quinta-feira, 31 de março de 2022

DR. ZELITO


Assim era conhecido carinhosamente o médico cuiabano, fazendeiro e político - José Monteiro Figueiredo.


Por muitos anos foi Diretor-Clínico da Santa Casa da Misericórdia de Cuiabá.


Foi vice-governador de José Fragelli (1971-1974).


Nessa época já estava aposentado das funções de médico.


Foi um dos mais assíduos frequentadores da “Sala de Partos” número dois da UFMT.


Seu filho médico, Paulo César de Figueiredo foi um dos professores fundadores da nossa Escola de Medicina.


Sua filha única graduou-se em Direito na nossa UFMT.


Exerceu até aposentar-se a função de Procuradora do Estado.


Acompanhou e participou quase que diariamente no final da tarde dos “papos” na Reitoria.


Sarcástico, dizia sempre que eu era um sujeito de sorte.


Escolhi Atílio e Dorileo, dois verdadeiros pés de bois para trabalhar, enquanto ficava na “sala de visitas” recebendo todos que procuravam a UFMT.


Já o Dorileo, sempre brincava com o Dr. Zelito, que era considerado da casa, inclusive permanecendo na sala enquanto despachava, que alguém precisava ficar na cozinha.


Tínhamos um entendimento da importância à Instituição, tanto a cozinha como a sala de visitas.


Como viajava quase todas as semanas para Brasília, especialmente em missão de “vender” nossos projetos, participava menos que meus dois colegas do dia-a-dia da novíssima universidade.


Propus aos dois vice-reitores da época, que assumissem a gerência no campus enquanto eu ficaria focado no trabalho fora do campus.


Os dois companheiros não aceitaram, e todas as decisões de relevância eram tomadas com a minha presença.


Como bem observou o Dr.Zelito, eu era um sujeito de sorte, cujo mérito era o de ter escolhido dois trabalhadores para fazerem o meu trabalho, enquanto minha função era de ficar na sala de partos recebendo visitas.


Era a universidade nos seus primórdios.


Gabriel Novis Neves

23-02-2022




quarta-feira, 30 de março de 2022

CIDADE QUENTE


Cuiabá é conhecida também como uma das cidades mais quentes do Brasil.


Mas, dos lados do Coxipó, na nossa querida Universidade Federal, leio nos jornais e sinto na própria carne, pois sou professor aposentado, que há cinco anos salários de professores e servidores, estão congelados!


Outros órgãos públicos como o Judiciário, Legislativo e Tribunal de Contas, têm reajustes de verbas indenizatórias e outros benefícios, que aumentam seus salários.


Quando transformaram a “Fundação Universidade Federal de Mato-Grosso” em “Autarquia”, previ o fim da sua autonomia administrativa e financeira.


Somos da administração indireta, mas atualmente funcionamos como se fossemos de instituição direta.


A nossa FUFMT foi criada como instituição de direito privado.


Assim, era permitido conceder aos seus professores e servidores reajustes anuais acrescentados aos do governo federal.


O Conselho Diretor da FUFMT tinha esse poder de reajuste, que às vezes ultrapassava ao concedido por Brasília.


Não me lembro na época da transformação em autarquia, de nenhum movimento contestatório.


Nossos representantes em Brasília, nessa mudança jurídica de “fundação para autarquia”, estavam cegos, surdos e mudos.


E continuam diante deste congelamento de cinco anos.


Nos anos setenta a inflação comia nossos salários.


Mas os reajustes permitidos pela FUFMT faziam seus profissionais serem mais competitivos no mercado de trabalho.


Nos dias atuais estamos vivendo o inverso do que aconteceu na década de setenta.


Tem muita gente boa que viveu esse momento em que eram valorizados como profissionais da UFMT.


Muitas mães cuiabanas rezavam para que seus filhos quando adultos fossem servidores da nossa universidade.


Esse congelamento salarial coloca nossos profissionais com salários bem inferiores aos de funcionários de cooperativas de médicos, do agronegócio e empresas de médio porte.


Perde-se muito tempo discutindo banalidades sem entrar no problema crônico do congelamento dos salários e corte de recursos federais para nossa instituição.


Os aposentados e pensionistas, que não apresentam mais condições físicas de trabalhar para ajudar no salário, são pessoas estranhas ou invisíveis à universidade e órgãos de classe.


Mesmo os aposentados perderam a isenção do INSS em seus salários, com a Reforma da Previdência, onde os salários são diferentes nos três poderes para cargos semelhantes.


A universidade tem como função também cuidar do seu maior patrimônio que são seus professores e servidores, sem os quais não existiriam os alunos.


