sexta-feira, 26 de abril de 2024

ESCREVER CRÔNICAS


O difícil em escrever uma crônica é encontrar o assunto. Depois as coisas fluem de acordo com a formação do escritor.


Fico encantado com a erudição dos textos do professor Germano Aleixo Filho, da UFMT.


O último que li sobre Dom Aquino Correa e a Academia de Letras de Mato Grosso, é uma obra de arte.


Preciso, elegante. Nem uma palavra a mais ou a menos.


Discorreu com muita arte e beleza digna dos grandes mestres, que ele é.


Domina o latim e a gramática, seu orgulho profissional.


Aposentado, continua orientando amigos e entidades culturais.


Eu me ‘arrasto’ nas linhas sem nenhum brilhantismo.


Fico até a pensar em continuar a escrever, mas sem publicar os textos por falta de brilhantismo.


Chegando ao envelhecimento temos necessidade em conversar com alguém.


Escrevendo, converso com meus leitores de uma forma agradável e desejável.


Escrever para mim é uma grande terapia e me faz muito bem.


Não sei o que seria de mim, se não tivesse encontrado a escrita.


Vou continuar escrevendo até quando for possível!


Estou neste planeta Terra acima da permanência da maioria da minha faixa etária.


Sou um privilegiado e curto escrever textos bem simples e compartilhar com meus amigos leitores.


Respondo às suas indagações.


Talvez isto seja motivo da minha longevidade, pois todos os dias torço pelo sucesso do próximo.


Assim vou levando a vida até quando Deus permitir, escrevendo textos curtos.


Na época da ‘inteligência artificial’ quanto menores as crônicas melhores, pois, ninguém tem mais tempo a perder com leituras.


A tecnologia e matemática quando acionadas ajudam na feitura das crônicas.


É a ‘inteligência artificial’ tentando substituir a criatura humana!


Gabriel Novis Neves

29-03-2024




quinta-feira, 25 de abril de 2024

TEMPO OCIOSO


Quando jovem não encontrava tempo para curtir o ‘ócio criativo’, como nos ensina o sociólogo italiano Domenico De Masi.


Eu era muito imaturo e entendia que precisava de muito dinheiro para preencher bem o tempo de folga.


‘O ócio é necessário à produção de ideias, e as ideias são necessárias ao desenvolvimento social’.


Com o correr dos anos e a idade avançando, aproveito o tempo, especialmente após o almoço e antes de dormir para pensar e curtir o ócio.


Quantas ideias surgem, que trabalhando não teria acesso a elas!


Resolvi problemas sérios na hora de descansar, telefonando para pessoas certas.


Até no momento de levantar para ir ao banheiro de madrugada, acompanhado da enfermeira, estou me informando sobre os últimos acontecimentos, como os resultados do futebol ou da eleição da reitoria da UFMT.


Quando acordo e abro o celular, leio o número de amigos que me informam sobre o que já sei.


O ócio, longe de ser negativo, é um fator que estimula a criatividade pessoal.


É um conceito dado pelo sociólogo italiano que coloca a plenitude da vida humana na intersecção entre trabalho, estudo e diversão.


É um fenômeno da passagem de uma sociedade industrial para uma pós-industrial, caracterizada pela valorização das atividades criativas.


Estas exigem maior esforço intelectual do que manual, além de não serem repetitivas.


Pequenas pausas no trabalho para o ócio criativo são tão importantes quanto longos momentos de prazer intenso.


O ócio criativo nos ensina a ser mais felizes. Não posterga tarefas para um momento futuro, apenas estabelece pausas estratégicas de relaxamento durante a rotina diária de trabalho.


A ideia é que, com as pausas, a execução das tarefas se torne mais fácil e atinja melhores resultados.


O ócio criativo não é apenas uma pausa das responsabilidades do trabalho, mas sim uma fonte de inspiração e inovação.


De Masi reconhece que o ócio criativo não é acessível a todos.


