segunda-feira, 30 de junho de 2025

ENQUANTO ESPERO O DIA PASSAR


Estou na semana do meu aniversário e ansioso para que esse dia passe. Enquanto espero, o assunto é um só.

 

Já escrevi tudo sobre essa data tão marcante para mim!

 

Preciso voltar a navegar por outros assuntos e descansar um pouco a mente desse tema.

 

Curti mais do que o necessário essa fase pré-data.

 

Mais do que suficiente pesquei na memória os fatos relevantes deste quase centenário.

 

Compartilhei o que foi possível e deixei no passado muitos episódios que julguei irrelevantes — esses entreguei ao esquecimento.

 

Tenho uma sequência de crônicas prontas para publicar até o próximo domingo. Algumas, se Deus quiser, ficarão para o ano que vem.

 

Muitos estranham essa minha vontade de enfileirar anos à minha vida.

 

Enquanto estiver com saúde, como agora, é o que mais desejo.

 

Gozar dos prazeres da vida, rodeado de filhos, netos, bisnetos, irmãos e amigos, com disposição para escrever — é tudo o que espero.

 

Só me resta aguardar que esses dias passem para que minha vida retorne ao ritmo normal.

 

Certas datas têm o peso de uma marca que sempre alvejamos.

 

Dezembro está cheio delas, que mexem com a gente.

 

Já escrevi novas crônicas para esse mês que sempre nos toca.

 

No ano que vem, meu aniversário em julho será diferente. Completarei mais um ano nessa sequência que agora se inicia. Sentimento igual, ou talvez mais intenso, terei às vésperas do meu centenário.

 

Farei algumas adequações à minha saúde e, mesmo contrariando alguns, desejo viver muitos anos.

 

Nada mais triste existe do que deixar um ente querido pelo caminho.

 

Sinto muita falta deles. Não me saem do pensamento.

 

Como gostaria de conversar com aqueles que me educaram!

 

Às vezes me surpreendo escrevendo sobre esse passado já tão longínquo — e nem sei explicar por quê.

 

Enfim, é a vida.

 

Gabriel Novis Neves

29-06-2025




domingo, 29 de junho de 2025

CANSADO, MAS NÃO VAZIO


Publicar uma crônica por dia, durante dezesseis anos, não é tarefa das mais simples.

 

Com esforço e inspiração, há dias em que falho. E tudo bem.

 

Estou encerrando uma etapa: escrevi um verdadeiro inventário dos meus anos vividos.

 

Registrei fatos importantes que permaneciam guardados apenas na memória — agora estão disponíveis para consultas futuras, talvez úteis a estudiosos da história regional.

 

Lendo um blog chamado Cuiabá de Outrora, descobri que só não me lembrava do nome da primeira Miss Cuiabá.

 

As demais foram minhas conhecidas, algumas até amigas.

 

A importância desse tipo de registro está em revelar o desenvolvimento social e econômico da nossa cidade — e em permitir comparações com os concursos de beleza atuais.

 

O império que nos colonizou, com seus reis, rainhas, príncipes e princesas, inspirou títulos que foram incorporados às nossas festas, civis e religiosas.

 

Tornou-se até carinhoso chamar nossas crianças de príncipes e princesas.

 

De vez em quando vale a pena vasculhar o que se esconde na internet.

 

Em meio ao noticiário político que ocupa quase todo o espaço, e ao Campeonato Mundial de Clubes nos Estados Unidos — que em breve termina —, sempre sobra algo curioso para alimentar uma crônica.

 

Li, por exemplo, que uma brasileira foi à França, mudar a cor dos olhos. Essa cirurgia é proibida no Brasil.

 

E há os andarilhos que atravessam o mundo a pé — muitos deles brasileiros —com apenas uma mochila nas costas.

 

Escalam montanhas, visitam vulcões, atravessam rios e geleiras. A aventura, para eles, é a própria vida.

 

Imagino as dificuldades: do idioma à alimentação.

 

Muitos perecem em condições que escandalizam o mundo.

 

E tudo isso sem esperar vantagem financeira alguma — apenas o prazer de viver no risco.