“Me dá um reajuste aí” é tudo aquilo que pedimos a quem de direito, para cobrir o que perdemos nesses últimos cinco anos para a inflação.


Gabriel Novis Neves

23-02-2022




terça-feira, 29 de março de 2022

O ACASO EXISTE


Na escola aprendi que o Brasil foi descoberto por acaso.


Ao longo da minha vida li muitas coisas que acontecerem por acaso, como a Proclamação da República pelo Marechal Deodoro da Fonseca, um monarquista em um pais de povo monárquico, onde o Imperador era querido pela população.


Dizem que a Independência do Brasil, proclamada quando D. Pedro I, então o Imperador do Brasil ia para Santos encontrar a sua Domitila, ocorreu também por acaso.


A nossa história recente está povoada de acontecimentos importantes e que aconteceram por acaso.


Farei o relato de apenas um para não escrever um livro de “por acasos”.


Em 1º de abril de 1964 assumiu o poder no Brasil, o “Comando Militar Revolucionário” que foi instalado por acaso no prédio do Ministério da Guerra no Rio de Janeiro, ao lado da Central do Brasil.


O chefe desse “Comando Militar Revolucionário” era o General Costa e Silva.


Com a vacância do poder, com Jango indo para o Uruguai, para evitar derramamento inútil de sangue dos brasileiros, pela Constituição Brasileira vigente assumiria a Presidência do Brasil o Presidente do Congresso Nacional, Deputado Federal por São Paulo, Ranieri Mazzilli.


Era tudo que os militares não queriam!


Às pressas foi chamado de São Paulo o famoso jurista Gama e Silva, para dar sustentação jurídica ao “Comando Militar Revolucionário”.


No dia 2 de abril, após a posse de Ranieri Mazzilli, com o poder nas mãos dos militares, desencadeia-se em todo o pais uma onda de prisões de líderes políticos, sindicais e camponeses e é decretado o AI1.


Esse Ato Revolucionário permitia também a cassação de mandatos legislativos e determinava a eleição indireta do Presidente da República para um mandato até 31 de janeiro de !966.


No dia 11 de abril, numa eleição de candidato único, o Congresso Nacional elege o Marechal Castelo Branco para a Presidência do Brasil.


O Vice-Presidente eleito foi o Deputado Federal José Maria Alckmin.


Tomaram posse no dia 15 de abril de 1964, quinze dias após o golpe militar.


O por acaso neste fato histórico nunca foi revelado em nenhum compêndio de história contemporânea do Brasil que eu li e, é o seguinte.


Quem motivou a posse do senhor Ranieri Mazzilli como Presidente do Brasil no dia 2 de abril de 1964, foi o colunista social Ibrahim Sued.


Ranieri Mazzilli era detestável pelo “Comando Revolucionário” e Ibraim um jornalista muito bem informado dos bastidores da revolução e seu “porta-voz”.


O colunista de “O Globo” naquela época inventou o “fake News”, e espalhou nas altas rodas que o “Comando Militar” tinha liberado a posse de Ranieri Mazzilli para a Presidência da República.


Este imediatamente reuniu o Congresso que o empossou como Presidente, cujo mandato terminou no dia 15 de abril com a posse do Marechal Castelo Branco.


Mais um por acaso para ser acrescentado na nossa história.


Fui escolhido pelo ministro Jarbas Passarinho para ser Reitor da UFMT, na cidade de Corumbá por ocasião da inauguração do Centro Educacional Júlia Gonçalves Passarinho.


Gabriel Novis Neves

26-03-2022




segunda-feira, 28 de março de 2022

CONTRASTE DA IMPLANTAÇÃO DA UNB E UFMT


A universidade de Brasília foi implantada nos anos sessenta e a nossa nos anos setenta.


As facilidades encontradas entre a UNB e a nossa nos seus primeiros anos foram colossais.


A UNB ficava na Capital Federal e tinha como proposta maior uma universidade moderna com o preparo de profissionais mais comprometidos com as novas tecnologias e um mercado de trabalho mais competitivo.


A nossa no cerrado matogrossesnse ficava na área de transição entre a maior península de terras inundadas do planeta, que é o nosso Pantanal, e a zona de mata alta ainda pouco explorada, a nossa Amazônia.


Tinha como proposta inicial a inversão do binômio ensino- pesquisa para pesquisa- ensino, para criar uma universidade amazônica, pois ninguém ensina o que não sabe, e a nossa UFMT pretendia conhecer a Amazônia (Projeto Aripuanã), para só então preparar profissionais qualificados para ali trabalhar, respeitando o meio-ambiente e sua diversidade cultural.


