sábado, 30 de setembro de 2023

NÃO VOU ESCREVER


Contrariando o hábito, adquirido há bem pouco tempo, de acordar e digitar um texto, hoje, propositalmente, deixarei de fazê-lo.


Terei imenso prazer de receber o Lourenço, para almoçar.


Trata-se de meu bisneto português: veio com os pais para o casamento da tia.


Será um dos pajens. O outro será seu primo cuiabano João Gabriel.


A eles, a nobre tarefa de entrar com a noiva na Capela Santa Rita de Cássia, onde será realizada a cerimônia religiosa, sequenciada da bênção das alianças.


Um e outro vestidos de ternos azul-marinho.


Que orgulho! Coisas de avô. Sei bem: a avó do Alto, vai espargindo sua benção. Orgulhosa também!


Tenho que aproveitar esse momento único — o almoço em minha casa — para abraçá-lo bem apertado em meu peito, com beijos e fotografias, para sempre.


Meus bisnetos de Cuiabá estão sempre a me homenagear, deixando saudades de um almoço para outro.


Ficarei à disposição dessa colheita, ainda incompleta, da minha terceira geração.


Em maio devo ser mimoseado com mais um bisneto: o peralta vive muito bem no útero da sua mãe, minha segunda neta.


Só saberei do sexo do meu novo herdeiro daqui a um mês.  


Minha preferência: é que seja uma criança com muita saúde. Fico no aguardo.


Tenho muitos herdeiros a chegar.


A Deus peço que prorrogue, por mais um pouco, a minha vida neste Planeta, já que os fios do novelo vão, sem cessar, rareando.


As crianças de hoje dormem até tarde.


Também chegam tarde ao almoço, para desespero da cozinheira que ambiciona chegar cedo em casa.


Enfim, haverão de chegar! Ocasião em que se faz a troca de presentes, que é preparada pelas suas mães.


Na entrada — para deixá-los com água na boca —, a título de aperitivo, pastel frito de queijo e carne moída. Culminando com esfirra fechada e assada.


O almoço, no salão para os adultos, em duas mesas. Tudo à moda antiga, com os mais diversos pratos e outras tantas iguarias.


Salada verde, comida árabe, não faltando o quibe cru. E mais: charutinho de folha de repolho, abobrinha recheada, coalhada.


À italiana, com massas bem variadas. E à cuiabana, com farofa, batata frita, banana — da terra — também frita — e variados tipos de carnes, filé com queijo, arroz branco e feijão-preto o predileto da minha bisneta Maria Regina — a Nina.


Os quatro bisnetos: Bela, Lourenço, Nina e João Gabriel almoçarão com as suas babás na mesa da copa. Depois irão brincar na cobertura do apartamento, descendo só para as fotos da família.


De sobremesa, salada de frutas, sorvetes de vários sabores, torta de morango com chantilly. Ah, não poderia faltar: doces vindos de Portugal!


Concluída a sessão de fotos, os participantes vão aos poucos se retirando, deixando a minha casa vazia, até o próximo sábado.


Gabriel Novis Neves

30-09-2023




quinta-feira, 28 de setembro de 2023

COMETER INJUSTIÇA

 

Tenho verdadeiro horror em cometer injustiça e, apesar da minha atenção ao escrever - sempre econômico em citar nomes de pessoas -, às vezes derrapo nas amarguras do esquecimento.


Só reparo a falta cometida após a publicação do texto quando não há como corrigí-la.


Tenho uma boa memória do passado, confio nela, mas, de vez em quando caio em suas armadilhas, o que me deixa aborrecido.


É provável que os leitores nem percebam, mas eu fico com o meu dia em pandarecos.


Para evitar que isso aconteça ainda hoje, aprendi em 1968, quando secretário de Educação e Cultura do Estado - à época não dividido -, comparecendo em inúmeras colações de grau, do antigo curso primário, ginasial e científico.


Nem ousei registrar a quantas compareci, nem mesmo sei o número de partos que realizei até a minha aposentadoria de médico parteiro.


