domingo, 30 de julho de 2023

PREMONIÇÃO OU SEXTO SENTIDO


Significam intuição. Eu tenho aguçado esses dois sentidos. Eles me levaram a estudar medicina.


E quantas vezes no exercício da minha profissão me senti incomodado para ir ao hospital, embora não possuísse nenhum paciente internado ou tampouco fora chamado.


E quantas vezes em lá chegando era recebido por enfermeiras que de mãos postas no telefone procuravam desesperadamente por um médico.


Isso aconteceu muito comigo, especialmente na Maternidade de Cuiabá.


Conversando com a minha mãe sobre esse assunto, ela me disse:


“Meu filho você tem o sexto sentido, por isso é médico. São pessoas que têm o dom da premonição de adivinhar o que vai acontecer”!


Quantas crianças ajudei a salvá-las graças a Deus e à minha premonição!


Recebi via WhatsApp da Presidente da Academia Brasileira de Médicos Escritores (ABRAMES) um convite para sua reunião e a programação da mesma.


No dia marcado, momentos antes do seu início, perguntei à Presidente se a reunião seria apenas presencial.


Ela me respondeu que não e eu poderia participar pelo Zoom.


Enviou-me o ID e Senha da Reunião.


Fui o primeiro participante a entrar na Sala de Reuniões pelo aplicativo do meu notebook.


Ela me viu pela tela dos participantes à distância de vários Estados do Brasil e me encaminhou um áudio pelo celular.


Ao ouvi-la, soube que o responsável pela minha presença na ABRAMES tinha falecido naquela manhã.


Era o Fábio Morinigo, mato-grossense de Corumbá e meu colega de turma de medicina de 1960 pela antiga Faculdade de Medicina da Praia Vermelha, da Universidade do Brasil.


Disse que abriria a sessão pedindo um minuto de silêncio e me concederia a palavra para falar do meu amigo.


Fábio Morinigo, por nós chamado de paraguaio, pelo sobrenome e ter nascido na fronteira com o Paraguai, era um imenso de bom caráter.


Estudioso, católico praticante desde os tempos de estudante, após formado fez carreira brilhante no Rio de Janeiro, sendo Diretor Geral do Hospital dos Servidores do Rio, quando lá se praticava a melhor medicina do Brasil.


Professor universitário, era clínico geral e endocrinologista.


Escreveu vários livros sobre medicina e participava de várias academias.


Era um entusiasta participante da ABRAMES.


A sessão solene que o Fábio não pode comparecer, por pertencer a outro Plano Espiritual, era de posse de um novo acadêmico.


A vida é assim: uns chegam, outros partem.


A morte sempre é notícia e a cura anônima.


Continuarei enviando as minhas crônicas diárias para o seu celular.


Ele gostava e sempre me respondia.


Três dias antes do seu falecimento enviei-lhe: “A história escrita e oral” e ele me respondeu:


“Deus seja louvado”!


Gabriel Novis Neves

28-07-2023





sábado, 29 de julho de 2023

A COSTUREIRA


Os contos da escritora cuiabana Sueli Rondon são fatos verdadeiros da Cuiabá antiga.


Lembro-me perfeitamente, no meu longínquo passado, dos lugares e seus personagens.


Meu pai sempre se referia a uma tal de Maria Perna Grossa, mas sem entrar em detalhes.


Naquele tempo as mulheres usavam combinação e vestido longo até os pés.


O pouco que aparecia era chamado de perna, que era grossa comparada aos tornozelos.


“O Bolicho” é um conto delicioso, pois resgata a história dos antigos bolichos, substituídos pelos modernos armazéns.


Fazia compras caseiras para minha mãe, e baunilha para a sorveteria do bar do meu pai, pelos bolichos do hoje abandonado Centro Histórico de Cuiabá.


Lá se encontrava de tudo que se precisava em casa, inclusive ervas e folhas medicinais e fumo de rolo para fazer cigarro de palha.


Como tenho saudades da velha Cuiabá com seus lugares e personagens.


Da rua 13 de junho com suas lojas de tecidos e vestidos feitos, pendurados em suas portas.


Mas vamos a mais um conto da Sueli, desta vez sobre “As Costureiras”:


“Mãe, me faz um vestido?


Sim minha filha, assim que terminar esta encomenda eu faço.


Mãe, e o meu vestido?


Quando a senhora iniciará o feitio?


Calma minha filha, eu preciso primeiro terminar os vestidos das filhas da dona Zilda.


Você sabe como elas são enjoadas.


Vão procurar defeito para regatear o preço.


Está bem Mãe.


Pensou nas roupas desfraldadas ao vento, penduradas em cabides nas portas da Rua treze de junho.


A mãe disse um dia, filha agora tenho tempo, pode trazer o tecido.


Entreguei a encomenda em fim.