No início da UNB vários intelectuais foram para lá, mas depois tiveram problemas ideológicos sendo afastados das suas carreiras. Criou-se um vácuo de docentes qualificados.


Alunos também foram desligados da UNB pelo AI5.


Com a chegada do reitor Almirante José Carlos de Azevedo, as condições melhoraram na UNB.


Convidou, entre outros o Professor Edmar Bacha para comandar o Departamento de Economia.


Era fácil na ocasião contar com nomes de expressão nacional e internacional no ensino, pesquisa e extensão na UNB, que funcionava como uma vitrine para as novas universidades que estavam surgindo pelo Brasil, e exemplo para as antigas.


Darcy Ribeiro, o pai da UNB, obra complementada pelo reitor-fundador da UNICAMP Zeferino Vaz, reservou no plano diretor de Brasília uma vasta área para a parte física e outra bem maior, onde construiu edifícios que posteriormente renderiam receita própria a UNB.


Aqui não tivemos problemas com intelectuais e conseguimos a adesão de alguns deles. Também durante os 11 anos que estivemos á frente da universidade nenhum aluno foi punido pelo AI5.


Fomos a única universidade pública federal a não implantar a agência do SNI no campus, uma exigência na época.


O grande estímulo que na implantação oferecíamos a professores e servidores eram os melhores salários do Brasil. Como fundação era possível fazer isso, que muito nos ajudou.


Os primeiros professores recebiam como incentivo para fazerem a pós-graduação o salário de docente da UFMT, mais a bolsa integral da Capes e a não obrigatoriedade dos testes de seleção nos melhores centros do Brasil, com prazo não determinado para voltar.


Outros docentes no início da implantação foram com salários da universidade e bolsa de instituições internacionais fazerem pós-graduação nos EAU e Reino Unido.


Éramos na década de setenta, segundo João Paulo dos Reis Veloso Ministro do Planejamento do Brasil, uma universidade voltada, não só ao ensino e pesquisa, mas ao desenvolvimento econômico do Brasil.


Não carregávamos também vícios das antigas academias, como as cátedras vitalícias e familiares.


Estes contrastes fortaleceram, e muito, a nossa universidade, que conseguiu de doação seus laboratórios para o curso de geologia da riquíssima UNB.


Estes registros históricos, verdadeiros pontos luminosos da implantação da UFMT, estão se apagando com o tempo.


Gabriel Novis Neves

11-03-2022




domingo, 27 de março de 2022

PITORESCOS XVIII


Bem antigamente, médico recém-formado em Cuiabá era chamado de novo, e atendia no Pronto Atendimento da Santa-Casa, chamado de “Portaria”. Hoje, o paciente vai direto ao Pronto Socorro Municipal.


Na Cuiabá antiga, só existia um Hospital Geral, que era a Santa Casa da Misericórdia, administrada pelas irmãzinhas salesianas.


Bem antigamente, médicos se elegiam governadores do Estado, e uma vez por semana pela manhã, atendiam na Portaria da Santa Casa. O último foi o médico Fernando Correa da Costa, há mais de 50 anos.


Na Cuiabá antiga, os médicos governadores preferiam atender pacientes sem condições de pagarem uma consulta, na Portaria da Santa-Casa, que em audiência no Palácio Alencastro.


Bem antigamente, pobre tinha onde ser atendido quando doente, que era a Portaria da Santa Casa.


Na Cuiabá antiga, médico não tinha especialidade. Hoje, todos os médicos são especialistas e os pacientes quando necessitam de socorro médico, não sabem a quem procurar.


Bem antigamente, médico atendia até briga de casal. Hoje, casal não briga. Pede divórcio.


Na Cuiabá antiga, médico solteiro era encontrado à noite nos cabarés. Hoje, às vezes são encontrados em motéis.


Bem antigamente, para certos chamados de atendimentos domiciliares, os médicos corriam “riscos de morte”. Também, “riscos de vida”. Os pacientes eram chamados de portadores de “alta periculosidade”.


Na Cuiabá antiga, fui chamado para prestar socorro a um morador, cuja porta da sua casa estava sendo “vítima de um atirador de carabina”. Esperei terminar a guarnição para prestar o socorro, e poder estar aqui escrevendo “Pitorescos”.


Bem antigamente, diziam que a justiça divina tarda, mas não falha. Socorro médico, também.


Na Cuiabá antiga, socorro médico era demorado pelo pequeno número de médicos clinicando. Hoje, com três escolas de medicina e outro tanto chegando, continua demorado.


Bem antigamente, médicos cuiabanos construíram hospitais para trabalhar. Hoje, venderam seus hospitais para grupos econômicos de fora. Continuam trabalhando em hospitais que um dia foram seus. Foram vítimas do capitalismo.