Defende políticas que promovam a igualdade de oportunidades para todos os membros da sociedade.


O livro ‘O ócio criativo’ foi lançado em 2000 e espalhado pelo mundo civilizado.


Domenico esteve várias vezes no Brasil fazendo palestras, ministrando cursos, sendo entrevistado pela TV.


Tenho um exemplar em minha biblioteca para releitura, sempre durante o ‘ócio criativo’.


Gabriel Novis Neves

03-04-2024




terça-feira, 23 de abril de 2024

O ENVELHECIMENTO NA ERA DIGITAL


Li um artigo em um jornal digital de São Paulo sobre o assunto desta crônica.


Confesso que por diversas vezes fiz a sua releitura pela minha dificuldade de compreensão.


Sou jurássico, pouco entendendo de comunicação digital.


Tive a paciência de anotar o número de palavras incompreensíveis para mim, algumas em inglês.


O autor do artigo possui um belo currículo e pertence a geração de autores modernos, discorrendo muito bem sobre o polêmico assunto do envelhecimento na era digital.


Eu boiei na leitura, tendo anotado vinte e duas palavras que não soube o sentido ou a sua tradução do inglês.


A safra nova de escritores escreve tão difícil e inventam nomes bonitos como — ‘envelhecimento na era digital’!


Ora, envelhecer é quando ficamos idosos e fazemos um balancete em nossa vida.


Tivemos, nesse período de vida vencido, sucesso em nossas atividades privadas e pessoais?


No envelhecimento deveremos estar preparados para o recomeçar, e não apenas observando o tempo passar.


É hora de um novo emprego que lhe faz feliz, ou novo curso superior para novos desafios.


Por que não começar um relacionamento amoroso ou tentar um novo?


Tratar a mulher e filhos com valores diferentes dos seus, pois tudo muda com o ‘andar’ do tempo.


Equilibrar o passado com o presente faz um envelhecer sem traumas.


Aprofundar no estudo de idiomas e internet requer um rico envelhecer.


Na era digital temos que nos preparar e bem, pois os valores humanos mudaram e desde cedo temos que nos preparar para o envelhecimento.


Este não é uma doença, mas poderá nos causar no futuro, aborrecimentos sérios causando-nos a terrível depressão e conflitos familiares.


Gostaria de envelhecer no modo antigo, em casa com toda a família reunida.


A era digital diminuiu a distância entre os de longe e distanciou os de perto.


Gabriel Novis Neves

10-04-2024




DOAÇÃO


Quando alguém manda alguma guloseima para mim, temos o hábito aqui em casa de dizer que ‘chegou doação’.


As ‘funcionárias’ adoram esse termo, e com alegria recebem os presentinhos e trazem ao meu escritório, todas sorridentes dizendo: ‘hoje temos doação’!


Estamos no terceiro dia da semana, e ganhei doação em três dias consecutivos: atas, melancia, bolinho de polvilho e francisquito.


Antes do almoço, ‘provei’ uma fatia gelada de melancia, uma gostosura só.


Após o almoço duas atas comidas com colher de sobremesa.


No lanche da tarde, um francisquito e um bolinho de polvilho.


À tarde está sem espaço para o picolé.


Faço essas ‘estripulias’ consciente da necessidade do controle de peso, especialmente na idade que me encontro.


Muitas dessas reminiscências pertencem a minha infância e juventude.


A sorveteria do bar do meu pai, fabricava inúmeras variedades de picolé, cada qual mais saboroso que o outro, muitos de frutas naturais.


A minha mãe sempre tinha novidade para a merenda escolar, deixando lembranças, o francisquito.


No interior come-se mais que em cidades grandes, quando os quitutes são menos frequentes.


As donas de casa eram educadas para o lar, quando aprendiam a fazer guloseimas que eram distribuídas pela vizinhança que trocavam gentilezas.