Ela se lembrou das roupas coloridas sem o corte perfeito penduradas nos portais da loja.


Olhou o rosto cansado da mãe e respondeu:


- Não precisa mãe, já resolvi.


Comprei um vestido pronto que estava na vitrine da rua Gabriel de Matos”!


Gabriel Novis Neves

21-07-2023







CONVERSA DE BISNETAS


Ganhei, por enquanto, apenas duas bisnetas chamadas Maria.


A mais velha que é a Maria Isabella e completou seis anos de idade no mês de março passado, é irmã do João Gabriel de dois anos completos, e é filha da Camilla e Helinho.


Sua madrinha de batismo é a sua tia Isabelle, irmã da Camilla e seu padrinho, o marido da sua tia e madrinha, Mikael.


A outra bisneta é a Maria Regina, que completará cinco anos em setembro próximo, é filha de Isabelle e Mikael.


Sua madrinha de batismo é a sua tia Camilla, irmã da Isabelle e seu padrinho, o marido da sua tia e madrinha, Helinho.


Maria Isabella é homenagem que Camilla prestou a sua irmã, e Maria Regina é uma homenagem da Isabelle a sua avó Regina.


Camilla e Isabelle foram criadas muito unidas, verdadeiras irmãs e continuam até hoje.


Suas filhas são primas irmãs e eu as chamo de irmãs primas, de tão unidas e amigas que são.


Frequentam as mesmas escolas e onde uma vai a outra vai atrás.


Vestem roupas sempre iguais e até as suas tranças de cabelos têm o mesmo comprimento chegando à cintura.


Elas se chamam por seus apelidos: Bella, é a Maria Isabella e Nina é a Maria Regina.


Gostam de comemorar seus aniversários e comparecer aos dos seus amiguinhos.


Aqui em casa são comemorados todos os aniversários da família e elas são responsáveis pelos parabéns a você e a música sacra da benção.


Também sopram e apagam por várias vezes, as velinhas do bolo.


Os preparativos para o aniversário da Nina em setembro já iniciaram, e sua mãe Isabelle gravou o seguinte diálogo entre elas, sentadas no chão da sala da sua casa.


Nina: sabe o biso que a gente almoça quando to de férias?


Sim. O que que tem?


Nina: ele já foi no meu aniversário?


Isabelle: acho que já filha, quando você era bebê.


Nina: a Bella disse que ele só foi no dela, meu ele nunca foi. Quero tanto que ele vá no da barbie!


Depois de ouvir esse diálogo de sofrência, com todas as minhas limitações de locomoção, em vou!


Gabriel Novis Neves

27-07-2023




quinta-feira, 27 de julho de 2023

PENSAR NO PASSADO


O velho não deve pensar no passado.


Faz mal quando isso acontece.


Surgem as lembranças de tempos atrás.


Tenho muito mais prazeres que perdas, mas são estas que me vem à memória.


Ultimamente tenho lembrado diariamente dos meus pais, minha mulher, irmãos, amigos que já não estão conosco.


Procuro ouvir pelo youtube músicas para me distrair, e as antigas são as que mais me atraem.


Elas me levam a um passado longínquo que me trazem recordações de um tempo que passou e não volta mais.


Toda regressão é mais dolorosa nos velhos, que têm poucos anos de vida na Terra.


Que coisa difícil é a velhice quando existe muito mais tempo vivido!


O futuro é sempre incerto.


Tenho que estar ocupado o dia todo para não ter tempo de ficar pensando.


É isso que faço escrevendo e cuidando da casa.


Ninguém me ensinou e foi o jeito que consegui para não pensar no passado.


Procurei meus contemporâneos que ainda estão entre nós e perguntei se isso também acontecia com eles.


Responderam que tinham um passado mais de perdas que eu, entretanto nunca sentiram o que eu sinto.


Não sei trabalhar com perdas, e no meu caso não deveria envelhecer.


Quando não estou no escritório, lugar em que não penso do passado, tenho que estar brincando com os meus bisnetos.


As duas Marias, a Isabela e Maria Regina, me encantam com as suas conquistas.


Estão na pré-escola, frequentam aulas de balé, estão aprendendo a cantar, tocar piano, inglês e natação.


Sabem atender o celular e trabalham bem com o iPad.


São católicas praticantes de frequentar as missas dominicais e são verdadeiras “irmãs-primas” e muito unidas.


O João Gabriel, de dois anos, acompanha as Marias; é esperto, adora falar por vídeo chamada pelo iPhone.


Entende quase tudo que falam com ele e já fala alguma coisa.


Meu outro bisneto de quase cinco anos nasceu em Portugal e está sendo educado lá, pois seu pai é português.


Algumas vezes já veio à Cuiabá, sendo aqui batizado.


Conhece o seu biso e conversa muito com as suas primas Marias por vídeo chamada.