Na Cuiabá antiga, “práticos” eram donos de farmácias e até manipulavam receitas médicas. Depois, vieram os “doutores” em farmácias. Hoje, todas elas pertencem a grandes “redes nacionais” e os “doutores” em farmácia, são seus funcionários.


Bem antigamente, médicos “montavam” seus laboratórios de imagens e análises clínicas. Hoje, venderam seus serviços e também viraram funcionários dos grupos econômicos que são seus proprietários.


Na Cuiabá antiga, médico bom era aquele que abria a barriga dos seus pacientes. Hoje, os que fazem microcirurgias.


Bem antigamente, jogador de futebol que retirava os meniscos dos joelhos, encerrava sua carreira de atleta. Hoje, com a retirada do menisco por microcirurgia, após duas semanas o atleta está jogando normalmente.


Na Cuiabá antiga, obesidade não era doença e sim sinal de prosperidade. Hoje, obesidade se trata com cirurgia. Às vezes a cirurgia é até repetida.


Bem antigamente, obesidade era quase sempre, “transtorno hormonal”. Hoje, o “SPA” está saindo da moda.


Na Cuiabá antiga, famílias ricas, todos os anos tiravam férias e procuravam uma estância hidromineral. De preferência o Hotel Caxambu em Minas-Gerais. Voltavam remoçadas.


Bem antigamente, pensões e hotéis de Cuiabá possuíam número de alojamentos necessários, para atender a demanda.


Na Cuiabá de hoje, as pensões quase desapareceram, e os hotéis sempre tem vagas. Hoje, é difícil encontrar vagas nos motéis.


Bem antigamente, Cuiabá não tinha motéis. Hoje, os motéis têm mais apartamentos que todos os hotéis de Cuiabá.


Na Cuiabá de hoje, não existe mais o “Bar Colorido”, “Tabaris” e a “Casa da Lourdinha”. Só Motéis.


Bem antigamente, Várzea-Grande era conhecida como “Cidade Industrial”. Hoje, como “cidade dos motéis”.


A Cuiabá antiga era “Cidade Verde” das ruas arborizadas, das palmeiras imperiais e quintais verdes. Hoje, cidade do Cuiabá Esporte Clube e da Arena Pantanal!


Gabriel Novis Neves

13-02-2022




sexta-feira, 25 de março de 2022

VISUALIZAÇÕES DE MENSAGENS


Quando recebo mensagens pelo whatsap, a pessoa que me encaminhou, sabe se eu li ou não aquilo que me enviou.


Acho tamanho desrespeito, aqueles que impedem a visualização da mensagem, com o não aparecimento do azulzinho no seu whatsap.


O whatsap funciona como uma espécie de telegrama de tempos atrás, onde era utilizado para notícias urgentes.


As cartas que demoravam a chegar ao seu destinatário, serviam mais para bate-papos à distância ou para notícias sem pressas.


Tanto isto era verdadeiro, que bem antigamente eu temia os telegramas e esperava até com ansiedade, as cartas trazidas pelos carteiros.


Na era da internet um pedido urgente solicitado hoje e respondido imediatamente, pode inclusive salvar vidas.


Não é admissível que a pessoa que recebe o telegrama no caso whatsap, nem notícias nos dá mediante a visualização do azulzinho, a tomar novas providências se o caso assim requerer.


A visualização sem a resposta para mim é importante, pois significa que a mensagem chegou.


Ontem, apaguei da minha lista de contatos um que após vários dias de recebimento dos meus watts, nunca me respondeu ou sinalizou seu recebimento.


Tenho conversado com poucos amigos que possuem esse péssimo hábito de não sinalizar a mensagem recebida.


Responder já é uma nova situação.


Envio as minhas crônicas diárias para vários contatos do meu celular.


Se sinalizarem que receberam, e provavelmente as leiam, a resposta não é obrigatória.


Gosto quando comentam as crônicas, para que eu tenha um retorno daquilo que escrevo.


O imperdoável é não acusar o recebimento.


Tenho conversado com pouquíssimos dos endereços que possuo e que não exibem a marcação.


Já houve casos em que fui convincente e “esses escondidinhos” abandonaram essa novidade tecnológica que é nos colocada à disposição.


Tenho um amigo que justificou que recebe muitos watts, e usa o artifício de não marcar com o azulzinho as mensagens recebidas, para não ter que respondê-las.


Sinceramente não entendi.


Responder não é necessário, mas deixar quem lhe enviou a mensagem “a ver navios”, é no mínimo falta de educação, sendo bom apagar dos seus contatos.


