domingo, 31 de outubro de 2010

GARRINCHA

Agosto de 1953. Início do Campeonato Carioca de Futebol. Estádio do Botafogo - Rua General Severiano.

Estréia do meu time contra o São Cristovão. Chego ao Estádio para assistir a preliminar.

Nas arquibancadas ainda vazias, o comentário era um. Vai estrear um jogador que o lateral direito Araty, descobriu em Pau - Grande. No treino, deixou o Nilson Santos caído com um drible. Joga uma barbaridade.

Entram os reservas do Bota para o jogo. As atenções eram para o número sete do alvi-negro da Estrela Solitária.
Naquela tarde o mundo descobria um Gênio! Ninguém sabia ao certo o seu nome.

Uns diziam "Gualicho", outros "Garricha" até que o "Neném Prancha" batizou-o como "GARRINCHA".

Termina o jogo . O ponta "7" saiu de campo carregado. Já era ídolo. Entra o time principal para o jogo. O ponta direita titular era o Mangaratiba. Foi o seu primeiro e único jogo como titular.

No próximo jogo do Bota, GARRINCHA já era o titular e ídolo. Foi contra o Bonsucesso no campo do adversário. Resultado do jogo: Bota 6 X 3 Bonsucesso. GARRINHA marcou 3 gols!

Sempre jogou um bolão. Nunca se preocupou com a parte empresarial da sua profissão. Ganhou vários campeonatos pelo Bota e duas Copas do Mundo pelo Brasil.

Na Suécia ainda tentaram tirar-lhe o mérito. No Chile, Péle se machuca no segundo jogo. Garrincha jogou todas as partidas e na história das Copas, foi o único jogador que "só" ganhou uma Copa do Mundo.

GARRINHA consagrado, virou o eterno MANÉ GARRINCHA!


MINHAS SAUDADES "A ALEGRIA DO POVO".

Gabriel Novis Neves

29-10-2010

Mestre

É sempre bom ler e reler os ensinamentos dos nossos grandes mestres. Estou com um texto maravilhoso de Rubem Alves. Como me identifiquei com ele!

Ao ler o pensamento de Nietzsche – “mesmo o mais corajoso entre nós só raramente tem coragem para aquilo que ele realmente conhece.”- Rubem Alves diz: “É o meu caso. Muitos pensamentos meus, eu guardei em segredo.” Com relação a esta coragem ele cita Alberto Camus: “Só tardiamente ganhamos a coragem de assumir aquilo que sabemos. Tardiamente. Na velhice. Como estou velho, ganhei coragem.”

Destaco os seguintes pensamentos de Rubem Alves, pois o momento exige:

- A democracia é o governo do povo. Não sei se foi bom negócio; o fato é que a vontade do povo, além de não ser confiável, é de uma imensa mediocridade. Basta ver os programas de TV que o povo prefere.

- O povo prefere os falsos profetas aos verdadeiros, porque os falsos mentem. As mentiras são doces; a verdade é amarga.

- Na Bíblia, o povo e Deus andam sempre em direções opostas. Bastou que Moisés, líder, se distraísse na montanha para que o povo, na planície, se entregasse à adoração de um bezerro de ouro.

- Os cristãos, de comida para os leões, se transformaram em donos do circo.

- Os indivíduos, isolados, são seres morais. Mas quando passam a pertencer a um grupo, a razão é silenciada pelas emoções coletivas.

-... Mas, uma das características do povo é a facilidade com que ele é enganado. O povo é movido pelo poder das imagens e não pelo poder da razão. Quem decide as eleições e a democracia são os produtores de imagens. O povo não pensa. Somente os indivíduos pensam. Mas o povo detesta os indivíduos que se recusam a ser assimilados à coletividade. Uma coisa é a massa de manobra sobre a qual os espertos trabalham.

- Tenho medo de que, num eventual triunfo do gosto do povo, eu venha a engolir sapos e a brincar de “boca-de-forno.”

- De vez em quando, raramente, o povo fica bonito. Mas, para que esse acontecimento raro aconteça, é preciso que um poeta entoe uma canção e o povo escute:

- Caminhando e cantando e seguindo a canção. Isso é tarefa para os artistas e educadores.

- O povo que amo não é uma realidade, é uma esperança.

Às vésperas de uma eleição tão importante, o velho escriba do interior achou oportuno pescar esses sábios pensamentos de um professor e escritor da metrópole.


Gabriel Novis Neves (7.5+105)

16-10-2010

sábado, 30 de outubro de 2010

ESCREVENDO

“Pra não dizer que não falei das flores”, um verso de Geraldo Vandré. Estamos em plena primavera e não falei das flores. Minha atenção se voltou para a política. Comentei este triste período da nossa história - marcado por mentiras, calúnias, difamações, traições, irresponsabilidades e muita corrupção.

Alertei sobre os falsos profetas, santos de pés de barro, prepotentes, arrogantes, preconceituosos, demagogos e carreiristas. Também não poderia pecar por omissão e receber o troféu de alienado, num momento em que o povo brasileiro está escolhendo o seu caminho.

Falei também do meu desejo: que os brasileiros sejam conscientes ao apertar a tecla na cabine de votação e confira o resultado com o coração. O Brasil merece uma decisão consciente e, não, emocional.