Nunca dei importância demasiada a estatística, diferente do meu irmão Pedro, economista e professor universitário de estatística.


Roberto Campos, grande fazedor de frases, bem definiu estatística, assemelhado-a ao biquíni: mostra tudo, mas esconde o essencial!


O cerimonial da festa de colação de grau me antecipava a lista das autoridades presentes para que eu não esquecesse de citá-las no momento oportuno. 


Naquela época, que já vai distante, todo mundo era autoridade nas cidades: depois da fala do orador da turma, a palavra era disponibilizada a todos os presentes.


Para meu desespero, muitos se valiam desse direito concedido, e os discursos terminavam com o horário avançado, noite adentro.


Todos os moradores das cidades e curruptelas compareciam a essas festas escolares.


Na universidade, na qualidade de reitor, outro problema havia para ser resolvido.


Eram tantas as autoridades presentes, sem condições de participar da mesa principal! Isso abria margem ao desprestígio para aqueles que ficavam sentados na primeira fileira dos auditórios da colação de grau.


A solução encontrada foi criar uma pequena arquibancada de madeira, hábil a alojar todas as autoridades presentes.


E uma pequena mesa forrada de branco, para os funcionários desse ato universitário.


Na mesa de trabalho acadêmico, ficavam o reitor, dois vice-reitores e o auditor - geral.


No discurso obrigatório do reitor, todos eram referenciados sem citar nomes: autoridades presentes, senhoras, senhores.


Nunca mais tive problemas com citações de nomes e assento à mesa do reitor.


A mesma economia de citar nomes, eu a trouxe para meus textos.


E quando esqueço, me 'trumbico', com a sensação de ter cometido injustiças.


Gabriel Novis Neves

21-09-2023





quarta-feira, 27 de setembro de 2023

ARTES GRÁFICAS


Interessante a reação dos leitores quando leem as artes gráficas que publico no final das crônicas.


Alguns dias estão riquíssimas em reflexões, como a de quando escrevi “COISAS”.


Quando o assunto é história, são inúmeras as fotos da Cuiabá antiga, verdadeiras pérolas do passado.


Se eu conto que não realizei um sonho desejado, a ilustração é de uma foto minha ao violão com o professor.


Assim fluem as crônicas diárias sempre com um trabalho de arte do editor do blog.


O máximo que faço para atrair os leitores é produzir uma crônica leve, de fácil leitura, bem ao meu estilo de escrever.


Às vezes forneço fotos relacionadas a minha biografia, e as escolha dela ou delas é decisão do editor.


Fico tranquilo, pois ele é um “expert” nessa área de arte visual também.


Um professor de português aposentado da nossa universidade, Germano Aleixo Filho, me disse que ninguém tem tempo para ler uma crônica de quarenta linhas, e a maioria não presta atenção no trabalho de artes no final delas, e preferem o ‘tik-toc’ de duração inferior a um minuto.


Para resolver essa verdadeira tragédia da leitura, ele se modernizou para comunicar com os amigos, escrevendo “Gotas de afeto” de curtíssima duração.


O conteúdo é sempre uma reflexão de poetas, pensadores, que falam à nossa alma.


Vou transcrever a mais recente “Gotas de Afeto” que recebi:


“Se a persistência não nos for companhia, nada se alcança. Pergunte a quem de ‘sucesso’ qual o motivo. Tudo reside na ‘dedicação’, dirá. Do Pequeno Príncipe, ecoa a pérola: ‘Foi o tempo que ‘dedicaste’ à tua rosa que a fez tão importante’.


Em apenas quatro linhas, atingiu fácil a imaginação dos leitores.


Vou tentar reduzir mais as minhas crônicas de quarenta linhas, e solicitar ao editor do blog, que aumente as gravuras que traduzem mais que os textos publicados.


Esse pedido é feito de todo meu coração que não é de papel, mas, de afetos.


Gabriel Novis Neves

24-09-2023




O ANO ESTÁ ACABANDO


Estamos no mês número nove do nosso calendário gregoriano.


