segunda-feira, 28 de fevereiro de 2022

PLANTÃO DE CARNAVAL QUE ME MARCOU


No Rio de Janeiro, a partir do 5º ano de medicina, sempre dei plantão de 24 horas no Hospital e Maternidade Pro-Matre às segundas feiras, dia do célebre baile à fantasia do Theatro Municipal.


Nas terças, seis horas (14-20hs), e domingos alternados, podendo ou não cair no carnaval o meu plantão das (08-20hs), no Hospital e Pronto Socorro Municipal Souza Aguiar.


Meu estágio por concurso na Pro-Matre iniciou no 5º ano de medicina.


Em fevereiro estava no 6º ano, sendo responsável pela turma nova, que iniciava seu estágio em janeiro.


Alguns nunca haviam sequer feito um parto, muito menos auxiliado uma cesariana ou feito uma curetagem, as ocorrências mais frequentes dos plantões.


Era uma segunda-feira de carnaval à noite. O plantão estava sob controle.


O chefe de plantão, professor da universidade, me chama e diz: está tudo bem.


Vou sair um pouquinho para sapear a entrada do Baile de Gala do Theatro Municipal.


Você tem condições de me substituir (estava no início do 6º ano).


Qualquer coisa me procura. Não irei demorar, e se foi.


Foi o tempo suficiente para internar uma gestante com prenhes ectópica rota e sangrando muito.


Precisava ser operada com urgência e com transfusão de sangue, pois estava muito anêmica devido a grande quantidade de sangue perdido.


Já tinha sido auxiliar desse tipo de cirurgia, porém nunca tinha operado.


Não encontrei o titular e chefe do plantão.


Naquela época nem se pensava em telefonia móvel.


Procurei não demonstrar insegurança aos meus calouros, que iriam me auxiliar no procedimento cirúrgico.


Lá pelas quatro da madrugada retornou o chefe de plantão todo alegre, contando sobre as celebridades que tinha visto do “sereno” (termo utilizado para aqueles que ficavam na porta do Theatro), e de suas maravilhosas e caríssimas fantasias.


Depois de contar como foi a sua noite do 2º dia de carnaval, me perguntou como estavam as coisas no plantão.


Tudo bem professor, foi a minha resposta.


Gabriel Novis Neves

26-02-2022





domingo, 27 de fevereiro de 2022

PITORESCOS XIV


Bem antigamente no Brasil só existia um time “grande” de futebol com as cores branco e preto em verticais, na sua camisa. Era o Botafogo de Futebol e Regatas do Rio de Janeiro.


Na Arena Pantanal tive a impressão que era o Fogão quem jogava contra o Flamengo.


Nas comemorações da super Copa Brasil eu tive a certeza, pelas cores da camisa, ser o Fogão de Garrincha, Didi, Nilton Santos, Amarildo e Zagalo, o Campeão.


Durante muito tempo o Galo foi filial do Fogão.


Na Cuiabá antiga, o povo só saia em massa à rua nas procissões de São Benedito. Hoje, para assistir futebol na Arena Pantanal


Bem antigamente, os ônibus que transportavam gente para festa era sempre alegre. Hoje, voltam do estádio de futebol na maior tristeza.


Na Cuiabá antiga, não existia internet. As gozações após as partidas de futebol eram feitas nas portas do bar do Bugre. Hoje, logo após qualquer evento importante, a internet está repleta de memes.


Bem antigamente, Cuiabá era conhecida como cidade onde existiam onças. Hoje, ficou conhecida como a cidade do galo.


Na Cuiabá antiga, algumas pensões serviam arroz com carne de “urubu”. Hoje, servem arroz com carne de “galo”. Urubu é como chamam o Flamengo. Galo é o Atlético Mineiro.


Bem antigamente, a única estação de rádio de Cuiabá funcionava com apenas dois funcionários. Hoje, só a Globo, lotou um hotel com seus funcionários para transmitirem o jogo do Galo com o Urubu.


Na Cuiabá antiga, jogador de futebol era trocado por um par de chuteiras para clubes do Rio de Janeiro. Hoje, jogador de grande clube do Rio, compra time inteiro de futebol de Cuiabá.