Os vizinhos de antigamente eram considerados parentes, e tratados como tal.


Esse hábito de troca de iguarias com a vizinhança terminou com a vida moderna.


Os moradores dos espigões de concreto mal se conhecem entre si, inviabilizando essas delicadezas.


E as doações desapareceram, levando tudo para o lixão do esquecimento.


A enfermeira da noite chegou e foi logo perguntando sobre a origem da doação em cima da mesa, pois o que vem para mim é para todos nós.


Ela foi ‘experimentar’ um bolinho de polvilho e achou ótimo.


O tempo vai passando nos levando sempre ao passado de boas recordações.


As gerações novas não tem a mínima noção do que seja uma ‘doação’ como do relato acima.


Gabriel Novis Neves

20-03-2024






domingo, 21 de abril de 2024

EGO INFLADO


Acordei cedo e, ao ler os comentários dos leitores a minha crônica publicada, fiquei com o meu ‘ego inflado’, por uma arrogância que não tenho de ser um bom escritor!


Tenho afirmado por diversas vezes, que a escrita foi a terapia que descobri com o envelhecer.


Nunca imaginei a publicação das minhas crônicas recebendo aplausos.


Na maioria das vezes versando sobre assuntos do cotidiano tão do meu agrado e dos meus leitores!


Estou competindo com flores, plantas e músicas, e me saindo bem nos comentários.


Fiz ainda recente um curso de gramática portuguesa e acredito ter facilitado a minha comunicação por escrito.


Nem por isso me transformei em um ‘criativo’ escritor, como dizem alguns leitores.


Eles são gentis e amáveis ao comentar os meus textos, fáceis de ler, sem palavras difíceis ou estrangeiras.


Quando uso palavras técnicas prefiro explicar, a deixá-los a ‘quebrar cabeças’, consultando o Google ou dicionários.


A gramática tecnológica é vastíssima, do domínio de técnico especializado por área.


Com o advento da internet as receitas médicas de leituras só compreensíveis por farmacêuticos, foram substituídas pelas digitais.


O objetivo da publicação dos meus textos é de conversar com meus leitores, e também comigo.


Fico um tempo gostoso lendo as respostas recebidas e quantas vezes aprendendo com elas!


Lembro-me daquela célebre frase do educador Paulo Freire: ‘Quem ensina aprende e quem aprende ensina’.


Posso afirmar que ao escrever aprendo a melhorar os meus textos, e tenho o leitor sempre a me ensinar.


Acordar com o ‘ego inflado’, distante de ser atacado pela vaidade, me faz feliz para ‘enfrentar’ mais um dia, cheio de surpresas boas e más.


‘Oxigenado’ pelos aplausos ao meu ‘trabalho literário’, abro o notebook para mais um dia de produção, que estou concluindo agora antes da chegada do fisioterapeuta.


Gabriel Novis Neves

11-04-2024




LONGE DE MIM


De longe vem a música do barzinho para me acalentar nesta sonolenta manhã de domingo.


De mais longe a ‘presença da ausência’ da Regina em formato de saudade.


Como dói a saudade sentida pelos dezoito anos de separação!


Com um ano para completar noventa anos, acho que já cumpri as minhas obrigações aqui na Terra.


Lembro dos meus amigos, contemporâneos e vejo que quase todos eles já pertencem ao plano espiritual.


Parecem me chamar para que juntos continuemos nossos trabalhos.


Deus saberá a hora de nos chamar, e só Ele.


Meu filho caçula veio me visitar.


Mediu a sua pressão arterial por três vezes.


Atualizou seus contatos pelo celular.


Trocamos algumas frases sobre assuntos variados e logo se foi.


Foi almoçar na casa da sogra, fazendo valer aquele provérbio popular: ‘quem casa um filho, perde um filho’.


Vou almoçar na companhia da minha ‘cuidadora’ com o que sobrou do ‘almoço da família no sábado’.