O ano praticamente terminou, e tudo recomeçará em breve, numa sequência até o final da nossa vida.


Quando criança, o tempo custava a passar.


E eu só sonhava com o período das férias escolares: três meses em dezembro e quinze dias em junho.


As férias do final do ano eram as mais esperadas.


Avançávamos no ano escolar, tínhamos as Festas do Natal e Ano Novo, quando ganhávamos presentes, e o dia todo para brincar.


Existiam os brinquedos próprios da época como rifas, jogos de botões nos corredores dos casarões cuiabanos.


Bem mais: soltar papagaios feitos em casa, brincar de bilboquê feito de latinha de massa de tomate, andar de perna de pau e jogar futebol na rua com bola de seringa.


Eram tantos! E nada comprado em lojas!


Vinha o carnaval, festa profana e do pecado.


Nesse período de três dias, brincávamos pelas ruas.


Corso pela avenida Getúlio Vargas, que terminava na rua Joaquim Murtinho, percorria a avenida Generoso Ponce e subia a Treze de Junho, onde encontrava a Getúlio Vargas.


Continuava tudo na mais sadia alegria, com confetes, serpentinas, lança-perfume.


As músicas eram as marchinhas de sucesso como “mamãe eu quero” ou "a é dos carecas que elas gostam mais”.


Escolas de samba do Porto e blocos de sujos desfilavam pela Getúlio Vargas.


Havia matinês à tarde, para as crianças. A fantasia mais usada era de marinheiro.


À noite, o baile de carnaval era de adultos, embora fosse mais frequentado por adolescentes.


As meninas iam acompanhadas pelas suas mães ou familiares.


Sozinhas, jamais!


As férias escolares de junho (na época) eram curtas, de apenas quinze dias e ninguém passava de ano.


Todas as brincadeiras estavam ligadas às festas juninas de Santo Antônio, São João e São Pedro, pegando sempre São Benedito, no primeiro domingo de julho.


Essas festas eram comemoradas em toda a cidade, com foguetórios, rojões, procissões, lavagem do santo, hinos próprios desse período, pela banda uniformizada do mestre Ignácio, do bairro do Baú.


Fogueira na casa dos festeiros, com danças típicas e roupas imitando o matuto, que era o homem da roça.


Comidas, bolos, doces e bebidas juninas.


Brinquedos para crianças, adolescentes e adultos.


Assim era o ano de bem antigamente onde todos eram felizes.


As crianças estudavam em escolas públicas. Não havia diferenças sociais, racismo. Frequentada por meninos e meninas.


Tinha a merenda escolar, tão esperada e desejada por todos.


A professora, que acompanhava a turma do primeiro ao quarto ano primário.


Criança de antigamente estudava e brincava.


Terminado o ginásio e científico, aquelas - cujos pais tinham recursos financeiros -, geralmente iam estudar no Rio de Janeiro.


Voltavam à a sua cidade natal para exercer suas funções de nível superior, e até para implantar universidades!


Como era bom ser criança quando todas eram iguais.


Gabriel Novis Neves

01-09-2023








segunda-feira, 25 de setembro de 2023

ENFIM, VENCEU


O calorão que atacou Cuiabá neste inverno, enfim venceu o mais resistente dos moradores desta cidade quente.


Há semanas que os termómetros marcam 40 graus dentro de casa.


Chuva parece conversa de pescadores.


Pela manhã o meu fisioterapeuta disse que mais cedo, ao sair com seu cachorro para passear, sentiu nos ombros pingos de chuva. E só.


Emendou que, em Várzea Grande choveu, deixando o asfalto molhado.


Minha cozinheira que acorda cedo para assistir à TV, contou que viu dinais do asfalto molhado em VG, trazendo esperanças a todos os moradores da nossa região.


A Chapada dos Guimarães, considerada a nossa Floripa, está com clima desértico.


Até o tradicional Festival de Inverno da Chapada, este ano foi realizado no verão cuiabano.


