Da janela do meu escritório, no vigésimo andar de um edifício no centro de Cuiabá, contemplo o final de tarde de um domingo feriado.
O silêncio que invade a cidade é avassalador!
Nenhum ruído se ouve.
Parece que todos se mudaram, que os moradores evaporaram, levando com eles até o rádio, que poderia escapar ao longe uma música.
Estou só, mas não é solidão. É apenas o tempo passando em paz.
Amanhã, certamente, me queixarei do barulho irritante das ruas, dos automóveis, até mesmo do ruído do elevador.
Hoje, porém, o que me incomoda é o vazio sonoro das tardes de domingo.
Nunca gostei desse silêncio.
Quisera ter ao menos um Maracanã por perto, para ouvir os gritos de gol que quebrassem o marasmo.
Será que há gente como eu, que prefere o meio-termo das tardes dominicais —nem muito barulho nem tanto silêncio?
Quando lembro que na segunda-feira a cidade despertará ruidosa e apressada, penso que talvez o silêncio não seja tão mau.
Dizem que segunda-feira é o dia de preguiça, mas não concordo: esse troféu pertence ao domingo, dia em que se pode dormir até mais tarde, sem pressa de banho ou de vida.
Com o tempo, vamos mudando hábitos.
Quando jovem, o domingo ao entardecer me entristecia: era a hora de voltar para casa e me preparar para a semana.
Hoje, aos noventa anos, viver é aventura e chegar até aqui foi um desafio.
Tudo fica mais distante, menos a linha de chegada da eternidade.
Olho ao meu redor e percebo que poucos companheiros da minha geração ainda caminham comigo.
E é nesse silêncio dominical que tais pensamentos encontram espaço, abrindo frestas para a melancolia.
Para escapar dele tento me distrair com a escrita — ou, quem sabe, apenas rabisco linhas que me ajudam a atravessar o tempo.
Gabriel Novis Neves
07-09-2025
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