domingo, 19 de dezembro de 2021

O PITORESCO IV


Na Cuiabá antiga, o “senadinho” funcionava na porta da casa de Nenê Tenuta, ao lado da residência dos governadores. Seus integrantes sentavam em cadeiras de balanço, em fluxo que se renovava a manhã inteira.   Em Brasília funciona o Senado Federal, em prédio projetado por Niemayer, realmente dirigindo os destinos da República. No senadinho não havia mordomias. Em Brasília só existem mordomias.


Na Cuiabá antiga, o fusquinha "pé de boi" substituiu o cavalo. Hoje, o fusca reformado é carro de gente abastada. 


Na Cuiabá antiga, não existia a informática. Tudo era anotado no caderno. Até as contas "penduradas" nos bares e "bolichos". Hoje existe informática para todos os serviços. E quando você precisa de uma informação, o sistema está sempre em manutenção fora do ar.


Na Cuiabá de antigamente, “tomar até encostar”, era sinônimo de insucesso. Hoje é só uma acepção da pornografia.


Na Cuiabá antiga, o defunto era carregado no caixão por parentes e amigos até o cemitério onde era enterrado, em cortejo pelas poucas ruas da cidade. Hoje, é transportado pelo carro da funerária até o cemitério onde pode até ser cremado por preços proibitivos.  É melhor adiar essas despesas.


Na Cuiabá antiga, a gente nascia, crescia, casava, tinha filhos e morria em casa. Hoje tudo acontece na rua. E havia a concepção de que a rua era lugar para gente infeliz.


Na Cuiabá antiga, tínhamos amigos e vizinhos da direita e da esquerda. Hoje temos vizinhos conservadores e progressistas. Só as divergências permanecem iguais. 


Na Cuiabá antiga, todos temiam as guerras. Hoje brigamos com todo mundo diariamente.


Na Cuiabá de antigamente, aniversários eram festas com comes e bebes para todos. Hoje notícia de coluna social para alguns.


Na Cuiabá de antigamente, criança mal-educada era "sem modos”. Hoje, pequeno marginalizinho.


Na Cuiabá de antigamente as pequenas canoas de madeira de um tronco só  deslizavam pelo rio Cuiabá impulsionadas pelo remo do canoeiro. Hoje o que mais se vê são lanchas potentes que singram graças ao motor na popa.


Na Cuiabá de antigamente perguntava-se, ao querer se conhecer pessoas e relacioná-las com suas famílias e na sociedade,  se era “gente de quem?”. Hoje existe até o exame de DNA, caso necessário.


Na Cuiabá de antigamente "filho feio" não tinha mãe e pai. Hoje continua assim.


Na Cuiabá antiga, a educação das crianças era em casa por pais. Hoje querem que a escola é que dê educação às crianças, atrapalhando a função de ensinar e instruir.


Antigamente, a escola ensinava. Hoje, quando não atrapalha a formação do caráter de uma criança, é boa.


Na Cuiabá de antigamente a melhor televisão era da janela do vizinho. Hoje, a TV paga está sempre sem sinal.


Na Cuiabá de antigamente qualquer febrícula em criança era tratada com óleo de rícino. Hoje as mães levam o menor ao pediatra.


Na Cuiabá de antigamente óculos de grau passavam dos mais velhos para os mais jovens. Hoje são descartáveis.


Anel de grau sempre foi usado por portadores de ensino superior. Em Cuiabá hoje, salvo anacronismos, ninguém mais usa.


Gabriel Novis Neves

25-11-2021




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