Essa minha terceira geração evita que eu pense no passado.


Pena que esses encontros não sejam diários!


Gabriel Novis Neves

17-06-2013


La Roue de la Fortune. Calque de Miniatures de l’ Hortus Deliciarum de Herrade de Landsberg. Paris: Bibliothèque Nationale de France (Dept Estampes Ad 144 a)

N.E.:

A imagem acima contém os quatro estágios simbolizados pelos quatro personagens em torno da Roda:

1) regnabo (eu devo reinar: figura em cima, do lado esquerdo da Roda, com o braço direito erguido) 

2) regno (eu reino: figura em cima da Roda, freqüentemente coroada, para significar o reinado) 

3) reganvi (eu reinei: figura que está do lado direito da roda, caindo da graça) 

4) sum sine regno (eu não tenho reino: figura na base da roda que perdeu completamente os favores da Fortuna. Esta pessoa é as vezes completamente jogada da Roda ou esmagada por esta, sem nenhuma chance de reinar de novo) (STRAYER: 1983, p.145-147).

Vista pelos antigos como deusa do acaso, a Roda da Fortuna na Idade Média representava tanto a Roda da Vida, que elevava o homem até o alto antes de deixá-lo cair de novo, como a Roda do Acaso, que não parava nunca de rodar e indicava a mudança perpétua que caracteriza a natureza humana (BIEDERMANN: 1996, p. 591).

quarta-feira, 26 de julho de 2023

SE A CIÊNCIA NOS AJUDAR


Seremos os maiores exportadores de fezes do mundo para uso de transplantes, segundo os cientistas da universidade federal de Minas Gerais.


Esse estudo foi feito analisando as fezes de brasileiros e a de americanos.


Ficou constatado que as fezes dos brasileiros têm o dobro de uma bactéria que a dos americanos.


São bactérias existentes no trato intestinal que combatem com êxito, em testes experimentais, as bactérias causadoras de doenças intestinais crônicas, infecciosas, inflamatórias.


Será que o pessoal do agronegócio já está construindo armazéns especiais para estocar fezes e transferi-las pelas novas ferrovias das fezes com vagões a baixíssimas temperaturas para o não deterioramento, inicialmente até Belo Horizonte?


Depois, com certeza teremos os navios para enviarem aos outros centros de indústrias farmacêuticas existentes pelo mundo e transformados em medicamentos para transplante de fezes.


Outro problema que deverá ser estudado é em que regiões do Brasil essa coleta será mais produtiva.


Acredito que onde se come mais a produção de fezes será maior.


Já no nordeste brasileiro, periferia das grandes cidades, área rural, moradores de rua, desempregados, subempregados, trabalhadores de um salário mínimo, e pacientes com doenças intestinais, a coleta de fezes será insuficiente.


Como será coletado e transportado esse material até os armazéns especiais para seu armazenamento?


Existem muitos problemas de logística e juristas para serem resolvidos, como o preço do quilo de fezes, que deve ser regulamentado por lei, para posterior aprovação do Congresso Nacional e publicação no Diário Oficial da União.


Esse novo programa ficará subordinado ao Ministério da Agricultura ou Ciência e Tecnologia?


Como se fará a pesagem do material, haverá necessidade de emitir nota fiscal e pagar o carnê leão?


A venda de fezes será individual, por família, edifício, bairro ou cidade.


O comprador paga na hora que pegar as fezes em moeda de que país?


Será que haverá contrabando de fezes ou tráfico internacional, e esse novo negócio irá interessar aos bicheiros e poderá ser negociado na Bolsa de Nova York, Pequim, Nova Zelândia, Tóquio, Londres e Paris, por exemplo?


É seguro investir em fezes, e se quebrar a bolsa de NY as ações das fezes despencam?


É a primeira vez que uma pesquisa científica médica de importância mundial não é realizada por pesquisadores israelenses, e sim de Minas Gerais.


Vamos esperar para ver como fica o transplante de fezes no Brasil, se a ciência nos ajudar.


Gabriel Novis Neves

20-07-2023




terça-feira, 25 de julho de 2023

PESQUISANDO


Estou disciplinadamente sentado em frente ao meu computador como faço todas as manhãs procurando notícias para escrever a minha crônica.


De cara encontro uma até então inédita para mim, e acredito para a maioria dos leitores.


Diz a matéria, que está na rede mundial da internet, que cientistas estão trabalhando há anos para conseguirem fazer chegar até à classe médica um novo e eficiente tratamento para a cura das doenças intestinais, diarreias crônicas, infecções e inflamações intestinais.


Esse método consiste no transplante de fezes.


Não sei como isso vazou dos laboratórios de pesquisa e chegou aos meios de comunicação, que rapidamente se espalhou pelo mundo.