 

A vida é difícil de ser vivida, mais ainda de ser compreendida.

 

E nós, à distância, apenas observamos.

 

Gabriel Novis Neves

26-06-2025




sábado, 28 de junho de 2025

SÃO PEDRO, PADROEIRO


São Pedro foi escolhido padroeiro da família Novis Neves por acaso — ou talvez por desígnio que só o tempo revelaria.

 

Meu pai, de família católica não praticante, inaugurou seu bar no galpão do antigo cinema de Cuiabá, no dia 29 de junho de 1920, onde hoje se ergue parte do prédio do Grande Hotel.

 

Na verdade, era mais uma lanchonete: serviam-se bebidas, sucos, refrescos e salgadinhos feitos pela minha avó, com o auxílio de suas filhas. Papai, então com 26 anos, instrução primária e desempregado, tornou-se o proprietário. Trouxe consigo três irmãos menores: Tino, Yoyô e Joãozinho, que o ajudaram desde o início.

 

A festa de inauguração foi um sucesso, prestigiada pela sociedade cuiabana e por intelectuais da época. Lá pelas tantas da noite, alguém gritou: “Este bar não terá nome? ”

 

As sugestões pipocaram. Muitos insistiam em batizá-lo Bar São Pedro, pela data. Meu pai ouvia tudo em silêncio, até que um poeta bradou: “Bares São Pedro teremos muitos. Este será o Bar Moderno — um centro de convivência sempre à frente de seu tempo!”

 

Assim nasceu o Bar Moderno, numa noite de São Pedro de 1920. Registrado na Junta Comercial com esse nome, acabou conhecido por todos como Bar do Bugre — apelido carinhoso de seu proprietário.

 

Com o sucesso do bar, meu pai comprou um casarão na rua de Cima, esquina com a Praça da República, adaptou-o e para lá se mudou. Em 1934, casou-se com minha mãe Irene, católica fervorosa, que logo atribuiu todas as bênçãos da prosperidade à intercessão de São Pedro.

 

Foi ela quem adquiriu a imagem do santo. Desde então, a festa passou a ser celebrada todos os anos. A imagem era levada por meu pai em procissão até a igreja, colocada no altar para a missa solene, com a presença de familiares, amigos e vizinhos.

 

Ao fim da cerimônia, retornava-se à casa para o tradicional chá com bolo. No almoço, macarronada com galinha. À noite, o arraial: comidas típicas, danças, brincadeiras e muitos fogos de artifício. Assim era a festa do nosso padroeiro.

 

Por herança, coube à nossa irmã Aracy a guarda da imagem de São Pedro e a continuidade da celebração — adaptada aos tempos modernos, mas sempre no dia 29 de junho.

 

A fogueira talvez já não brilhe como antes, mas a fé permanece acesa no coração da família.

 

Viva São Pedro!

 

Gabriel Novis Neves

29 -06-2025








sexta-feira, 27 de junho de 2025

METAS CONSEGUIDAS


Estou feliz com as metas alcançadas na minha vida. Sei que vivi bastante, baseado em tudo aquilo que presenciei.

 

Na hora do almoço, com a televisão ligada no jogo do Campeonato Mundial de Clubes, nos Estados Unidos, senti o quanto já percorri nesta vida.

 

Lembro-me de quando tinha quinze anos e acompanhei pelo rádio os jogos da Copa do Mundo no Brasil.

 

No dia 16 de julho de 1950 perdemos a Copa para os uruguaios, em pleno Maracanã.

 

Já se passaram setenta e cinco anos dessa tragédia!

 

Quanta água já correu debaixo da ponte da minha existência.

 

Enumerar os acontecimentos daria um livro de história.

 

Cheguei vivo e lúcido aos bisnetos, à internet e à Inteligência Artificial (IA).

 

Assisti à transformação do mundo em todos os sentidos — para bem e para o mal.

 

A fome e pobreza ainda não foram banidas da face da Terra.

 

E o que pensar, com saudade, da cidadezinha onde nasci!

 

Presenciei suas mudanças — e fui protagonista de algumas.

 

Só vivendo muito, e com saúde, é possível degustar quase um século de transformações.

 

Períodos de alegria e dor —é a vida.

