Assim
como a filosofia popular convencionou dizer que “quem não gosta de samba, bom
sujeito não é”, desconfio sempre dos que
desprezam o prazer da boa mesa.
Comer,
entre os prazeres, é o mais longo, isso no âmbito da percepção sensorial pura,
não aquela estimulada por substâncias
químicas.
Escritores
como Aldous Huxley, nos falam, por exemplo, dos prazeres provocados pela
abertura das portas da percepção através de substâncias alucinógenas, tais como
a mescalina, substância muito em moda nos anos 60. Estamos falando dos prazeres
triviais. Daqueles extraídos do dia a dia e que já fazem parte do DNA de cada
um de nós.
A
realização do sexo pleno, que é o clímax do desejo animal, a alegria e o bem
estar pós a eliminação de substâncias tóxicas para o organismo, o bem dormir,
com o seu universo de fantasias oníricas, o prazer da contemplação da natureza,
o delírio dos cheiros que se perpetuam desde a infância até a fase adulta e,
finalmente, as delícias descobertas pelo paladar, estas sim, compartilhadas por
todos e com aprovação social integral.
Observo
que a arte de escrever tem pontos em comum com a arte da boa mesa.
A
da escrita trabalha com a alquimia das palavras, enquanto a outra trabalha com
a alquimia dos sabores. Ambas, reféns de muita imaginação e sensibilidade.
Aliás,
a maioria dos escritores revela em seus contos essa enorme afinidade.
Fernando
Pessoa, por exemplo, conta de sua enorme paixão
por certo arroz ao caril com gambás (leia-se arroz ao curry com
camarões) lembrança de sua estada na África do Sul ao tempo em que lá morou com
seu padrasto, na época cônsul de Portugal no referido país.
O
nosso famoso baiano, Jorge Amado, era outro que sempre mesclava seus contos com
as delícias preparadas por seus personagens, apimentando assim todos os outros
desejos que compunham a trama.
O
mesmo se repete nos livros de todos os grandes escritores, o que prova que o
bem escrever está sempre muito atrelado ao bem comer.
Felizmente,
nos dias atuais, com o advento da “geração saúde”, a arte do bem comer vem
sendo incentivada.
A
indústria da anorexia, incentivada pela indústria da moda, não está conseguindo
prosperar tanto quanto desejava e já começam a desfilar as formas femininas
mais roliças que tanto encantaram os homens durante tantos séculos.
O
prazer da comida, tal como todos os outros, é fundamental para um bom
equilíbrio físico e, principalmente, mental.
Sem
boa alimentação prazerosa, não há
energia vital, essa que move o mundo.
Gabriel
Novis Neves
02-12-2014
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