quarta-feira, 16 de fevereiro de 2022

MISSÃO ANCHIETA - OUTROS FATOS


O padre Thomaz era paulista, o Adalberto cearense e o Moura não sei de que Estado era.


Adalberto morava em casa construída por ele, de madeira com cobertura de folhas de palmeiras.


Suas dimensões eram suficientes para uma cama de solteiro, minúsculo escritório, cozinha e banheiro.


Era um fino intelectual, poliglota e, como todo jesuíta, com rica formação teológica, filosófica e histórica.


Certa ocasião ele estava em casa estudando, na aldeia, quando ouviu buzina de automóvel na sua porta.


Foi saber do que se tratava.


Um motorista de taxi, que fazia ponto no aeroporto de Cuiabá, foi procurado por um passageiro que acabara de chegar.


Este lhe perguntou, em um sofrível português e com endereço escrito no papel, se poderia levá-lo à casa do Adalberto no Utiariti.


Combinaram o preço da exótica corrida e depois de muito tempo, estavam na porta da casa procurada.


Era um professor universitário do Reino Unido. Veio entrevistar o Adalberto pelas suas publicações em revistas cientificas credenciadas para sua tese de doutorado.


Adalberto me disse que quando deparou com aquele homenzarrão com terno de lã e enorme mala pagando o taxi e se despedindo do taxista, ficou logo pensando como hospedar alguém no seu barraco, especialmente como arranjar comida.


Após uns dias de gravação, o inglês, orientado pelo Adalberto, pegou um ônibus até a rodoviária de Cuiabá, depois retornando a Londres.


Levei o Adalberto para conhecer o Adauto Botelho, pois ele nunca tinha entrado em um hospital psiquiátrico.


Ele ficou assustadíssimo ao assistir a terapia pelo choque elétrico sem anestesia. Ficou dias conversando comigo sobre esse assunto.


Sempre levava o Adalberto para almoçar e jantar na minha casa da rua Major Gama, no Porto.


Uma noite o levei para jantar na melhor boate de Cuiabá - “O Balneário Santa Rosa”, no Coxipó.


Enquanto ouvíamos a musica do Dario no teclado, China no saxofone, Hélio na guitarra, ritmistas e Bráulio no vocal, saboreávamos petiscos em pequenas porções de pintado frito com molho tártaro.


No escurinho era vendido como camarão com generosas doses de uísque honesto.


Não tínhamos a mínima pressa que o nosso jantar fosse servido.


O ambiente alegre e bonito, cheio de moças encantadoras fez, lá pelas tantas, que o padre Adalberto se ajoelhasse e, de mãos postas em alta voz olhando para o céu azul cheio de estrelinhas, agradecesse a Deus pelas maravilhas mundanas da terra.


Esse era o Adalberto, autor de vários livros e artigos publicados, conhecido e admirado pela comunidade científica pelos seus trabalhos na área de antropologia.


Não tenho há anos, contato com ele.


O administrador dos padres da Missão Anchieta era o Moura.


Ele possuía procuração para receber os salários dos seus colegas na UFMT.


Também era o responsável pelo apoio logístico àqueles da evangelização.


Chegou a ser membro do Conselho Estadual de Educação, celebrava missa na Igreja do Rosário.


Reservado, mantivemos relações de amizade por muitos anos.


Gabriel Novis Neves

28-01-2022.




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