Gabriel Novis Neves

10-02-2022




COMO SE FOSSE HOJE


Lembro-me que em uma tarde chuvosa de oito de abril de 1995, feriado municipal por ser aniversário de Cuiabá, tive um encontro com o Dr. Altamiro Galindo em meu consultório na Femina.


Dr. Altamiro era reitor-proprietário da Universidade de Cuiabá (UNIC).


Veio me fazer uma última proposta para implantar o curso de medicina em uma universidade privada.


O curso já estava criado e seu vestibular marcado para o final de abril.


Ponderei ao reitor, que acabara de me aposentar na UFMT como professor universitário com apenas o curso de graduação, em regime de quarenta horas semanais.


Havia planejado exercer daqui para frente a minha profissão de médico de consultório até quando minhas forças me permitissem.


Foi uma longa conversa de convencimento do reitor que se tornou meu amigo, assim como toda a sua enorme família.


A noite chegava, abri a minha agenda e mostrei-lhe o que iria abandonar, já que medicina exige tempo integral e dedicação exclusiva.


Sem pestanejar, vendo a minha agenda de consultas lotadas e o número de cirurgias que realizava por mês, propôs um contrato de professor em 40 horas e dedicação exclusiva e gratificação do cargo de diretor.


Desnecessário lembrar o apoio do reitor e seus vice-reitores: Prof.ª Célia Galindo e o médico Abrão.


Para as disciplinas de anatomia, histologia e embriologia do 1º ano do curso médico, foram contratados os Profs. Prates, Manoel e Francis, todos da famosa Escola Paulista de Medicina, como supervisores dos professores já existentes na UNIC.


O prof. Francis terminou adotando Cuiabá como sua cidade, tem quatro filhos cuiabanos, e me sucedeu na direção da faculdade de medicina.


Hoje, com a sua mulher Bianca são professores concursados da UFMT, onde sua esposa com “pós-doutorado” coordena a área de saúde da UFMT, inclusive a medicina.


Outras disciplinas eram ministradas com os professores da área da saúde: bioquímica, odontologia, fisioterapia, enfermagem, psicologia, anatomia e histologia.


A partir do 2º ano médico contratamos professores e ex-alunos da UFMT, todos com títulos de pós-graduação, e aproveitamos os da UNIC com qualificação.


Para se avaliar a qualificação dos médicos formados pela UNIC, as minhas médicas são ex-alunas.


A minha única neta que escolheu a medicina como profissão, graduou-se na UNIC, e hoje por concurso é médica Residente2, em ginecologia e obstetrícia na UFMT!


A UNIC possui hospital próprio.


Adquiriu o antigo Hospital Geral e Maternidade de Cuiabá e o transformou no moderno Hospital Geral Universitário (HGU).


As pedras encontradas nesse caminho foram muitas e só citarei duas verdadeiras “pedras cangas”:


A tentativa de anulação do 1º vestibular por um Procurador Federal de Justiça e a grande resistência do Conselho Regional de Medicina de MT, para o novo curso de medicina para Cuiabá.


A UNIC ganhou na justiça de Brasília a autorização para o seu funcionamento e o vestibular marcado foi realizado.


A maioria dos filhos dos membros do CRM se tornaram médicos estudando na UNIC.


Finalizo lembrando aquela velha história que dizia que “entre mortos e feridos todos se salvaram”.


Gabriel Novis Neves

08-03-2022




quinta-feira, 24 de março de 2022

CONHECER O ESTADO


Em 1983, meu filho caçula tinha dezesseis anos de idade e só conhecia no Estado a cidade que tinha nascido (Cuiabá).


Várzea-Grande, Livramento, Poconé, Santo Antônio do Leverger, Barão de Melgaço, Acorizal e Chapada dos Guimarães, não contam por fazerem parte da Grande Cuiabá.


Desde muito criança passava as férias escolares no Rio de Janeiro, com seus irmãos, que eram levados pela sua mãe que foi educada na Cidade Maravilhosa.


Também conhecia Buenos-Aires, onde foi com o seu irmão um pouquinho mais velho, passar as férias com o seu avô que morava lá.


Era Secretário de Estado e tinha programada uma viagem ao extremo norte do Estado, para visitar uma cidade que estava nascendo.


Achei excelente a oportunidade para mostrar ao menino a conquista daquela região, tão distante da capital.


Arrumei um lugar no avião e com assessores rumamos rumo a Juína.


A cidade era um imenso canteiro de obras com tratores por todos os lados.


Caminhões cheios de madeira formavam a cena da futura cidade.


Percorremos as futuras avenidas na carroceria de caminhões.


