Geralmente o consultório ocupava as salas da frente da própria residência do médico.
Quando voltei à minha cidade natal para exercer a profissão, o sistema ainda era assim.
Como minha casa era muito pequena, aceitei o convite do meu colega de turma, Benedito Canavarros, que morava na "rua dos Porcos", e a passei a usar uma sala de sua casa como consultório.
A sala de espera era no corredor.
Passados alguns anos, ocupei dois salões da casa dos meus pais, na rua do Campo.
Algum tempo depois fui dividir o amplo consultório de Clóvis Pitaluga de Moura, também na rua do Campo, vizinho à casa do historiador Rubens de Mendonça.
Foi nesse período que consolidei minha clínica em Cuiabá, como assistente do grande mestre.
Fui com o Kamil para a Femina, a primeira clínica particular de obstetrícia da cidade, no bairro Bandeirantes.
Curioso que, na noite de sua inauguração — com apenas quatro leitos para gestantes, centro cirúrgico e de reanimação, vários consultórios médicos, ultrassonografia gestacional, citopatológico e de análises clínicas —faltou energia elétrica na hora do corte da fita simbólica. Logo ali, na casa em que as mulheres viriam a dar à luz.
Naquela época, as clientes liam na sala de espera revistas, como O Cruzeiro e Seleções, e o médico conhecia toda a família da paciente pelo nome.
Não existiam planos de saúde: os pacientes eram particulares ou indigentes.
Havia consultas fiadas — e os médicos, tinham cobradores.
Hoje, os médicos atendem em salas comerciais adaptadas, clínicas de especialidades ou hospitais.
Enquanto esperam, os pacientes consultam seus celulares. As consultas são pagas por PIX, quando não são aceitas por dois ou três planos de saúde.
O médico antigo era generalista, atendia toda a família. Esse, não existe mais.
As universidades formam médicos especialistas, que muitas vezes não interessam ao Brasil. E muitos municípios continuam sem médicos.
Gabriel Novis Neves
30-03-2025