sexta-feira, 28 de novembro de 2014

País em liquidação


Ando acometido pela terrível sensação de estar vivendo num país que não é mais o meu.
Os políticos, apesar de eleitos através do voto popular, além de não me representarem, nos envergonham muito - mais que em outros tempos, nesses setenta e nove anos que com eles convivo.
Sinto-me ultrajado, traído e acabrunhado perante a enormidade de falcatruas feitas à minha volta.
Os altos impostos, dos maiores do mundo, vampirizam uma população indefesa que a tudo assiste estarrecida, mas totalmente indefesa.
Ao que parece, denunciar o que vivemos tornou-se uma tarefa inglória.
Resta-nos o cinismo e a convivência com esse estado de estupefação.
Pensar que um simples gerente de uma empresa do vulto da Petrobras devolverá 97milhões de dólares através da delação premiada é algo surreal e assustador.
O que teria então sido surrupiado pela cúpula desta e de outras grandes empresas que representam a nata da economia brasileira?
Tudo mancomunado com políticos sórdidos que organizam verdadeiros clubes da rapinagem, enquanto nós outros compomos o clube dos falidos.
Esses escândalos poderão abrir as portas para outros, uma vez que algumas poucas e poderosas empreiteiras têm a capacidade para formar usinas, aeroportos, ferrovias, hidrovias, enfim, tudo de vultoso que se constrói num país.
Tenho dado nesses tantos anos de vida o melhor de mim e o meu voto de confiança  só a traidores e ladrões?
Eu e mais tantos quanto eu, vivemos apenas para presenciar a liquidação da pátria amada?
Patriotismo! Ensinaram-me na escola e, o pior de tudo, eu acreditei.

Gabriel Novis Neves
18-11-2014

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

DESCULPA ESFARRAPADA


É uma desculpa inconsistente. Não possui crédito. Geralmente, quem é vítima dela sente-se extremamente irritado. Isto porque logo se percebe a covardia daquele que se utilizou dela para esconder ou justificar um malfeito.
No dia a dia são infinitas as desculpas esfarrapadas que se apregoam por aí. Um subterfúgio pouco nobre por parte daqueles que não têm por hábito assumir seus erros.
Muito comum na política. A mais conhecida por todos nós é a famosa –“não sabia de nada”.
Há dias assisti estarrecido pela televisão a tentativa de um advogado em querer inocentar seu cliente que foi preso por ter cometido, com agentes públicos e políticos, o saque à Petrobras.
Disse que no Brasil, por menor que seja o município, se um empreiteiro vencedor da licitação quiser colocar um paralelepípedo, tem de pagar propina ao agente público.
Do contrário não recebe o valor da obra e sua firma vai à falência.
Como vivemos numa cultura extremamente hipócrita, em que verdades nunca podem ser ditas, caiu mal o argumento, principalmente partindo de um advogado.
Típica desculpa esfarrapada para minorar a conivência do seu cliente, uma vez que ninguém é obrigado a aceitar e ganhar dinheiro com atividade ilícita.
Quem não quiser participar da maracutaia nacional é dada a prerrogativa de não entrar no esquema ou denunciar o crime de lesa pátria aos órgãos competentes para as devidas providências.
No momento que colabora com a imoralidade está formada a dupla de corruptos e corruptores.
Essa velha história que ouvimos com frequência “que sempre foi assim” merece o repúdio da sociedade, a grande prejudicada.
Falta coragem e sobra hipocrisia para denunciarmos escândalos que sabemos existir, e achar que é só um problema cultural!
Na verdade o caso é de polícia para os ladrões do nosso patrimônio.
Precisamos de uma imprensa mais livre, uma sociedade mais vigilante e líderes independentes.
É triste saber que hoje existem quadrilhas de agentes públicos mancomunados com empresários dilapidando os nossos bens morais e materiais.
A corrupção é um mal universal, mas com algumas diferenças. Nações com melhores níveis educacionais punem os seus corruptos. Aqui reina a impunidade.
O país não suporta mais esse odor fétido dos nossos Palácios.
Um dia a casa cai, infelizmente para o pior, nos ensina a história.
Não podemos mais ficar abstêmios a todos esses insultos e ficar aceitando desculpas esfarrapadas.