Visitamos uma verdadeira Escola Rural, com seus alunos filhos dos colonos do Sul, espertos e de olhos azuis.


A professora era uma migrante, mãe de um dos alunos.


As mães pediam um Posto de Saúde e, mais escolas.


Conversei com o responsável pelo projeto de implantação de Juína, um cacerense que conheci muito jovem na Codemat (Companhia de Desenvolvimento de Mato Grosso).


Ele estava entusiasmado e me perguntou se eu não desejava comprar uma fazenda de mata alta amazônica.


Insistiu que com a venda da madeira começaria o meu empreendimento agropecuário.


Naquela época pouco se falava da soja. Nossa grande riqueza era madeira para exportação e criação de gado.


Não tinha dinheiro para o negócio.


Almoçamos num barraco de madeira e, todas as construções da cidade eram de madeira, inclusive a Igreja.


A comida forte nos garantia a chegada em Cuiabá ao entardecer.


O nosso trabalho estava concluído e pegamos o monomotor com sua capacidade de bancos ocupados.


O meu filho sentou-se no último banco, eu ao lado do piloto e decolamos rumo à Cuiabá.


No meio de uma viagem longa, porém, tranquila, sentimos forte e persistente odor fétido.


Ninguém falou nada de nada, mas um olhava para o outro desconfiado.


O sociólogo de baixa estatura que viajava ao lado do meu filho chegou a levantar-se da poltrona, acho que procurando o pum mortal.


No aeroporto após excelente viagem entrei no carro que me esperava e fomos para casa.


Lá chegando meu filho baixou a sua calça e me mostrou o tamanho do estrago que a comida forte lhe causou.


Depois, do banho sua mãe lhe medicou.


Gabriel Novis Neves

19-03-2022




quarta-feira, 23 de março de 2022

PREOCUPAÇÃO MATA


Meu avô Dr. Alberto Novis que era médico, já me dizia que preocupação mata.


Essa causa de morte é conhecida desde os tempos de Avicena, filósofo mais importante na tradição islâmica e que com dez anos de idade, já havia memorizado o Alcorão.


Ele colocou dois pequenos animais em gaiolas diferentes, uma ao lado da outra.


Durante meses ofereceu-lhes a mesma refeição e cuidados.


Notou que um animal comia tudo que lhe era oferecido e ganhou muito peso.


O outro animal deixou de se alimentar, emagreceu muito, ficou sem resistência e morreu.


O sábio tinha colocado um animal numa situação que via um leão e o outro não.


O animal que morreu percebia que um leão permanecia nas redondezas das gaiolas.


Preocupado com a possibilidade de uma agressão, parou de comer, ficou estressado, deprimido e morreu de tanta preocupação.


Algumas pessoas desde muito jovens, tem o poder maior que outras de observar o mundo.


Em uma mesma situação, “descobrem” coisas que só ele vê, podendo levá-lo a uma situação de permanente preocupação e estresse.


Eu me incluo nesse grupo de pessoas que vê coisas que outros não percebem.


Para fugir da patologia que é a depressão, conto pontos para minha alfabetização que foi pelo jogo de xadrez, que aprendi aos seis anos de idade, antes mesmo de conhecer as letras do alfabeto.


Quem vê coisas que outros não, são esses jogadores de xadrez que para moverem uma peça do tabuleiro do xadrez, pensam nas variadas hipóteses e respostas que poderão acontecer.


A preocupação exagerada em qualquer situação da nossa vida, seja nos estudos, trabalho, casamento, idade avançada ou doenças, nos leva a depressão que precisa de tratamento.


A preocupação antecipada nos conduz ao sofrimento antecipado que é um terror.


Conheço os mecanismos para me proteger, porém frequentemente sou vítima dessa armadilha secular.


Não confundir coisas verdadeiras que existem e que duas pessoas no mesmo local não veem por questão de um simples detalhe de um ângulo, com as psicoses.


Nestes casos a pessoa vê, ouve, quando em crise de surto psicótico, que a levam a extrema debilidade física e emocional.


Preocupação mata é um sábio ditado que nos ensina como suportar a vida moderna cheia de preocupações verdadeiras.


É a pandemia que deu sinal de melhoras por aqui e já é encontrada na Ásia, como a quarta onda de um vírus variante do ômicron que surgiu mesmo após os pacientes serem vacinados por duas vezes e com uma dose de reforço.


É o estresse causado pela guerra entre russos e ucranianos.


Outros menores com o trânsito infernal de Cuiabá sem locais para estacionamento dos veículos.


Hoje, vou dormir sem uma preocupação que era a minha declaração do imposto de renda, feita pela minha contadora.


Só falta acertar na super mega sena!