Bem antigamente, jogador de futebol no Brasil geralmente era brasileiro. Hoje, são tantos estrangeiros que jogam em clubes brasileiros, na 1ª e 2ª divisão, e muitos ficam na reserva dos titulares estrangeiros. Os técnicos também são estrangeiros.


Na Cuiabá antiga, aos domingos era dia de assistir touradas no Campo d’Ourique. Hoje, touradas são assistidas em jogos de futebol na Arena Pantanal.


Bem antigamente, pantanal ficava no pantanal. Hoje, a Arena Pantanal fica no cerrado cuiabano.


Na Cuiabá antiga, todo torcedor de futebol assistia às partidas com as suas habituais camisas de uso diário. Hoje, vão vestidos com a camisa do seu time.


Bem antigamente, um raio não caia duas vezes num mesmo local. Hoje, os raios do Huck caíram três vezes nas redes do Flamengo.


Na Cuiabá antiga, no ano em que nasci nossa cidade não tinha 30 mil habitantes. Hoje, esse numero de pessoas estava na Arena Pantanal.


Bem antigamente, jogador de futebol ganhava uma merreca. Hoje, só tem salário menor que modelos de revistas masculinas ou dançarinas de TV.


Na Cuiabá antiga, craque de futebol casava com filha do presidente do clube.

Hoje, o craque costuma arrumar emprego para o presidente do clube.


Bem antigamente, ninguém sabia que a introdução do hino nacional possuía letra. Hoje, ninguém conhece a letra da introdução e do hino nacional, e nem a boca abrem durante a execução do Hino Nacional. A não ser para mascar chicletes.


Na Cuiabá antiga, prestava-se homenagem a todos os acontecimentos da cidade. Hoje, prestamos homenagens ao Clube Atlético Mineiro e ao seu vice o Clube de Regatas do Flamengo.


Gabriel Novis Neves

27-02-2022






sábado, 26 de fevereiro de 2022

CARA DE CARNAVAL


Embora o carnaval possa ser festejado no mês de março, fevereiro é que tem cara de carnaval.


Com a pandemia e gente morrendo, continuaremos sem a folia do Momo.


Estou sabendo que as grandes redes de televisão, irão passar reprises de carnavais passados.


Só de sabermos que toda aquela alegria foi de um dia que passou em nossa vida, o espetáculo perde toda a sua graça.


Assim como assistimos um replay de um jogo de futebol, quando sabemos o resultado.


O carnaval está inserido numa rede de entretenimentos que gira milhões de reais, em uma grande roda de negócios.


Empresas de transportes aéreos e rodoviários. Taxistas. Hotéis, pensões e pousadas. Restaurantes, bares e botequins. Aeroportos e suas lojas e comércio os mais diversificados.


Tudo isso fica comprometido pela pandemia sem fim.


As recordações que tenho do carnaval são da minha infância no bar do meu pai.


Vendia tubos de lança-perfumes, sacos de confetes e rolos de serpentinas de cores variadas.


Atendia um ou outro mascarado que ia ao bar comprar cigarros.


Na porta do bar apreciava os carros de corso, de capote arriado com belas meninas fantasiadas, recebendo e jogando serpentinas no público que as aplaudiam.


O bloco dos mascarados com a participação das senhoras da sociedade, passavam pelas calçadas brincando com que conhecia.


O desfile dos blocos carnavalescos como o do Nhozinho do Porto, com a presença majoritária das crianças fantasiadas de índios com apitos nas bocas, fazia uma barulhada infernal.


Já no Rio de Janeiro, presenciei desfiles na antiga Avenida Central, com muitos índios e mulheres montadas a cavalo.


Depois, vi alguns desfiles na Avenida Presidente Vargas com as Escolas de Samba.


Presenciei ao aparecimento de Grupos, como o Cacique de Ramos, que lançou o magérrimo Zeca Pagodinho.


Desfilavam pela rua do Passeio passando em frente a Mesbla em direção a Lapa.


