O GRANDE DIA

De uns anos para cá passei a chamar os sábados pela manhã de início de o grande dia.

A casa no dia anterior passa por profunda faxina, com a necessidade de um auxiliar para cuidar dos livros do meu escritório do andar superior e da área do jardim.

No grande dia é lá que as crianças brincam e choram quando têm que voltar para casa.

Antigamente elas brincavam no quarto de hóspedes, hoje totalmente desativado com a morte do tio Pace.

Relendo uma antiga crônica, eu escrevia da importância de brincar para uma criança se desenvolver psiquicamente.

Para os índios que habitam o Xingu, os velhos da tribo ensinam as crianças a nadar, pescar, caçar e brincar para o seu perfeito desenvolvimento psicossocial.

Meus bisnetos são crianças que sabem nadar e brincar mais que pescar e caçar, por motivos óbvios.

Considero-os metade de um indiozinho com tudo de bom que a natureza tem a nos ofertar.

O meio ambiente é o nosso grande professor sobre todos os aspectos.

Não à toa minha casa está abarrotada de plantas e flores as mais lindas.

Meus bisnetos mesmo cedinho começam a entender o significado de beleza.

As Marias saberão reagir quando as pessoas a chamarem de lindas, pois se lembrarão das orquídeas da casa do biso.

No grande dia, antes da chegada das minhas crianças brinco no computador, pois brincar não é proibido aos idosos.

Já fui alertado para dar uma folga para o meu notebook, pois isso me faria bem à saúde.

O que farei nesse casarão sozinho com todo esse calorão?

Conversar com as paredes, importunar alguém pelo celular, pedir ao vizinho o jornal de ontem de São Paulo, ou ler um desses livros densos?

Minha companheira que é a cozinheira me diz que o almoço está quase pronto e dos presentes que ganhei: uma linda orquídea branca e farofa de dois sabores de uma recente fábrica de farofas, instalada aqui.

Não foi preciso ligar a TV para assistir aos jogos do campeonato de futebol da Arábia Saudita.

As crianças chegaram e o grande dia teve o seu início.

Gabriel Novis Neves

26-08-2023