Gabriel Novis Neves

16-03-2022




terça-feira, 22 de março de 2022

VIAGENS DE TRABALHO


No período de 1968-1982 viajei muito para resolver problemas educacionais do nosso Estado, quando ocupei os cargos de Secretário de Educação e Cultura de MT e Reitor-fundador da UFMT.


Na maior parte dessas viagens convidava sempre um assessor especialista no assunto a ser debatido.


O destino maior era Brasília, mas naquela época muitos ministérios ainda funcionavam no Rio de janeiro.


Os voos de Cuiabá para Brasília eram às terças, quintas e sábados e muito irregulares, sendo utilizados os aviões turboélices japonês chamados de Samurais.


Eles deixaram de voar no Brasil porque todos os seus aparelhos caíram, sempre sem sobreviventes.


Nas audiências marcadas para segundas-feiras pela manhã, éramos obrigados a sair daqui rumo à São Paulo ou Rio de Janeiro no domingo, e de lá, tarde da noite, chegarmos à Brasília de jato.


Numa dessas viagens de domingo com parada no Rio, tinha como companhia o Dorileo , vice-reitor acadêmico e o Edson de Souza Miranda, assessor financeiro da reitoria.


Chegamos ao Rio de Janeiro bem no início da tarde e fomos descansar em um hotel de Copacabana.


Antes do voo para Brasília, que saia do Rio às 23:30 horas, fomos jantar.


Chegando à pizzaria eu e o Édson, pedimos uma exuberante pizza média de mozarela.


O Dorileo pediu um prato de canja.


Durante o voo da madrugada para Brasília sentamos na fileira de três passageiros e fomos conversando.


O Édson por “ser menor” sentou-se na poltrona do meio.


Lá pelas tantas, Dorileo olha para seu relógio de pulso para conferir as horas.


Afasta a cortina da janela do avião, contempla a escuridão, volta-se para nós e exclama: vale a pena tanto sacrifício!


Às gargalhadas, o jato pousa na pista do aeroporto de Brasília.


Nós três benzemos o corpo e nos dirigimos ao Hotel Nacional, em plena madrugada de uma segunda-feira.


Na recepção do hotel constava reservado aposento apenas para mim e para o Édson Miranda.


Nosso Dorileo saca do bolso interno do paletó a carteira vermelha do Ministério Público Estadual de MT e a coloca nas mãos do gerente.


Esgotados pela longa viagem, cada qual se dirigiu ao seu apartamento, sem antes pedir à telefonista que nos acordassem às seis horas, pois às oito tínhamos uma audiência com o Ministro da Educação.


Gabriel Novis Neves

19-03-2022






segunda-feira, 21 de março de 2022

JOGADORES REFUGIADOS


Vendo jogar os grandes times de futebol do Brasil, me lembrei da época da anistia política com o retorno dos refugiados.


Naquela época era uma festa diária no Galeão, porta de entrada do Brasil para celebrar a volta dos refugiados políticos, muitos vindos da Europa.


Agora assistimos ao retorno dos nossos craques de futebol com idade não mais competitiva para jogos dos certames dos clubes da Europa.


Lembrando dos técnicos portugueses, xodó dos grandes times do nosso futebol chegando em massa, inclusive para meu Botafogo, cujo proprietário é um milionário americano.


Até craques brasileiros que jogavam na Ucrânia, estão retornando ao Brasil à procura de um clube para ser contratado, pelo menos, enquanto perdurar a guerra contra a Rússia.


É uma verdadeira farra da volta que estamos assistindo.


Isso prova que se colocarmos os cinco melhores times brasileiros para disputarem o campeonato europeu da primeira liga, com toda a certeza irão disputar lá a segunda divisão.


O time campeão do Brasil e o da América do Sul, foram transformados em abrigo de jogadores veteranos, estrangeiros e brasileiros de volta ao Brasil.


A média de idade desses atletas é muito alta e no futebol moderno desapareceu o jogador que jogava na “sombra do campo”.


Hoje é correria o tempo todo, onde atacante joga de zagueiro.


Eles têm que ter muita saúde e juventude.


Só técnica não basta.



E mais de trinta anos para jogadores de futebol da primeira divisão é muita idade, inclusive no Brasil.


Vou assistir a um clássico paulista onde os dois times são treinados por portugueses e o número de jogadores recambiados com idade avançada é elevada.


O resultado da partida confirma tudo que escrevi antes da partida.


O time que apresentou o maior número de jogadores recambiados, onde até as substituições dos atletas eram de jogadores veteranos, foi totalmente dominado pelo seu adversário com menos repatriados.


O resultado da partida foi justo, com a vitória tranquila do time mais jovem.