Retornei à Cuiabá e presenciei grandes desfiles de Escolas de Samba, como Pega no Meu, Deixa Cair e Mocidade Independente Universitária.


Há muito Cuiabá não tem mais carnaval de rua e seus principais clubes sociais, onde se festejava o bom carnaval, não existem mais.


Gabriel Novis Neves

22-02-2022






sexta-feira, 25 de fevereiro de 2022

PISTOLEIROS INTELECTUAIS


Bem no início das nossas atividades na UFMT, recebíamos visitas de pesquisadores, cientistas, professores estrangeiros, jornalistas do Rio e São Paulo, PHDS de grandes universidades brasileiras, que nos viam com certo desdém.


Nosso corpo docente na época não possuía pós-graduação, nossos cursos estavam em fase de análise de aprovação pelo Conselho Federal de Educação, não possuíamos teses dos nossos professores publicadas nas conceituadas revistas científicas.


Éramos uma universidade vivendo momentos iniciais de implantação com todas as fragilidades de uma universidade nova.


Não tínhamos, porém, vícios ou defeitos das grandes universidades, escondidas em estatísticas.


Para evitar constrangimentos da nossa parte, criamos os chamados “pistoleiros intelectuais”.


Eram professores e técnicos com conhecimentos acima da média dos nossos “visitantes”.


Assim, no 1º ano de mandato de Reitor, aceitei o convite para realizar uma palestra para a associação dos alunos da escola superior de guerra, e chamei o Wlademir Dias Pino para me ajudar.


O tema seria educação superior e com que quadros iriamos implantar a nossa UFMT.


Cobrava do Wlademir os slides da palestra para treinamento daquilo que iria dissertar aos alunos.


Ele me enrolou, e no dia da conferência, me disse que para não ficar “desmoralizado” e fosse “bombardeado” por perguntas impossíveis de responder naquele momento, me apresentava a seguinte opção.


Os alunos eram professores universitários, muitos de Direito, profissionais liberais, políticos, empresários, enfim a nata da sociedade cuiabana.


A estratégia dele seria a seguinte: eu levaria em mãos, uma série de fichas com conceitos sobre educação superior. Enquanto lia, o auditório com as luzes apagadas me ouvia, e ao mesmo tempo eram projetados por ele, conceitos diferentes de educação para a plateia ler.


Os alunos prestavam atenção no que liam, e ouviam ao mesmo tempo conceitos diferentes dos projetados.


Depois, de trinta minutos ninguém mais estava interessado na palestra.


Sob aplausos, e nenhuma pergunta dos alunos, o presidente da mesa diretora encerrou a atividade.


Semanas depois, encontrei com o diretor da Faculdade de Direito, presente ao ato.


Ele me deu um conselho: sabia das dificuldades de implantar uma universidade distante dos centros desenvolvidos.


Porém, da próxima vez, deveria ter o cuidado de escolher um funcionário melhor para projeção dos slides.


A palestra tinha tudo para ser excelente, mas não havia sincronismo no que eu falava e era projetado, causando enjoos e dor de cabeça nos assistentes.


Estava implantada com sucesso, “os pistoleiros intelectuais da UFMT”!


Faziam parte do grupo: o Wlademir Dias Pino, Pedro Paulo Lomba, Raul José do Zoológico e João Vieira, único que possuía curso superior e lecionava sociologia.


Quando à barra ficava muito pesada, os levava para passar uns dias no Utiariti, para conhecer o hospital indígena.


Assim, cresceu a UFMT.


Gabriel Novis Neves

17-02-2022




quinta-feira, 24 de fevereiro de 2022

CONSEQUÊNCIAS DAS MUDANÇAS


O gabinete da reitoria da UFMT, de março de 1971 até fevereiro de 1982, mudou quatro vezes.


Na época não contávamos ainda com o uso de computadores.


Nossos documentos eram datilografados e guardados em pastas nos armários da secretaria.


A correspondência recebida tinha o mesmo tratamento.


Quatro mudanças com papéis é um desastre, por ser impossível não perdermos alguns.