Quero ficar livre do dever cívico, respeitar a decisão da maioria e voltar a fotografar em linhas mal escritas o cotidiano da minha cidade. Tanta beleza e ainda se discute sobre quem abortou. O autor da agressão com bolinha de papel e rolo de fita crepe na careca do candidato da oposição. A tal da privatização da Petrobrás que não consigo entender. Dizem ser diferente privatizar o petróleo da Petrobrás e o do pré-sal. Há uma pequena explicação: o petróleo extraído atualmente é explorado por mais de uma centena de empresas nacionais e estrangeiras. O do pré-sal é projeto. No primeiro caso não é privatização. No outro se uma companhia privada for chamada para uma parceria tecnológica, não pode. É crime esse tipo de trabalho!

Avançar e acelerar são os verbos mais utilizados na campanha eleitoral. Aqui no nosso Estado o verbo usado é parar. O exemplo maior é o trem do Vuolo, que não avançou nem acelerou nesses últimos oito anos.

Quero continuar escrevendo, mesmo contrariando os “Fuxiqueiros.” O que não suportarei é a censura do governo que, dizem, vem vindo por aí.

Mas, “prá não dizer que não falei das flores”, quero deixar aqui registrado que a primavera, para mim, é a estação mais bonita do ano: a estação das flores. Época do renascimento. Época em que a natureza se mostra mais bela, dando-nos de presente suas flores multicoloridas e perfumadas.

Quero falar da rosa, girassol, jasmim, dama-da-noite, orquídea. Falar da manga rosa, do caju, do gato namorador, das chuvas da primavera, dos pássaros na maior algazarra acordando os cuiabanos, dos verdes campos. Falar disso tudo é o que desejo.

Enfim, chegou a hora de ficar cada macaco no seu galho. O político, politicando. O trabalhador, trabalhando. O estudante, estudando. E, quem tem tempo e coragem, escrevendo.


Gabriel Novis Neves (7.5+113)

27-10-2010

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Interessante

Gosto do cotidiano. O amanhecer, por exemplo: faz parte do nosso cotidiano. A cidade acordando... As ruas pouco a pouco sendo ocupadas: esportistas, entregadores de jornal, trabalhadores, estudantes e o vai-e-vem de pessoas fazendo pequenas compras para o café da manhã. Ônibus lotados, carros trafegando e logo o engarrafamento se instalando nas ruas estreitas de Cuiabá – para muitos, indicação de progresso. Todo esse ritual faz parte da rotina matinal da cidade, que eu vivencio todos os dias. Antes de me dirigir para o trabalho, faço a leitura dos jornais e navego pela Internet, para saber as últimas novidades do Brasil e do mundo.

No trajeto de casa até o hospital fiquei pensando no que li e vi nessas primeiras horas do dia. Como se tornam interessantes as notícias nesse período eleitoral! Tinha a pretensão de escrever mais sobre o cotidiano, mas a política nesta fase do ano é irresistível! Fui envolvido por pensamentos políticos. O que posso fazer? Resolvi então “mudar” de assunto. Vai ser política.

Vai ser política porque me lembrei de um fato recente da história política deste país que passo a narrar. No dia 29 de setembro de 1946, no Rio de Janeiro, nasce uma criança negra do sexo masculino. Fez o curso fundamental e médio na rede pública e o superior na Universidade Federal Fluminense. Continuou os seus estudos na Universidade de Leedes na Inglaterra, onde concluiu o seu mestrado em Economia. Na Universidade de Harvard (Estados Unidos), fez um Curso de Administração Avançada. Ao retornar ao Brasil com essa bagagem de conhecimentos, foi cooptado por um grande empresário e político de São Paulo. Assumiu a gestão do seu império comercial, demonstrando grande capacidade de liderança e suplantando todas as metas programadas. Ganhou a confiança e admiração do seu patrão-empresário e político. Este, um “animal político”, só passava na empresa para conferir os resultados - sempre excelentes.

O patrão se candidata a Prefeito de São Paulo. Ganha as eleições. Leva para a Secretaria de Finanças, o seu eficiente funcionário. Desfalca a empresa e reforça o governo municipal. O seu secretário predileto, discretíssimo, resolve a complicada gestão pública. O governo do seu patrão alcança elevados índices de aprovação popular. O patrão, apoiado pelas pesquisas eleitorais, pensou em eleger o técnico com mestrado na Inglaterra e doutorado em Harvard. Tinha cacife político para eleger um poste, por que não deixar no seu lugar um grande gestor?

Partiu para a campanha política, carregando debaixo dos braços um técnico totalmente virgem em eleições. Lança a célebre frase que decidiu as eleições daquele ano para Prefeito de São Paulo, que não envelhece e está sendo copiada nas eleições atuais: “Votem no Pitta! E se ele não for um grande prefeito, nunca mais votem em mim.”

Pitta foi eleito no segundo turno pelo Partido Progressista (PP), derrotando surpreendentemente a candidata do Partido dos Trabalhadores (PT), Luíza Erundina. A vitória do Pitta se deu em razão do apoio do Prefeito Paulo Maluf.

O mandato do afilhado do prefeito foi marcado por corrupção. Entre as denúncias, estava o escândalo dos precatórios. Preso várias vezes. Foragido. Na CPI do Banestado, o senador cuiabano Antero Paes de Barros, mandou prendê-lo por desacato à autoridade.

Pobre e abandonado pelos amigos do poder, inclusive pelo seu padrinho Paulo Maluf, em janeiro de 2009 Pitta submeteu-se a uma cirurgia para a retirada de um tumor no intestino e, posteriormente, submeteu-se à radioterapia no Hospital Sírio Libanês (SP). Morreu no dia 20 de novembro de 2009, aos 63 anos, em decorrência de um câncer no intestino.

