segunda-feira, 3 de agosto de 2015

OITO OU OITENTA


Tenho observado como o humor de certas pessoas transita no decorrer do dia. Vai do mais baixo astral à euforia total.
Há dias visitei um amigo pela manhã. Tudo para ele estava muito ruim em termos físicos, psíquicos e materiais.
Ao conversar comigo, não conseguiu conter as lágrimas de sofrimento. Queixou-se da situação em que vive o nosso país, da sua completa adinamia e até de problemas financeiros e amorosos.
Disse que a solidão é a sua permanente companhia, e o nosso calor o seu maior inimigo, chegando a ser um verdadeiro castigo.
Deixei o encontro completamente arrasado e preocupado com a situação daquela pessoa tão querida! Gostaria de ajudá-lo, sem nem ao menos saber por onde começar.
À noite voltei a procurá-lo e não acreditei naquilo que presenciei. Mesmo com a derrota do seu time do coração, ele estava otimista, falante e, o mais interessante, não se queixava de nada, mesmo com o nosso calor sufocante.
Fiquei sem entender a tudo que assistia em profundo silêncio. Preferi ouvi-lo contar as novidades de maneira muito agradável.
Deixei a companhia do amigo bem tranquilo, embora, sem entender o que acontecera.
No dia seguinte, por pura curiosidade, perguntei a sua competente e de extrema confiança cuidadora, se algo acontecera no intervalo das minhas visitas.
Com a discrição de uma profissional, relatou apenas que durante longo tempo o meu amigo havia conversado ao telefone e, ao encerar a ligação, era outra pessoa. Sofrera uma metamorfose auditiva.
Invadindo a sua privacidade, tentei ainda saber da sua acompanhante detalhes desse telefonema terapêutico.
Único dado que consegui é que isso acontecia sempre.
Foi o suficiente para, pelo menos, chegar a uma hipótese diagnóstica - alguém à distância lhe faz muito bem.
É uma resposta racional para tentar explicar a história do oito aos oitenta no humor de certas pessoas.

Gabriel Novis Neves
18-07-2015

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