Wlademir Dias Pino, nosso programador visual, autor da logomarca da universidade e esculturas de acesso ao campus e em frente ao teatro, também mudou muito, sempre acompanhando a reitoria.


Não suportando os seguidos deslocamentos do seu local de trabalho, me procurou pelo numero de papéis que tinha perdido.


Confessou-me que embora seus novos locais de trabalho sempre fossem mais confortáveis, me disse que três mudanças correspondiam a um incêndio.


Ele tinha toda a razão.


Quando me mudei da rua Major Gama, para meu endereço atual, perdi muitos documentos históricos, que muita falta me fazem hoje!


Eram cartas, bilhetes, pedidos recebidos de autoridades civis, politicas e religiosas de uma época histórica.


Os assuntos eram os mais variados, indo do simples pedido de transferência de um aluno, ao problema da evasão de religiosos da congregação e seus aproveitamentos pela universidade.


Essa inserção de ex-padres e irmãs de caridade na UFMT, pelos seus currículos, não agradou o Arcebispado.


Fui até lembrado de ter Dom Aquino como meu padrinho. E aquela minha atitude não era compatível a de um afilhado do querido Arcebispo de Cuiabá.


Enfim, eram tantos os “confidenciais” que perdi com as minhas mudanças!


A mais incômoda correspondência eram minhas frequentes convocações para depoimentos ao Serviço Nacional de Informação (SNI).


Diziam para mim: o senhor não é comunista, mas está cercado de comunistas na sua administração inclusive de um notório comunista que esteve com Che Guevara na Bolívia.


Outro incômodo foi à luta que mantive durante todo o meu período de reitoria, para não implantar na UFMT, uma Agência do SNI.


Chegaram até a me indicar um militar da reserva para ser o chefe.


Dava por desentendido para evitar que todos os meus atos passassem pela sua aprovação.


Nossa universidade era a única sem esse serviço.


Em algum lugar, que não é a UFMT, onde estão esses documentos históricos?


Alguns consegui salvar e estão comigos.


Outros o Fernando Pace guardou e há pouco faleceu.


Gabriel Novis Neves

18-02-2022




quarta-feira, 23 de fevereiro de 2022

OUTRAS SALAS DE PARTOS


Com a conclusão do 1º Bloco do Centro de Ciências Exatas e Tecnológicas, construção que começou dos fundos para frente e abrigam três blocos, a “sala de partos” mudou de endereço.


Saiu do quartinho de depósito do Centro de Ciências Sociais para uma sala bem maior do Centro de Ciências Exatas e Tecnológicas.


A execução foi assim projetada para fugir de um enorme aterro, de custo financeiro elevado.


Essa Sala de Partos recebeu visitas ilustres como a do Presidente Geisel, ministros, intelectuais como Antônio Calado, Nelson Pereira dos Santos, o cientista e médico Paulo de Almeida Machado que foi Presidente do Instituto Nacional de Pesquisas Amazônicas (INPA) e Ministro da Saúde, fundador da revista Veja (Roberto Civita).


Essa “sala de partos” ficou marcada pelo reconhecimento dos seus cursos pelo então Conselho Federal de Educação.


O de engenharia civil foi festejado com um tremendo carnaval, com bateria da escola de samba, pelos alunos da 1ª turma no laboratório de materiais de construção.


Participaram além dos alunos, professores, servidores e o reitor!


Quando ficaram concluídos o 2º e 3º blocos, a “sala de partos”, mudou para um espaço maior e planejado, com gabinete e secretaria da reitoria, com divisórias de madeira, frente para a praça do restaurante universitário ao lado do Zoológico.


O sofá de couro com poltronas adquiridas na ocasião, até hoje são usadas na 4ª “sala de partos”!


Foi o período que o nosso campus era um verdadeiro canteiro de obras.


Ministros como o da Educação, Saúde, Interior, Agricultura, Minas e Energia, Aldo Rabelo (Presidente da UNE), governador e secretários de Estado, reitores de outras universidades, professor Adib Jatene, arquiteto Sérgio Bernardes, mestre Linaldo Cavalcanti, maestro Radamés Gnattali, cantora Elizeth Cardozo, violonista Turíbio Santos.