Interessante conhecer ou relembrar fatos da história do Brasil.


Gabriel Novis Neves (7.5+43)

18-08 2010

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

AVANÇOS DA MEDICINA

Nos últimos cinquenta anos acompanhei as conquistas científicas da medicina. Fui aluno da então Faculdade Nacional de Medicina da Praia Vermelha, do Rio de Janeiro. Tudo que aprendi com os meus mestres - como o professor de fisiologia que disputou o Nobel e perdeu para Houssay, argentino, ou o de física médica, Carlos Chagas Filho, um dos consultores científicos de Sua Santidade o Papa - não esqueci. Entretanto, não utilizo seus ensinamentos por pertencerem à história da Medicina.

Aprendi por exemplo, que homossexualismo era doença e como tal deveria receber tratamento médico. Que alcoolismo era vício, malandragem, irresponsabilidade, fraqueza humana e merecia severa punição e repúdio da sociedade.

Não é preciso ser médico para saber hoje que homossexualismo é opção sexual e não doença. Até o Código Internacional das Doenças (CID) retirou esse termo, que tinha um número para identificar a doença. O alcoolismo não tinha CID, hoje tem e não é mais aceito como vício. É uma doença e o seu portador deve ser tratado.

Freud explicava o homossexualismo como resultado de uma personalidade mal estruturada. Os seus portadores eram fugitivos da esquizofrenia, a mais grave das psicoses.

A Medicina evoluiu e muito ao desvendar certos mistérios deste produto complexo que é o ser humano. Muitas e muitas indagações dos cientistas ainda permanecem sem respostas da ciência médica.

Neste período eleitoral tenho lido, ouvido e visto tantas barbaridades que cheguei à conclusão que o Brasil está doente, muito doente. Partindo do conceito moderno de que alcoolismo é doença e o seu portador exige cuidados médicos, estou preocupado.

Deixar, em horário nobre - quando as crianças estão acordadas –, que um dependente químico fale sobre valores corroídos pela doença sem tratamento é de uma irresponsabilidade total.

Os médicos, e aqueles que convivem com esses pacientes, sabem dos delírios e alucinações produzidos pelas substâncias exógenas quando usadas por muito tempo no organismo humano. O quadro é dramático e merece o nosso maior respeito para ajudá-los.

As pessoas não acostumadas a lidar com essa doença - e principalmente as crianças, depois de presenciarem uma cena aguda daquilo que classificamos como delírio -, jamais esquecerão, ainda mais se o doente for uma pessoa bastante conhecida. É o chamado trauma psicológico de conseqüências imprevisíveis.

O lamentável acontecimento no Rio de Janeiro, com a inocente bolinha de papel e o rolo da fita crepe na careca de um candidato, ficará nos anais históricos de uma republiqueta de bananas.

O pior não foram as cenas do momento, mas as justificativas!

O Brasil está doente! Façamos alguma coisa para salvá-lo! Se a terapêutica fosse médica como o caso exige, a indicação é a internação imediata do porta-voz dos acontecimentos e desarquivar o processo do goleiro do Chile no Maracanã.

Como gostaria de sofrer uma regressão impossível aos meus tempos de aluno de medicina e ouvir dos meus mestres que alcoolismo não é doença!

Por que avançaste tanto, minha ciência médica? Para entendermos o espetáculo do Rio de Janeiro e ficarmos ainda mais preocupados com o nosso futuro?

Enfim, o tempo passou e não volta mais. É isso.


Gabriel Novis Neves (7.5+108)

22-10-2010

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

E o trem?

Conheci e muito o sonhador cuiabano Vicente Emílio Vuolo, que desejava trazer para a sua cidade a tão necessária e esperada ferrovia. Fui contemporâneo do menino do Coxipó. Tudo que fazia, desde criança, era superior à média dos seus colegas. Foi craque de futebol quando a maioria dos seus amigos nem sabia cabecear a bola de capotão, salvando o cocuruto da costura dolorosa. Advogado, administrador público e político de sucesso.

Como Senador da República, apresentou no Congresso Nacional o projeto da ferrovia para Cuiabá, transformado em lei após muito trabalho. Enquanto esteve neste plano espiritual, a ferrovia caminhou e muito. Conseguiu, do governo do Estado de São Paulo, ajuda para o início da ponte rodoferroviária sobre o rio Paraná, ligando os dois Estados.

Essa grandiosa obra da ponte, comandada por Vuolo, começou no governo Sarney e terminou no governo FHC. Vuolo adoece. A obra para. Nos últimos anos de vida, mesmo com a saúde debilitada, ele trabalhou para que os trilhos chegassem à divisa de Mato Grosso com Mato Grosso do Sul. Depois avançaram até o Alto Taquari e empacou desde então. Segue lentamente, quase parando, rumo a Rondonópolis.

O primeiro empresário interessado na execução do projeto repassou para terceiros. Sei que o atual consórcio, responsável pela chegada dos trilhos até Cuiabá, devolveu a concessão ao governo federal.

Não se discutiu este assunto em período eleitoral. Houve um pacto dos nossos políticos para só comunicar à população que o trem do Vuolo, como é carinhosamente chamado pelos cuiabanos, ficará em Rondonópolis, após as eleições.

Existem recursos federais já assegurados para a chegada da ferrovia dos sonhos em Rondonópolis, e não Cuiabá, como determina a lei, dentro de dois anos.