Escolhi uma macarronada que sequer provei. Como reserva para uma emergência — um prato de quibe cru com pão sírio.


Essa iguaria árabe é feita pela avó cuiabana, da viúva de um migrante libanês, marido de uma das minhas bisnetas.


Hoje à tarde não volto mais para o escritório.


Irei assistir pela TV, às decisões dos principais campeonatos regionais: Rio, São Paulo e Minas Gerais.


Meu time do coração — o Botafogo do Rio — ganhou a Taça Rio, que não foi comemorada pelo tamanho do time de Garrinha, Heleno de Freitas, Nilton Santos, Jairzinho, Didi, Amarildo, Gerson, Zagalo e tantos outros campeões do mundo.


O som do barzinho emudeceu, avisando que o cantor foi embora.


A ‘presença da ausência’ permaneceu, não me abandonando nunca.


Assim vivo procurando poetizar todos os momentos da minha vida, mesmo na solidão de um domingo, até não sei quando.


Gabriel Novis Neves

07-04-2024




sexta-feira, 19 de abril de 2024

A CONTAGEM PARA O ALMOÇO FAMILIAR


Uma presença garantida nesses almoços de sábado em meu apartamento, é a minha.


Difícil conseguir reunir filhos, netos, bisnetos, noras e genros.


Minha neta médica tem plantão na maternidade.


A que trabalha com gastronomia fica na empresa, e sempre alguém tem parentes para homenagear.


Não posso esquecer da minha avó Eugênia. Ela foi mãe de dez homens e cinco mulheres.


Seu casarão assobradado foi demolido em 1968, para dar lugar ao início da avenida Presidente Vargas, bem em frente à Praça da República.


Eu me lembro com saudade desse casarão próximo à casa onde nasci.


Diziam os mais antigos que na hora de fechar a casa para dormir, a minha avó contava as crianças que dormiam pelo chão.


Não raro dava por falta de alguém, que a obrigava a percorrer as redondezas, recolhendo quem faltava.


É importante lembrar que naquela época era frequente crianças dormirem na casa dos vizinhos.


Era uma festa para as crianças e até hoje existe esse hábito em menor intensidade.


Como eu gostava de dormir na casa dos vizinhos! Porém, com a permissão da minha mãe.


Era bom ser criança antigamente.


Nos almoços de sábado, chamados da família, estou sempre a contar o número de presentes para distribuir os pratos na mesa.


É quando a algazarra se faz presente com todos falando alto ao mesmo tempo.


A cozinha é reforçada com a presença assídua da cozinheira da minha neta.


Ela recebe encomenda de pratos especiais e sobremesa.


A minha cozinheira ajuda em tudo, não podendo faltar salada verde com castanha do Pará e ovos de codorna, arroz, feijão, picanha, massas, farofas, batata palito, pastel de carne e queijo, coscorão.


A avó do marido de uma neta envia ‘doação’ de comida.


Esfirra, quibe cru, pão sírio, charuto, arroz árabe, salada árabe, macarrão árabe.


De sobremesa salada de frutas, com cereja e açúcar.


Este é o básico com variações no tipo de carnes, indo do filé mignon, carne de porco, carneiro.


Carne branca de peixe, frango assado recheado de farofa.


Mais ou menos é assim que funciona ultimamente o almoço da família.


Gabriel Novis Neves

13-04-2024




quinta-feira, 18 de abril de 2024

ATÉ QUE ENFIM


Após uma semana do ‘teste da flor’, uma leitora sentiu falta das folhagens e flores, acompanhando meus textos.


Após os cumprimentos pela crônica — ‘Crianças de hoje’, publicado dia do aniversário de 305 anos de Cuiabá —, ela lascou um ‘cadê as folhagens lindas e as papoulas’!


Seu limite de tolerância com certeza tinha esgotado pela ausência, daquilo que estava acostumado a admirar e comentar todos os dias.


