quarta-feira, 31 de janeiro de 2024

NOVOS AMIGOS


Adquiri o hábito de escrever diariamente, publicando as minhas crônicas sempre. 


Isso há quase catorze anos. Por certo, nesse andar me tornei uma pessoa conhecida em meu meio.


Curioso é que, por conta disso, sou tratado como ‘amigo’.


Mais curioso ainda é que, às vezes, há, entre os meus leitores, uns com os quais nem sequer tive ensejo de conversar, uma vez que fosse.


Reforço: muitos me tratam de ‘amigo’.


Tal se confirma por pequenas atitudes. Ora se oferecem para me levar ao médico. Ora para me fazer companhia em casa. Além de outras demonstrações de carinho.


É mais notório que, até pelo WhatsApp, muitos de mim se avizinham como amigo.


Esse hábito, tenho comigo, herdamos dos colonos do Sul do Brasil. 


A amizade se faz acalorada quando me chegam mensagens do celular em que relatam o que lhes vai no seu interior. São confissões que só a um amigo nos candidatamos a partilhar.


E não é que esse tratamento de amigo ‘pega’?


Mal não faz. Vira e mexe, eu me flagro tratando pessoas bem distantes de mim, e lhes endereço o nome de amigos.


O cuiabano — como sei disso! — é muito reservado em estreitar laços com pessoas em que o relacionamento não é lastreado no tempo.


O ribeirinho — que tem o hábito de conversar de cócoras —, esse trata, sem cerimônia alguma, o mero conhecido de compadre, por vezes até de padrinho. Mas amigo, só se for ‘do peito’.


Esses ‘cacoetes’ modernos são fáceis de aprender, e o linguajar cuiabano é falado sobretudo em Várzea Grande.


Morei onze anos seguidos na cidade do Rio de Janeiro. Fui e voltei sem ter incorporado o ‘chiado’ do carioca.


Já meu mano voltou falando com esse ‘chiado’. Dava uma ‘pena’ ouvi-lo! Ah, destoava!


Um colega de ginásio, cuiabano da gema, foi estudar engenharia em Recife. Voltou falando tal qual um nordestino. Pode?!


Os costumes de agora não batem com os de antigamente. Para alguns, ‘amigo’ traz o significado de conquista do que lhes falta.


Será que as pessoas, ao se referirem ao termo ‘amigo’, têm em conta seu verdadeiro sentido? 


Fica-me a impressão de que a palavra ‘amigo’, pouco e pouco, começa a desmoronar o seu sentido de origem. 


Sei, de cadeira, que devo abraçar a modernidade que os novos dias nos impõem. No entanto, não posso aceitar tudo que nos é empurrado goela abaixo pelas mídias sociais.


Conhecer alguém é fundamental para que possamos conferir a ele o título de amigo. 


Alguém já afirmou que o amigo se torna um parente pelo coração. Concordo.

 

Filho de médico cearense, Pedro Nava, mineiro, foi também médico. Primo de Raquel de Queiroz, dizia que ‘o importante não é ter ou fazer amigo. É ser amigo’.


Que nos sirva de reflexão!


Gabriel Novis Neves

28-1-2024




terça-feira, 30 de janeiro de 2024

MEUS CONTEMPORÂNEOS


A cada dia que passa, mais escasseia o grupo de meus contemporâneos. Estou me sentindo cada vez mais só neste mundo de meu Deus!


No corredor para a eternidade, conheço um que outro. Ou melhor, poucos são os que caminharam rosto a rosto a rosto comigo.


Por que me propus escrever sobre um tema que todos teremos de enfrentar, mas nos esquivamos de até mesmo de conversar?


É de se perguntar: trata-se de falta de assunto, misturado com o que fazer?


Garanto que não se trata disso, mas alimento um incontido desejo de escrever sobre pessoas. Afinal, entre nós há tanto em comum.


Há tempos, publique uma crônica sobre o ser humano. Criado por Deus, encerra, em si, dificuldades para compreendê-lo a contento.


Em tese, desde o nascimento sabemos, o trajeto que nos cabe seguir. Mas, de certa forma, parece que o homem teima em não aceitá-lo.


A eternidade foge aos padrões da compreensão humana, e quanto alguém muito querido de nos se despede, a dor da ausência nos aflige de constante.