Depois tomará outros rumos.

Este não foi o trajeto que um dia o doutor Domingos Iglesias entregou ao Senador Vuolo e foi aprovado pelo Congresso Nacional e sancionado pelo senhor Presidente do Brasil.

O silêncio sobre esta importante conquista dos cuiabanos que está sendo roubada me preocupa. Sempre desconfiei que houvesse um conluio para anemizar economicamente Cuiabá.

Ainda mais agora que os líderes que obedecem cegamente Brasília foram estrepitosamente derrotados nas urnas de 3 de outubro, em Cuiabá.

Os entusiastas e sonhadores com a ferrovia para Cuiabá daqui a pouco ficarão sabendo do golpe sofrido! Esperanças por dias melhores começam a ser substituídas pela revolta da traição. Outras decepções estão na agenda dos cuiabanos.

A renovação política tão desejada ficou no desejo da maioria desta quase tricentenária cidade. As fazendas do nosso grande Estado possuem donos com votos necessários para bloquear qualquer sinal de desenvolvimento da cidade-mãe.

Cuiabá ficará sem o trem do Vuolo! O silêncio sobre o assunto é assustador. Até agora não ouvi ou tive notícias de nenhum protesto, e prestem atenção que aprendemos a reclamar de tudo.

Nos últimos oito anos o investimento no projeto da ferrovia para Cuiabá foi simplesmente inexistente. Alguém consegue explicar o motivo?

Falta de um líder político importante para defender os interesses da nossa cidade? Medo de contrariar as empresas do asfalto, tão compreensíveis nos financiamentos das campanhas políticas?

Entendam como queiram. Justifiquem da maneira mais politicamente correta. Que houve alteração de uma lei federal com relação ao traçado proposto e aprovado, isso houve.

Eu gostaria que o sonho do Senador do Coxipó fosse realizado.


Gabriel Novis Neves (7.5+110)

24-10-2010

terça-feira, 26 de outubro de 2010

FALTAVA ESSA

Realmente era só o que faltava! Depois de sofrer o maior massacre da máquina eleitoral oficial, com direito aos comerciais do homem capaz de eleger postes pedindo votos aos seus adversários; de ver o seu candidato ao governo do Estado ser humilhado no aeroporto de Cuiabá pela candidata “eleita” no primeiro turno; de sequer ser recebido pela senhora em nome da educação, a qual não conhece; de só ter recebido os votos de parabéns pela sua eleição de uma funcionária do comitê em nome da candidata, quando sabemos que o outro candidato eleito recebeu, na mesma noite, telefonema da candidata derrotada em Mato-Grosso; depois de tudo isso, e mais outras coisas, o candidato montado em mais de 700 mil votos, daqueles que não se curvam ao poder, é convidado, repito, por uma funcionária, para uma reunião em Brasília.

O baixinho de Rosário preferiu ficar ao lado do seu governador e descansar. No momento é apenas um cidadão inscrito em um partido político, eleito pelo povo, e não pelas pesquisas, senador do Brasil.

Após diplomado e empossado, será um funcionário público, representando os brasileiros no Senado Federal. Estará livre para trabalhar pelos nossos interesses, e não pelos interesses de poderosos conglomerados de homens de negócios.

Imagino o desconforto que os homens de bem sentem quando colocados em um liquidificador de produtos tão diferentes. Não consigo imaginar o nosso guerreiro senador em uma carreata, abraçado com seus algozes.

Neste momento seria melhor que a senhora candidata pedisse explicações aos imbatíveis líderes deste Estado sobre a sua derrota, e implorar mais empenho para que o fiasco não se repita.

Deixe o nosso senador descansar! Pois em Brasília terá muito trabalho pela frente.

Seria útil avisar à candidata que o governador para o qual ela pediu votos está eleito e tem que governar.

Medidas impopulares estão sendo tomadas acertadamente, e nesse momento gostaria de parabenizar o nosso governador, que entendeu que a campanha acabou com a sua vitória no primeiro turno. Hoje é o legítimo representante de todos os mato-grossenses, e não terá tempo a perder com campanhas. Tem que cuidar da saúde debilitada do nosso Estado, e administrar o inventário do governo anterior.

A poeira não ficará muito tempo debaixo dos tapetes. Logo haverá o conflito histórico com os que deixam o poder. Rei deposto é rei morto.

Convidar o nosso senador mato-grossense para uma reunião com quem ele nem conhece, era mesmo só o que faltava!


Gabriel Novis Neves (7.5+92)

06-10-2010

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

A democracia

Mencken, a língua mais afiada do jornalismo americano, assim definiu a democracia:

“É talvez a mais charmosa forma de governo já criada pelo homem. O motivo não é difícil de descobrir. Ela se baseia na mentira, imensamente mais fascinante para a maioria das pessoas do que a verdade.”

A “Linguinha” americana tem toda a razão. Assistindo aos programas do Horário Político Gratuito constatamos com facilidade essa verdade. As propostas de governo apresentadas pelos candidatos, com os seus números e resultados, são as mais doces das mentiras. Eles sabem que estão mentindo e que o povo não está acreditando! Assim mesmo não estão nem aí. Sabem que quanto mais mentiras, mais números acrescentarão na pesquisa.

A mentirada é tanta na eleição presidencial que não sei qual dos candidatos é a favor da privatização do pré-sal, quem mais privatizou, quem é favorável às políticas sociais permanentes, quem tem compromissos com o meio ambiente e tem a educação como prioridade zero.

