabá.

 

Minha esposa, Regina, reunia nossa grande família para comemorar.

 

A celebração mais marcante foi a chegada do século XXI.

 

Com 36 anos de residência em Cuiabá, Regina havia incorporado nossa cultura, tradições e superstições do último dia do ano.

 

Estava feliz e radiante, recebendo os convidados para a festa com ceia, bebidas, músicas e fogos de artifício.

 

No amplo jardim da cobertura onde moramos, ela ensinava a ‘entrar o ano’ no ponto mais alto da casa, subindo nas bordas da piscina, apoiada apenas no pé direito.

 

O primeiro abraço apertado e beijo eram para mim.

 

Mal sabia que, seis anos depois, uma doença traiçoeira a afastaria de nós, pouco antes de completar sessenta anos.

 

Tudo ficou tão diferente sem ela!

 

As ceias de Natal e Ano Novo se reduziram a reuniões com meus filhos, netos e bisnetos na sala de jantar do andar inferior do meu apartamento.

 

Depois, vou dormir, e as famílias dos meus filhos se reúnem na casa de um deles para a chegada do novo ano.

 

Optar por dormir nas noites festivas durante a época da Regina pareceria uma heresia.

 

Essas lembranças me deixam melancólico e cheio de saudades.

 

O tempo não volta; o que passou, passou.

 

Este ano, minha filha vai inaugurar sua casa em um condomínio fechado na região dos Florais e pretende reunir nossa família nas festas.

 

Embora minha saúde esteja bem até agora, uma mudança de local, para um supersticioso como eu, é arriscada.

 

Não tenho mais tempo para correr riscos.

 

Gabriel Novis Neves

05-12-2024




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