Gabriel Novis Neves
23-11-2014

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

O Rio e seu charme


 “O Rio de Janeiro continua lindo...”. Suas belas mulheres, bem mais despojadas do que as de outras partes do Brasil, combinam com a natureza exuberante das praias e das montanhas que tornam o Rio uma das mais belas cidades do mundo.
O carioca nos passa a impressão de liberdade. Despojado, alegre, comunicativo e belo. Talvez influenciado pela exuberante natureza que cerca a cidade, o carioca leva o seu dia a dia com leveza, sem dar muito importância aos rígidos protocolos que toda sociedade quer impor.
E não estou falando só dos jovens. Grupos de aposentados enchem as praias diariamente em busca de exercícios e, principalmente, de convívio social.
O carioca recebe pouco em casa; a praia é a sua grande sala de visitas.
Basta sair do casulo para ser envolvido pelo brilho e pela luminosidade que invadem esta cidade.
Com uma população extremamente comunicativa e cordial, logo amigos inesperados são feitos, o que faz com que o visitante se sinta imediatamente querido e à vontade.
Aliás, este aspecto foi uma das coisas mais observadas pelos turistas que aqui estiveram para a última Copa do Mundo.
Triste é apenas ver como uma cidade tão bela foi contaminada pela onda de abandono, empobrecimento e descaso que afetaram algumas outras cidades do mundo.
O medo da violência das ruas é visível e, ao anoitecer, os que antes se deleitavam com os passeios noturnos à beira do mar, se recolhem aos seus lares ou vão para bares e restaurantes, lotados nos fins de semana.
O desnivelamento social é patente dada à proximidade entre bairros de maior e de menor poder aquisitivo, numa tentativa democrática nem sempre bem aceita por ambos.
Em decorrência desse abismo social são comuns os casos de pequenos furtos, mesmo durante o dia.
Nos fins de semana escaldantes do alto verão, são comuns os arrastões nas praias, o que afasta a “bela garotada de Ipanema” de sua maior diversão.
Apesar de todas essas mazelas o Rio continua sendo um grande polo cultural – cinemas, teatros, exposições de arte, shows e concertos.
Sob esse aspecto a melhora é incontestável.
Como em outras tantas grandes cidades mundiais, o empobrecimento é visível. Apesar da personalidade extrovertida do carioca, se observa um ou outro ar preocupado no semblante das pessoas.
Uma cidade que, apesar de deslumbrante, clama por cuidado e atenção.
Senti-me, nesses dias em que lá estive, como se estivesse em Los Angeles, circulando apenas de carro, com ruas quase vazias sempre que o sol se esconde.
Entretanto, o Rio continua lindo. Imbatível!
O carioca, no aguardo de dias melhores, em que todos possam desfrutar tranquilamente de suas belezas, vai levando a vida ao estilo de Zeca Pagodinho: “deixa a vida me levar, vida leva eu, sou feliz e agradeço por tudo que Deus me deu...”.

Gabriel Novis Neves
18-11-2014

terça-feira, 25 de novembro de 2014

A POEIRA BAIXOU


Nada como o tempo! Só ele nos dá condições de melhor avaliar o passado.
No caso das últimas eleições aconteceu um festival de contradições.
O povo saiu às ruas no ano passado pedindo mudanças no jeito de governar este país, pois, corrupção não é método de governo.
Foi oferecido à população o instrumento para realizar o seu desejo, o voto.
O que verificamos é que nada mudou nestas últimas eleições, em todos os níveis dos cargos disputados.
Interessante é que todos os candidatos do governo e da oposição tinham como proposta central as mudanças políticas necessárias a esta nação.
A impressão que se tinha é que existia apenas um partido, o tão sonhado por muitos de “um Partido Único”.
As fisionomias dos candidatos são nossas velhas conhecidas, prenúncio que os vícios que nos abatem continuarão; tudo em nome da “governabilidade”.
Nunca na história deste país houve uma disputa tão acirrada para o cobiçado cargo de primeiro mandatário.
Figuras detestáveis pela população povoaram os dois cenários.
Resultado: mais de trinta milhões de eleitores simplesmente deixaram de comparecer às urnas. Outros tantos votaram em branco ou anularam o seu voto.
Existe muito a se aprender com esses resultados que dividiram o país. As alianças partidárias amparadas em trinta e nove ministérios merece atenção dos estudiosos.
Nada de conclusões emocionais e afoitas sobre o acontecido, mas, que existe uma nuvem de preocupações no ar, isso existe.
Temos de governar com mais seriedade para os miseráveis, pobres e trabalhadores desta nação.
Sentimos inveja dos agentes públicos de países que foram destruídos pela guerra como o Japão, Coréia do Sul, China e Alemanha e, hoje, são grandes potências econômicas, sociais e morais.
Eles acreditaram e investiram na educação do seu povo para essa transformação de verdade, enquanto que nós refutamos e não aceitamos que essa é a única estrada da mudança diuturnamente lembrada nas ruas.
Oportunidade de ascensão social a todos, restaurando a confiança e dignidade entre governantes e povo.

