terça-feira, 5 de novembro de 2024

MINHAS TRÊS QUEDAS


Após os 85 anos tive três quedas — a mais importante no banheiro.


Senti que iria cair e não possuía forças para me sustentar em pé.


Consciente, escolhi a porta de entrada do banheiro para desabar, batendo fortemente a região occipital no chão.


Não houve ferida aberta, apenas um enorme hematoma, ‘chamado de galo’, e escoriações generalizadas.


Fui colocado na cama pelas cuidadoras e fiquei em observação, temendo o hematoma cerebral.


Compressas de gelo no primeiro dia e de calor depois.


Fiquei roxo durante trinta dias, especialmente no rosto e membros superiores.


Graças a Deus me safei sem sequelas desse acidente doméstico.


Um ano depois, ao me levantar da cama, caí abruptamente batendo a cabeça nas maçanetas das gavetas da minha mesinha do quarto, quebrando com o occipital uma delas e entortando a outra.


Chamei por socorro para alcançar o colchão da cama do meu dormitório.


Não houve ferida, apenas escoriações pelo corpo e o ‘galo’ occipital.


Este ano eu consegui cair no espaço entre a minha cama e a mesinha ao lada da cabeceira.


Nos três casos não houve necessidade de exames de imagens.


Daí para frente, só levanto da cama com o apoio de um ‘braço amigo’.


A campainha de mão passou a ser a minha companheira inseparável.


Tomo banho de chuveiro sentado na cadeira, e não faço mais a barba de pé em frente ao espelho do banheiro.


Sou portador de disautonomia, uma doença que afeta o sistema nervoso autônomo, responsável por comandar ações automáticas, sem que haja interferência do paciente.


Um dos sinais mais frequentes da disautonomia é a dificuldade em ficar de pé por muito tempo devido à ocorrência da tontura, hipotensão e queda.


É uma doença que não mata e não tem cura.


O melhor remédio é sempre ter um ‘braço amigo’ para me levantar e caminhar.


Essa é a razão que não saio mais de casa, a não ser para ir ao médico e dentista.


Muitos estranham a minha ausência nesses eventos festivos, e o motivo é a disautonomia.


Procuro ser o mais cuidadoso possível para evitar outras quedas, uma das três causas mais frequentes de óbitos em idosos.


Gabriel Novis Neves

04-11-2024




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