Consultei o “Tempo” do meu celular, e não existe previsão de clima ameno nos próximos dez dias.


A primavera está chegando faltando menos de um mês.


Resta-nos, portanto, um tiquinho de dias para retirarmos do guarda roupa pelo menos um leve casaquinho de lã.


Como não viajo mais para países que possuem as quatro estações do ano, meu armário está entupido de roupas de inverno.


Meu aniversário é comemorado em pleno inverno (6 de julho), por isso ganho presentes de inverno.


Este ano ganhei um par de luvas de lã e um gorro, para usá-los “no dia do São Nunca”!


Interessante que “as crianças” que me dão esses presentes, vivem me alertando para retirá-los do armário, para tomarem sol e não mofarem.


Minha esperança de uma friagem, é que guardo uma foto de um ano da minha filha (7 de setembro), quando todos os presentes estavam vestidos com roupa de frio.


Enquanto houver tempo, pois, a primavera terá o seu início no próximo dia 23 de setembro, haverá esperança de um friozinho com chuva moderada.


As flores do meu jardim continuam lindas, por serem molhadas duas vezes ao dia.


São, na sua maioria, de clima desértico.


O calor venceu!


Gabriel Novis Neves

24-08-2023




domingo, 24 de setembro de 2023

SEGUNDA-FEIRA 'BRABA'


Este dia da semana não é um dos mais simpáticos, embora tenha me casado nesse dia por absoluta falta de datas em um dezembro, o mês dos casamentos, e fui muito feliz.


Mas de um modo geral temos ou sentimos desprezo por este dia, especialmente quando trazemos problemas não resolvidos da semana anterior.


Cedo entrei em contato com os meus advogados de causas administrativas, sobre as minhas preocupações.


Todos me encheram de otimismo e paciência que tudo será resolvido a meu favor.


Mas como? - pergunto a mim mesmo!


Não vou conversar com mais ninguém e só o tempo no seu tempo me dará a resposta.


Foi assim numa preocupação que esperei 29 anos por uma conclusão judicial, mesmo assim a justiça só será feita em 2.025, se tudo correr bem.


Estarei (assim espero) com 90 anos de idade!


Muitos dos meus companheiros vítimas desses erros administrativos judiciais, vivem hoje no Plano Espiritual.


Não sei por que na segunda-feira acordo com azedume no meu humor.


Será castigo pelas danadezas cometidas no final da semana, quando abusamos da cervejinha gelada, em nome do calorão de Cuiabá, da carninha de alcatra do churrasquinho e banho de rio no Coxipó do Ouro, de águas ainda não poluídas?


Torço para o dia passar rápido e tenho certeza que amanhã será outro dia sem os azedumes da segunda-feira.


Enquanto isso, fico satisfeito com o número de leitores que leem as minhas crônicas e logo serei chamado para almoçar panqueca de peito de frango, aproveitado do almoço de domingo.


Frango com qualquer coisa era o almoço predileto dos antigos cuiabanos, e quando colocado na mesa era disputado entre as crianças, especialmente o esterno que, após limpo das carnes do peito da ave, servia de jogo.


Quem ficasse com a parte maior do osso ganhava o jogo, dando-lhe a escolher o coraçãozinho do frango ou a melhor fruta natural da sobremesa.


Assim era o domingo de antigamente e as segundas alegres.


Como era bom antigamente, quando éramos crianças e as semanas também, e as segundas-feiras nunca eram "brabas"!


Gabriel Novis Neves

18-09-2023









ALGUMAS COISAS


As mídias sociais, que trafegam vinte e quatro horas pela internet, estão povoadas de fakenews e matérias desinteressantes.


Se fossem pelo menos de bom humor, justificaria o tempo para abrirmos as mensagens e leitura dos seus conteúdos.


Entretanto, sempre existiu um entretanto em nossas vidas.


Recebi pelo WhatsApp uma mensagem bastante interessante e que faz parte do nosso cotidiano.


É sobre a palavra COISA!