Gabriel Novis Neves
19-11-2014

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Juventude de Hong Kong


Há muito não se via no mundo asiático uma manifestação tão grande de jovens clamando por democracia.
Protestam contra a não possibilidade de eleger seus próprios representantes. Estes são determinados pela China, país do qual há pouco tempo se libertaram, parcialmente.
Aliás, eles nunca conheceram a democracia, já que, anteriormente  à China, eram colonizados pela Inglaterra.
É um povo extremamente organizado. Possui uma tecnologia moderna de comunicação e, através de seus celulares, tem se mostrado obstinado na conquista de seus objetivos, até então pacíficos.
A bela cidade de Hong Kong, muito semelhante em beleza ao Rio de Janeiro, tem mantido há mais de uma semana suas praças lotadas por jovens que, empunhando guarda-chuvas pretendem mudar o destino político de seus habitantes.
Os guarda-chuvas, além de proteção contra as intempéries, é uma metáfora em relação aos escudos policiais. Por essa razão, o movimento já está sendo chamado de “revolução dos guarda-chuvas”.
O que se espera é que nessa grande mobilização pacífica da juventude não ocorra as lastimáveis cenas de truculência policial vistas há alguns anos na Praça Celestial de Pequim, por motivos semelhantes.
Apesar do aumento da violência mundial resta-nos torcer para que dessa vez a razão vença a barbárie.
Focos de guerra se espalham por todo o planeta colocando em risco o destino de uma humanidade atônita que, em sua maioria,  apenas deseja paz.

Gabriel Novis Neves
06-11-2014

RIO


Aos seis anos de idade fiz minha primeira viagem ao Rio de Janeiro.
Acompanhado de meus pais, de uma irmã de três anos e de um irmão de meses, deixamos Cuiabá em uma manhã chuvosa e embarcamos em um pequeno hidroavião que se encontrava no Rio Cuiabá.
Lembro que chorei muito com medo daquele “bicho” que corria pelas águas e voava por cima das nuvens.
Entrei no avião apavorado e, logo depois, adormeci deitado no colo de meu pai.
Com certeza trocamos de aeronave para pousarmos no aeroporto Santos Dumont no Rio de Janeiro.
Dessa viagem só me recordo do embarque e do “escorregador” da Praça do Lido no Posto 2 em Copacabana.
Minha segunda viagem foi também para o Rio, aos dezessete anos, em um “possante” DC3 herdado da Segunda Guerra Mundial.
Fui com o meu pai conhecer a cidade onde iria completar o meu ensino médio e me preparar para o vestibular de medicina.
Lembro-me de muitos detalhes dessa viagem, mas, o que mais me impressionou, foi conhecer uma figura folclórica muito influente na política nacional.
Estava almoçando na Galeria Cruzeiro no centro do Rio, quando entra Tenório Cavalcanti, então deputado federal pela UDN, todo vestido de preto, com chapéu da mesma cor e uma capa preta que protegia uma bela metralhadora alemã!
Barba, bigode e charuto, além de um pelotão de guarda-costas que protegia aquela personalidade.
Com a minha entrada para a Faculdade de Medicina virou rotina minhas viagens para a Cidade Maravilhosa, por longos doze anos.
Mesmo após o meu regresso à Cuiabá, para ser médico do interior, agora com família, minhas viagens sempre tinham como destino exclusivo o Rio de Janeiro.
Nosso ponto de apoio ficava no bairro do Leme, quase na Ponta do Leme, de visão inesquecível pelas suas belezas naturais.
Mesmo tendo vivido toda a minha mocidade no Rio, em um período de efervescência cultural com o nascimento da bossa nova e tsumanis políticos, como o suicídio do Presidente Vargas e o Movimento de Março de 1964, nos últimos cinco anos o Rio saiu da minha rota de viagens.
Com o tempo passando, e com a certeza que tenho muito mais passado que presente e futuro eu creio ter ainda uma missão a ser cumprida aqui na Terra.
Voltei a incluir o Rio nos meus poucos deslocamentos da minha cidade-mãe.
Embora belo, já que a natureza foi pródiga com aquele litoral, sinto uma imensa tristeza quando vejo que o Rio de Janeiro continua lindo, porém com a criminalidade fora do controle.
O medo tomou conta dos seus moradores e visitantes. Os bairros foram deformados com grades de ferro protegendo seus edifícios, tudo em nome da segurança.
Como diz o poeta Paulinho da Viola, o Rio “foi um rio que passou em minha vida”. O progresso expulsou a inocência pura das suas manifestações culturais e pontos de lazer.
Mesmo assim, considero o Rio de Janeiro como minha segunda morada. Identifico-me com o Leme da Ponta e com Ipanema, que é a cara do Rio de Janeiro.
Maltratada e humilhada, a Cidade Maravilhosa continua sendo a capital cultural e da beleza do Brasil.