 

Coisas que existiam e já não existem mais.

 

O enorme avanço do conhecimento... e ainda tanta coisa por conhecer.

 

Cuiabá do Centro Histórico e seus largos, das ruas e quintais arborizados, dos arrabaldes, sítios e chácaras.

 

Hoje, é uma cidade com pouca arborização, cheia de prédios e condomínios de alto luxo na periferia urbana.

 

Aquela cidadezinha onde as famílias eram numerosas e cursar o ensino superior era um luxo, ficou para trás.

 

Mesmo assim, depois de ter passado por todas essas etapas, ainda quero continuar acrescentando anos à minha vida.

 

Quanta novidade ainda terei que aprender com a longevidade!

 

Os cientistas continuam pesquisando, e tudo é possível acontecer de revolucionário nos próximos dez anos.

 

O ser humano é eternamente insaciável — sempre quer mais.

 

Eu tenho uma leve impressão... de que quero ficar de semente...

 

Gabriel Novis Neves

18-06-2025




quinta-feira, 26 de junho de 2025

RESSOCIALIZAR


A palavra parece dura, quase um castigo. Ressocializar: voltar ao convívio, reaprender o coletivo, tornar-se novamente parte de um todo.

 

Mas quem nunca, mesmo sem grades, precisou se ressocializar?

 

Depois de uma longa doença, de um luto profundo, de um rompimento, de uma pandemia — quantos de nós não se viram estranhos no próprio mundo, com medo de sair de casa ou até de si mesmo?

 

Não são apenas os que erraram na lei que precisam reaprender a viver em sociedade. Muitos de nós, por razões diversas, nos afastamos. Às vezes, sem perceber. O silêncio vai ficando confortável. O pijama, um uniforme. A solidão, companhia constante.

 

Ressocializar é mais do que voltar a andar nas ruas. É olhar nos olhos, conversar sem pressa, ouvir e ser ouvido. É permitir-se rir sem culpa, aceitar um convite, dar bom-dia sem sentir-se intruso.

 

É um processo lento, quase artesanal. Requer paciência, coragem e, acima de tudo, alguém que estenda a mão sem julgar. Um amigo, um parente, até um desconhecido com um gesto simples: um sorriso sincero, um café oferecido, um “como vai?” que realmente queira saber.

 

Na velhice, ressocializar tem outro peso. O mundo gira mais rápido, e quem envelhece, muitas vezes, fica na margem. Mas o desejo de pertencer não envelhece com o corpo. Continua ali, batendo no peito.

 

Às vezes, basta um encontro no elevador, uma troca de palavras na calçada, um telefonema fora de hora.

 

Pequenos atos que nos lembram parte da vida. Que ainda somos lembrados.

 

Porque viver isolado é sobreviver.

 

Viver com os outros é, enfim, viver.

 

Por isso, quando penso em ressocializar, penso também em acolher. A mim mesmo e aos outros.

 

Gabriel Novis Neves

25-06-2025




quarta-feira, 25 de junho de 2025

ESCUTAR O CORPO


Aprendi com o tempo que para o nosso próprio bem jamais devemos contrariar o corpo.

 

Se ele quiser deitar, que se deite. Se não quiser comer, não coma.

 

Essa é uma das leis mais sábias da natureza — e ignorá-la é sempre um erro.

 

Tenho seguido esse princípio em tudo que faço, especialmente quando escrevo.

 

Se não estou com vontade de escrever, deixo o tempo passar. Logo surge aquela inquietação boa — a escrita se impõe como necessidade.

 

Se insisto antes da hora, fico curvado sobre o teclado sem produzir uma linha sequer.

 

A criação exige um raio de inspiração, desses que iluminam de repente a tela em branco do Word.

 

E mais: a inspiração não pode ser armazenada.

 

Quando chega, deve ser logo acolhida e compartilhada.

 

Às vezes começo um texto e demoro dias para terminá-lo.

 

Ainda nem concluí este, e já estou pensando no próximo.

 

Se demorar muito, posso acabar esquecendo a ideia inicial.

 

Por isso anoto, ao menos, o futuro título, para não perdê-lo.