O técnico português dos veteranos perdeu, pois até os de Portugal não fazem milagres, mesmo no Brasil.


Na prática o time com maior número de craques veteranos perdeu.


“A teoria é uma, a prática outra”, também valendo no futebol.


Gabriel Novis Neves

17-03-2022




domingo, 20 de março de 2022

O PITORESCO XVII


Bem antigamente, musica universitária era composta e cantada por Geraldo Vandré, Chico Buarque, Paulinho da Viola e outros intelectuais. Hoje, música universitária é o sertanejo universitário e cantado por dupla de cantores de Goiás.


Na Cuiabá antiga, existia dança de homem com homem, e era chamada de dança folclórica.


Hoje, homem dança com homem e mulher com mulher e é chamado de empoderamento.


Bem antigamente, homens e mulheres escondiam esse seu gosto de dançar com pessoas do mesmo sexo. Hoje, sentem orgulho com prazer.


Na Cuiabá antiga, os pais arrumavam casamentos para seus filhos. Hoje, o facebook faz isso.


Bem antigamente, as pessoas ficavam satisfeitas, quando rapidamente, por um descuido, viam as pernas das suas namoradas. Hoje, as namoradas costumam mostrar tudo aos seus namorados.


Bem antigamente, as meninas do interior, tinham medo de vir estudar em Cuiabá. Hoje, arrumam qualquer pretexto para morar em Cuiabá.


Na Cuiabá antiga, moça de família não estudava em colégio noturno. Hoje, muitas se sentem melhor estudando de noite.


Bem antigamente, tirar nota 10 nos exames era sinal de estudo. Hoje, muitos colam para tirar nota dez.


Na Cuiabá antiga, pedalar de bicicleta à toa na rua era coisa de menino levado. Hoje, as meninas vivem dirigindo seus carros, à toa pelas ruas de Cuiabá.


Bem antigamente, poucas pessoas tinham automóvel em Cuiabá. Geralmente eram pessoas chamadas de ricas quem possuíam.

Na Cuiabá de hoje, minhas três funcionárias vêm trabalhar dirigindo seus novos automóveis.


Bem antigamente, Cuiabá não possuía sinaleiros, pois o número de veículos contava-se nos dedos da mão. Hoje, existem muitos sinaleiros, mas os carros não andam pelo grande número deles.


Bem antigamente, engarrafado era o que vinha dentro da garrafa. Hoje, engarrafado é o trânsito de Cuiabá.


Bem antigamente, aproveitavam-se as quedas de água para produzir energia elétrica. Hoje, tem Presidenta tentando engarrafar o vento para produzir energia.


Na Cuiabá antiga, a energia elétrica vinha do Rio da Casca, na Chapada dos Guimarães. Hoje, vem do Paraguai.


Bem antigamente, tentou-se transferir a capital do Estado, para a Chapada dos Guimarães. Hoje, Cuiabá continua capital, por Chapada não possuir rios.


Bem antigamente, acertar no milhar era acertar no número do jogo da loteria federal. Hoje, temos a mega-sena no valor de 190 milhões de reais.


Na Cuiabá antiga, ser trator era passar por cima de tudo que encontrasse pela frente. Hoje, quem faz isto é o vírus do Covid.


Bem antigamente, existia a história do gato procurando o rato. Hoje, se procura o salarinho no final do mês.


Bem antigamente, Mato Grosso era terra

de índios. Nunca conseguiu eleger um índio. Hoje, quem elegeu um índio de MT para o Congresso Nacional foi a Cidade Maravilhosa que matou todos os seus índios.


A Cuiabá antiga elegia pantaneiros e homens de negócios para ser seus governantes. Hoje, só se elegem os candidatos da soja, que vieram do Sul com a pretensão de nos colonizar e estão conseguindo.


Bem antigamente, político se elegia por serviços prestados. Hoje, é pelo saldo bancário.


Na Cuiabá antiga, cabo era um soldado raso qualificado. Agora, temos até cabo eleitoral.


Bem antigamente, coronel tinha votos certos. Na Cuiabá de hoje, cabo eleitoral não tem voto e é uma profissão como outra qualquer, até com piso salarial.


Na Cuiabá antiga, cabo eleitoral, dizia ter tantos votos que deveriam ser candidatos. Hoje, se julgam importantes na época das eleições.


Bem antigamente, os candidatos faziam suas campanhas políticas. Hoje, todo candidato tem o seu marqueteiro.


Na Cuiabá antiga, ninguém ia à conversa de quem era teórico em campanhas políticas. Hoje, uma boa mala de dinheiro ganha eleições.


Gabriel Novis Neves

04-02-2022