Confesso-lhes que me assaltam dúvidas, incapaz de compreender até que ponto a religião interfere nessa viagem impositiva para o lado de lá.


Ao extremo, tenho pensado em como será a minha despedida deste plano terreno para o outro, espiritual.


Chego a discutir esse tema com pessoas próximas. As respostas, tenho notado, levam e conta a religião e crença que professam.


Ponho-me a imaginar que a gente vai envelhecendo e, de consequência, vai os poucos se fragilizando. Num certo dia, partimos sem nada sentir.


Isso no que toca às pessoas idosas, sem doença de base, sem sofrer acidentes...


Não sei por que tenho lançado, com frequência, meu pensamento sobre esse assunto, ainda que desfrute de boa saúde, controlada por medicamentos e por cuidadoras profissionais.


Curioso é que alguns nunca se preocuparam com esse tema. Quanto a mim, mais abusado, sirvo-me dele até para escrever uma crônica.


As respostas dos meus leitores, estou convicto, haverão de me ajudar a sanar o impasse.


É muito provável que alguns enxergarão esse tema como algo esquisito, talvez até despropositado. Vamos aguardar!


Todas as noites, quando interrompo os quefazeres para descansar, agradeço a Deus por mais um dia vencido. Ele, Pai que é, saberá compreender meus questionamentos!


Na minha idade, travo uma guerra consciente com as horas que se escoam diante de mim, considerando uma vitória o dia conquistado.


Envelhecimento não é doença. Mas, à medida que a idade desliza, mais nos convencemos de que o trem da nossa vida se aproxima da estação final do percurso.


A ninguém é dado ignorar este tema. Ideia é que esta crônica nos conduza a uma reflexão amadurecida.


E que o Pai nos ajude, na última parada, a carregar nosso baú, pleno que nos fez ricos, não aos nosso, mas aos olhos Dele! 


Gabriel Novis Neves

22-01-2024




QUE SURPRESA GOSTOSA!


Assaltado de grande alegria, recebi a resposta da crônica que publiquei a propósito de meus quatro bisnetos.


Ela veio musicada e cantada pelo Flávio Ricarte, casado com minha neta Fernanda.


Com sua produção, o objetivo dele — isto o que penso — foi fazer que eu refletisse quão efêmera era minha crônica. Mais um tempo, terá ela que adicionar mais uma bisneta.


Que pessoa especial ele é. Sonha ser pai! Deus haverá de premiá-lo um dia, e seu sonho se fará realidade!


Conheci esse menino em minha residência, violão na mão. Perguntou se teria condições de fornecer-lhe algumas letras para serem musicadas.


Enviei-lhe seis e, de volta, ouvi algumas musicadas bem ao meu estilo de samba-canção.


Ele é músico e compositor. Numa noite de domingo, foi-me dado conhecer um pouco do seu talento.


A nossa parceria não teve sequência: ele é músico, trabalhando — e bem! — com publicidade. Eu continuei namorando minhas crônicas.


Quando, horas após a publicação da crônica sobre os bisnetos, eu a recebi toda musicada e cantada por ele, foi-me um grande presente.


Interessante ao extremo! Aliás, sou dos que apreciam qualquer gênero musical.


Confesso-lhes que causou um verdadeiro alvoroço em nossa família.


Os pais do João Gabriel, na Alemanha a serviço da multinacional em que trabalham, vibraram com o teor da música. Já disseram estar morrendo de saudades. Imagino!


Como o músico é do ramo de comunicação, há tempo suficiente para gravar um disco para o carnaval da Chapada.


Seria um ‘Tchan’ a mais no badalado carnaval, que tem tudo para dar certo, afirmam seus organizadores.


Da minha parte, vou me esforçar para escrever textos curtos e ritmados com o fim de serem musicados.


Vou tentar, com uma ‘cajadada só, matar dois coelhos’: ouvir e escrever músicas. Eis duas coisas que me enchem a vida de encanto.


A vida é incrivelmente boa, a depender da forma como as pessoas a enxergam.


Vejam só: na mesma manhã, eu me ponho a responder àquilo que acabei de publicar. De outra parte, quantos não puderam ainda deitar uma simples olhadela na crônica do dia!


A leitura é um hábito que impõe tempo e atenção para não ‘passar batido’, ao jeitão do que diz nosso ribeirinho.


Com os modernos aplicativos, as notícias são cada vez mais velozes e curtas.


