Apesar
de pouco alardeado, o amor entre pessoas idosas é mais um dos inúmeros
preconceitos que envergonham a humanidade.
Sob
a perspectiva de uma capa protetora, geralmente mal identificada, amigos
próximos cerram fileiras contra qualquer possibilidade de novos encontros
afetivos de um idoso.
E
ele, já alquebrado pelas perdas naturais que a vida foi lhe trazendo, mostra-se
incapaz para buscar novos caminhos que possam aplacar a sua enorme solidão.
Afinal,
onde está escrito que amar, ainda que no outono da vida, trás menores
satisfações de alegria, saúde e prazer, do que na mocidade?
Muito
pelo contrário. Estudos recentes mostram que o desejo acompanha o indivíduo até
os dias finais de sua vida.
Talvez
por vergonha ou pudor muitos idosos abdiquem desse final prazeroso, e não
porque seus amigos passam a reagir histérica e irracionalmente contra as suas
pretensões amorosas.
A
mesquinharia e a agressividade com o idoso, aumentam os estados depressivos
comuns nessa faixa etária.
A
natural alegria de ver alguém próximo feliz é substituída pelo rancor e inveja
de pessoas que geralmente lidam mal com as suas frustrações amorosas, incapazes
de exorcizar as suas próprias inseguranças.
O
velho, como nada de muito forte tem a perder, costuma se jogar intensamente
nessas relações afetivas tardias, como tábuas de salvação atiradas a um
náufrago.
Penso
estar aí a razão da imensa inveja dos jovens, na maioria tão centrados em si
mesmos e, portanto, incapazes de vivenciar a plenitude do verdadeiro amor.
O
genial Shakespeare definiu muito bem em algumas de suas peças esse desprezo
oculto pelo idoso, tornando-o um objeto descartável de consumo, apenas
valorizado pelos bens adquiridos durante a vida e que justifiquem a sua
presença como futuro doador.
Realmente,
não é fácil amar e, principalmente, entender que esse sentimento não pode e não
deve se confundir com posse.
Entendo
que a única forma de amar é querer ver o outro feliz. Toda e qualquer outra
forma de amor é apenas dominação e poder e, assim sendo, inválida.
Alguns
poucos privilegiados e corajosos, apesar de todas essas cargas sociais,
conseguem viver os seus últimos anos de vida impactados por um amor renovado.
Sim,
porque o amor é sempre o mesmo, apenas se apresenta de diferentes formas e,
portanto, tão belo ou mais que os anteriores.
Esses
poucos valentes enfrentem os preconceitos sociais que muitas vezes insistem em
rotulá-los de dementes ou esclerosados.
Recebem
como prêmio o brilho do olhar, única beleza que nenhuma plástica consegue
jamais trazer nessa faixa etária.
Numa
sociedade saudável, o nosso grande prazer deveria ser a visão de pais, avós e,
até mesmo, bisavós, cumprindo as suas viagens aqui na Terra de uma maneira
lúdica e leve, desde que as disposições físicas assim o permitam.
Nunca
massacrados por preconceitos imbecis, despidos de qualquer razão.
Talvez
nos falte um pouco mais de ciência e de sabedoria para lidar com a alegria e
abandonar definitivamente a culpa judaico-cristã que tem massacrado a
humanidade por tantos anos.
Amor
é, fundamentalmente, respeito ao outro.
“Posse e dominação” configuram apenas
“mesquinharia” e “desamor”.
“Viva
e deixe viver" - esse deveria ser o lema de todas as pessoas bem
intencionadas.
Gabriel
Novis Neves
15-10-2014