Sei quem é o mais competente, experiente, quem mentiu menos e prometeu o que é possível. Mas é pouco para uma decisão tão importante, onde se decide o futuro desta nação.

No momento em que, na última semana de campanha eleitoral, o assunto mais discutido pelos candidatos em programas de rádio, televisão e jornais é uma agressão sofrida por um candidato no Rio de Janeiro, sinceramente, não sei não.

Li “51” versões sobre a lamentável ocorrência policial. As interpretações navegam de uma inocente brincadeira com uma bolinha de papel na careca do candidato, passando por simulação, rolo de fita adesiva, ilusão ótica, laudo falso do perito mais famoso do Brasil, professor da Universidade de Campinas e, até, como disse o chefe: “Grosseira imitação do que aconteceu no Maracanã, tendo como ator o goleiro do Chile!”

Surgiram também sugestões para o caso, todas originais. Uma delas comentava a bobeira do pessoal do careca. “Na entrada da vítima na van que o conduziria para o Hospital Samaritano, por recomendação médica, a assessoria do candidato teria que dar-lhe uma bordoada na careca para jorrar sangue.”

A democracia é realmente a melhor forma de governo, para trazer felicidade a presidentes, governadores, prefeitos, senadores, deputados e vereadores.

E o povo? Que se dane o povo!


Gabriel Novis Neves (7.5+108)

22-10-2010

FAIXAS

Sabe aquelas faixas penduradas nas ruas? Pois bem. Já fui alvo delas. E aqui faço uma rápida retrospectiva. Meses atrás, mais precisamente em julho, um grupo de amigos decidiu fazer uma brincadeira comigo e colocou quatro faixas penduradas ao longo da rua onde moro, com dizeres diferentes. O motivo era simples: cobravam minha presença na padaria onde eu era frequentador assíduo e da qual sumi por força de outros afazeres.

Tudo começou como uma brincadeira dos “Fuxiqueiros”, como são chamados os membros deste grupo de amigos. Entretanto, as faixas, muito bem humoradas, passavam mensagens que davam margem às mais diversas interpretações.

Dentre elas, ressalto: doença, sequestro, apelo político e até assédio sexual. A síndica do meu edifício me interfonou apresentando a sua solidariedade pela falta de respeito das mulheres de agora. A minha filha foi almoçar em um restaurante e não conseguiu comer de tanto explicar que eu estava bem e em casa. Até da Espanha recebi telefonema de uma ex-secretária para saber se estava tudo bem comigo. Leu pela internet notícias dos dizeres das faixas e teve horríveis pesadelos comigo. Pensou logo em doença grave ou sequestro. Tranquilizei-a dizendo que estava tudo bem e as faixas não passavam de uma brincadeira de amigos.

O resultado dessa confusão toda serviu para me mostrar o poder de comunicação das faixas de rua. Todo mundo olha. Todo mundo lê.
No caminho do consultório, um dia desses, li várias com os mesmos dizeres. Bem direta na sua única mensagem. E não era uma brincadeira, ou melhor, era uma brincadeira sim, mas de um “palpite”. O autor do texto da faixa é parente do único presidente da República cassado. É.
As faixas anunciavam o resultado do jogo, antes do mesmo terminar! É bom esperar o apito final do juiz.

Assim, pois, é que resolvi escrever sobre as faixas. Faixas nas ruas sempre mexem com a população.

Servem apenas para brincadeiras de fino humor.


Gabriel Novis Neves (7.5+106)

20-10-2010

domingo, 24 de outubro de 2010

Doutor Pedrossian

Em 1966 é eleito governador do Estado de Mato Grosso - não dividido - o engenheiro ferroviário Pedro Pedrossian. Nascido em Miranda (MS) era filho de armênio, chamado pelos seus amigos de “Turco”.

Estudou engenharia na Escola Politécnica de São Paulo. Jovem ainda foi diretor da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil. Casado com Maria Aparecida Pedrossian tem cinco filhos, sendo seu filho caçula cuiabano do Hospital Geral.

A coligação PSD-PTB indicou como vice-governador, o professor Lenine de Campos Povoas. O candidato derrotado foi o pecuarista e banqueiro, Lúdio Martins Coelho da UDN.

Pedrossian governador tinha vários problemas a enfrentar, sendo que o maior de todos era o desenvolvimento do Estado. Sabia que o caminho único era através da educação. O Estado que herdou - um imenso curral - tinha proprietários.

O analfabetismo ocupava uma das maiores taxas do Brasil. Oitenta e cinco por cento dos professores primários eram leigos. O ensino superior no grande Estado era pontual e o ensino médio o final da educação para poucos.

A educação funcionava como um departamento assim como saúde, cultura, esporte. Pedrossian criou a Secretaria de Saúde e deixou a Secretaria de Educação para cuidar da educação com os seus departamentos de cultura e esporte.

Não negociou, loteou ou indicou nenhum correligionário ou amigo para ocupar a pasta mais importante do seu governo. Solicitou que o Ministério da Educação indicasse um professor qualificado para a missão.

A sua meta educacional era ambiciosa: fortalecer o ensino básico, criar o ensino médio voltado para o trabalho e implantar duas universidades no Estado. Uma com sede em Cuiabá e outra em Campo Grande.

Mesmo em um Estado pobre de dinheiro, construiu o básico-físico das duas cidades universitárias, que doadas ao Ministério da Educação, abrigariam as Universidades Federais de Mato Grosso (UFMT) e Mato Grosso do Sul (UFMS).

