domingo, 11 de junho de 2023

OS PITORESCOS 70


Hoje muitos leitores me perguntam como tenho tanto assunto para escrever sobre fatos muito antigos de Cuiabá, e compará-los com os dias atuais.


- Simples, respondo.


Tenho quase oitenta e oito anos completos e gosto de dizer a minha idade.


Procuro no meu passado distante, recordações guardadas, e inicio escrever “Os Pitorescos”, que é a minha coluna mais lida e longa.


Bem antigamente, escrevia muito sobre o lugar em que nasci na rua de Baixo.


Hoje, rua Galdino Pimentel.


Nasci em uma casa pequena, alugada pelo meu pai, próxima a casa onde ele nasceu, na Praça da República, antigo Largo da Matriz.


Caminhando em sentido contrário estava a casa do meu avô Dr. Alberto Novis.


Minha mãe foi o único dos oito filhos do meu avô Alberto, que nasceu na Usina do Itaici, município de Santo Antônio de Leverger.


Hoje a casa onde nasci, e meus irmãos Yara, Pedro e Inon, foi demolida e em seu lugar construída uma loja comercial.


A casa do meu avô Alberto onde nasceram sete dos seus oito filhos foi demolida, e transformada em estacionamento de veículos.


A casa onde nasceram meu pai Olyntho e catorze irmãos foi demolida, para a construção da avenida Getúlio Vargas.


As três residências ficavam no Centro Histórico de Cuiabá.


Bem antigamente, minha casa ficava na Rua Galdino Pimentel, em uma pracinha, caminho para o Morro da Luz.


O Centro Histórico de Cuiabá abrigava os primeiros casarões de Cuiabá, de arquitetura colonial portuguesa que foram demolidos pelo desleixo do poder público.


Restaram escombros e forte comércio popular.


Os moradores de residências de tradicionais famílias cuiabanas migraram para bairros distantes.


A nossa família, em 1950, se mudou para longínqua rua do Campo, hoje rua Barão de Melgaço nº 380.


Morámos lá, até 1982 quando nosso pai faleceu em maio de 1982.


Ficava entre a Academia de Letras de Mato Grosso e o Clube Feminino.


Hoje, existe um estacionamento na casa onde nasceram meus irmãos, Ylcléa, Tieta, Olyntho, Aracy e Ana Beatriz.


Parece estranho o destino das casas onde nascemos e fomos criados.


Nenhuma continua como residência e sim, loja comercial e estacionamento.


Quando retornei do Rio de Janeiro, morei em duas casas alugadas e uma própria no Porto, sem quintal, mas, ampla e confortável, com lindos jardins ornamentais e uma piscina.


Hoje, moro em um espigão de apartamentos, na antiga rua do Caixão, hoje Estevão de Mendonça.


Meus filhos e netas moram em apartamentos assim como o meu neto.


A minha neta mais velha com um casal de filhos menores e marido, mudaram para uma casa em condomínio, onde tem tudo que criança gosta.


Minha única filha e marido, até o final deste ano mudará para uma casa em condomínio fechado.


Hoje está se tomando como antigamente, pelo menos quando o assunto é moradia saudável.


Bem antigamente, a gente nascia em casa, crescia, era educado, casava, tinha filhos, continuava morando lá, adoecia, morria e o velório era na casa onde se tinha nascido.


Seus netos alguns nasciam lá, cresciam, eram educados, casavam e muitos continuavam lá, em período integral ou apenas frequentando às refeições.


As famílias eram numerosas e os casarões amplos com quintais, onde quartos eram construídos para os novos casais.


Viviam numa sociedade perfeita de grande amizade com harmonia.


Hoje não existe mais família numerosa e muitos casais evitam filhos e quando têm nunca passam de dois.


Muitos moram em casa dos seus pais para sobreviver e a viúva banca as contas da casa.


Há inúmeros desses casos aqui em Cuiabá, em todas as classes sociais.


Bem antigamente as pessoas em Cuiabá viviam bem, e umas ajudavam as outras, não existindo esse distanciamento social de agora, que tanto faz sofrer os pobres,


Hoje, salvo raras exceções o lema é: “cada um por si e Deus por todos”.


Gabriel Novis Neves

01-06-2023


USINA ITAICY, datada de 1896.
Situada a aproximadamente 40 quilômetros de Santo Antônio do Leverger, rio Cuiabá abaixo


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