Gabriel Novis Neves
20-11-2014

Manoel de Barros


Após bem cumprir o seu ciclo vital na Terra, viajou para outros planos o poeta cuiabano Manoel de Barros.
Sua obra foi destaque na grande mídia durante dias, e o momento é para refletirmos sobre o nosso papel aqui no planeta.
No mundo capitalista e consumista, onde o importante é o ter, e não o ser, os versos do poeta pantaneiro nos despertam para o valor das “insignificâncias” do mundo e das nossas.
Demonstrou na literatura como é vital valorizar as “insignificâncias” que temos e não percebemos - principalmente as belezas e riquezas naturais.
As pedras do riacho, as borboletas, os insetos, o silêncio, o meio-ambiente, a vida animal.
Fez opção pela vida no campo, embora fosse possuidor de formação universitária no Rio de Janeiro, onde cursou a Faculdade de Direito e morou por alguns anos.
Também conhecia o mundo, tendo feito várias viagens internacionais, como para a cidade de Nova York nos Estados Unidos da América do Norte.
Decidiu aos treze anos o que gostaria de ser quando crescesse. E escreveu em carta ao seu pai: - um fazedor de frases.
Nascia nesse momento o poeta das “coisas insignificantes” que encantou o mundo com a sua simplicidade.
A tecnologia não o escravizou, escrevia os seus versos a lápis com borracha ao lado em pequenos cadernos escolares.
Brincava dizendo que sua inspiração vinha da ponta do lápis. Disciplinado, sempre acreditou no esforço para agrupar palavras que terminavam em versos.
Talvez tenha sido o último poeta que “só usou a palavra para compor seus silêncios”.
Suas lições são legados de um sábio que, sabendo da sua importância, nunca abandonou a “vadiagem inspiradora do seu pantanal”.

Gabriel Novis Neves
18-11-2014

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

PODRIDÃO POLÍTICA


Enquanto as pesquisas internacionais científicas e espaciais conseguem chegar a um cometa através de um robô, nós aqui na terrinha mergulhamos sem rede de proteção num mundo real de podridão política extrema.
Segundo literatura recente, os pródromos políticos que redundaram no suicídio de Getúlio Vargas, foram considerados o “mar de lama” da história política brasileira.
Atualmente, diante de nossos olhos, escancara-se, sem pudor, o maior acinte a que foi submetida a República - quando do assalto alarmante da maior empresa do país e uma das maiores do mundo, a Petrobrás.
Os bilhões desviados, com a aquiescência de políticos e altos empresários, na proporção em que aconteceu, é quase uma obra de ficção tal a sua magnitude.
Seus protagonistas exibem rostos tranquilos, coerentes com perspectiva de punições brandas ou nulas.
Os suicídios frequentes em outros países, que ainda preservam valores como honestidade e honra, não pertencem ao nosso ausente código de moral ilibada.
Que quadrilha é essa que não mais assalta pessoas, casas, bancos, mas sim, um país da dimensão do nosso?
Quantas autoridades foram necessárias para corromper e maquiar durante tantos anos o balanço da nossa outrora “menina dos olhos” da qual tanto nos orgulhava aos gritos de “o petróleo é nosso”?
Realmente, como combater a violência das ruas se não sabemos coibir a violência das autoridades constituídas que nos envergonham e nos humilham perante o mundo?
Nesse momento trágico sinto-me envergonhado de ter nascido num país que trancafia seus pequenos transgressores famintos em masmorras infectas e desumanas e que, simultaneamente, acoberta um dos mais altos índices de corrupção do planeta.
Fico pasmo ao constatar os enriquecimentos súbitos, vultosos, apenas com a proximidade dos poderes estabelecidos.
Estamos fartos de saber que todos os esquemas políticos, sejam eles de direita, de centro ou de esquerda, estão vinculados a falcatruas a nível mundial, mas o que está acontecendo no Brasil foge a qualquer tipo de dimensão.
As migalhas jogadas a título de esmolas nada mais fazem do que aumentar esse desnivelamento social.
As notícias do dia vinculadas pelas diversas mídias e, anteriormente, preocupação com o mundo que nos cerca, agora se assemelham a uma ingestão venenosa, tamanha a dificuldade com que conseguimos metabolizá-las.
Pobre rico país!