Pedrossian não se esqueceu também da parte acadêmica que serviu de suporte inicial as universidades por ele criadas.

Este é um rápido perfil do governador que mais fez pela educação na história destes Estados irmãos. Acreditou e decidiu que Mato Grosso só seria outro se cuidássemos dos nossos jovens.

Aos oitenta e dois anos, longe do poder e dos amigos do poder, chorou ao saber que após quarenta anos, a UFMT reconheceu o seu idealizador.

Parabéns UFMT pelo reconhecimento do trabalho do seu maior responsável!
Obrigado Doutor Honoris Causa - Pedro Pedrossian!


Gabriel Novis Neves

21-10-2010

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

PARA PEDRO

José Mendes compôs uma ingênua canção que retrata com simplicidade um baile lá na serra, onde um ilustre convidado chegou mexendo com todo mundo. Os antigos ainda se lembram dos serviços de alto-falantes das cidadezinhas do nosso Estado. Ao anoitecer, para a alegria da sua população, tocava o - “Para Pedro, Pedro para” - refrão repetido quatro vezes.

Não sinto nostalgia desses tempos que não voltam mais, mas não nego a beleza simples e inocente daquele cenário que vi tantas vezes!

Duas semanas após as eleições, somente duas, leio no noticiário que o nosso Pedro não foi ao baile da serrinha, porém ao almoço do Manso.

Como por encanto ressurge o cenário que achava perdido pelos anos - do baile da serrinha com o refrão: “Para Pedro, Pedro para.”

O cérebro humano é uma caixinha maravilhosa. Apaga as coisas sem importância e mesmo com o decorrer do tempo guarda aquilo que um dia nos encantou.

A natureza nos ensina que tudo tem o seu tempo para acontecer. Na primavera as nossas calçadas são premiadas pelo amarelo das flores das árvores. O povo passa e diz - chuva de ouro, que beleza!

Para presenciar essa beleza da natureza esperamos meses. As plantas e as árvores nascem a partir de uma pequena semente e transformam-se em cenários os mais diversos e perfeitos, mesmo nas suas formas bizarras.

Em nome da beleza e da perfeição, a natureza jamais acelera o seu processo, como nesse injustificável e prematuro almoço. Ninguém aceita que foi para preparar uma convivência parlamentar em Brasília, de quatro anos. Atenção revisão! É isso mesmo: quatro anos.

A sabedoria popular recomenda o resguardo para uma série de situações que enfrentamos. Depois de meses de campanha “pesada” em que a tônica foi “quê dê o dinheiro das máquinas?”, há um período mínimo necessário para a cicatrização da ferida aberta. Duas semanas? Só por milagre acredito ser possível, em nome de Deus, e não no alegado interesse do Estado! Ah! Dá licença!

Fico imaginando a cena do acusador na casa do réu, tudo por amor ao nosso povo! E os que ficaram sabendo das estripulias do baile da serrinha e que insistentemente pediam ao Pedro para parar, e no Manso para não ir?

Haverá tempo para almoços, passeios de lancha no lago Paranoá e quatro anos em Brasília, campo neutro para demonstração de educação política. Os interesses públicos serão tratados, acima dos pessoais, com transparência e compromissos com a nossa gente. Tempo haverá para desfazer o mito que todo político é farinha do mesmo saco. Também limpar a péssima impressão deixada pelo almoço da submissão no Manso.

Para Pedro, Pedro para.


Gabriel Novis Neves (7.5+106)

20-10-2010

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Um corpo

Cinco horas e trinta e seis minutos. O sol estava despontando. Saio para a minha caminhada habitual. No percurso já meu conhecido vejo a banca de jornal ainda fechada. No chão da calçada em frente à banca um menino, dos seus 12, 13 anos, dormindo.

Aproximei-me. O corpinho daquele menino estava em contato direto com o sujo piso da calçada. Geralmente o morador de rua estende um papelão para se deitar. Às vezes jornais velhos servem de coberta. Mas, neste caso, a crueza da situação estava presente em todos os detalhes. Chamou-me a atenção a posição da criança dormindo. Estava na posição predileta na vida intra-uterina: corpo em decúbito lateral esquerdo, cabeça fletida sobre o corpo, os bracinhos quase colados ao tórax anterior, mãozinhas em cima do coração, as perninhas em direção ao abdome.

Fiquei paralisado olhando aquela cena. Sei que estava diante de uma chaga social muito comum nas cidades. Mas o confronto da realidade dura dessas crianças andrajosas e famintas de coração caiu sobre mim com o impacto de uma bofetada. O nosso futuro jogado na calçada. Ajoelho-me ao lado do menino. Percebo movimentos respiratórios. Biologicamente ainda está vivo, porém socialmente está morto há muito tempo. O menino dormia tão profundamente que não se mexeu ao meu toque no seu braço. Pensei comigo: “não é um sono natural. Será que está drogado?” Achei melhor não tirá-lo subitamente do seu aparente torpor. Talvez, pensei, no retorno da minha caminhada eu possa ter a sorte de encontrá-lo um pouquinho mais desperto, e assim poder prestar algum tipo de ajuda para minimizar o seu sofrimento.

Com este pensamento prossegui a minha caminhada. Mas, para mim, a manhã se tornara sombria e triste. A imagem do menino dormindo no chão não saía da minha mente.