Com a inauguração de parte do prédio da Biblioteca Central, a sala de partos fez a sua última mudança no meu período de reitoria.


No sofá de couro sentou o meu professor Sílvio Fraga, pai do economista Armínio Fraga, campeão João do Pulo, nossa atleta campeã que corria descalça Jorilda Sabino, o diretor de teatro Antunes Filho e a atriz Tônia Carrero.


Impossível relacionar o nome de todos os cientistas, pesquisadores, professores, escritores, diplomatas, artistas, intelectuais, políticos que frequentaram as nossas mais diversas “salas de partos”.


Há 50 anos, a reitoria da UFMT funcionou nas “salas de partos” espalhadas pelo campus.


Aguarda a construção do único prédio vertical, alojando todas as áreas administrativas no 20º andar, com vista panorâmica do campus e de Cuiabá.


Gabriel Novis Neves

17-02-2017





segunda-feira, 21 de fevereiro de 2022

SALA DE PARTOS


Assim ficou conhecido o gabinete do 1º Reitor da UFMT. Funcionava em um pequeno quarto que guardava material de limpeza do Centro de Ciências Sociais e Humanas. Ficava à direita da cantina do bloco central.


Por absoluta falta de espaço físico em 1971, tomamos essa decisão para não ocupar uma sala de aula e deixar seus alunos ao relento.


Dorileo, que era vice-reitor acadêmico, era obrigado a trabalhar em sua casa. Atílio, vice-reitor administrativo ficava girando pelos três blocos de ensino existentes, parando sempre na reitoria para despachos.


Esse “gabinete” funcionava também para as reuniões do Conselho Diretor, composto de seis membros, sempre à noite.


Foi nesse gabinete, que conheci o arquiteto paulista João Carlos Bross. Veio à Cuiabá para participar da licitação do Projeto do Presídio do Estado, que ficava onde hoje é a Trescinco.


Como havia desistido pela manhã da concorrência pública, seu retorno para São Paulo, só poderia ser realizado no outro dia.  Tinha visto na avenida Fernando Corrêa, uma enorme placa com os dizeres: “Futuras instalações da UFMT”.


Almoçou no “Hotel Santa Rosinha”, pegou um taxi e chegou ao quartinho onde funcionava a reitoria.


Apresentou seu cartão de visitas. Tinha acabado de ser o arquiteto do reitor Zeferino Vaz, na construção da Unicamp em Campinas. Resolvera se especializar no planejamento arquitetônico dos “Campi Universitários”.


Visitou durante dois meses vários “campi” nos EUA e Europa.


Falei que convidamos Oscar Niemayer para elaborar o projeto arquitetônico da nossa universidade, já que havia terminado de construir o campus da UNB (Brasília).


Na ocasião ele estava em Argel, na Argélia, (África), acompanhando a execução do seu projeto para a universidade de Argel.


Mesmo assim, com informações do seu escritório no Rio de Janeiro, tinha mandado um anteprojeto para o Governo do Estado, época em que eu era o Secretário de Educação.


Infelizmente, o Estado de Mato Grosso não tinha com bancar.


Foi então construído às pressas o Restaurante Estudantil e o Parque Aquático, com projeto da universidade de Campo-Grande que na época era estadual, bem em frente à avenida Fernando Correa da Costa.


Feita a avenida de acesso ao campus e o eixo principal, e aproveitando o projeto de uma escola de 2º grau da rua Barão de Melgaço, próxima ao Porto, foi construído prédio com 3 vezes o tamanho dessa escola, com avanço da que ficava no meio, para melhorar a estética. Recebeu o nome de “Centro de Ciências Sociais e Humanas”.


Nos fundos dos 60 hectares iniciais, mais tarde foi incorporado à UFMT, o Centro de Treinamento dos Professores do Ensino Fundamental.


Era tudo que tínhamos de área física para englobar os Cursos de Direito, Letras, Pedagogia, Engenharia Civil, Economia, Ciências Contábeis, História Natural, Física, Química e Educação Física.