Como diz meu professor de português, a notícia está ultrapassando a velocidade da luz. É coisa de vapt-vupt!


Ele sabe das coisas, pois trabalha com palavras, que voam. Pouco e pouco, vou entendendo que escrever bem e falar estão a exigir os cuidados de um jardineiro.


Vou ficar no aguardo, certo de que virá alguma réplica. 


Não posso me esquecer de botar a par meus amigos: a nova bisneta, só em maio. E cá vamos nós, aguardando a chegada da Maria Valentina, irmãzinha da Nina. 


Que venha bem! No tempo que Deus dispuser. Mas que estamos pra lá de ansiosos, isso estamos!


Gabriel Novis Neves

29-1-2024




domingo, 28 de janeiro de 2024

A VIDA É GRANDE ILUSÃO


De um colega e bom amigo recebi uma frase que é uma pintura da realidade.


Ele ponderava que seu pai, por sinal meu professor de física e química no antigo Colégio Estadual de Mato Grosso, vivia dizendo que: ‘a vida é uma grande ilusão’!


A frase que me emocionou era repetida pelo seu pai diante algo inusitado em sua vida.


Não me lembro de ter lido frase que tão sintetizasse o que é a vida.


O que restaria dela se não fosse uma grande ilusão?


Alguém conseguiria viver sem ilusão?


Não seria a ilusão que dá sentido à vida? Nascemos sem querer e não sabemos quanto tempo por aqui permaneceremos.


Só uma grande ilusão para nos sustentar, acreditando em coisas a serem realizadas.


Se formos pensar e planejar nosso futuro, estaremos no caminho da frustração.


‘A vida não vale nada’, ‘dizem os mais simples’.


A vida não nos pertence, para que a levemos à sério! Só poderá ser uma grande ‘ilusão’!


Com ilusão é muito mais fácil viver.


A ilusão produz efeitos ‘escandalosos’, e é assim que levo a vida.


Já ouvi tanto depoimento sobre a ilusão da vida. E até creio que iludir é enganar.


Ilusão está muito distante do sonho, que sabemos ser uma manifestação do inconsciente.


Já a ilusão, acredito ser uma manifestação consciente.


‘Sonhos poderão ser transformados em realidade’, e a ilusão será sempre uma ilusão.


Uma grande ilusão da vida é a promessa da imortalidade espiritual.


Por que não a opção sensata de viver a vida ao máximo?


Seria muito sem graça viver num lugar em que não se precisa de mais nada, por uma eternidade chamada ‘Céu ou Inferno’.


Aqueles que acreditam que a vida é uma grande ilusão, vivem bem melhor. É o que confirmam as estatísticas.


Meu pai nunca elaborou o pensamento da vida como uma grande ilusão.


Na prática foi seguidor da ‘vida ao máximo’. Casou-se aos quarenta anos, teve nove filhos com a mesma mulher, vinte anos mais nova.


Quando concluiu o tempo de sua passagem na terra, deixou todos os filhos com boa formação para enfrentar a vida.


Sempre achou que a vida deveria ser vivida ao máximo. Isso o fez muito feliz.


O defensor do pensamento de que ‘a vida é uma grande de ilusão’, formou uma prole de quinze filhos com uma mesma mulher.


Preocupado com a ilusão que é a vida, ocupou todo seu espaço.


Não teve tempo para pensar na realidade da vida, educando os filhos, de bacharel em Direito à doutor em Medicina.


Sua filosofia de vida, quanto à ilusão da vida, transmitiu-a para seus descendentes. O importante é que todos se realizaram em sua história de vida.


Gabriel Novis Neves

01-01-2024




MEU JARDIM ENCANTADO


Criei este hábito: o de enviar minha crônica pela manhã aos amigos leitores, fazendo-a acompanhar da foto de uma flor do meu jardim.


Ele fica na cobertura de um edifício onde moro há trinta anos.


O trabalho de regá-lo duas vezes ao dia, cuidando do jardim e fotografando as flores, é da funcionária. Ela aprecia muito executar essa função.


Envia as fotos para mim pelo WhatsApp. Analiso-as e arquivo na galeria de fotos do meu iPhone.


No dia seguinte, escolho a mais linda — ao menos a meus olhos — e encaminho com a crônica.


Esse meu amor por jardins, plantas e flores, estou mais do que convicto, é genético.


