Os mangueirais cuiabanos impediam a entrada do sol nos quintalões e estendiam seus generosos braços sobre as calçadas, oferecendo sombras inesquecíveis.
Essas sombras, que se espalhavam por quase toda a cidade, eram não apenas refúgio contra o calor, mas também ponto de encontro de conversas que só o tempo lento permitia.
O calorão de Cuiabá sempre interferiu nos hábitos da cidade —até no nosso jeito de falar.
Falamos com a boca aberta, para respirar melhor, fato que já despertou a curiosidade dos estudiosos.
Pelo linguajar, até medimos distâncias, como quando dizíamos que a antiga lavadeira morava ...lá...no Despraiado.
Perdemos os casarões, os quintalões, a sombra dos mangueirais e os encontros nas calçadas.
Cuiabá nunca teve um plano diretor de arborização, e a especulação imobiliária destruiu o que a natureza nos havia ofertado.
A sociedade civil organizada, após amplo debate com universidades, Governo do Estado, Assembleia Legislativa e população em geral, levou um projeto à Câmara dos Vereadores para discussão, aprovação e sanção do prefeito — ele próprio arquiteto-urbanista.
Só assim poderemos sonhar novamente com a sombra das árvores encobrindo nossas calçadas.
Cuiabá é conhecida como ‘Cuiabrasa’, a cidade mais quente do Brasil.
Pelo progresso, perdemos uma cidade arborizada, cortada por córregos e riachos, com tanques de água que amenizavam o calor.
Eu aproveitei esses caprichos da natureza para me banhar e refrescar.
E como esquecer os banhos de chuva — alegria de gerações?
Banhos nos rios Coxipó da Ponte e do Ouro, além do Cuiabá, completavam essa paisagem generosa.
Ainda hoje, os córregos abundam, formando pequenas lagoas ao longo da rodovia Cuiabá-Chapada dos Guimarães, onde o clima é bem mais ameno.
Como não sentir saudade daquela Cuiabá de outrora, tão cativante e acolhedora?
Não é saudosismo — é apenas reconhecer que perdemos o que tínhamos de mais belo.
Gabriel Novis Neves
13-09-2025
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.