 

O nosso corpo — ou melhor, o nosso cérebro — é um prodígio.

 

Muitos pesquisadores o estudam, e ele continua sendo uma caixinha de segredos.

 

Dizem que ali nascem todos os sentimentos — dos mais tênues aos mais avassaladores.

 

É a morada dos mistérios que faz a vida valer a pena.

 

O neurocirurgião passeia por ele e não vê nada de anormal, porque a ciência ainda tem a chave para os nossos afetos.

 

Grosseiramente chamamos de ‘corpo’ tudo aquilo que nos avisa, que nos inquieta — e acabamos obedecendo.

 

Deitamos, tomamos banho, namoramos... como se tudo viesse de comandos do corpo.

 

Na gravidez o desejo extravagante que certas mulheres sentem é o corpo buscando o impossível.

 

A verdade é que hoje não contrariei o meu corpo — e me dei muito bem.

 

Fiquei duas horas na cama e, ao voltar ao escritório não encontrei dificuldade para concluir este texto.

 

Nunca mais contrariarei o meu corpo.

 

Gabriel Novis Neves

21-06-2025




terça-feira, 24 de junho de 2025

MÚSICA QUE ME FAZ FALTA


Na rua dos fundos do meu edifício foi instalado um chique restaurante que só funciona para o jantar.

 

Por volta das 18 horas ouço suaves canções que vêm de lá, interpretadas por grandes nomes da nossa popular música brasileira.

 

Do meu escritório, no vigésimo andar, capto com clareza e perfeição as ondas sonoras que vencem o barulho dos veículos e me trazem uma sensação de profundo bem-estar.

 

Fiquei condicionado a esse presente auditivo, que me estimula a escrever com leveza e alegria.

 

Ontem, não sei por que, a música não veio. Faltou o encanto que já fazia parte do meu entardecer.

 

Encerrei mais cedo o trabalho, torcendo para que hoje o restaurante retorne sua rotina musical.

 

Foi apenas quando estudei o sistema nervoso autônomo que compreendi os mecanismos desse tipo de resposta — uma das muitas diabruras criadas pelo nosso cérebro.

 

O condicionamento está presente em todas as fases da nossa vida, desde o nascimento.

 

As canções de ninar são nossos primeiros reflexos condicionados, conduzindo ao sono fisiológico. E quanta beleza os artistas já criaram nesse gênero!

 

Uma das recordações mais remotas de um adulto é cantarolar a canção que aprendeu com a mãe balançando na rede.

 

Até hoje esse hábito resiste.

 

Sem a música do restaurante sinto dificuldade de escrever. Procuro algo para preencher esse vazio existencial.

 

Fui para o quarto dormir, esperando que o novo dia traga de volta a minha música das seis da tarde.

 

Quero matar a saudade de escrever embalado pelas canções que vêm do fundo do meu edifício.

 

Se nos viciamos em ouvir músicas, por quê não em estar com as pessoas ao nosso redor?

 

Os pequerruchos estranham a ausência de contato humano — choram.

 

Com o tempo e o crescimento se acostumam.

 

Será que também me acostumarei ao silêncio musical do restaurante?

 

Gabriel Novis Neves

14-06-2025




segunda-feira, 23 de junho de 2025

CUIABÁ IRRECONHECÍVEL


Bastou o serviço de meteorologia anunciar o início do inverno para Cuiabá amanhecer com o clima mudado — temperatura amena e um certo encanto no ar.

 

Não houve necessidade de ligar o aparelho de refrigeração, tampouco de abrir as janelas da casa.

 

Na sesta, o cobertor fez parte do conforto, como nos tempos da infância, da cidadezinha onde nasci.

 

Vou torcer para ver quantos dias durará essa lua de mel com o clima.

 

A cozinheira me alertou: ‘Não se esqueça de usar um casaquinho à noite’.

 

É comum, na primeira semana de julho, fazer frio por aqui. O frio está sempre presente nas madrugadas das missas do santo querido.

 

É a oportunidade para as roupas pesadas saírem dos armários.

 

Os amantes das baixas temperaturas sobem a serra para degustar vinhos e comidas típicas na Chapada dos Guimarães.