Em fins do século XIX, nossa capital possuía ‘largos’ — são pequenas praças —, e não jardins.


Com o desenvolvimento e crescimento de Cuiabá, sobrou apenas um. Refiro-me ao Largo da Mandioca, onde moravam os capitães generais.


Nos finais da semana, os mateiros traziam os seus produtos para serem comercializados. Aqueles que tinham dinheiro, moravam nos casarões do Largo da Mandioca e arredores.


Há pouco tempo, a Câmara Municipal de Cuiabá trocou o nome de Mandioca pelo de uma moradora ilustre. Esta morava ali pelos arredores e frequentava a feirinha da Mandioca.


A mudança não pegou. O povo continua a chamá-lo de Largo da Mandioca.


Certas alterações de nomes de lugares públicos não vingam. Basta-nos lembrar da avenida da Prainha, da avenida do CPA, e do morro da Luz, somados a uma pá de logradouros.


Para não perder o fio da meada, o governador de Mato Grosso — à época se dizia ‘presidente’ — era o coronel Alencastro. Foi ao Rio de Janeiro com o intuito de modernizar e transformar, de fato, a capital do Estado.


Procurou o setor de engenharia civil do Exército, cujo chefe era um engenheiro militar que, quando tenente, serviu no destacamento militar, próximo à igreja da Boa Morte.


Floriano Peixoto enviou a Cuiabá o seu colega de turma e arma, Américo de Vasconcelos, natural de Uruguaiana.


Sua missão era construir o primeiro Jardim Público de Cuiabá em um ‘largo’ ao lado da igreja Matriz, que, por sinal, ficava no Largo da Matriz.


Meu bisavô paterno tinha predileção por jardins — com suas árvores, plantas e flores —, carinho que dele herdei.


Por onde passei, plantei jardins. O maior foi o da nossa Universidade, onde o cerrado foi substituído por árvores — de grande e menor porte —, por plantas e por flores.


Hoje colho o que plantei no terraço do meu apartamento.


Suas flores, de tão lindas, chegam a me emocionar, sentimento que, a cada novo dia, abraça meus leitores!


Alguns dos que as recebem, duvidam serem plantadas aqui, obrigando-me a informá-los: as fotos que acompanham as crônicas, são, sim, do meu jardim. Isso me abarrota de orgulho.


Para mim, o ‘jardim’ é um lugar mágico. Há quem diga até que ele é encantado. Não ignoro por quê: tem o dom de tocar nosso coração. Nada mais precioso.


Gabriel Novis Neves

17-1-2024




sábado, 27 de janeiro de 2024

TUDO SAI DA MODA


Quando, na qualidade de médico, retornei à minha cidade natal, encontrei tudo mudado. Ou teria eu saído da moda?


Antes de me mudar para estudar no Rio de Janeiro, nenhum edifício despontava em minha cidade.


O Palácio do Governo ficava em frente ao Jardim, hoje Praça Alencastro. Era um belo casarão colonial, com degraus de mármore, tendo aos fundos a residência dos governadores.


Ao lado direito do Palácio dos Governadores ficava outro ‘palácio’, escadarias também de mármore, onde morava o então ‘coronel’ João Celestino Correa Cardoso.


A cidade agasalhava menos de cem mil habitantes.


Chegando, notei novidades. A mais significativa delas foi a demolição do casarão do Palácio do Governo. Em seu lugar, a construção do Palácio Alencastro, hoje sede do Governo Municipal.


Na esquina da rua Cândido Mariano com a rua de Cima, em frente ao Jardim Público, foi construído o 1º edifício de apartamentos de Cuiabá. Coisa do outro mundo, na época!


Na ocasião, pouquíssimos automóveis transitavam por aqui. Mesmo porque tudo era tão perto.


O Porto e o Coxipó da Ponte eram distritos de Cuiabá.


O 1º edifício da capital não tinha garagem. Proprietário era um empresário do setor de mineração. Tinha um fraco por comercializar ouro e diamantes.


Aos que quisessem investir, opção era comprar linhas de telefones fixos, de grande procura no mercado.


Conheci um empresário que adquiriu mais de cem linhas telefônicas para revender. Ganhou muito dinheiro na ocasião, visto que nenhum aparelho ficou encalhado.