Acompanhou-me na visita ao cerrado irregular cheio de buracos, e pontuou verbalmente, onde seriam alocados os principais centros de ensino, esporte e lazer, biblioteca, teatro e museus.


Contratado, fez em tempo recorde o 1º Bloco de Tecnologia, depois o 2º e 3º e, a correção da posição do Ginásio de Esportes.


Com o desenvolvimento da UFMT, nossos arquitetos ficaram responsáveis pelos projetos.


Gabriel Novis Neves 

17-02-2022






ARIPUANÃ, O PROJETO QUE VIABILIZOU A UFMT


A UFMT foi criada como Fundação, em 10-12-1971, na base aérea de Campo-Grande, pelo Presidente Médici e Ministro da Educação Jarbas Passarinho, graças ao empurrão inicial do então Ministro da Educação Tarso Dutra.


O governador do Estado ainda não dividido era Pedro Pedrossian e eu seu Secretário de Educação.


O governador escolhido para o próximo quatriênio (71-74) era José Fragelli.


Quando a nossa universidade foi criada em dezembro de 1970, o orçamento do MEC para 1971 estava “fechado” como me diziam os técnicos de Brasília.


Graças à compreensão de José Fragelli, que com recursos estaduais bancou as despesas da UFMT, teríamos uma universidade sem condições de funcionar.


Teria sido um verdadeiro aborto no primeiro mês!


A ajuda nos permitia contratar em 1971 apenas professores horistas no regime de 12 e 20 horas. Uma barbaridade para uma recém-criada universidade.


Reitor e pró-reitores eram funcionários públicos colocados, sem ônus, à disposição da universidade.


Estávamos nessa situação quando fomos chamados ao MEC.


Segundo os técnicos do planejamento, éramos a única universidade federal a não apresentar o projeto “pluri anual” orçamentária, para viabilização financeira em 1972-73 e 74!


Absurdo dos absurdos, pois nem orçamento para 1971 possuíamos!


Graças à habilidade do nosso professor de economia e assessor da reitoria para assuntos financeiros, Édson Miranda e nossos técnicos orientados por um grupo contratado em Brasília, atendemos a solicitação do MEC no prazo exíguo que tínhamos “dentro de uma exceção”.


Impedimos também que nossos próximos orçamentos ficassem “gessados” ao auxílio que recebíamos do governo do estado.


Se isso acontecesse estaríamos “fritos” como dizem os cuiabanos.


Em 1972, que na verdade foi o 1º ano da universidade, pudemos contratar professores em regime de 20 e 40h, alguns com dedicação exclusiva.


Também bons técnicos com salários competitivos ao do mercado.


Para valorizar mais os “cérebros” da universidade, sendo fundação, poderiam acumular um salário de professor com um de técnico desde que houvesse compatibilidade de horários.


Todos os anos o governo federal ajustava os salários dos seus servidores.


A inflação galopante “comia” esses aumentos.


Como éramos fundação, na 1ª semana do ano novo, reuníamos o Conselho Diretor e concedíamos um aumento superior ao dado pelo governo federal.


Lembro-me que um ano os dois aumentos perfaziam o total de 85 por cento no salário dos nossos professores e servidores.


A satisfação era geral e os pátios da universidade ficaram repletos de carros novos.


O segredo desse “milagre’ era que o Projeto Aripuanã possuía recursos próprios e prestigio para a universidade captar recursos humanos e financeiros.


A “sobra” dos recursos que deveríamos investir em “pessoal”, eram repassados para obras no campus.


Mais um pouquinho da história verdadeira da UFMT.


Gabriel Novis Neves 

29-01-2022




sábado, 19 de fevereiro de 2022

PITORESCOS XIII


Bem antigamente, os grandes times de futebol do Brasil, faziam excursões pela Europa. Venciam todos os jogos. Hoje, só jogam fora da América quando conseguem ser campeões da Libertadores, e perdem a decisão para um clube europeu.


