quinta-feira, 25 de janeiro de 2024

DOMINGO MUSICAL


Este domingo, já quase fechando janeiro, está bem triste. Até a música que ouço de um boteco nos fundos do meu prédio está calada.


Os músicos voltaram cedo para casa. Tudo está a dizer que outros compromissos os tenha convocado.


Cuiabá é uma cidade musical.


Os antigos chorões amadores eram formados por gente simples. Entre eles, poucos profissionais liberais.


Frequentavam as chácaras do Coxipó, quando não os casarões coloniais do Porto e do Centro Histórico.


Impossível esquecer Zulmira Canavarros, Dunga Rodrigues, Maria Pummot!


Assim como Tote Garcia, Nilson Constantino, Odare Vaz Curvo, Hermínio Pastel, Hélio do Bandolim, mestre Albertino e tantos outros.


Cantores como Arnaldo Leite, Juarez, Bráulio, Romano Fava.


Compositores e músicos como a ‘Turma do Morro’, filhos do professor André Avelino.


Os restaurantes, bares e botecos da minha infância não tinham música ao vivo.


Aliás, só tínhamos uma banda particular, que era do mestre Ignácio, lá do bairro do Baú.


Com o crescimento de Cuiabá, muitos músicos vieram para cá tentar a sorte e ficaram. Que privilégio o nosso! 


Encontraram um campo fértil, e aqui se reproduziram em larga escala, ensinando música popular brasileira.


Os músicos militares, estes formavam as suas bandinhas nos bairros em que viviam.


Costumavam tocar nos blocos carnavalescos.


Os músicos e cantores foram se profissionalizando com o aparecimento do Clube Feminino e com o conjunto do Jacildo e seus rapazes. Saudades do maestro Penha, China, Bolinha.


O auge se deu com o Clube Sayonara, do Nazir Bucair, e com o Balneário Santa Rosa, de João Balão. Essas duas casas ficavam no Coxipó da Ponte.


Além de agasalharem músicos e cantores de alto nível, apresentavam shows semanais com conhecidas estrelas nacionais.


Seus discípulos iam, a cada dia, aumentando.


De notar a chegada da nossa Universidade Federal, com seu quarteto de cordas, músicos que vieram da cidade de Campo Grande.


De igual modo o Coral Universitário, com alunos, professores, profissionais da música e integrantes da sociedade. 


Como não citar a criação da nossa Orquestra Sinfônica, profissionalizada. No caso, erga-se um tributo perene ao Prof. Benedito Dorileo! 


O curso da escola de música da UFMT abriu oportunidade a todos de abraçarem a música como profissão. Sim, algo impensável noutros tempos !


Hoje, raramente topamos com uma casa noturna sem música. Ela é que dá o tom.


Foi um longo caminho que percorremos em mais de meio século.


Até mesmo as casas de café, que abrem suas portas aos domingos pela manhã, estas adocicam seu ambiente com o encanto da música.


Já não se pode curtir um local desses sem a festa que a música nos proporciona!Quando não a temos, não prospera a alegria.


A música nos faz bem e, desde o início da civilização, ela se fez presente.


Desenvolveu-se de maneira especial em países da Europa. Esquivo-me de citar alguns para efeito de não cometer injustiças.


A poesia e música — esta a verdade — sempre andaram de braços dados. Isso muito devemos aos portugueses. Longe de nós negar nossos antepassados!


Amamos a música. A sua presença é sinal de alegria. Ela tem o dom de acender o Sol dentro de nós.


Meu desejo, na manhãzinha do próximo domingo, é ouvir a deliciosa música de boteco, que vem de longe!


Só assim, o domingo haverá de, novamente, voltar a ter a cara que tanto o distingue. 


A meu sentir, domingo sem música não é domingo! É a música que empresta a nossos domingos um ar de novidade! 


Gabriel Novis Neves

26-1-2024


Anita Mafatti - Serenata - Da série Seresta, óleo sobre tela, assinatura no canto inferior direito, reproduzido no catálogo da exposição Anita Malfatti, com curadoria de Luiza Portinari Greggio (Curitiba: Museu Oscar Niemeyer 2012)


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