Acho muito pouco que num universo de quase quatrocentas pessoas, que recebem diariamente minhas crônicas com uma flor, apenas uma percebesse a falta da flor e folhagens, querendo saber o motivo.


O jardim está bem florido e até frutos caseiros estão produzindo, como as ‘doces jabuticabas’.


Tem uma verdadeira farmácia para primeiros socorros, como o ‘boldo’ para o estomago, ’ ‘capim cidreira’ é calmante, ‘hortelã para gripe’ e ‘alecrim’ para o coração e cozinhar vários pratos assados.


Essas preciosidades estão no meu jardim e deixei de enviar as suas fotos aos meus amigos.


O que me deixou encucado é que uma só leitora depois de alguns dias notou a sua falta.


E meus leitores sei que amam as flores e a minha caduquice com elas.


Quando me visitam me presenteiam com vasos de orquídeas das mais variadas espécies.


A última que recebi foi de um médico: um vaso com uma ‘muda de orquídea branca’.


Tenho várias mudas de orquídeas transplantadas em troncos de árvores.


Demora a florir e quando surgem é uma beleza só.


A cuidadora do jardim ama as plantas dedicando a elas um carinho todo especial, sobre a supervisão de um paisagista profissional.


Até esteira especial de proteção solar adquiri para o jardim, pois o nosso sol faz mal a elas.


Regadas duas vezes ao dia, pois o sol de Cuiabá exige.


Estou ‘remanchando’ para encerrar esta crônica, na ilusão de outra reclamação de um leitor sobre a ausência da flor, mas ‘desse mato não sai coelho’.


Gabriel Novis Neves

08-04-2024




quarta-feira, 17 de abril de 2024

O BÊBADO E O TOMBO


Todo mundo fala no número de tombos que o bêbado toma.


Ninguém procura saber a quantidade de garrafas de aguardente que antes ele consumiu.


Eu estou assim com as quedas que levo em casa, quando ninguém quer saber das estripulias que faço.


Graças a Deus sem fraturas. Mas já perdi as vezes que caí em casa.


O tombo de agora foi ‘glorioso’ — entre o vão da cama e a mesinha do abajur.


Deitado, com a máscara do CEPAP ligado para a sesta, tentei verificar se a lâmpada do abajur estava queimada.


Desequilibrei o meu corpo e rolei por esse vão amparado pelo meu braço esquerdo.


Foi uma manobra arriscada que fiz sem a mínima necessidade.


Esse meu comportamento ansioso causou apenas fortes escoriações no antebraço esquerdo, tratado com um curativo com mertiolate e fita adesiva compressiva.


Tudo bem comigo, fui ao escritório digitar uma crônica sobre o acidente, prontinha em minha cabeça.


Tenho campainha no meu quarto que, quando acionada emite um chamado no meu escritório.


No momento em que cai, minhas duas funcionárias estavam na cozinha fora do alcance da campainha, com o liquidificador ligado.


Depois de muito chamar uma ouviu um ruído e veio me socorrer. A outra nega ter ouvido a campainha.


Preciso controlar a minha ansiedade.


Descobrir um remédio salvador é a minha sina.


Nunca afirmarei que este será o meu último tombo, se não melhorar a minha ansiedade.


Fico pensando como um homenzarrão passou pelo estreito vão da cama.


Minha mãe também nos seus últimos anos de vida, caiu muito na rua.


Andava apressadinha e embaralhava as sandálias ou tropeçava nas irregulares calçadas de Cuiabá.


Como é difícil tratar uma ansiedade, causadora de tantos transtornos desagradáveis e danos à saúde.


Cair quando criança é aprendizado. Ela chora sentida, levanta, para de chorar e vai brincar.


Segundo a crendice popular, queda em idoso é uma das três causas de óbito. As outras duas são disenteria e pneumonia.


Vou frear a minha ansiedade, pois pretendo ficar por aqui ainda por muito tempo.


