quinta-feira, 18 de maio de 2023

41 ANOS SEM O MEU PAI


Hoje ele está completando 41 anos de falecimento.


Por natureza era um homem tranquilo e feliz, contente com aquilo que o destino lhe concedeu.


Cresceu, foi educado em casa, com pouca instrução escolar.


De família numerosa, eram dez homens e cinco mulheres, seus pais só tiveram condições financeiras de enviar os três primeiros filhos para o curso superior no Rio de Janeiro.


Dois se tornaram bacharéis em Direito e se aposentaram como Desembargadores do Tribunal de Justiça do Estado – Mário e Waldemir Neves.


O outro fez Agronomia – Octávio Neves, e trabalhou o tempo todo no Estado.


Os outros filhos, meu pai era da turma do meio para baixo, nunca puderam sair para estudar, pois naquela época Cuiabá não possuía nenhum curso superior.


Até aos vinte e seis anos, meu pai vivia com seus pais, e arrumava um dinheirinho mensal fazendo pequenas coisas, como cobranças para o farmacêutico Pedro Celestino Correa da Costa e outros profissionais liberais.


Era comum o fiado, e no final do mês o cobrador fazia a cobrança na casa do devedor.


Quando retornei formado (1964), ainda existia esse hábito, e o meu cobrador foi o Cristino, motorista do SAMDU, que nas horas vagas era cobrador de alguns médicos.


Minha avó Eugênia vendo seus filhos Olyntho, João, Clodomiro e Darcy desempregados e sem profissão definida, incentivou o meu pai para abrir um bar, inaugurado em 29-06-1920, com o nome de Bar Moderno.


Funcionou durante alguns anos no galpão do Cine Parisiense, com o nome de Bar Moderno, porém conhecido como bar do Bugre, apelido do meu pai.


Meu pai chamou seus irmãos João, Clodomiro e Darci para trabalhar com ele.


Meu pai se casou com Irene Novis em 1934, vinte anos mais nova que ele, já com o bar estabilizado em prédio próprio, na rua de Cima, esquina da Praça Alencastro e da República.


João e Clodomiro faleceram, ficando papai e Darci até o fechamento do bar em 29-06-1970, com cinquenta anos de portas abertas e o meu pai com 76 anos, considerado velho e com problemas de saúde: hiperplasia de próstata e osteoartrose, além de falido.


Meu pai educou seus nove filhos todos nascidos em casa, sendo quatro na rua de Baixo e cinco na rua do Campo.


Tornou-se um expert em partos caseiros, tendo inclusive, feito o parto da minha irmã caçula.


Três estudaram no Rio, sendo dois médicos e um economista. O outro diplomou-se em Direito, pela Faculdade Federal de Direito da Universidade Federal de Mato Grosso, implantada pelo seu primogênito.


Das suas cinco filhas, duas tem curso superior, uma com mestrado e as outras com ensino médio completo.


Meu pai foi um homem muito feliz e tinha consciência da sua felicidade.


Porém, o dia que se sentiu particularmente feliz, foi quando, em uma manhã de 1955, recebeu meu telegrama do Rio de Janeiro, com os dizeres: “Pai, passei no vestibular de medicina da Praia Vermelha! “


Logo pensou: “filho do dono de bar vai ser médico formado na Praia Vermelha! “


Passou o dia todo mostrando o telegrama a todos os fregueses que iam ao bar.


Fazia questão de frisar que era a da Praia Vermelha, a melhor do Brasil e com ensino gratuito.


Morreu em casa ao lado da mulher Irene e cercado dos nove filhos, genros, noras, netos e netas no dia 18-05-1982.


Não recebeu nenhuma homenagem da sua cidade que tanto amou.


Feliz, com a missão cumprida aqui na terra.


Gabriel Novis Neves

18-05-2017




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