Não sei quem é o autor de COISA.


Estamos sempre a recorrer a ela quando nos faltam palavras para exprimir uma ideia.


É o chamado termo muleta.  


A palavra COISA é um bombril do idioma, tem mil e uma utilidades e gramaticalmente pode ser substantivo, adjetivo, adverbio.


Também pode ser verbo e existe o COISIFICAR, e no Nordeste o COISAR.


- O seo Coisinha você já COISOU aquela COISA que mandei você COISAR?


COISA é utilizada em todo o Brasil com muita graça.


Na Paraíba e Pernambuco COISA é cigarro de maconha.


Em Olinda o bloco carnavalesco Segura a COISA, tem em seu estandarte o baseado como símbolo.


Alceu Valença canta: segura a COISA com muito cuidado que eu chego já.


Em Minas Gerais todas as COISAS são chamadas de trem, menos o trem que lá é chamado de COISA.


A mãe está com a filha na estação e o trem se aproxima e ela diz para a filha: pega os trens que lá vem a Coisa


O Hino Informal de São Paulo canta “alguma COISA acontece em meu coração”.


No Rio de Janeiro olha que COISA mais linda mais cheia de graça.


Era de fechar o trânsito a Garota de Ipanema, “mas se ela voltar, se ela voltar, que COISA linda, que COISA louca!


COISAS de Vinícius de Moraes e Tom Jobim que sabiam das COISAS.


COISA não tem sexo e pode ser masculino ou feminino.


COISA ruim é o capeta.


COISA boa é a Juliana Paes. Nunca vi Coisa assim.


COISA não tem tamanho. Na boca dos exagerados COISA nenhuma vira um monte de COISAS. 


Uma COISA é falar outra fazer. Político fala e não faz COISA alguma.


Para o pobre a COISA tá sempre feia e o salário mínimo não dá pra nada, pois tá lá em baixo.


A COISA pública não funciona.


COISA tem história mesmo na MPB.


No festival da Record em 1966, COISA estava nas letras das duas canções que tiraram o primeiro lugar.


A Banda de Chico Buarque, com todos querendo ver a “Banda passar cantando COISAS de amor”, e Disparada de Geraldo Vandré – “prepare seu coração para as COISAS que eu vou cantar”.


Nessa época do Festival a COISA estava difícil, linda para a Jovem Guarda, e verde e amarelo para o resto do Brasil.


Gil, Caetano, Maria Betânia cantaram COISAS E COISITAS que é um monte de COISINHAS.


Na MPB se usa muitas Coisas e todos os seus compositores falam de COISAS.


Por essas e outras é preciso colocar cada COISA no devido lugar.


Uma coisa é uma COISA e outra COISA é outra.


O cara cheio de COISAS é um cara chato.


Um cara cheio das COISAS vive as gargalhadas.


Gente fina é outra COISA.


Por que amamos tantas as COISAS e usamos tantas as pessoas?


As melhores COISAS da vida o dinheiro não compra, como a paz, alegria, saúde e amor.


Deixemos das COISAS e cuidemos das COISAS da vida, se não chega a morte ou COISA parecida.


Faça as COISAS certas e não esqueça o Grande Mandamento:


Amarás à Deus sobre todas as COISAS.


Entendeu o espírito da COISA?


Gabriel Novis Neves

20-09-2023







sexta-feira, 22 de setembro de 2023

QUEM NÃO ME CONHECE

 


As pessoas que não conviveram comigo no consultório, universidade e nos diversos cargos públicos que exerci, e não pertencem a minha vivência familiar, me acham uma pessoa esquisita, difícil de compreender.


O saudoso deputado Milton Figueiredo, nosso ex-aluno de Direito, certa ocasião na colação de grau em uma escola em Santo Antônio do Leverger, pediu para fazer uso da palavra, pois era Patrono dos Formandos.


Esses eventos escolares eram realizados à noite e a palavra era livre, e as formaturas avançavam noite adentro, terminando quase sempre à meia noite.