Esta nação, tão generosa para alguns, não se interessa pelo seu futuro. Ficaremos eternamente discutindo o óbvio e os pequenos problemas emergenciais de uma determinada situação. Queremos projetos mirabolantes de exploração de recursos naturais no fundo do mar, quando o Brasil de hoje é um profundo fundo de mar de problemas sociais. Para resolver o nosso projeto tecnológico dependemos de ajuda científica dos países que cuidaram das suas crianças. As dificuldades do nosso fundo do mar social dependem exclusivamente de nós. Não me sai do pensamento como um país rico em matéria-prima joga o seu futuro de nação independente nas calçadas das suas ruas.

Por razões que fogem à minha compreensão, resolvo encurtar a minha volta e me dirijo à banca de revista. O menino não está mais lá. Pergunto a um amigo que, diariamente, com a ajuda de dois filhos, monta ao lado da banca de jornal, a sua barraquinha para vender café, sucos de frutas naturais e salgadinhos, sobre o menino que dormia na calçada ao lado da sua barraca. Ele me responde que tinha acabado de chegar e não viu nenhum menino dormindo na calçada. Agradeço a informação e volto pesaroso para a minha casa.

Volto pesaroso e uma pontinha de sentimento de culpa martelando a consciência. Nestes tempos tão cruéis e embotados, será que a praga da indiferença dos nossos governantes frente à tão graves problemas sociais estará contaminando a todos nós? Será que também eu fiquei insensível ao drama que presenciei? Mas não! Não fiquei insensível! Apenas aprendi uma grande e triste lição: a miséria social, principalmente das nossas crianças, não admite adiamentos.


Gabriel Novis Neves (7.5+100)

14-10-2010

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

TROCA-TROCA

Vou propor a mudança do nome de todas as ruas, becos, avenidas, praças e edifícios públicos de Cuiabá. Este seria o primeiro passo para enterrar definitivamente a história desta cidade, que tanto desconforto e perturbação parecem estar causando a algumas pessoas. Extinguir do currículo escolar a disciplina de História do Brasil - principalmente de Mato Grosso, também deve ser levado em conta. Outra medida fundamental seria o fechamento dos cursos de História das Universidades, do Instituto Histórico e Núcleo de Documentação Histórica, assim como das obsoletas Secretarias de Cultura. Além disso, seria preciso que as poucas bibliotecas públicas doassem os seus livros e documentos históricos de Mato Grosso a alguma ONG estrangeira. Lembro ainda que o governo, ao ficar livre dos seus professores de História, faria uma colossal economia, especialmente neste período de gastança com os preparativos da Copa do Mundo.

Com essas medidas, provavelmente, a cidade adquiriria um ar de modernidade e perderia o seu jeito quatrocentão. Não, não fiquei louco, mas é que fiquei tão enternecido e entusiasmado com a proposta que um dos nossos notáveis vereadores fez à Câmara Municipal, que não posso pensar de outra forma. E digo mais: a proposta foi aprovada por unanimidade. O projeto de lei apresentado foi o de substituir o nome da Avenida XV de Novembro pelo nome de um antigo comerciante do bairro do Porto.

E, pensando cá comigo: para que eternizar o carinho para com o Marechal Deodoro da Fonseca, proclamador da nossa república no dia 15 de novembro? Dizem por aí que o povo brasileiro não tem memória mesmo?! Então vamos ajudar na idiotização do povo!

O projeto de lei aprovado pela Casa do Povo de Cuiabá foi à sanção do Prefeito, que vetou a novidade. No retorno à Câmara, o veto foi derrubado por unanimidade. Por pudor e respeito às crianças, não irei transcrever a justificativa. Finalmente estaremos humanizando o histórico e tradicional Bairro do Porto, substituindo uma reles data por um nome super conhecido, na sua avenida principal!

Esta idéia me animou tanto que irei coletar as assinaturas necessárias constitucionalmente para propor à Câmara da minha cidade outras correções históricas. A primeira solicitação será a mudança imediata do nome da Praça Alencastro para Praça do “Bar do Bugre.” A justificativa é que por meio século um comerciante muito conhecido na cidade tinha um bar em frente à praça que, na verdade, era um jardim. Todos sabem que os europeus adoram conversar em bar na praça. Sabendo da sua existência, seria mais um ponto de turismo para oferecer ao pessoal que por aqui aportar para a Copa.

E assim, aos poucos, com a participação popular, iremos mudar a velha cara de Cuiabá. Tenho apenas uma preocupação com esse negócio de trocar nome de logradouros públicos. As três últimas tentativas realizadas neste sentido na nossa querida cidade não deram certo. A mudança do nome da Avenida do Lavapés para 31 de Março não colou. A mudança de nome da Avenida Mato Grosso foi abortada e a Avenida dos Trabalhadores, mesmo com o nome trocado, ninguém a chama pelo novo nome, a não ser o cobrador do IPTU.

Bem se vê que sou chegado a uma brincadeira. A verdade é que o nosso povo e a sua história merecem o respeito de todos. E para aqueles que sentem aquele desconforto com as tradições cuiabanas, lembrem-se: “a porta da rua é a serventia da casa.”


Gabriel Novis Neves (7.5+85)

29-09-2010

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Números

Sempre fugi dos números, um dos motivos de ter escolhido a medicina como profissão. A medicina, que muitos insistem em afirmar ser uma ciência, não é exata. Alguns a chamam de arte e, outros, de a ciência das evidências. Pensei que no exercício da medicina jamais me defrontaria com os terríveis números. Doce ilusão!