 

É comum, nesse período, a cidade serrana acordar tarde, esperando a neblina se dissipar para o sol aparecer.

 

Muitos eventos culturais, com shows de artistas famosos, também se fazem presente.

 

O inverno é um presente que a Chapada recebeu para alavancar o turismo na região.

 

Já o cuiabano foge do frio — especialmente do banho —, com medo de se resfriar e morrer de pneumonia.

 

Às vezes abre exceção para um banho de assento com água morna.

 

O cuiabano reclama do calor, mas no fundo, detesta o frio.

 

Turistas de todo o Brasil — e até do exterior — vêm experimentar o friozinho da Chapada e apreciar suas belezas naturais.

 

Cachoeiras, riachos, paredões com inscrições atribuídas aos fenícios, chapadões com vista maravilhosa para a cidade de Cuiabá — uma beleza incomparável ao anoitecer.

 

O acender das luzes de Cuiabá é um espetáculo que deve ser contemplado. Sua beleza é única.

 

Os santos juninos requerem esse friozinho, para manter a tradição dos arraiais — com suas procissões, danças, bebidas quentes e missas de madrugada.

 

Assim é o inverno cuiabano desde sempre — breve, tímido e encantador — na cidade mais quente do Brasil.

 

Gabriel Novis Neves

20-06-2025










domingo, 22 de junho de 2025

UM DIA SEM ESCREVER


Passei o domingo sem escrever. Assisti pela TV aos jogos do Campeonato Mundial de Clubes, realizado nos Estados Unidos.

 

Vi apenas dois: o das três e o das seis da tarde, no horário Cuiabá.

 

Gostei da partida dos franceses do PSG, que golearam os espanhóis do Atlético de Madrid, dando um show de futebol.

 

Os 4X0 ficaram baratos para os espanhóis.

 

O Palmeiras tinha tudo para vencer os portugueses do Porto, mas se embaraçou em campo e o jogo terminou em zero a zero.

 

A partida do Botafogo começou muito tarde, e eu não resisti ao sono.

 

Ao acordar, soube que venceu — como sempre, sofrendo muito.

 

O Botafogo sofre ganhando ou perdendo. Que sina!

 

Teremos um mês inteiro de campeonato e, se o meu time chegar à final, quanto sofrimento!

 

O melhor teste para o meu coração é assistir aos jogos do Botafogo!

 

Haja estresse!

 

Num campeonato mundial de clubes tenho que torcer contra vários times — e só de brasileiros são três muito fortes.

 

Imagino como serão meus dias nesse período...

 

O pior é que os melhores jogadores do meu time foram vendidos para clubes de países com moedas fortes.

 

Aquele time campeão do ano passado praticamente não existe mais — e as peças de reposição são bem inferiores.

 

Bons tempos aqueles do Nilton Santos, que só jogou no Botafogo, disputou quatro Copas do Mundo e hoje dá nome a um estádio.

 

Hoje o torcedor mais atento mal consegue saber a escalação do seu próprio time.

 

Ainda bem que à tarde irei ao oftalmologista para exames de rotina.

 

Pelo Google, acompanharei os resultados.

 

A FIFA é uma entidade poderosíssima e riquíquissima, que comanda o futebol nos cinco continentes.

 

Movimenta bilhões de euros e dólares, e seus dirigentes levam vida de marajás.

 

O futebol virou um dos negócios mais rentáveis do mundo.

 

Gabriel Novis Neves

16-06-2025




sábado, 21 de junho de 2025

HOMENAGEM ANTECIPADA


Recebi da Universidade Federal de Mato Grosso uma linda e comovente homenagem.

 

Foi no Teatro Universitário, inaugurado em 1982 com a peça Macunaíma, de Mário de Andrade, sob direção de Antunes Filho.

 

A reitora professora doutora Marluce ofereceu-me como presente antecipado de aniversário, um concerto com a Orquestra Sinfônica da UFMT, com destaque para seu novo piano de cauda.

 

Reativando o Profeto Memória no início da sua gestão, ela inaugurou a placa na Sala de Partos — primeira sede da Reitoria e do Conselho Diretor.

