terça-feira, 7 de abril de 2015

VIÚVO


Há alguns anos me encontro neste estado civil. A viuvez para quem fica acarreta sentimentos de insegurança e desamparo.
Apesar de terem se passados alguns anos da minha perda, não consegui assimilar muito bem meu luto. Encontro-me ainda em período de ajustamento em muitos aspectos da minha vida.
O pior deles, sem dúvida alguma, é a solidão. Creio mesmo que ela irá me acompanhar para todo o sempre.
Com o tempo fui forçado a aprender a lidar com as solicitações que a realidade, no funcionamento cotidiano, me apresentava. Inclusive, e principalmente, com a estrutura doméstica.
No nosso antigo sistema de organização social, o marido geralmente era o provedor e a mulher a executiva dos trabalhos domésticos.
Nos tempos atuais a mulher está cada vez mais presente no mercado de trabalho. As tarefas domésticas, então, são muitas vezes compartilhadas com o esposo.
No entanto, sou da época antiga e fui traído pela ausência prematura da minha mulher.
Quanta coisa eu tive de aprender! Com grandes dificuldades fui me adaptando ao meu novo e assustador estilo de vida.
Isso me fez valorizar ainda mais o papel feminino na vida da família e os trabalhos domésticos.
Não é fácil administrar uma casa! Não possuía nenhuma noção de tão complexa é essa tarefa.
São tantos detalhes no gerenciamento de um lar, que só o destino - professor de causas impossíveis - foi capaz de me ajudar.
Após nove anos de muitas tentativas de acertos, motivadas pela inexperiência e solidão, parece que estou começando a aprender a difícil arte das lides domésticas.
Sem falar, é claro, que tive de aprender a tomar conta de mim mesmo, tomar minhas decisões e superar as dificuldades.
Sabia ser o trabalho caseiro de grande valia na vida de uma família, mas, não tinha ideia da dimensão da sua complexidade.
O tempo é o melhor aferidor sobre tudo que realizamos.
Com erros e acertos caminhamos, e agora, quase no final da linha exercemos - não com a mesma eficiência - o trabalho outrora exclusivo da grande ausente.
Viúvo é aquele que fica na face da Terra na solidão da multidão, sujeito aos embates não agradáveis do nosso cotidiano, sem a parceria no momento das decisões do dia a dia. 
A presença da ausência é o único legado para quem fica.

Gabriel Novis Neves
28-03-2015

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