Triste é dizê-lo: o fone fixo está completamente fora da moda. Virou entulho. Não há quem o queira. Só museu!


O telefone da internet vem na fibra ótica e serve ao meu notebook.


Tenho o meu móvel. Já as funcionárias, cada qual com o seu. O fixo, somente os mais exóticos são procurados. Em geral, só pelos museus.


Nos antigos filmes em preto e branco — que também já saíram da moda —, ainda vemos um ou outro aparelho. Valia deles é caracterizar cenas de épocas passadas.


Um amigo me pergunta se conheço a síndrome mais nova da vida moderna. Ele mesmo me responde: é esquecer o celular em casa. Angústia na certa! A gente não se comunica com ninguém. Também não recebe comunicação.


O nome dessa síndrome é ‘nomofobia’: medo doentio de ficar sem o celular. Traduz uma ‘palavra-valise’, porque nela cabe tudo. Isto é, mais de uma palavra a compõe.


Vamos a ela. ‘Nomo’ é abreviação do inglês ‘no mobile’ = sem aparelho móvel. ‘Fobia’ é pavor.


Ficar sem celular é um deus nos acuda. Os mais jovens que o digam! Se você é dos que não desgrudam do celular, saiba que é um ‘nomofóbico’.


A verdade é que, com o passar dos anos, as coisas tendem a sair da moda. 


Já as pessoas, estas simplesmente se tornam ‘idosas’. Velhos, não! O nome ‘velho’ se apropria a traste. 


Gabriel Novis Neves

13-1-2024


FOTOGRAFIAS E VÍDEO DE DOMÍNIO PÚBLICO NA INTERNET:


















quinta-feira, 25 de janeiro de 2024

DOMINGO MUSICAL


Este domingo, já quase fechando janeiro, está bem triste. Até a música que ouço de um boteco nos fundos do meu prédio está calada.


Os músicos voltaram cedo para casa. Tudo está a dizer que outros compromissos os tenha convocado.


Cuiabá é uma cidade musical.


Os antigos chorões amadores eram formados por gente simples. Entre eles, poucos profissionais liberais.


Frequentavam as chácaras do Coxipó, quando não os casarões coloniais do Porto e do Centro Histórico.


Impossível esquecer Zulmira Canavarros, Dunga Rodrigues, Maria Pummot!


Assim como Tote Garcia, Nilson Constantino, Odare Vaz Curvo, Hermínio Pastel, Hélio do Bandolim, mestre Albertino e tantos outros.


Cantores como Arnaldo Leite, Juarez, Bráulio, Romano Fava.


Compositores e músicos como a ‘Turma do Morro’, filhos do professor André Avelino.


Os restaurantes, bares e botecos da minha infância não tinham música ao vivo.


Aliás, só tínhamos uma banda particular, que era do mestre Ignácio, lá do bairro do Baú.


Com o crescimento de Cuiabá, muitos músicos vieram para cá tentar a sorte e ficaram. Que privilégio o nosso! 


Encontraram um campo fértil, e aqui se reproduziram em larga escala, ensinando música popular brasileira.


Os músicos militares, estes formavam as suas bandinhas nos bairros em que viviam.


Costumavam tocar nos blocos carnavalescos.


Os músicos e cantores foram se profissionalizando com o aparecimento do Clube Feminino e com o conjunto do Jacildo e seus rapazes. Saudades do maestro Penha, China, Bolinha.


O auge se deu com o Clube Sayonara, do Nazir Bucair, e com o Balneário Santa Rosa, de João Balão. Essas duas casas ficavam no Coxipó da Ponte.


Além de agasalharem músicos e cantores de alto nível, apresentavam shows semanais com conhecidas estrelas nacionais.


Seus discípulos iam, a cada dia, aumentando.


De notar a chegada da nossa Universidade Federal, com seu quarteto de cordas, músicos que vieram da cidade de Campo Grande.


De igual modo o Coral Universitário, com alunos, professores, profissionais da música e integrantes da sociedade. 


Como não citar a criação da nossa Orquestra Sinfônica, profissionalizada. No caso, erga-se um tributo perene ao Prof. Benedito Dorileo! 


O curso da escola de música da UFMT abriu oportunidade a todos de abraçarem a música como profissão. Sim, algo impensável noutros tempos !


Hoje, raramente topamos com uma casa noturna sem música. Ela é que dá o tom.