 

Na ocasião leu um texto que enviei à época contando essa história.

 

A reitora Marluce e a Orquestra sinfônica foram calorosamente aplaudidas pelo público que lotava as dependências do belo teatro.

 

Cantaram ‘Parabéns a Você’ ao Reitor-Fundador, que completará, no dia 6 de julho, noventa anos.

 

Fiquei profundamente alegre e emocionado com as manifestações de carinho da comunidade universitária, que jamais se esqueceu de mim.

 

Sou o reitor mais longevo no cargo — e em vida.

 

Espero estar com saúde em nova homenagem na festa dos meus cem anos.

 

Quero contar outras histórias, como a da Sala de Partos, em reverência ao primeiro reitor, que era médico e parteiro.

 

Poderia narrar também a trajetória da nossa Orquestra Sinfônica, que nasceu como um Quarteto de Cordas.

 

Tenho inúmeras histórias para o Projeto Memória, pois nada na UFMT surgiu por acaso.

 

Em apenas cinquenta e cinco anos de existência, nossa universidade acumulou conquistas ricas e, muitas vezes desconhecidas dos mais jovens.

 

Tenho certeza de que o Projeto Memória da UFMT não deixará que essas vitórias se percam no tempo.

 

Precisamos formar excelentes alunos conscientes do seu passado de lutas e glórias.

 

Quisera fazer aniversário todos os meses, só para participar de reuniões que tanto me tocam o coração.

 

Obrigado, reitora, professora doutora Marluce, e a toda a comunidade acadêmica, tão bem dirigida por Vossa Magnificência!

 

Gabriel Novis Neves

13-06-2023







sexta-feira, 20 de junho de 2025

TAPETES DE CORPUS CHRISTI


Quando criança, como eu gostava de ajudar minha mãe a enfeitar a frente da nossa casa e a rua por onde passaria a procissão de Corpus Christi!

 

Todos os moradores que viviam ao longo do trajeto faziam o mesmo.

 

A procissão saía da Catedral Metropolitana, percorria a rua de Cima, descia a Voluntários da Pátria, alcançava a rua de Baixo e, então, retornava à Catedral.

 

Todo esse caminho era coberto por tapetes de flores com imagens bíblicas, e as casas se adornavam com finas toalhas de linho branco e flores em suas fachadas.

 

O vigário carregava o Corpo e Sangue de Cristo sob um pálio sustentado por fiéis.

 

Foi o espetáculo religioso mais comovente que presenciei na década de quarenta.

 

Era quando o Corpo de Deus deixava o altar da Catedral e, levado em ostensório, o Santíssimo Sacramento percorria as ruas de Cuiabá, distribuindo bênçãos.

 

Os fiéis rezavam, cantavam e o povo acompanhava, numa bela demonstração de fé cristã.

 

A confecção dos tapetes, além de um ato de devoção, era também momento de confraternização entre os fiéis.

 

Utilizavam-se materiais simples: pó de café usado, sal, areia, tintas para tingir, tampinhas de garrafas, cascas de ovos, cal para pintura — tudo ganhava nova vida na confecção dos tradicionais tapetes de Corpus Christi.

 

A tradição nasceu em Portugal e foi trazida ao Brasil pelos colonizadores.

 

É uma procissão do amor, pois Jesus — e Deus — é amor.

 

A solenidade de Corpus Christi tem origem no século XIII, instituída pela Igreja Católica para celebrar a presença real de Cristo na Eucaristia.

 

Os tapetes desse dia sagrado evocam a Última Ceia de Jesus com os apóstolos, e também a entrada triunfal de Cristo em Jerusalém.

 

Os fiéis só podem pisar nos tapetes após a passagem do padre com o Santíssimo.

 

Gabriel Novis Neves

19-06-2025















quinta-feira, 19 de junho de 2025

DITADO POPULAR


Mais um provérbio que serviu de exemplo para mim na tarde de hoje: atirei no que vi e acertei no que não vi!

 

Fui encaminhado a um dermatologista oncológico.

 

Há anos carrego uma mancha escura no couro cabeludo.

 

Nunca dei bola para essa lesão, que sabia ser senil e sem sinais de malignidade.