O querido deputado, brilhante e ferino orador, explicou aos alunos quem era o secretário de educação do Estado de Mato Grosso.


Eu tinha sido escolhido pelos alunos, como Paraninfo da Turma e o político sabia muito bem como essas escolhas eram feitas e seus critérios.


Ele sabia que os alunos não sabiam quem eu era, apenas secretário de educação à qual pertencia a sua escola.


Disse mais ou menos isso a todos os presentes que lotavam as dependências do pequeno auditório da escola de primeiro grau:


“Vou contar a vocês quem é o Paraninfo que vocês escolheram.


O doutor Gabriel é um homem comum, mas, casou-se com uma Princesa argentina espanhola que foi criada no Rio de Janeiro.


É um homem vaidoso, não vive no meio do povo.


Dizem até que será magnífico, título de nobreza que lhe assenta muito bem.


Apesar de tudo, os pobres o idolatram e hoje está aqui na minha cidadezinha sendo homenageado pelos nossos futuros líderes.


Difícil de entender esse homem querido e amado por todos, inclusive por mim, seu adversário político. ”


Com essas palavras o brilhante deputado Milton Figueiredo encerrou sua fala.


Como deputado federal e eu reitor, muito me ajudou na aprovação do teatro universitário na gestão do ministro da educação Eduardo Portela.


Muitos ficaram surpresos com o meu blog desde 2009, onde tenho mais de 3000 crônicas publicadas.


Juravam até há pouco tempo que eu não conseguia escrever uma linha e tudo era escrito por outros. Só assinava e lia.


Não entendem essa minha devoção em escrever ao ser idoso.


Minha paixão com as plantas e flores, muita gente pensa que é novidade.


Esquecem-se que ao retornar à minha cidade natal, em 1966 plantei jardins internos e externos no Hospital Adauto Botelho.


O campus universitário do Coxipó da Ponte foi implantado em pleno cerrado com vegetação rasteira, eu sendo o reitor por mais de dez anos.


Hoje temos árvores de médio e grande porte em toda a área, misturando com os inúmeros prédios de uma verdadeira cidade.


Transformei a cobertura do meu apartamento em um lindo jardim e a parte inferior em um arsenal de flores, com destaque para as orquídeas nas cores azul, rosa e branca com fundo lilás.


Portanto, “quem não me conhece que me compre! ”


Gabriel Novis Neves

29-08-2023






SONHO NÃO REALIZADO


Quando criança, tinha muitos sonhos a realizar quando adulto.


Uns eu consegui converte-los em realidade, como estudar medicina, constituir uma família com filhos e viver muitos anos (88) com saúde.


Curtir netos e bisnetos e poder dizer a eles que os amo muito.


Alegrar-me por ter uma família muito unida e trabalhadora.


Outros, fiz o possível que podia fazer, para que todos tivessem oportunidades, e que a educação e saúde de qualidade fossem para todos.


Não consegui.


Avançamos muito, porém não foi o que sonhei.


Acredito também que priorizar saúde e educação, deve ser um sonho de todos os brasileiros.


O sonho mais frustrante que não consegui transformar em realidade e luto até hoje para conseguir revertê-lo, foi o de nunca ter aprendido música instrumental.


Quando criança, minha família e o meio em que fui criado, não era musical.


Eram ferrenhos críticos daqueles que escolhiam essa arte como profissão.


Diziam que essa profissão era para aqueles que não desejavam estudar.


Abriam exceções para os estudos de piano ou violino.


Os raros que se aventuravam e depois abandonaram o piano, eram vistos com maus olhos e sua sexualidade era debatida.


Os instrumentos de corda como o violão, cavaquinho e bandolim eram excecrados pelos pais, que desejavam que seus filhos fossem doutores ou funcionários do Banco do Brasil.


Incompreensível para mim, que desde que me entendo por gente, nos tempos que andava descalço, nunca fui proibido de frequentar o bar do meu pai.


Fui criado metade em casa, metade no bar, logo ajudando o meu pai como garçom, servindo aos fregueses na mesa.


