No início de um ano novo, é sempre bom revisitar o passado.
Embora eu já tenha registrado em crônicas quase tudo o que vivi, ainda há lembranças delicadas, escondidas no fundo da memória, à espera de serem resgatadas.
Não sou uma celebridade nem famoso o suficiente para que minha vida intima interesse a outros. Contudo, para mim, ela é um baú de emoções preciosas, cultivadas em silêncio.
Minha memória, viva e pulsante, guarda histórias que me fazem feliz.
Quantos riscos enfrentei ao longo da caminhada!
Tive mais alegrias que tristezas. Estas últimas, ainda que jamais esquecidas, foram logo postas de lado.
Recordo-me com carinho das noites na rua Paissandu, já, estudante de Medicina.
Das mudanças de pensões no Rio de Janeiro, cada uma carregada de histórias impossíveis de apagar.
Da Miss São Cristóvão, símbolo de valores culturais, morais e religiosos que, hoje, parecem quase esquecidos pelas sociedades modernas.
Dos plantões na Maternidade de Jacarepaguá, seguidos pelo privilégio de assistir a shows na boate do Copacabana Palace.
Das trapalhadas em terras estrangeiras, onde os costumes eram tão diferentes dos nossos.
Da experiência única de voltar ao meu torrão natal para exercer a medicina generalista e esportiva.
Do meu primeiro emprego público estadual, carregado de significado e aprendizado.
E da longa vivência na cidade universitária de Cuiabá; onde a vida me ofereceu verdadeiras aulas sobre a complexidade do ser humano.
Peregrinei pelos municípios de Mato Grosso e pelos bairros de Cuiabá; acumulando histórias que hoje formam o tecido da minha memória.
Ouvi sons únicos, que ficaram guardados no recôndito da minha mente.
Partilhei segredos entre quatro paredes — confidências gratificantes que o tempo nunca apagou.
Enfrentei uma viuvez precoce, um marco silencioso e transformador em minha jornada.
Reencontrei, após mais de cinquenta anos, os colegas da época de estudante no Rio de Janeiro. O tempo havia transformado seus rostos, mas parecia que tudo aquilo tinha acontecido ontem.
Olhei para a velhice com bons olhos, aceitando suas dificuldades, como a ausência de visitas frequentes.
Descobri, ao longo dos anos, a serenidade de viver em paz comigo mesmo e com os outros.
Aprendi a compreender as crianças —e a ser compreendido por elas.
E trouxe a natureza para perto de mim, preenchendo minha casa com o perfume das flores e o canto dos passarinhos.
O ano novo, é um tempo para recordar e agradecer.
Gabriel Novis Neves
26-01-2025
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