Foi um longo caminho que percorremos em mais de meio século.


Até mesmo as casas de café, que abrem suas portas aos domingos pela manhã, estas adocicam seu ambiente com o encanto da música.


Já não se pode curtir um local desses sem a festa que a música nos proporciona!Quando não a temos, não prospera a alegria.


A música nos faz bem e, desde o início da civilização, ela se fez presente.


Desenvolveu-se de maneira especial em países da Europa. Esquivo-me de citar alguns para efeito de não cometer injustiças.


A poesia e música — esta a verdade — sempre andaram de braços dados. Isso muito devemos aos portugueses. Longe de nós negar nossos antepassados!


Amamos a música. A sua presença é sinal de alegria. Ela tem o dom de acender o Sol dentro de nós.


Meu desejo, na manhãzinha do próximo domingo, é ouvir a deliciosa música de boteco, que vem de longe!


Só assim, o domingo haverá de, novamente, voltar a ter a cara que tanto o distingue. 


A meu sentir, domingo sem música não é domingo! É a música que empresta a nossos domingos um ar de novidade! 


Gabriel Novis Neves

26-1-2024


Anita Mafatti - Serenata - Da série Seresta, óleo sobre tela, assinatura no canto inferior direito, reproduzido no catálogo da exposição Anita Malfatti, com curadoria de Luiza Portinari Greggio (Curitiba: Museu Oscar Niemeyer 2012)


quarta-feira, 24 de janeiro de 2024

ELEIÇÕES NA UFMT


Recebi um áudio de um abalizado jornalista, por sinal ex-aluno de Direito da nossa UFMT. Depois, também um telefonema.


Trabalhamos juntos por um tempo. Eu na implantação do curso de Medicina da UNIC, ele na TV da universidade particular.


Dizia-me da necessidade que havia de discutirmos a próxima eleição da reitoria da UFMT.


Frisava que, na opinião dele, trata-se de eleição tão importante como a da Prefeitura de Cuiabá.


Nesse processo eleitoral, faz-se indispensável o envolvimento da sociedade mato-grossense e cuiabana.


Não basta que reclamemos, pelos quatro cantos, que ela está sucateada, que os seus prédios estão a pedir socorro.


Importa trabalhemos para mostrar a parte boa, que são seus professores, todos eles concursados e com pós-graduação em mestrado e doutorado. Quantos há com pós-doutorado!


Muitos dos nossos mestres fazem parte da comunidade científica nacional, quando não internacional, com teses brilhantes, dignas de aplauso.


No âmbito do câmpus, a maioria permanece desconhecida, com seus trabalhos enterrados sob a laje do esquecimento. Mais: sua trajetória, quem é que lhes conhece os percalços?


 Na minha área da medicina, trago-lhes à cena o anonimato de nosso colega cardiologista que foi premiado em uma universidade americana.


Sua tese de doutorado foi referência para a inclusão de antibiótico profilático nos protocolos nacional e internacional dos implantes de marcapasso cardíaco.


Seus colegas de academia desconhecem esse feito do ex-aluno e professor. Não posso deixar de aplaudi-lo: parabéns, Dr. Júlio César!


Na física e engenharia não poderia me esquecer da Profa. Iramaia, de projeção nacional. O mesmo se diga do Prof. Alex Neves, conferencista internacional.


Quantos exemplos poderia contabilizar para atestar o desenvolvimento científico de nossa universidade!


No mais das vezes, emerge a nossos olhos tão só a parte física da Universidade, maltratada, judiada. De certa forma, abandonada.


E saber que, num passado não distante, a UFMT foi um brinco! Sim, foi ponto turístico de Cuiabá, visita obrigatória a todos que nos visitavam.


Dou-lhes o testemunho de quem dela foi, em parceria com tantos, seu pedreiro. Orgulhosamente eu o digo: assentei-lhe os primeiros tijolos. A obra ficou à perfeição porque investimos nela o melhor de nossas forças e talento.


Como dizia o imortal Vinícius de Morais: ‘As feias que me perdoem, mas beleza é fundamental’.


A nossa Universidade precisa trazer a sociedade para próxima de si. Melhor ainda: para dentro de seus contornos, mostrando o que somos e o que ainda temos condições de fazer.


Dói ouvir relatos de pessoas que dela receberam inteira preparação intelectual, que se entristecem por causa do descaso como a tratam. Seus prédios, como estão às traças!