Ali era a casa dos chorões como Tote Garcia, Hermínio Pastel, Nilson Constantino, Odare Vaz Curvo, Bugrinho craque de futebol, a Turma do Morro (filhos do professor André Avelino), Hélio do Mundéu e tantos outros.


Onde há música existem poetas, historiadores e letrados.


Estou relatando Cuiabá de 1945-1950.


Esse era o ambiente que sonhei a pertencer no futuro, mas primeiro tinha que estudar, e logo viajei para o Rio de Janeiro.


Retornei doze anos depois, médico e casado.


O meu mundo era outro e trabalhava muito na minha profissão de médico, nunca me esquecendo da música.


Na primeira oportunidade que a música me ofereceu com reitor da UFMT, criamos a Banda Universitária, a Escola de Samba Mocidade Universitária Independente, o Coral Universitário, o Quarteto de Cordas e a Orquestra Sinfônica Universitária.


Foi construído então o Teatro Universitário para que estudantes, professores, servidores e comunidade pudessem assistir aos Concertos da nossa Orquestra Sinfônica, Quarteto de Cordas e Coral.


Também músicos que vinham de fora.


Antes da inauguração do Teatro (1982) sediamos por alguns anos o projeto Pixinguinha, ocasião que tive o prazer de receber na reitoria o maestro Radamés Gnattali e o violinista Turíbio Santos, entre outros músicos, cantores e cantoras.


Paguei um alto preço pelo sonho que não realizei e não desisto.


Ganhei do meu amigo Benedito Pedro Dorileo um novo violão, e a indicação de um bom professor para as aulas particulares em casa.


Ia até bem, com muitas dificuldades.


Veio a pandemia e tudo foi interrompido.


Não sei se terei tempo ainda para aprende tocar violão.


Gabriel Novis Neves

31-07-2023




quinta-feira, 21 de setembro de 2023

VAIDADE


Sou uma pessoa reservada ao extremo, mas quando recebo elogios sinceros de dois dos mais competentes jornalistas sobre os meus textos, como o Osmar do site Mídia Hoje e a Valéria del Cueto, ex da TV Globo, balanço para não cometer o pecado venial.


O escritor Fernando Tadeu de Miranda Borges me diz que os cronistas estão desaparecendo em nossa cidade e implora para eu não deixar de escrever.


Vou continuar escrevendo, pois na minha maturidade descobri que tenho o “dom” de escrever e fiquei viciado.


Escrevo desesperadamente pelo vício, para meus leitores julgarem.


Às vezes gosto do que escrevo, outras vezes, nem tanto assim.


Não descobri ainda qual o melhor horário para trabalhar e o meu cérebro não tem preferência para fluir uma crônica.


Quem faz a diferença para o horário de trabalhar é o calor desumano que faz em nossa cidade.


Sou da geração que a arte de falar bem em público era apanágio dos advogados, e os meninos que eram oradores das suas turmas do ginásio procuravam o curso de Direito para completarem os seus estudos.


Os craques em matemática e desenho, iam direto para o curso de Engenharia Civil.


Os sem habilidades só poderiam ser médicos, ou seguiam a carreira militar.


Como eu não discursava, não possuía habilidades no desenho e matemática, e não gostaria de me tornar um ser errante, fui para a medicina.


Nunca poderia imaginar que depois de aposentado das minhas funções profissionais de médico seria um cronista produtivo do cotidiano.


Até discursar de improviso a vida me ensinou e fui obrigado a fazer muitos na minha vida pública.


Ouvia os antigos dizerem que a vida é a nossa melhor escola, nos ensinando a viver, o que a escola tradicional não sabe.


“Deixa que a vida ensina”, ouvia sempre da minha mãe para nos educar.


Não tenho vaidade, embora sempre seja desafiado pelos capetas, para cometer o pecado venial, que me salva do inferno, com estágio no purgatório para chegar no Reino dos Céus.


Gabriel Novis Neves

05-09-2023


Ilustrações sobre a vaidade