Os times brasileiros de futebol acham os treinadores estrangeiros mais competentes e os contratam para dirigirem seus times. Para treinar a seleção brasileira, composta por jogadores europeus, o técnico é brasileiro. 


O time do Cuiabá Esporte Clube é conhecido como “Dourado”. Seu técnico é “Pintado”. Os dois peixes são encontrados nos rios do nosso pantanal.


Na Cuiabá antiga, o Palmeiras tinha muitos torcedores aqui. Hoje, time da Inglaterra tem torcida maior.


Nosso time de futebol tem nome de peixe (Dourado). O Palmeiras é “porco”. Ambos não possuem o título de campeões do mundo.


Bem antigamente sábados e domingos eram dias alegres. Hoje, temos receios de “noticias tristes”.


Na Cuiabá antiga, ficar pelada era só na hora do banho. Hoje, quando diz que precisa pagar a mensalidade da faculdade.


Bem antigamente, mulher era criada para ficar em casa até se casar. Hoje, estão nos cursos noturnos e não precisam se casar.


Na Cuiabá antiga, noticia corria de boca a boca. Hoje, corre pela internet.


Bem antigamente, irmão visitava irmão. Hoje, dificilmente se falam.


Bem antigamente, conheci a “rainha” que era uma peça do jogo do xadrez. Hoje, a “Rainha é da Inglaterra”.


A rainha do jogo de xadrez comia todo mundo inclusive o “bispo”. A da Inglaterra é eterna.


Na Cuiabá antiga, xadrez era jogo. Hoje, prisão.


Bem antigamente, os médicos receitavam o uso de tornozeleiras. Hoje, o Ministério Público é quem indica.


Na Cuiabá antiga, vitimas de traumas no tornozelo usavam tornozeleiras. Hoje, grã-finos chefes de organizações criminosas.


Bem antigamente, usar revolver na cintura era sinal de poder. Hoje, quem usa é chamado de pistoleiro.


Na Cuiabá antiga, “passar a mão” era o mesmo que roubar. Hoje, é assédio e a vítima vai se queixar na polícia.


Bem antigamente, as mulheres mais velhas eram chamas de “tcha”. Na minha casa gostávamos muito da “tcha Gregória”, ótima lavadeira.


Na Cuiabá antiga, correr atrás da notícia, era saber das novidades. Hoje, saber das novidades é no salão dos cabelereiros.


Bem antigamente, as mulheres saiam com “rolos nos cabelos”. Hoje, “nem mortas”. Quando muito em programas de humor da TV.


Na Cuiabá antiga, fazer rolo era enrolar o cabelo. Hoje, arrumar confusão.


Bem antigamente, se dizia que certas mulheres “aprontavam”. Hoje, são chamadas de “barraqueiras”.


Na Cuiabá antiga, certos homens “pintavam o sete”. Nunca comparável ao que fazia Garrincha com a “camisa sete”.


Na Cuiabá antiga, o nosso vocabulário precisava de tradutor para os chegantes. Hoje, “pintam o sete” e todo mundo entende.


Bem antigamente, ficar amarelo era o mesmo que ficar sem graça. Hoje, a vida perdeu a graça e ninguém muda mais de cor.


Na Cuiabá antiga, aproveitar a vida era “pintar o sete”.


Bem antigamente,  o cuiabano conhecia um único método, para evitar a gravides das suas mulheres. Falavam que usavam “camisinha de vento”. Hoje, alguns ainda falam assim para esse preservativo.


Na Cuiabá antiga, era bonito ter muitos filhos. Hoje, sinal de irresponsabilidade.


Bem amigamente os índios tinham inveja das famílias “dos brancos” com muitos filhos. Hoje, os “casais de brancos” têm menos filhos que os dos índios.


Bem antigamente,  os índios controlavam o número de filhos, pois constantemente eram obrigados a mudar de lugar atrás de comida, e fugir do sol ou lua. Hoje, possuem celular para pedir comida pronta na pensão mais próxima da sua tribo e paga pelo PIX. Elas sempre conheceram plantas e ervas anticoncepcionais.


