Escrevo, e me incomodo quando me recordo de uma situação, mas esqueço o nome do personagem.
Às vezes, acontece o oposto.
Há dias em que minha memória está afiada, e consigo lembrar de tudo: fatos e nomes fluem com naturalidade.
No domingo, depois do banho da tarde, cansado de não fazer nada, liguei a TV em um canal de esportes.
Estava começando uma partida do campeonato carioca, que outrora foi a mais charmosa competição de futebol do Rio de Janeiro.
Não entendo porque os quatro grandes clubes do Rio agora disputam esses jogos com seus times reservas!
O torneio, aliás, foi reduzido a algo simplificado, de poucos jogos e valor técnico modesto.
Em 1953, ano que Garrincha estreou pelo Botafogo, o regulamento era outro: cada time jogava uma vez por semana, em turno e returno, em casa e no campo do adversário.
A vitória valia dois pontos, o empate, um. Não havia substituições durante os jogos.
Naquela época os clubes não importavam jogadores, mas árbitros ingleses.
O campeonato era uma festa, e muitos bairros tinham seus próprios times, geralmente mantidos por contraventores do jogo do bicho — hoje transformado em patrimônio do governo federal.
Conheci todos: Campo Grande, Bangu, Madureira, Olaria, Bonsucesso, Vasco da Gama, São Cristóvão, América (na Tijuca), Botafogo, Flamengo, Fluminense e o Canto do Rio, em Niterói.
Os estádios eram pequenos, o que só alimentava a rivalidade.
Sem outra opção para passar o tempo, assisti àquela partida horrível.
Meu time venceu por 2 a 0, com gols no finalzinho do primeiro e do segundo tempo.
Durante o jogo recebi uma mensagem no WhatsApp de Osmar, jornalista e dono do site ‘Mídia Hoje’.
Ele queria falar sobre a pretensão de um pesquisador de História, lá de Salvador, na Bahia.
Osmar publica minhas crônicas diariamente, e o pesquisador teve acesso a uma delas pelo site.
Descobriu um texto que escrevi quando minha neta se formou em Medicina: ‘Seis gerações de médicos Novis de Cuiabá’.
Foi o suficiente para chamar a atenção do professor, que escreve sua tese de doutorado sobre o cuiabano Aristides Novis.
Formado em Medicina na Bahia, Aristides lá permaneceu constituindo família e deixando sua marca como professor universitário e figura de destaque na sociedade baiana.
Conversamos longamente, e o domingo parecia estar ao meu favor.
Nada esqueci durante o papo, mas ele só terminou porque meu sono chegou cedo.
Gabriel Novis Neves
27-01-2025
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