sexta-feira, 18 de março de 2022

MÉDICO REITOR


Durante meu mandato para a implantação da nossa universidade federal (1971-1982), exerci na reitoria “o cargo” de médico generalista, ainda existente naquela época.


A professora responsável pelo ensino integrado na área de saúde veio à reitoria para uma audiência de rotina sobre a implantação do novo sistema de ensino.


Logo que iniciamos a conversa notei que a professora era portadora de uma exoftalmia.


Perguntei se ela estava em tratamento médico.


Diante da sua resposta negativa, insisti perguntando se ela tinha notado algo diferente nos seus olhos.


Também me respondeu que não.


Parei de despachar e informei a professora que trabalhava na área de saúde já repleta de médicos especialistas, sobre a doença benigna que estava acometida.


Encaminhei-a, a um cirurgião que operava pescoço.


Depois de tratamento hormonal, já operada da tireoide e sem exoftalmia, voltou ao trabalho.


Outra ocasião encontrei um dos jovens auditores da universidade nos corredores da reitoria.


Estava bem ictérico. Perguntei se estava doente. Ele me respondeu que não.


E a icterícia?


Falou que estava tomando chá indicado pela sua mãe. Continuou trabalhando normalmente e se curou.


Era uma icterícia viral.


Todas as crianças da minha geração foram acometidas desse tipo de icterícia.


O tratamento era bem diferente, pois além do chá, ficávamos cerca de trinta dias em repouso absoluto, em quarto fechado com meias nos pés e gorros.


A alimentação era rica em carboidratos e até hoje, não consigo tomar sopa de batatas. Sobremesa de suspiros, que saboreio com prazer.


Quase todos os dias deixava o carro no estacionamento da piscina e vinha caminhando pelo campus, conversando com jardineiros, pessoal da limpeza, alunos, professores e terminava com a turma do “casarão”.


Logo que o governo do Estado adquiriu os 60 hectares para a construção da cidade universitária no Coxipó da Ponte, o primeiro prédio a ser construído bem aos fundos do terreno, ganhou o apelido de “casarão”.


Servia de moradia para professores do ensino fundamental de todo o Estado para treinamento e atualização.


Vários funcionários humildes me pediam para fazer o pré-natal e parto das suas mulheres, o que fazia com prazer no Hospital Geral e Maternidade de Cuiabá.


Muitas professoras e esposas de professores também consultavam comigo.


Ajudei por razões sociais muitas a fazerem planejamento familiar.


Mesmo depois de vencido o meu mandato na reitoria, continuei atendendo no meu consultório mulheres de servidores, professoras e filhas dos meus colegas da universidade, até o fechamento do meu consultório.


Foi uma bela experiência humana e profissional de ser reitor e médico, que atendia aos seus funcionários e alunos, como ginecologista.


Gabriel Novis Neves

16-03-2022




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