Gabriel Novis Neves

11-04-2024





terça-feira, 16 de abril de 2024

TESTE DA FLOR


Inventei de encaminhar a minha crônica aos amigos com flores do meu jardim.


Os leitores sempre comentam a beleza das mesmas ignorando, na maioria das vezes, o assunto da crônica.


Como diminuiu o acesso às crônicas, ficava apenas os comentários sobre as maravilhas do meu jardim.


Todos se curvavam ante a beleza das flores, com comentários exclamativos, e nada sobre os textos recebidos.


A impressão que tive, era que as flores desviavam a atenção da leitura.


Resolvi fazer um teste e analisar o resultado.


Encaminhei a crônica sem a flor.


Resultado: recebi vários comentários sobre o texto que enviei e ninguém sentiu falta da flor.


Esperava que alguém fosse perguntar pelo menos se eu tinha esquecido de postá-la.


Difícil entender os leitores que não observam os detalhes daquilo que recebem para ler.


Quando deixo de publicar as crônicas, sempre querem saber o motivo da ausência.


Pensam logo que estou doente.


O recebimento da minha crônica diária significa que estou bem de saúde e a flor um presente da natureza que só faz bem ao coração.


Se os leitores recebem as minhas crônicas e não comentam, é sinal que não estão interessados naquilo que envio.


Vou tentar mudar o conteúdo dos meus textos, o que acho difícil, encurtar o seu tamanho e esperar o resultado.


Vou pedir a orientação do meu editor.


Estreio com esta crônica bem mais curta e indagativa.


Pela reação dos meus leitores lendo ou não, direciono as crônicas para assuntos do interesse dos mesmos, sem ferir o meu livre arbítrio.


Continuarei a escrever sobre o cotidiano, com novas abordagens.


Gabriel Novis Neves

06-04-2024




CASOS E 'CAUSOS' DE CUIABÁ


Para que não desapareça com os anos as histórias de Cuiabá de bem antigamente, estou sempre à procura de escritores novos, cuiabanos de nascimento ou por opção, publicando livros impressos sobre nossa cultura, hábitos, religiosidade e gastronomia.


Mineiro, radicado há 40 anos na nossa capital, Jander Ruela Pereira, nos presenteou na sua estreia literária, com um livro de 191 páginas, um misto de personagens de ficção relatando os primórdios da cidade fundada há 305 anos!


‘Nonô Farol Baixo — Rio Acima, rio Abaixo’, é o nome do livro e do seu principal personagem.


Sou cuiabano, nascido na rua de Baixo com médico, ajudado pelo meu pai, o Bugre do Bar.


Muitas das histórias que sei e seus personagens me foram contadas por ele.


E o bar do meu pai era fonte inesgotável de histórias e causos de antigamente.


Batiam ponto no bar, e contavam as novidades, entre outras personalidades: o historiador Rubens de Mendonça, o músico Tote Garcia, o compositor Hélio Goiaba, o membro da Academia de Letras Gervásio Leite, o secretário particular de Dom Aquino Corrêa. Eles contavam as novidades, muitas vezes Fake-News!


Meu pai tinha pavor do redemoinho do rio Cuiabá, no lugar chamado ‘Boca do Vale’ o que me impediu de aprender a nadar.


Conheci quando criança, muitos ‘Nonô Farol Baixo’.


Quem ultrapassava a dose da bebida naquela época, falávamos que fulano de tal, precisava de companhia até a sua casa geralmente pelas bandas da Lixeira, ao lado do Tanque do Baú.


Nosso escritor Jander, relata com extrema fidelidade e competência, esse tempo verdadeiro que vivi ainda criança.


Nonô e seus colegas: Tá Feio, Serafim, Velho Basílio, Tacílo eram seus principais companheiros de ‘copos’ e andanças pela periferia de Cuiabá, sempre aprontando das suas.