Só devemos dar credibilidade às notícias médicas publicadas em revistas científicas, e são poucas as existentes.


Num país tropical, onde são frequentes as doenças intestinais graves, imagino o que os leigos que têm acesso a matéria e são portadores de doenças intestinais estão fazendo.


O Brasil é um país de dimensões do Brasil, em que não existe a carreira de médicos, como no Judiciário, Forças Armadas, Fazenda, e faltam médicos em muitos municípios.


Temos até excessos de escolas médicas e médicos, mas nos faltam políticas públicas de interiorização.


Resultado: há uma concentração de médicos nas grandes cidades exercendo as sub-especializações.


Eu mesmo sou morador de uma cidade de 650 mil habitantes, com três boas escolas médicas, e tenho os seguintes médicos: um cardiologista geral, um cárdio de ecocardiografia torácico, um cárdio de ecocardiografia transtorácico, um clínico de doppler de carótidas, um cárdio intervencionista, um pneumo, um infecto, um gastro clínico, um ortopedista, um neuro, um reumato, um endócrino, um dermato, um otorrino, um oftalmo, um urologista, um cirurgião plástico, um imuno e um psiquiatra.


Todos esses profissionais são amparados por laboratórios de patologia geral, imagens e análises clínicas.


Para cuidar de um idoso saudável recorro a dezenove excelentes especialistas, impossível de se encontrar em uma cidade pequena.


Muitas dessas especialidades possuem subespecialidades.


Dia desses encaminhei um paciente portador de hérnia umbilical para um cirurgião geral de abdome que só opera por vídeo.


Retornado ao assunto da crônica, que é o transplante de fezes.


Qual o especialista que fará esse transplante e como será feito.


Num país onde até índios da selva manipulam o computador, e nessas áreas longínquas do nosso território não há médicos pois faltam políticas públicas, repito, têm pacientes à morte de doenças intestinais que deverão estar fazendo transplantes de fezes.


Como?


Não sei.


No Centro de transplantes de fezes da Universidade Federal de Minas Gerais fazem por colonoscopia, e seu custo é de 200 mil reais.


Está sendo realizado experimentalmente, e três pacientes transplantados tiveram resultados excelentes.


Gabriel Novis Neves

20-07-2023






segunda-feira, 24 de julho de 2023

A HISTÓRIA ESCRITA E ORAL


A escrita é aquela que aprendemos nos livros escolares e pesquisamos nos museus e arquivos.


A oral é a que presenciamos, ouvimos ou somos protagonistas e nunca a escrevemos.


A história escrita obedece a um formato do “corretamente político” – que é uma chatice - fugindo às vezes da verdade.


A oral também não é confiável, pois “quem conta um conto, aumenta um ponto”, segundo o ditado popular.


A história é um caldo interessante para os nossos humoristas.


Todos sempre utilizaram esse tema, que é a história, para lotar teatros, cinemas, circos, programas de rádio, televisão e fazer rir as plateias.


Sem esforços rimos muito com os fatos da nossa história narrada por humoristas, e que não envelhecem.


Cuiabá é uma cidade de grandes contadores de história.


Meu predileto foi o historiador Rubens de Mendonça, que antes dos trinta anos foi eleito “Secretário Perpétuo da Academia de Letras de Mato Grosso”, o único do Brasil.


Para Presidente da Academia e outros cargos na mesa diretora havia mandatos e eleições.


O cargo de Secretário Perpétuo foi o próprio Rubinho que criou, para ser seu proprietário, durante toda a sua vida.


Nunca li nada sobre esse assunto, assim como ninguém me disse nada sobre essa estranha situação.


Sua filha única e herdeira, Adélia Mendonça, me relatou que o seu pai entrou para a Academia aos 29 anos e era o mais jovem dos imortais.


Na primeira reunião da qual participou foi convidado para redigir a ata do encontro, e ele lhe autoconcedeu o título de Secretário Perpétuo.


Com o seu falecimento esse título foi extinto.


Nas minhas crônicas procuro ser o mais fiel possível ao relatar fatos que pesquisei e conheci em livros ou pela história oral.


Rubens de Mendonça foi o meu historiador e professor predileto.


Foi vizinho dos meus pais na rua do Campo, e fez muitas tarefas de redação para mim no Ginásio do Colégio dos Padres.


Quando retornei do Rio, formado em medicina, meu consultório era vizinho do seu escritório-casa, na rua do Campo (atual Barão de Melgaço).


Sei relatos da história da Guerra do Paraguai que nunca encontrei em livros, e o esforço do historiador da corte Taunay para agradar ao Imperador do Brasil Dom Pedro II.


Assim como o casamento do tenente Deodoro da Fonseca na Igreja Matriz de Cuiabá para salvar a honra da sua cunhada, esposa do capitão-médico da guarnição militar de Cuiabá.