O médico trata de humanos, mas seus equipamentos básicos dependem da leitura e interpretação de números: medir a pressão arterial, contar o número de batimentos cardíacos e respiratórios, assim como verificar a temperatura corporal e peso dos pacientes. A medicação é efetuada mediante cálculos matemáticos complexos, envolvendo o número de anos vividos e o peso do paciente, para a fórmula salvadora - sempre em números.

Não há como evitar os números na nossa vida. O nosso nascimento é composto de dia, hora, mês e ano. Tudo são números. E os números irão marcando a nossa trajetória, que se encerra com o número do dia, hora, mês e ano. Esses números obedecem a certa lógica, que correspondem ao nosso ciclo vital.

Entretanto, há números sem explicações convincentes, incompreensíveis mesmo. Analiso o resultado dos números das últimas eleições. Não consigo entender. A matemática é uma ciência exata - tão diferente da medicina!

Mas como explicar, pela matemática, que um candidato ao Senado, avaliado pelas pesquisas com 92% de aprovação, após a apuração dos votos aparece somente com minguados 37%?

E um candidato ao governo do Estado, de uma coligação sem partidos fortes e apoio ostensivo da máquina administrativa, marcar presença com 32% dos votos, praticamente o dobro dos votos do candidato da coligação de dois dos maiores partidos do Brasil?

Para quem quer fugir dos números, tem mais. Outro candidato, sem militância político-partidária, funcionário público federal concursado, de um pequeno partido político fracionado, virgem de eleições, conseguiu abocanhar 25% dos eleitores, ficando com uma vaga do Senado.

Um dos derrotados pelo senador eleito e apelidado de taxi fez até um filme com o presidente da República, que de tão artificial, só fez diminuir o número dos seus votos.

Não contando que a candidata-ministra foi aconselhada a não fazer campanha por aqui, pois o seu grande cabo eleitoral sozinho daria conta do recado. Resultado dos números apurados: a ministra ficou em 2º lugar, perdendo para um candidato que nem tinha comitê no Estado.

A seringueira com 20 milhões de votos encantou o Brasil e surpreendeu o mundo.

Realmente não entendo nada de números e a matemática nunca foi uma ciência exata, pelo menos na política.


Gabriel Novis Neves ( 7.5+94)

09-10-2010

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

CUIABÁ FEDE

Um cheiro forte de coisa podre me acorda um pouquinho antes do meu horário habitual. Imediatamente, após escancarar a janela, faço um detalhado inventário no meu quarto tentando encontrar a causa material do desconforto olfativo. Revisto armários, gavetas, olho em baixo da cama, examino as roupas da cama, o solado do sapato e do chinelo, e nada. Vou ao banheiro, onde o rigor da auditoria é maior. Tiro os protetores dos dois ralos que dão saída à água do chuveiro e do sistema sanitário. De joelhos meto as minhas narinas nessas escavações para identificar se era dali a origem da fedentina. Nada. Tudo ok por aqui.

Vou à copa para o guaranazinho ralado. O odor era maior que no meu quarto. Abro portas e janelas para eliminar o mau cheiro e faço também uma inspeção pela copa e cozinha. Nada. Meu apartamento está limpo. Saio para a caminhada. Entro no fétido elevador – até ali o cheiro era perturbador.

Ao chegar à calçada do meu prédio a fedentina continuava. E foi aumentando à medida que eu percorria os quatro bairros do meu trajeto habitual – bairros considerados de elite e que concentram o maior PIB da cidade.

Encontro amigos caminhando em horários não convencionais para eles. Pergunto se estão sentindo a catinga que sinto. Respondem que fugiram de casa por causa do mau cheiro e já estavam arrependidos, pois na rua a poluição olfativa era mais intensa.

Nas proximidades do buracão aberto para a construção da Arena Pantanal para dois jogos da Copa do Mundo, encontro um varredor de rua. Pergunto a ele se por acaso saberia me dizer qual a origem de tamanha fedentina. Com o cabo da sua vassoura aponta para a direção onde diz estar situado o causador do desconforto, e me explica:

- Lá seodotô”, há anos está instalado um curtume. Conforme a direção do vento o fedor se dirige para cá. Hoje fomos sorteados. Vamos rezar para o vento mudar de direção, pois ninguém merece. Imagine o senhor se na época da Copa bater um vento desses na hora do jogo? No mínimo os estrangeiros irão pensar que nós peidamos durante as partidas de futebol!

- Não fale assim que é feio - disse ao limpador de rua.

- Então como que fala, seo “dotô”?

- Flatulência, respondi.

- Ah! Sei. Nominho difícil de falar né? Fico com o meu.

Lógico que eu estava brincando! Na verdade ninguém usa aquele termo. O mais comum é aquele mesmo usado pelo varredor de rua. Agradeço o esclarecimento e prossigo minha caminhada.

A seguir encontro um conhecido que foi logo reclamando do cheiro desagradável. Diz ele que na saída para Rondonópolis, a quarenta quilômetros de Cuiabá, tem um enorme curtume que o obriga a fechar os vidros do carro sempre que passa por lá. “O cheiro é exatamente igual a esse, o problema - continua ele - é que aquele curtume está bem distante do perímetro urbano de Cuiabá, e este está praticamente dentro da cidade.” Concordei com ele.

Retorno para casa com duas certezas: não tenho nenhum problema neurológico afetando o meu olfato e que ele, definitivamente, jamais se acostumará com a fedentina provocada pelo curtume de Cuiabá.


Gabriel Novis Neves (7.5+102)

16-10-2010