Nonô era um magricela pobretão que não tinha ‘eira nem beira’, com mulher que cuidava da casa e filhos.


Ele nunca foi a um posto de saúde para uma simples consulta médica. Quando tinha as suas coisas tratava com chá de raízes e ervas.


Sabia que iria morrer cedo e pediu que não chorassem. Também o velório deveria ser alegre como foi a sua vida na boemia.


A personalidade do Nonô era diferente de todos seus amigos, pois tinha princípios próprios.


‘Passava horas olhando o céu, como se o vigiasse, observando pássaros coloridos e o malabarismo das pipas ao vento’.


Nonô dizia que, ‘mesmo não fazendo nada de importante nesta vida o homem morre do mesmo jeito que morre também aquele que fez muita coisa’.


Nonô tinha hábitos como ralar o guaraná e ingeri-lo em jejum com açúcar cristal, em pequeno copo de vidro, onde a água era adicionada lentamente e mexida com uma colherzinha dessas de chá.


Acreditava no efeito afrodisíaco do guaraná e espalhava o conhecimento entre seus companheiros.


Com Tá Feio, Serafim, Velho Basílio, Tacílo perambulava pelos quatro cantos da cidade sempre de cara cheia.


Sua última morada foi no Grande Terceiro, onde veio a falecer.


‘Abandonar o corpo não foi uma ideia que o fascinou, tampouco encontrar um espaço vazio sem vestígio algum de massa corpórea. ’


‘A gente se encontra por aí, rio acima, rio abaixo’ — seu epitáfio perfeito’!


Fico no aguardo de novos livros do Jander, contando a vida dos amigos do Nonô.


É história real da Cuiabá de bem antigamente, com seus personagens, religiosidade, cultura, bairros e gastronomia.


Gabriel Novis Neves

13-04-2024





segunda-feira, 15 de abril de 2024

GARÇONS MALABARISTAS


O mais espetacular garçom malabarista de Cuiabá atendia pela alcunha de ‘Alrright ”, e sempre era festejado onde trabalhava. Não me lembro de ter trabalhado no bar do meu pai.


Era requisitado para as grandes festas, em clubes e casas elegantes, e era o garçom oficial da residência da ‘Casa dos Governadores’.


Sempre elegante no seu smoking impecável, era casado com a Dita do Araés, e moravam em uma enorme chácara frutífera.


Desfilava com sua bandeja com incrível habilidade, cheia de copos de bebidas, por sobre ombros e cabeças dos convidados.


Era um show à parte — sempre dizendo ‘ "Alrright" —, para pedir passagem.


Os clientes o chamavam também por esse apelido que não sei de onde foi buscar.


Queridíssimo, foi um dos personagens da antiga Cuiabá, que as novas gerações nunca ouviram falar.


Suas cunhadas todas lavadeiras e engomadeiras de ternos brancos, eram famosas na cidade, pela qualidade dos seus serviços.


As menores trabalhavam na Maternidade de Cuiabá como atendentes.


Trabalhei com duas delas, até se aposentarem das suas atividades laborais.


Garçom como ‘Alrright’ é uma atividade em extinção.


Hoje a distribuição de bebidas é bem diferente, quando a maioria dos convidados bebe na boca da garrafa.


Os salgadinhos e doces são servidos na mesa e cada um pega sua porção.


Anos depois conheci no Clube Sayonara do Coxipó da Ponte, um garçom malabarista chamado de Silvinho, que fazia parte do show da Casa de Espetáculos de Nazir Bucair.


Silvinho era um ‘espeloteado’ no dizer do cuiabano e também era aproveitado pelo Nazir como ‘garçom show’.


Bons tempos em que se saia de casa para se divertir apreciando as peripécias de seus garçons.


Alrright parece de origem cuiabana e desconheço ter deixado descendentes.


O Silvinho acho que veio de fora e não sei se deixou descendentes.