Deodoro acabou sendo herói da Guerra do Paraguai e o primeiro Presidente da República do Brasil e não deixou filhos.


Tudo relatado por Rubens de Mendonça, em qualquer local da cidade, inclusive nas calçadas das ruas ou portas do bar do Bugre.


Os acontecimentos históricos de que fui protagonista, nunca relatei detalhes de todos seus personagens e suas atuações no processo.


Eles já partiram e decidi que esses fatos colaterais se percam com o tempo.


Assim é a história da civilização que a todos seduz e encanta nos seus mais variados relatos que chegam a nós.


Gabriel Novis Neves

19-07-2023







ESTÃO ACABANDO OS ACREANOS FAMOSOS


Com a morte do músico e compositor João Donato, ficaram apenas entre nós a política profissional Marina Silva residente em São Paulo, onde se elegeu deputada federal e é ministra atualmente, e a autora, escritora, roteirista e produtora brasileira, Glória Perez.


As outras personalidades já nos deixaram, como o jornalista e escritor Armando Nogueira, o médico e político Enéas Carneiro, Prof. Adib Jatene um dos pais da cirurgia cardíaca no Brasil e Ministro da Saúde, Jarbas Gonçalves Passarinho militar e político, sertanista Chico Mendes.


Só não tive contato pessoal com Glória Perez e Chico Mendes.


João Donato era meu contemporâneo e eu o conheci tocando piano na boate do Hotel Plaza Copacabana.


Quando podia ia ouvi-lo cantar e tocar A Rã.


Até hoje o assisto pelo Youtube para ouvir a harmonia das suas músicas e A Rã.


Foi um dos fundadores da bossa nova e sempre cantou ritmado e baixinho.


Conheci Armando Nogueira como cronista esportivo apaixonado e diretor de Jornal, Rádio, TV.


Fundador do Jornal Nacional e Globo Repórter, sendo um botafoguense roxo.


Seu corpo foi velado no Maracanã. Escreveu dez livros, todos sobre esportes.


Fez de tudo e foi tudo no jornalismo.


Enéas Carneiro foi professor de cardiologia e um dos brasileiros mais inteligentes que conheci.


Publicou vários livros e suas palestras eram concorridíssimas.


Sabia como ninguém aproveitar os minutos da televisão, e se tornou um político profissional.


Quando faleceu era deputado federal por São Paulo.


Sua votação era tão extraordinária, que com as sobras dos seus votos conseguia eleger até cinco dos seus suplentes.


De todos esses acreanos foi com Jarbas Passarinho que tive um maior relacionamento, podendo chama-lo de amigo.


Conheci-o em 1964 quando era Ministro do Trabalho e o ministério, como outros ainda funcionavam no Rio de Janeiro.


Nessa época eu já estava casado com a neta do Embaixador Coelho Lisboa e morava em sua casa na rua Paissandu.


Luís Antônio da Gama e Silva foi o Ministro da Justiça da Revolução, tinha sido Reitor da USP e chamado entre os íntimos por Gaminha.


Era parente do Embaixador e após o final do expediente ia à casa da rua Paissandu tomar whisky e conversar.


Eu participava das conversas como ouvinte, quando aprendi muita história do Brasil que não é contada em livros.


Retornei para a minha cidade natal e em 1968 era secretário de Educação do Governo Pedro Pedrossian.


Pedrossian havia sido demitido de engenheiro da estrada de ferro Noroeste do Brasil.


A oposição na Assembleia Legislativa estava toda mobilizada para o segundo processo de cassação de Pedrossian.


No primeiro o governador foi absolvido pelos braços do povo e continuou governando Mato Grosso.


Pedi autorização à Pedrossian para consultar o Gaminha, o mais duro Ministro da Justiça, do período dos militares no poder.


Fui a audiência e depois o ministro me levou ao gabinete do ministro do Trabalho, que ficava no mesmo prédio.


Ele me apresentou ao Passarinho e bateram um longo papo em minha presença.


Com a morte do Presidente Costa e Silva, Gaminha retornou para a USP e assumiu a cátedra de Direito.


Passarinho foi nomeado no governo Médici como Ministro da Educação.


Foi ele que reenviou a mensagem que Tarso Dutra tinha enviado à Junta Militar e esta devolvida à Presidência da República pelo Congresso Nacional, solicitando a criação da universidade federal de Mato Grosso com sede em Cuiabá.


Em 10-12-1970 em Campo Grande o ato de criação da nossa FUFMT foi assinado pelo Presidente Médici e Ministro da Educação Passarinho, na presença do Governador Pedrossian e eu como Secretário de Educação de Mato Grosso.


Passarinho ocupou vários ministérios em governos diferentes e eleito Governador e Senador pelo Estado do Pará, onde foi à procura do ensino e viveu.


É o único dos citados que era meu amigo.