Não há como negar que o mais difícil já foi feito, que é o seu belo arsenal docente.


Capitalizemos forças da própria sociedade que a UFMT ajudou a formar para não perdermos a finalidade a que ela se propõe: continuar a formar gente de qualidade.


Urge um administrador de alto nível para que a UFMT não venha a se tornar um ‘elefante branco’: algo de conservação dispendiosa, mas de pouca relevância aos olhos da sociedade.

 

Ai de nós se, em pleno solo do Coxipó da Ponte, viermos a plantar uma geringonça!


Para descair do prestígio é fácil. Duro foi conquistá-lo.


Gabriel Novis Neves

25-1-2024








terça-feira, 23 de janeiro de 2024

NÃO SEI MAIS O QUE FAZER!


Estou terrivelmente apaixonado por meus quatro bisnetos. Por sorte minha, três deles residem aqui em Cuiabá. O outro mora em Portugal.


Como amo essas quatro lindas criaturinhas! Tomado de vivo interesse, é assim que acompanho o desenvolvimento físico e intelectual deles.


Por conta do permanente contato pessoal, consigo dispensar aos que estão por aqui, olho no olho, um carinho mais estreito.


Ensina a sabedoria popular: ‘o que os olhos não veem, o coração não sente’. Dou-me empenho em contrariá-la. 


A despeito da distância, faço das ‘tripas coração’ para que esse ditado não se confirme. Busco dedicar carinho igual a cada um dos pirralhos.


O que me dói é saber que eles crescem e se tornam adultos. Um dia vão casar, constituir família. Mais: vão decidir morar longe do ambiente onde tudo já se afeiçoa a cada um desses serzinhos.


Vieram fazer-me companhia e almoçaram comigo as duas Marias e o João Gabriel.


Estava no escritório tentando amoldar meus textos, após a ‘paradeira’ forçada, causada pelo defeito na internet.


Num de repente, entra a Maria Regina toda sorridente. Veio me mostrar uma novidade.


Aproximou-se de mim, total encanto, arrumada com os negros cabelos longos trançados.


Lascou-me um beijo na bochecha e abraços apertados de saudades. Foi logo me dizendo que iria tirar uma foto minha. Depois outra mais, agora sentada no meu colo.


Pediu, em seguida, que eu colocasse a foto em frente à tela do teclado do computador. Sim, esta a razão: sem a foto dela, ficava muito feio.


Teve todo o cuidado de me avisar que esperasse a foto secar, para que a imagem aparecesse bem bonita.


Aula dada, obedeci: estou com seis dessas pequenas fotos. Por enquanto. A ‘Nina’ aparece em quatro delas, sorridente sempre. É o que a distingue.


Sua prima ‘mais velha’ — a líder do bando —, nós a chamamos ‘Bela’. Charmosa, vestida igual a Nina, também ganhou uma máquina fotográfica polaroide.


A todos fotografou, recomendando sempre que tivéssemos o cuidado de deixar o cartãozinho secar.


O JG, modo como tratamos o João Gabriel, é o nosso músico. Leva jeito o danadinho!


Estão chegando de viagem: uma semana no Nordeste. Adoraram. Nem uma dor de garganta tiveram.


Gastavam metade do tempo no mar, e outro tanto na piscina. O JG me disse que pegou peixinhos no mar. Estou achando que é conversa de pescador…


Retornaram ontem à noite e, hoje, morrendo de saudades, vieram almoçar com o biso.


Agrada-me saber que, duas vezes por ano — fico sempre a contar os dias —, esse mesmo carinho especial, eu o recebo do Lourenço, meu bisneto português. Ah, que delícia! Cubro-o de beijos.


A enorme distância física que nos separa não condiz com o que, a todos os ventos, alardeia o provérbio que, de certa forma, abre a crônica. Sim, meu coração sangra: tenho vontade de, abraçá-lo logo.


Ponho-me a confabular com meus botões, engenhando o que fazer para reduzir a distância. Há todo um mar que nos separa.


O que consigo — como hei de negar! — é deitar beijos gostosos em sua fotografia, enquanto não me é dado fazê-lo ao vivo.


Se morro de saudades do Lourenço? Só eu consigo avaliar! Uma tonelada de saudades.


Gabriel Novis Neves

24-1-2024