quarta-feira, 24 de setembro de 2025

O ECO DAS RUAS VAZIAS


Hoje já não existe mais ruas vazias, a não ser nos modernos condomínios bem afastados das cidades.

 

Noutros tempos, eram tantas as ruas desertas que produziam um eco —o eco das ruas vazias.

 

Palcos perfeitos para despertar o imponderável de situações irreais.

 

Quantas histórias de terror ouvi das babás nas noites depois do jantar!

 

O pavor daquelas narrativas ainda carrego na memória.

 

Uma das brincadeiras das crianças do meu tempo era gritar em uma rua vazia e esperar pelo eco.

 

Todos ouviam o eco, e logo surgia o comentário: seriam respostas de almas do outro mundo?

 

Como era fértil a imaginação das crianças de outrora!

 

Não sei se as de hoje ainda acreditam em almas do além a provocar o eco das ruas vazias.

 

Hoje temem os bandidos e agentes do mal, chorando e agarrando-se às saias das mães — quando não evitam por completo esses lugares.

 

Na infância eu costumava brincar no Beco Alto, na Prainha, gritando em voz alta e aguardando a resposta: o eco. 

 

Hoje reparo que o Beco Alto está todo habitado e não é tão alto assim que pudesse ser considerado uma rua vazia.

 

A Prainha, por sua vez, foi transformada em avenida para escoar o trânsito.

 

E assim as ilusões da infância vão desaparecendo, restando apenas as histórias para serem contadas.

 

Os colegas mais velhos nos ensinavam que, a certa distância de um muro, ou mesmo dentro de um cinema, o eco surgia com intensidade — sem necessidade de ruas vazias.

 

Gosto de ouvir histórias. E porquê não também contá-las?

 

Dia desses, assisti pela televisão à lembrança de um fato histórico importante, acontecido há sessenta anos.

 

Os presentes e oradores, em um pequeno auditório, se consideravam heróis, ouvindo o eco da glória.

 

Os ausentes, verdadeiros heróis de fato, ‘en passant’ foram lembrados no eco das palavras.

 

E a vida continua assim.

 

Gabriel Novis Neves

23-09-2025


Largo do 'Beco Alto'








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