Que saudades dos acreanos que venceram na cidade grande!


Vou ouvir A Rã.


Gabriel Novis Neves

18-07-2023





sábado, 22 de julho de 2023

AS LAVADEIRAS


A escritora cuiabana Sueli Rondon, autora do livro “A CASA DA ESQUINA” de contos e outras histórias, me enviou “AS LAVADEIRAS”, texto que passo a transcrever e no final faço algumas considerações.


“Sentada no banco de trás com o rosto colado ao vidro do carro, passando sobre a ponte Júlio Muller, a menina avistou lá em baixo, as lavadeiras.


Estavam de saias amarradas nas coxas na altura acima dos joelhos, elas labutavam.


Uma sovava a roupa branca sobre a pedra, outra, já torcia e estendia sobre o pedregulho a fim de secá-las sob o sol quente.


Crianças brincavam nas águas cálidas do rio Cuiabá refrescando-se e nadando sempre em algazarra, sem, no entanto, afastarem-se de suas mães.


Outra, ofício concluído, subia a rampa equilibrando na cabeça a enorme trouxa de roupa lavada.


Qual felizes pareciam aquelas crianças, brincando n´agua pensou.


Mais ao longe na outra margem do rio, um canoeiro deslizava sua canoa no remanso do rio, com o movimento do remo em ritmo tão suave e belo, que parecia tocar o remo ao som do violoncelo”.


Uma das tradições de Cuiabá era o seu rio piscoso, que cortava a cidade que leva o seu nome, com as suas lavadeiras e canoeiros que enchiam o seu barco de peixes.


Às suas margens inúmeros pescadores de anzol, retiravam com facilidade o pacu, seu peixe mais famoso com a tradição repetida até hoje, de que “quem come cabeça de pacu, nunca mais deixa a cidade”.


Depois da inauguração da ponte Júlio Muller (1942), muitos pescavam lá de cima e a gurizada pulava para tomar banho.


A escritora Sueli Rondon era a menina que passeava de carro pela ponte em direção a atual cidade de Várzea Grande, de “rosto colado no vidro do carro” e relata o que viu quando criança com perfeição.


O calmo rio Cuiabá, com suas lavadeiras, crianças e canoeiros.


O rio Cuiabá que a todos encantava, foi o responsável pela existência da capital eterna de Mato Grosso.


Os bandeirantes paulistas que aqui vieram buscar o nosso ouro, esbarraram no rio Cuiabá.


Do outro lado do rio, escondido nas suas matas os índios a tudo assistiam.


Os sorocabanos não sabiam pescar e muito menos se aventuravam a atravessar o rio a nado.


Os índios se enganaram considerando-os amigos e iniciaram a jogar peixe para eles se alimentarem.


Depois os conduziram de canoas para a outra margem do rio que veio a se chamar Cuiabá, nome indígena.


Os paiaguás também os levaram pelos caminhos na mata fechada até o local das minas de ouro, na região da atual Igreja do Rosário, mais conhecida como Igreja de São Benedito.


A escritora Sueli Rondon escreve regularmente sobre as suas memórias de uma menina cuiabana.


O tema das lavadeiras, canoeiros e crianças banhando no rio Cuiabá é sempre atual, dando oportunidade aos leitores de viajarem no tempo.


Gabriel Novis Neves

10-06-2023




A DESAFIADORA LUTA PELO ENSINO SUPERIOR EM MATO GROSSO


Transcrevo abaixo uma pesquisa do nosso ex-aluno de engenharia Pedro Soares.


Trata-se de um texto rico em documentação sobre a História do Ensino Superior em nosso Estado.


Ele relata a luta para a implantação do ensino superior, que começou em Vila Bela da Santíssima Trindade em 1808 e que terminou em 10 de dezembro de 1970 com a criação da Fundação Universidade Federal de Mato Grosso, com sede em Cuiabá.


Muitos dos combatentes do século passado pelo Ensino Superior não estão mais entre nós, porém, não devemos esquecê-los.


Quase 53 anos são passados e o nosso ex-aluno Pedro Soares nos convida para um voo sobre o passado.


Discutir sobre educação sempre foi prioridade de todas as classes sociais.


O trabalho compartilhado vence todas as dificuldades, mesmo quando o assunto é educação.


Vamos à leitura!


Obrigado Pedro!

 

“Compreender a Gênese, daquilo que viria a ser a nossa querida UFMT, nos convida a fazer um grande mergulho no tempo, onde os esforços para viabilizar o ingresso dos alunos em um curso superior em nossa terra identifica uma primeira semente plantada em 1934, através da Faculdade de Direito de Cuiabá.