Gabriel Novis Neves
18-11-2014

Amarras


Aprendemos em psicologia que temos amarras emocionais que nos causam sofrimentos e que essas são muito difíceis de serem desfeitas, mas não impossível.
Elas estão guardadas dentro de nós. No entendimento de Eduardo Galeano, “em silêncio parecido com estupidez”.
Voltaire diz que é difícil libertar os tolos das amarras que eles veneram.
Não creio que conscientemente alguém deseje ficar submisso a certos condicionamentos arcaicos que a sociedade nos obriga a absorver. Somos tão limitados em nossos quereres!
O caminho para quem tem noção dessa patologia é procurar apoio de psiquiatras, analistas, psicólogos.
Amigos e religiões apenas corroboram essas amarras. Eles não têm o poder de nos ajudar a anular os efeitos nocivos daqueles condicionamentos.
Essas forças poderosas e resistentes estão soldadas nos pilares da nossa formação cultural e educacional.
Rompê-las é como implodir um edifício de muitos andares em região nobre de uma cidade.
Viver com elas é insuportável! As amarras emocionais só poderão ser desfeitas através da nossa participação ativa.
O primeiro passo, com certeza, é perceber e reconhecer a origem do nosso desequilíbrio interior. A seguir, a aceitação da descoberta, fato determinante para que possamos iniciar a transformação daqueles sentimentos que estão desalinhados.
Mergulhar dentro de nós sem condescendência, mas, ao mesmo tempo, sem pressa, para que a nossa metamorfose seja progressiva, sem traumas.
“Se a vida não passar por longas e silenciosas metamorfoses, não haverá borboletas”, palavras do saudoso Rubem Alves.
É essencial para o nosso bem-estar definitivo reformular certas crenças, desatar as amarras que represam as nossas energias emocionais que, depois de liberadas, devem ser transformadas.
Enfim, devemos nos amar de verdade.
Sem o restabelecimento deste sentimento só nos resta a escuridão do sofrimento e da incompreensão.

Gabriel Novis Neves
18-11-2014

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

THE DAY AFTER


Após o segundo turno de uma tumultuada eleição presidencial, começa a se configurar a dificuldade de governar para todos os brasileiros, e não somente para um terço dos brasileiros vitoriosos.
Afinal, separando os 32% de votos nulos e abstenções daqueles que não se viam representados por nenhum dos candidatos, o terço  vencedor votou em função das prerrogativas sociais auferidas durante os doze anos do governo anterior.
Era de se esperar que pessoas com baixa ou nenhuma escolaridade e detentoras de benefícios sociais de vulto, como Bolsa Família, Minha Casa Minha Vida e o Mais Médicos, optassem pela  continuação desse sistema governamental. 
Até aí, nenhuma surpresa num país com imensos bolsões de pobreza.
A rigor, nenhum dos candidatos apresentava um plano efetivo de mudanças, limitando-se, em sua maioria, a trocar ofensas entre si.
A grande diferença seria na condução da política econômica, o que, na verdade, poderia trazer um pouco mais de credibilidade  ao país, já que o modelo atual  não vem tendo o resultado esperado.
Diante dos discursos vagos sobre mudanças, sem realmente condições palpáveis para fazê-las, uma vez que, pelo menos,  um terço do novo Congresso eleito se apresenta sob suspeita judicial, resta-nos a desesperança de novos avanços em prol da população - as chamadas reformas de base, há anos postergadas por todos os governos.
O governo eleito, cônscio da sua fragilidade, limita-se apenas a acenar com grandes mudanças sem, no entanto, dizer como fazê-las.
Diante das inúmeras denuncias de corrupção a serem confirmadas  por delação premiada de alguns réus, resta-nos torcer para que os culpados sejam punidos e que possa ocorrer, ao menos, algum tipo de governabilidade.
Todos os governantes sabem que enquanto estiver razoavelmente satisfeita a carneirada, nenhum tipo de ameaça os afligirá.
Os mais abastados estão sempre muito bem em qualquer tipo de sistema, sempre com seus jatinhos prontos ao menor sinal de qualquer turbulência no país.
Já a classe média, assoberbada pelos altos impostos e por alto grau de inadimplência, é o bode expiatório de todos os desacertos e incompetência  de governos equivocados.
Quando ela vai às ruas em manifestações pacíficas, como aconteceu em junho de 2013, logo é contida pela truculência policial e por arruaceiros a mando de não se sabe quem.
Imediatamente é sufocada, e seus anseios ficam pertencendo à história.
Dessa forma, abandonada e desencantada, incapaz de cumprir com os seus compromissos, segue desarvorada e pasma à espera de novos horizontes.
Nesse “Day After”, e justo nesse momento em que o governo deve estar atento a este estado de coisas, clamamos por um pouco de bom senso para que o país possa ser tirado dessa apatia generalizada.
A esperança é o que move as pessoas e sem ela dificilmente sairemos desse atoleiro em que nos encontramos, na rabada do desenvolvimento e do crescimento entre as nações do mundo.