 

Acontece que, ao examinar toda a região com aparelhos modernos, foi detectada pequena pinta preta — essa sim, um tumor maligno, necessitando de quimioterapia injetável no local.

 

A lesão que me levou ao médico é benigna e continuará comigo, me enfeitando.

 

Se não fosse por ela, eu não teria descoberto a pintinha maligna, até então ignorada.

 

Na vida também é assim: valorizamos muitas coisas sem importância e deixamos de lado aquilo que realmente importa.

 

As aparências enganam — e é preciso estar atento a isso.

 

Em casa, meus pais sempre nos alertaram quanto às aparências, que muitas vezes escondem os verdadeiros valores humanos.

 

Quando algum dos seus nove filhos começavam a namorar, primeira pergunta era: ‘Filho de quem é? E faz o quê?

 

Cuiabá ficou conhecida como a cidade do ‘filho de quem?’

 

Os antigos gostavam da cidade isolada dos grandes centros, sem acesso por rodovias ou estada de ferro. Os migrantes chegavam pelo rio Cuiabá, o grande filtro de entrada.

 

Ainda assim, a cidade atraiu italianos, franceses, portugueses, libaneses, armênios do Velho Continente, além de forte migração nordestina.

 

Todos contribuíram para o desenvolvimento do nosso Estado, especialmente nas regiões garimpeiras.

 

Num segundo momento, com a abertura das rodovias e do transporte aéreo, o norte do Estado foi ocupado principalmente por habitantes das regiões Sul e Centro Sul do Brasil.

 

Hoje Cuiabá é uma cidade cosmopolita, com gente de todo o Brasil e inúmeros estrangeiros, atraídos pelas oportunidades que a capital oferece.

 

Deixou se ser a cidade isolada dos funcionários públicos e dos ‘filhos de quem’.

 

É uma cidade universitária, de serviços e capital do agronegócio.

 

Gabriel Novis Neves

19-06-2025




quarta-feira, 18 de junho de 2025

SONO LONGO


Deitei-me com sono às vinte e quinze horas, e fui acordado pela enfermeira às oito e meia da manhã seguinte.

 

Se dependesse de mim, dormiria ainda mais.

 

O pior é que acordo sonolento com vontade de voltar para a cama após o café.

 

Conversando com uma contemporânea sobre esse assunto, ela me disse que está habituada a dormir depois da meia-noite.

 

Fica assistindo filmes e seriados na televisão até as primeiras horas da madrugada. No dia seguinte, acorda cedo, sem sono, pronta para os afazeres da casa.

 

Eu era assim — e me tornei isso.

 

O médico parteiro dorme pouco e está sempre pronto para o trabalho.

 

Durante mais de quarenta anos os plantões noturnos fizeram parte da minha rotina. E, na maioria das vezes, eu sequer pregava os olhos.

 

No dia seguinte trabalhava em dois períodos. E quantas vezes fui acordado durante a madrugada para fazer partos!

 

Sou da época em que as crianças escolhiam o dia e a hora para nascer.

 

Hoje, nascem por parto operatório — a mãe decide o momento, e os parteiros já não são mais incomodados durante a noite.

 

Na juventude abusei do trabalho noturno para aprender e melhorar meus rendimentos.

 

Tinha disposição de sobra, mesmo dormindo pouco.

 

Ouvia dizer que os idosos dormem pouco. Mas os velhos que conheci dormiam cedo, na ‘boca da noite’.

 

Depois, debruçavam-se nos parapeitos das janelas para conversar com os notívagos ou se recolhiam ao escritório para ler ou escrever.

 

Pouco antes do amanhecer, à luz de lampião, preparavam o seu guaranazinho, ralado no pau do guaraná, enquanto a casa ainda dormia.

 

Como eu gostaria, ao menos, de acordar sem sono!

 

Tomaria meu cafezinho e, desperto, viria para o escritório. Leria as mensagens no celular e no computador.

 

E em seguida começaria a escrever minhas crônicas.

 

Estou muito perto de completar a crônica de número 4.000 — o que espero alcançar até dezembro.

 

Gabriel Novis Neves

17-06-2025