Uma ata de reunião datada de 29 de janeiro de 1933 no antigo Lyceu Cuiabano, confirma a reunião para a fundação da Faculdade de Direito de Cuiabá, na presença de José de Mesquita, Oscarino Ramos, Oscar de Lacerda, Leônidas Mendes, Fenelon Müller, João Ponce de Arruda, Theodorico Corrêa, João Vilasboas, Albano Antunes de Oliveira Trigo de Loureiro, Arthur Mendes; Professor Phiologonio de Paula Corrêa, Professor Alcebiades Calháo, Advogado Arcílio Pompeu de Barros, Professor Francisco Ferreira Mendes, Manoel Ramos Lino, Antônio Tenuta, Octavio Cassiano da Silva, José Rodrigues Palma, Euchario Augusto de Figueiredo. 


O encontro ocorreu após o Diretor do Lyceu Cuiabano, Alcebiades Calháo, ter recebido a incumbência do Interventor Federal, Leonidas de Matos, para coordenar a criação em Cuiabá de Escolas Superiores.


Em 6 de abril de 1933, os fundadores da Faculdade de Direito de Cuyaba haviam aprovado o seu Estatuto, numa Assembleia Geral, na Diretoria do Lyceu Cuiabano, sendo o seu primeiro diretor 


Sr. Palmyro Pimenta, tendo a primeira turma 18 alunos, cujas aulas eram realizadas no Palácio da Instrução, um prédio magnífico situado no centro da cidade, inaugurado em 1914.


Entre estes alunos, estava Júlio Strübing Müller que em período recente já havia ocupado os cargos de Prefeito de Cuiabá em 1930-1932, Chefe de Polícia do Estado em 1932.


Além disso foi Deputado Estadual de Mato Grosso em 1934, vindo a ser Governador de Mato Grosso em 1937 e Interventor Federal no período de 1937 até 1945.


Getúlio Vargas foi o primeiro presidente a visitar Mato Grosso no exercício do cargo, vindo para cá no dia 06 de agosto de 1941 inaugurar um conjunto de obras realizadas, entre as quais se destacava o Palácio da Justiça que acabou sendo finalizado apenas em 1942.


Entre os anos de 1937 a 1945 o Interventor Júlio Muller realizou obras estruturantes em Cuiabá, sobre a supervisão do Engenheiro Cássio Veiga de Sá, entre as quais a Residência dos Governadores, o Grande Hotel, a Secretaria Geral, a Estação de Tratamento de água, o Palácio da Justiça acima citado, o Cineteatro de Cuiabá, a Ponte sobre o Rio Cuiabá, a Maternidade, a Estação elevatória de água, o Hotel Águas Quentes, a Usina de Pasteurização de leite, o Colégio Estadual Liceu Cuiabano, o Pavilhão de Exposição Agropecuária e a própria Avenida Getúlio Vargas.


Cabe ressaltar que neste período já havia forte movimento separatista, de maneira a eleger Campo Grande como capital, uma vez que Cuiabá era uma cidade isolada, sem estradas aos grandes centros urbanos do país, o transporte era feito por via fluvial ou por hidroavião com capacidade de apenas 4 lugares. 


Em contrapartida, Campo Grande já dispunha inclusive de linhas férreas que chegavam até as cidades de São Paulo e Rio de Janeiro, tendo também um aeroporto quer permitia o pouso e a decolagem de aviões de até 18 lugares.


Sem a realização dessas obras estruturantes no período, ficaria cada vez mais difícil a Cuiabá sustentar a condição de sede de governo, pois não tinha sequer edifícios adequados para a administração pública, muito menos um hotel que pudesse receber bem os visitantes.


Em 1936, a Lei Nº 26 de 18 de setembro de 1936 criava a Faculdade de Direito de Mato Grosso, que viria a incorporar a Faculdade de Direito de Cuyaba. Aqueles 18 alunos iniciais, por uma série de motivos, acabaram não se formando, inclusive o próprio interventor Júlio Strubing Muller. 


Todavia, já em 1939 esta Faculdade também viria a ser fechada por falta de professores, devido a Constituição Federal que foi promulgada em 1937, passando a prever a proibição de acúmulo de cargos e remuneração na administração pública, sendo os professores da faculdade magistrados ou promotores, não havendo qualquer vantagem na época em se optar pela docência.


Esta situação chegou a tal ponto que em 1939 não havia mais professores e a faculdade precisou ser fechada, os seus alunos, na época, perderam estes 2 anos de estudos e nunca foram reembolsados. 


Com a Constituição de 1946, que preveu a Educação como um Direito de Todos, houve a alteração para que juízes pudessem acumular, além da magistratura, uma função de magistério em nível secundário ou superior, fato que viabilizou em 5 de setembro de 1952 um novo esforço, criando a Faculdade de Direito de Mato Grosso através da Lei Estadual Nº 486, sediada em Cuiabá. 


