Este domingo, já quase fechando janeiro, está bem triste. Até a música que ouço de um boteco nos fundos do meu prédio está calada.
Os músicos voltaram cedo para casa. Tudo está a dizer que outros compromissos os tenha convocado.
Cuiabá é uma cidade musical.
Os antigos chorões amadores eram formados por gente simples. Entre eles, poucos profissionais liberais.
Frequentavam as chácaras do Coxipó, quando não os casarões coloniais do Porto e do Centro Histórico.
Impossível esquecer Zulmira Canavarros, Dunga Rodrigues, Maria Pummot!
Assim como Tote Garcia, Nilson Constantino, Odare Vaz Curvo, Hermínio Pastel, Hélio do Bandolim, mestre Albertino e tantos outros.
Cantores como Arnaldo Leite, Juarez, Bráulio, Romano Fava.
Compositores e músicos como a ‘Turma do Morro’, filhos do professor André Avelino.
Os restaurantes, bares e botecos da minha infância não tinham música ao vivo.
Aliás, só tínhamos uma banda particular, que era do mestre Ignácio, lá do bairro do Baú.
Com o crescimento de Cuiabá, muitos músicos vieram para cá tentar a sorte e ficaram. Que privilégio o nosso!
Encontraram um campo fértil, e aqui se reproduziram em larga escala, ensinando música popular brasileira.
Os músicos militares, estes formavam as suas bandinhas nos bairros em que viviam.
Costumavam tocar nos blocos carnavalescos.
Os músicos e cantores foram se profissionalizando com o aparecimento do Clube Feminino e com o conjunto do Jacildo e seus rapazes. Saudades do maestro Penha, China, Bolinha.
O auge se deu com o Clube Sayonara, do Nazir Bucair, e com o Balneário Santa Rosa, de João Balão. Essas duas casas ficavam no Coxipó da Ponte.
Além de agasalharem músicos e cantores de alto nível, apresentavam shows semanais com conhecidas estrelas nacionais.
Seus discípulos iam, a cada dia, aumentando.
De notar a chegada da nossa Universidade Federal, com seu quarteto de cordas, músicos que vieram da cidade de Campo Grande.
De igual modo o Coral Universitário, com alunos, professores, profissionais da música e integrantes da sociedade.
Como não citar a criação da nossa Orquestra Sinfônica, profissionalizada. No caso, erga-se um tributo perene ao Prof. Benedito Dorileo!
O curso da escola de música da UFMT abriu oportunidade a todos de abraçarem a música como profissão. Sim, algo impensável noutros tempos !
Hoje, raramente topamos com uma casa noturna sem música. Ela é que dá o tom.
Foi um longo caminho que percorremos em mais de meio século.
Até mesmo as casas de café, que abrem suas portas aos domingos pela manhã, estas adocicam seu ambiente com o encanto da música.
Já não se pode curtir um local desses sem a festa que a música nos proporciona!Quando não a temos, não prospera a alegria.
A música nos faz bem e, desde o início da civilização, ela se fez presente.
Desenvolveu-se de maneira especial em países da Europa. Esquivo-me de citar alguns para efeito de não cometer injustiças.
A poesia e música — esta a verdade — sempre andaram de braços dados. Isso muito devemos aos portugueses. Longe de nós negar nossos antepassados!
Amamos a música. A sua presença é sinal de alegria. Ela tem o dom de acender o Sol dentro de nós.
Meu desejo, na manhãzinha do próximo domingo, é ouvir a deliciosa música de boteco, que vem de longe!
Só assim, o domingo haverá de, novamente, voltar a ter a cara que tanto o distingue.
A meu sentir, domingo sem música não é domingo! É a música que empresta a nossos domingos um ar de novidade!
Gabriel Novis Neves
26-1-2024
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