Na Cuiabá antiga, índio vinha à cidade para vender seus artesanatos, chamados de arte

Hoje, vem à cidade para se divertirem em festas de rodeios, com cantores sertanejos.


Bem antigamente, se fumava muito. Hoje, se fuma mais em hospitais psiquiátricos.


Na Cuiabá antiga, os alcoólatras eram internados nos hospitais gerais para desintoxicação, quando possuíam dinheiro. Hoje, os pobres alcoólatras são jogados nos hospitais psiquiatras. Geralmente fogem e são presos pela policia.


Gabriel Novis Neves

13-02-2022




CÂNTICO DOS PÁSSAROS


Este foi o motivo do meu conhecimento com o Pedro Paulo Lomba.


Carioca, tinha tido uma experiência administrativa na UFRJ.


Desempregado morando com a mãe no Rio de Janeiro, tinha contatos com os padres da Missão Anchieta no Utiariti.


Combinou que iria passar uns dias com eles, pois pretendia escrever um livro sobre o cantar dos pássaros amazônicos e depois produzir um documentário.


Sempre com dinheiro curto, pois não dava o mínimo valor ao mesmo, como constatei anos depois de convivência.


Chegando de ônibus e a pé  na casa dos jesuítas, mochila nas costas, ficou o tempo necessário para realizar o seu trabalho de gravar o cântico dos pássaros.


Pediu dinheiro aos padres para pagar a sua passagem até a rodoviária de Cuiabá.


Como não tinha dinheiro para continuar a viagem de regresso para sua casa, pediu aos padres que indicasse alguém para socorrê-lo.


Os jesuítas conheciam profundamente o diretor do Museu Rondon da UFMT, e lhe forneceram uma carta de recomendação e número do telefone do professor Vieira.


Na rodoviária, sem um único tostão no bolso, conseguiu ligar para o professor para que viesse busca-lo.


Perspicaz, o Vieira logo viu que estava com um brilhante às mãos, e levou-o para sua chácara que ficava as margens do Coxipó, onde lhe hospedou.


Conversaram durante dois dias sem parar sobre tudo.


Fui então procurado pelo professor diretor do Museu Rondon, na Reitoria.


Cientificou-me do ocorrido e disse que eu não poderia deixar de conversar com o Pedro Paulo Lomba.


Marcou para aquele dia à noite uma reunião às 20 h na sua casa.


Chegando lá, encontrei um jovem barbudo, cabelos caindo aos ombros, usando óculos redondos, calça e blusa caqui verde, e botas. Fumava cachimbo.


Era o próprio Che Guevara.


Começamos a conversa com mais uns professores “avançados” da UFMT até alta madrugada.


Perguntei se poderia ficar mais uns dias para aprofundarmos nas nossas conversas.


O ano era 1972.


Ele concordou.


Deixou Cuiabá com contrato assinado como técnico da UFMT, por não possuir diploma de nível superior para ser “professor auxiliar de ensino” e “professor colaborador” ganhava muito pouco, não dando para seu sustento.


Retornou ao Rio de Janeiro para voltar em definitivo para Cuiabá, com seus poucos pertences.


Durante o meu período como reitor foi um colaborador exemplar.


Hoje não podemos falar da UFMT sem o citar.


Trabalhou na elaboração do texto “universidade da selva”, lançado em Brasília na reunião do 1º Encontro de Reitores das Universidades Publicas do Brasil, em 17 de agosto de 1972.


Trabalhou no projeto e execução do museu Rondon, com a oca e casa da flauta ao lado do parque aquático do campus de Cuiabá e do Projeto Aripuanã que viabilizou a UFMT.


Em reunião no IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) em Brasília para aprovação do Projeto Aripuanã, com a presidência de Maurício Rangel Reis, seus técnicos, eu e o Lomba.


Em meio à discussão acalorada, um jovem PhD recém-chegado dos EUA, vendo o vasto conhecimento do Lomba, indagou qual a sua formação?


Este respondeu sem pensar: “Teoria do Conhecimento”.


Estava encerrada a discussão e o Projeto Aripuanã aprovado.


Gabriel Novis Neves

28-01-2022