Não tenho como deixar de lembrar do meu pai nesta data de brincadeiras, chamado de ‘Dia da Peta’.
Era bem criança, morava na rua de Baixo e frequentava a Escola Modelo Barão de Melgaço, na Praça Ipiranga.
Ao acordar, meu pai já tinha tomado o cafezinho e lia o jornal do dia anterior, do Rio de Janeiro.
Percebendo a minha presença, parava a leitura e com seriedade dizia: fiquei sabendo pelo entregador de leite de uma chácara do Porto, que a recém-inaugurada Ponte Júlio Muller desabou.
Várzea-Grande ficou isolada de Cuiabá e sua ligação era só de canoa.
Perplexo com a notícia, fazia uma série de perguntas a ele.
Quando a conversa estava animada ele dizia: é Peta!
Hoje é o Dia da Mentira! 1º de abril!
No próximo ano ele repetia as brincadeiras e eu caia na armadilha.
Essa tradição centenária, com histórias mirabolantes parece não ser mais comemorada.
A mentira mudou de nome para fakenews.
As gargalhadas que ecoavam pelos corredores das salas de aulas, foram substituídas pelo Tik Toc.
Não tenho certeza se o meu pai devoto do Dia da Peta, fez essa pegadinha com os seus netos.
Eu nunca brinquei com os meus filhos, netos e bisnetos, no Dia da Mentira.
O maior 1º de abril aconteceu há sessenta anos, quando a ‘Revolução de 31 de março’, passou a ser chamada de ‘quartelada de 1º de abril’.
A tradição do ‘Dia da Mentira’, ainda se mantém viva nas nossas escolas.
Telefonei para a minha neta mais velha sobre este assunto. Ela tem uma filha de sete anos, cursando o segundo ano do ensino fundamental.
Ela me disse que a sua filha voltou da escola dizendo que no dia seguinte não haveria aula.
Diante a preocupação da minha neta, minha bisneta com ares de vencedora gritou: é 1º de abril, mãe!
Estou com a idade tão avançada que ninguém brinca mais comigo.
Eu estou sempre a lembrar desse dia, desencadeando uma cachoeira de belas recordações.
Gabriel Novis Neves
01-04-2024
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