O primeiro era elegante demais, o outro muito alegre com traços orientais. Ambas ótimas pessoas.


Foram duas personalidades marcantes na sua época, jamais sendo imitados por alguém.


Na passagem dos 305 anos de Cuiabá, é bom lembrar dessa gente que tanta alegria nos trouxe, e hoje pertence ao baú do esquecimento.


Gabriel Novis Neves

12-03-2024




sábado, 13 de abril de 2024

UMA HISTÓRIA DE CUIABÁ


No dia 8 de abril de 1969, o prefeito de Cuiabá escolhido pelo governador eleito, era o engenheiro agrônomo cuiabano de ‘thapa e cruz’, Bento Machado Lobo.


Substituiu o Dr. Frederico Campos, às vésperas das festas dos 250 anos de Cuiabá.


A miss Cuiabá escolhida foi uma linda cacerense.


O governador resolveu demitir o prefeito de Cuiabá.


Na época eu era Secretário de Educação do Estado.


Sem me consultar, o governador Pedrossian resolveu me nomear prefeito.


O ato estava em mãos do senhor João Arinos, homem da sua extrema confiança e chefe da Casa Civil, para publicação no Diário Oficial do Estado.


Coube a ele a missão de ‘agradecer’ ao Dr. Frederico Campos pelos serviços prestados.


A ‘briga’ entre o prefeito e governador, dois engenheiros, foi com relação ao calçamento de Cuiabá.


Um era o favor do asfalto e outro dos bloquetes.


Como a sede da Secretaria de Educação ficava no Coxipó, futuras instalações do 9º BEC, eu não participava dos bastidores do Palácio Alencastro.


Fui chamado para uma audiência urgente com o governador Pedro Pedrossian ao meio-dia.


Ao chegar à Casa Civil, caminho obrigatório ao Gabinete do Governador, fui alertado pelo ‘seo’ João Arinos sobre a audiência.


Ele não via com bons olhos essa mudança naquela hora. Trocamos ideias e fui preparado, inclusive com soluções.


O Governador esticou o braço, me deu um forte aperto de mão e meu chamou de prefeito dos 250 anos.


Ouvi em silêncio suas ponderações sem interrompê-lo.


Iniciei dizendo não saber fazer discursos de improvisos.


As festas seriam intensas e eu tinha três crianças de 5, 4 e 3 anos, que precisavam muito do meu apoio noturno.


Tinha que percorrer os clubes da cidade com a rainha e dançar, além do discurso sobre a data festiva.


Disse ao governador que ele teria uma solução caseira, técnica, não turbulenta, para a emergência.


Nomearia o cuiabaníssimo secretário de agricultura, Bento Machado Lobo para prefeito de Cuiabá nos seus 250 anos.


Ele era sobrinho de Dona Maria Dimpina, professora laureada de Cuiabá e primo do Padre Firmo, da paróquia da Catedral Metropolitana.


Assumiria a Secretaria de Agricultura o seu vice e cria, Maçao Tadano.


Não precisaria alterar o quadro de secretários.


À tarde o novo prefeito estava empossado, e à noite discursando e dançando nos clubes de Cuiabá.


Bento e Maçao, seguiram carreira política sendo eleitos deputados.


Eu fiz carreira acadêmica tendo implantado a UFMT.


João Arinos aposentou-se como Conselheiro do Tribunal de Contas do Estado.


Com a divisão do Estado em 1979, Pedrossian fixou residência em Campo Grande. Foi eleito senador e governador, de Mato Grosso do Sul.


E o engenheiro Frederico Campos, foi escolhido o último governador biônico de Mato Grosso dividido.


Pedacinho da história pouco lembrada da Cuiabá 305 anos!


Gabriel Novis Neves

08-04-2024


Fotografias publicadas por FRANCISCO DAS CHAGAS ROCKA e outros colaboradores membros do grupo social CUIABÁ-MT DE ANTIGAMENTE, no Facebook: