quarta-feira, 21 de junho de 2023

BRINCANDO COM A MEMÓRIA


Resolvi desafiar a minha memória agora que estou prestes a completar 88 anos de vida.


A tarefa era de lembrar dos meus aniversários passados.


Achei melhor começar do fim para o início.


Quando completei “oitenta anos”, meus filhos e netos resolveram comemorar o meu aniversário.


Ficaram responsáveis pelo jantar, decoração do meu apartamento e convidados.


O apartamento ficou lotado com a família bastante numerosa, e poucos amigos que lembraram da data.


Naquela ocasião a minha insuficiência aórtica havia agravado, me obrigando a colocação de uma prótese mitral três anos depois, após haver sofrido várias crises de angina de peito.


Nessa noite recebi uma chamada pelo celular do meu colega de turma Fábio Morinigo, comunicando a minha eleição para a Academia Brasileira de Médicos Escritores (ABRAMES), por unanimidade, no Rio de Janeiro.


Aqui em Cuiabá, essa minha eleição permanece em sigilo e poucos sabem dessa minha “conquista literária”.


Impossível esquecer que algumas pessoas presentes ao meu aniversário já partiram, e era uma noite de frio.


Regina era de quatro e eu de seis de julho, em anos diferentes. 


Ela gostava de comemorar o seu aniversário sempre na data do meu aniversário.


Quando ela completou sessenta anos, as crianças fizeram questão de marcar essa data, com um almoço em um clube da cidade.


Negociou com filhos, netos, noras e genro essa festa dizendo que iria passar os aniversários (dela e meu) em “brancas nuvens”.


No dia quatro de julho, dia do seu nascimento, não houve nada que pudesse lembrar um aniversário marcante.


Dois dias depois rolou uma estranha conversa em casa: que todos nós almoçaríamos em uma churrascaria.


No horário combinado chegamos na porta da casa da festa, que estava encostada.


Quando entrei com a Regina, o salão estava lotado de familiares e amigos, e todos se levantaram e cantaram os “parabéns pra você”, acompanhados por um pequeno conjunto musical.


Foi o aniversário em que mais ganhei presentes em minha vida, esse dos meus “sessenta e nove anos”.


Era um final de tarde início de noite, de seis de julho de 1975.


Morava na rua Major Gama 838, no bairro do Porto.


Retornava para casa após o expediente na UFMT e para minha surpresa encontrei um primo querido que casualmente iria pernoitar em Cuiabá.


Ao abraçá-lo disse que foi um presentão a sua visita no dia do meu aniversário, que ele não sabia.


Pedi que me esperasse por alguns minutos, pois iria me aprontar para com a Regina, irmos ao restaurante do Telmon Brandão em Santo Antônio do Leverger, o famoso “Cacimba. “


Assim completei “quarenta anos” de idade e nessa data “vendendo saúde”, iniciei a fazer prevenção do infarto do miocárdio, tomando um comprimido infantil ao dia, de ácido acetil salicílico.


Estava cursando o primeiro ano de Medicina no Rio de Janeiro, e a minha tia Alba Botelho me deu de presente um almoço em seu apartamento com direito a escolher o prato da comida.


Disse que gostaria de almoçar apenas um prato de Maria Izabel, que é o nosso gostoso arroz com carne seca.


Assim completei “vinte anos”.


Com auxílio de retratos em álbuns antigos, lembrei do meu primeiro aniversário quando deveria ter “três anos”.


Estava sentado naquela cadeira própria de crianças, junto à mesa de bolos e salgadinhos.


Minha mãe estava com a Yara nos braços e uma menina não identificada, que alguns me disseram ser a Alvair, filha de Nair e Álvaro Duarte Monteiro.


Estou programando a festa dos meus “noventa anos”, esbarrando em uma situação muito difícil.


Minha família cresceu, assim como os números de amigos que conquistei.


O espaço para essa confraternização só poderá ser em um clube, e o dinheiro que guardei debaixo do colchão não dá nem para pagar os garçons.


Será que farei essa festa em um lugar ideal que é o céu?


Gabriel Novis Neves

22-06-2023




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