Gabriel Novis Neves
16-11-2014

terça-feira, 18 de novembro de 2014

Tour pela cidade


Aproveitei o alvorecer de um domingo para fazer um tour pela cidade.
Após a euforia do lançamento de dezenas de canteiros de obras para a Copa do Mundo, fiquei curioso para ver como estava minha ex-Cidade Verde.
Percebi, de imediato, que ela está ficando bonita, com ares de modernidade, embora a maioria das obras ainda precise ser concluída para cumprir com os contratos assinados.
Sem emoção, posso afirmar que nunca, em um período governamental de quatro anos, se fez tanto pela nossa quase tricentenária cidade.
Se todas essas obras de mobilidade urbana, e algumas sociais, forem entregues à nossa população, teremos avançado muito, e a nossa qualidade de vida, com certeza, vai melhorar.
É necessário que o próximo governo se empenhe na conclusão desse projeto, e não se aventure em outros.
Há muito que fazer, mas, justiça se faça, o que já foi realizado mudou o visual urbano da cidade.
Neste momento, a humildade deve superar a vaidade para alcançarmos o bom senso, sob o risco de transformamos esta cidade em um polo de obras inconclusas.
Temos certas obras inadiáveis que merecem atenção especial, como o funcionamento do revitalizado Hospital São Benedito e a conclusão do novo Hospital Universitário.
O futuro governo estadual terá de ter acesso fácil à Presidente da República para conseguir liberar recursos financeiros para a conclusão dessas obras.
No entanto, não percebi durante este passeio pela cidade, nenhuma obra social em andamento, como: construção de creches e escolas suficientes para atender a demanda do ensino fundamental.
“A criança nasceu” - as obras - e não vamos discutir se foi produto de uma gravidez desejada ou não.
É função do Estado estar presente no caso discutido concluindo o inacabado.
Temos de quebrar indecorosos paradigmas que governo novo não termina obra do seu antecessor.
É o desejo de um cuiabano utópico!

Gabriel Novis Neves
16-11-2014

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

INVEJA


Oscar Wilde dizia que “pouca sinceridade é uma coisa perigosa, e muita sinceridade é absolutamente fatal”.
Quanta sabedoria nesta curta frase sobre o comportamento humano.
Se vivêssemos em uma sociedade onde a hipocrisia não existisse, talvez Wilde estivesse equivocado.
Entretanto, vivemos cercados de ódios e invejas dos medíocres, onde não prospera a sinceridade.
Todos os segmentos sociais estão contaminados pela desconstrução das pessoas.
Vivemos entre maldades, onde o sucesso alheio não é permitido.
No reino animal não prolifera nem a inveja nem o ódio, componentes do perfil do comportamento humano.
Nem todos desenvolvem essa patologia, que tem como premissa não perdoar os que vencem por mérito.
Ouvi estarrecido o depoimento de um jovem médico que vem se destacando em sua especialidade “tomando” clientes dos seus colegas.
Confessou-me, constrangido, sofrer “bullying” de alguns colegas invejosos por ter confessado que iria realizar um procedimento em um cliente de grande visibilidade na área médica e social.
Por motivo fútil, sabendo que esse atendimento lhe serviria de referencial positivo, tentaram investir sobre a vaidade profissional do jovem colega, imune a esse tipo de sentimento.
Agressivos e antiéticos propuseram a não realização pelo colega do procedimento necessitado pelo idoso paciente.
Pasmem! Esse tipo de comportamento existe na chamada “elite médica”.
O funqueiro tem razão quando canta nas favelas e salões deste meu país, que “está tudo dominado”.
Se a tal elite se comporta com ódio e inveja, menosprezando os mandamentos de Hipócrates para prejudicar a projeção maior de um jovem colega, imagine o crime ético cometido contra o paciente.
 “A inveja é um jogo em que o importante não é o que se ganha, mas o que o outro perde”. Zuenir Ventura.
O anônimo afirma que “nem todo medíocre é invejoso, mas todo invejoso é medíocre”.

Gabriel Novis Neves
16-11-2014

Fantástico


O Brasil é um país simplesmente fantástico!
O perdedor das últimas eleições presidenciais é reverenciado pela maioria do povo e permite ser tratado de Presidente.
A vencedora nas urnas vive o papel de refém da sua vitória, acuada e pressionada por correligionários e adversários políticos.
O programa de governo do candidato derrotado, demonizado durante a acirrada campanha eleitoral onde tudo era válido, está sendo executado pela vencedora da continuidade.
O poder tem as suas próprias aferições.
Notei que o prestígio de um político, especialmente da oposição, é medido pelo tempo que diz ter falado com a reeleita pelo telefone. Não sabemos quem telefonou e muito menos o assunto.
A verdade, além das fofocas inevitáveis neste período, é que os dados oficiais do governo estão demonstrando índices assustadores.
Juros altos, inflação sem controle por birra do próprio governo em não cortar gastos supérfluos como o de cartões corporativos e viagens inúteis, aumento da taxa de desempregos na indústria, desequilíbrio da balança comercial onde importamos mais e exportamos menos.
As contas dos Municípios, dos Estados e da própria União não fecham, sendo empregados artifícios contábeis para essa tarefa.
Salários para a maioria da população estão achatados, contrapondo aos robustos e generosos para certas categorias de intocáveis e superiores funcionários públicos.
Os estarrecedores escândalos, como o da Petrobras, simplesmente inacreditáveis, são considerados aceitáveis pelos responsáveis com fisionomia de paisagem.
Ministros, como o da Cultura, começam a abandonar o barco do poder, atirando na política econômica da Presidente.
Diante deste cenário de terror, logo estaremos comemorando os festejos de mais um ano que finda sem deixar legado de avanços na nossa qualidade de vida.
A expectativa para o próximo ano é de grandes turbulências sociais e econômicas.
Estamos muito mal de vizinhança e isolados do mundo desenvolvido.
Para completar a nossa tristeza, o Luverdense não conseguiu chegar à elite do futebol brasileiro, e ninguém sabe o que fazer com a Arena Pantanal e as obras inacabadas.
No final tudo se acerta, dizem os experientes em futurologia.
Continuamos na contramão do tão sonhado desenvolvimento econômico e da justiça social.

Gabriel Novis Neves
12-11-2014

A BELEZA DO SIMPLES


Consegui amenizar a amargura que tomou conta de mim em uma dessas tardes em que a mídia me afrontou, sem dó nem piedade, com as distorções escandalosas do nosso sistema político.
No caso em questão, foram notícias sobre um acréscimo de mimos para a classe judiciária já tão privilegiada, enquanto que a maior parte do país sofre um dos maiores arrochos de sua história.
Mas, como que para compensar tanto desencanto com a nossa classe dirigente, recebi como um bálsamo a entrevista que assisti à noite com o fantástico compositor Carlos Colla.
Com suas modestas duas mil e seiscentas músicas, aliadas à sua figura de simplicidade contagiante, fez-me esquecer por alguns momentos da mediocridade que nos cerca.
Advogado por formação, ele abandonou a atuação na OAB para se tornar um músico feliz nas ruas de Paris.
Seu olhar é tranquilo, sua voz calma e melodiosa, e tem uma postura avessa ao estrelismo.
Suas músicas foram gravadas e interpretadas pelas vozes mais eminentes do Brasil, e o transformaram em um compositor de primeira linha.
Fiquei pensando no absurdo da necessidade da fama procurada freneticamente  pelos imbecis e pelos pobres de espírito.
Lembrei-me imediatamente do também glorioso Baden Powell.  Um de seus versos dizia: “o homem que diz sou não é, porque quem é mesmo não diz...”.
Homens iluminados conseguem brilhar, apesar da imbecilidade vigente.
Existem pessoas que não necessitam e nem anseiam pelo reconhecimento público. São aquelas com elevada autoestima e que têm a certeza do seu valor e capacidade, e são felizes.
Outras há, no entanto, que precisam trilhar os caminhos da exposição constante e da mediocridade, e são, no mais das vezes, infelizes.
Tudo na contramão do momento atual, em que alguns infelizes se atropelam e se matam  por um minuto de fama.

Gabriel Novis Neves
08-11-2014

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Taxa de parto


Há muitos anos fui obrigado, por motivos profissionais, a deixar de atender minhas clientes do único plano de saúde com o qual trabalhava - uma cooperativa de médicos (UNIMED).
Frequentemente, sou abordado por gestantes e familiares querendo saber a minha opinião sobre a cobrança da “Taxa de disponibilidade no acompanhamento ao parto”.
Só opino sobre o que sei e faço. Devido à insistência cada vez maior de gestantes, e até da imprensa, resolvi pesquisar o assunto.
Os planos de saúde, com raríssimas exceções, remuneram muito mal aos seus cooperados e credenciados.
Estes, inconformados, conseguiram do Conselho Federal de Medicina uma autorização para cobrarem, com preço a combinar, o valor dos honorários da “sua disponibilidade no acompanhamento do trabalho de parto”.
Por esse procedimento o Conselho Federal de Medicina garante legitimidade aos médicos, no caso os obstetras.
Porém, tal medida tem gerado polêmicas e controvérsias.
A Associação Brasileira de Procons considera ilegal a cobrança.
Tribunais de Justiça de alguns Estados acionados, também consideram irregular tal procedimento e suspenderam em suas jurisdições a cobrança da “Taxa de parto”.
A polêmica existe e envolve ética e moral.
Logo o nosso Ministério Público será acionado para opinar.
A evolução tecnológica da medicina tornou muitos procedimentos caríssimos, e o problema para manter uma medicina de qualidade e humanizada para todos é universal.
Nem o Obama conseguiu resolver a difícil situação da saúde pública no seu país.
A solução é complexa e depende da vontade política dos nossos governantes nos repasses de maciços investimentos financeiros que essa área requer.
No momento não enxergamos luz no final desse túnel. Só falação.
Embora a maioria das gestantes brasileiras expresse seu desejo pelo parto normal, com a cobrança da taxa e pela falta de maternidades e médicos, esse sonho fica na imensa fila das nossas prioridades sociais.

Gabriel Novis Neves
07-11-2014

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

TUBERCULOSE


“A Doença dos Poetas”. Assim a tuberculose era chamada durante os séculos XIX e XX, pois mais de quarenta artistas foram vitimados pela doença em todo o mundo.
Pessoas geralmente de vida boêmia, deprimidas, mal alimentadas e grandes consumidoras de álcool e fumo eram as mais atingidas. Isso sem falar das más condições de higiene.
Dessa forma, a tuberculose foi integrada ao romantismo por ter ceifado prematuramente vidas de escritores, pintores, músicos, literatos, prostitutas e poetas das altas rodas sociais.
Na Europa dela foram vítimas: Byron, Emile Bronte, Musset, Murger, Alexandre Dumas Filho, etc. Este último, apaixonado por prostitutas,  escreveu o célebre livro “A Dama das Camélias”, que conta a história da prostituta Alphonsine Duplessis que morreu tuberculosa  aos 23 anos de idade.
Grande parte da literatura da época foi moldada em função da tísica, como era chamada a doença naqueles tempos.
Em “Alegoria à Primavera”, de Boticelli, a doença está exposta através de sua modelo Simone Vespucci, falecida também aos 23 anos.
No Brasil não foi diferente. As figuras famosas de Noel Rosa, Casemiro de Abreu, Castro Alves (o poeta dos escravos brasileiros), Manoel Bandeira, Augusto dos Anjos e tantos outros igualmente importantes, foram mortos pela “Doença dos Poetas”.
Tudo isso perdurou até mais ou menos 1950 quando do aparecimento de tecnologia medicamentosa capaz de liquidar definitivamente o bacilo de Koch, causador da doença.
Atualmente, fala-se muito em ebola, a praga que já matou mais de cinco mil pessoas nos países africanos.
Esquecemos que aqui na terrinha o descuido com as políticas públicas de saúde é tão grande que doenças tidas erradicadas, como a malária e a tuberculose, estão voltando com toda a força.
A tuberculose, por exemplo, segundo dados recentes da Organização Mundial de Saúde (OMS), atingiu no Brasil, só em 2013, setenta e um mil cento e vinte e três casos novos (71.123).
No mundo são cerca de nove milhões de casos, sendo que desses, um milhão e meio vieram a óbito.
Nada disso foi falado nas campanhas políticas recentes e somos mantidos cegos com relação à nossa própria realidade. As diferentes mídias focam outras  realidades mundiais, enquanto a nossa, gravíssima, passa batido.
É preciso que nos conscientizemos de toda essa problemática para que cobremos das autoridades competentes medidas urgentes, já que os nossos governantes insistem em considerar o nosso sistema de saúde como satisfatório.
Satisfatório? Para quem?

Gabriel Novis Neves
01-11-2014