Devido à enorme falta de profissionais habilitados no período, cabe mencionar que haviam no Estado de Mato Grosso, nesse período, vários magistrados e advogados leigos, pela dificuldade em suprir a falta de profissionais qualificados em várias comarcas do interior. 


Em 1954, o Liceu Cuiabano, que foi construído na Av. Getúlio Vargas, passou a ser a segunda sede de uma Faculdade de Direito em Mato Grosso.


Contudo, uma série de falhas insanáveis apontadas por uma inspeção do MEC fez a faculdade ser fechada por decreto, para fazer uma grande adequação junto a Diretoria de Ensino Superior do Ministério da Educação e Cultura, sendo reaberta em 1957, através do Decreto Lei Nº 120 de 5 de setembro de 1956, tendo o início das atividades no ano seguinte.


O Curso da Faculdade veio a ser reconhecido em 3 de dezembro de 1959 através do Decreto 47.339.


Coube ao Deputado Ytrio Corrêa a iniciativa que possibilitou federalizar esta instituição, pedra angular para uma futura Universidade em nosso Estado. 


Os bacharelandos da primeira turma desta faculdade estadual, que iniciaram os estudos em 1957, colaram grau já na Faculdade Federal de Direito de Mato Grosso em 22 de dezembro de 1961. 


Em 1966, Pedro Pedrossian foi eleito governador do estado, implantando mudanças radicais na Infraestrutura e Logística da região e mudando a forma de se fazer política, combatendo fortemente o clientelismo que reinava nas relações de poder com privilégios e oligarquias locais, o que lhe causou forte oposição, inclusive um pedido de impeachment no período.


Além da infraestrutura, priorizou a criação de uma Universidade no Estado, para que a região pudesse suprir profissionais qualificados de nível superior para ocupar as posições necessárias ao desenvolvimento e progresso do estado. 


Contudo, Campo Grande saiu na frente, criando um fortíssimo movimento pró-universidade em 4 de junho de 1967, levando o povo de Cuiabá a reagir de imediato, para não perder protagonismo.


No dia 14 de junho de 1967, por meio do plenário, a proposta do deputado Milton Figueiredo, encaminhada para o Presidente da República, Marechal Artur da Costa e Silva e ao Ministro da Educação Paulo de Tarso de Morais Dutra, reivindicava a sede da Universidade Federal de Mato Grosso em Cuiabá, endossando o projeto apresentado ao Congresso Nacional, pelo deputado Federal José Garcia Neto, no dia 27 de maio de 1967. 


Neste projeto apresentado, o deputado iniciou o discurso mostrando que o Brasil era um país que apresentava atrasos em todos os graus do setor educacional, quando comparado a outras nações.

 

Enquanto nos Estados Unidos da América havia 217 universitários para cada 10 mil habitantes; no Canadá, 130; na França 106; na Argentina, 100; no México, 60; na República Árabe Unida, 50; na Bolívia, 21; no Brasil só tínhamos 15.


Se participassem apenas, os países americanos, o Brasil, em número de universitários por habitante, só estaria à frente de Haiti, El Salvador, Guatemala, Honduras e Nicarágua. 


Em 1967, já havia faculdades de Direito, Filosofia, Ciências Econômicas e de Engenharia em Cuiabá, além de Faculdades de Farmácia, Odontologia, Filosofia e Ciências Médicas em Campo Grande.


Contudo, a maioria desses cursos ainda não era reconhecido.


De todas estas, a única instituição federalizada era a Faculdade Federal de Direito de Mato Grosso.


Contudo, o projeto de Lei do Deputado José Garcia Neto foi considerado inconstitucional, cabendo ao Deputado Federal Celso Amaral uma importante iniciativa, fazendo a apresentação de três medidas que possibilitariam agrupar as forças entre o poder estadual e federal. 


Esta estratégia abriu caminho para que uma Universidade Federal pudesse ser viabilizada nos anos seguintes, através da criação de um fundo que contaria com recursos do governo estadual e federal, da SUDAM, da SURSAN, além de alianças propostas junto a UNESCO e a OEA.


Foi então apresentado ao Presidente da República pelo Deputado José Feliciano de Figueiredo um Memorial Expositivo desses compromissos, inclusive a criação de uma taxa universitária no estado para viabilizar aporte de recursos para esta finalidade. 


Em apoio aos movimentos dos parlamentares federais, estaduais e ao povo cuiabano, o Diretor da Faculdade de Direito Federal de Cuiabá, Alcedino Pedroso da Silva assumiu o comando da Campanha Pró-Universidade em conjunto com os Coordenadores Domingos Savio Lima, Omar Canavarros, Raul Santos Costa, Édio Santana de Amorim e Dr. Jecelino Reiner, Diretor da Faculdade de Filosofia.


Nesse ínterim, Campo Grande reivindicava a Sede da Reitoria da Universidade a ser criada em 1968, havendo forte perspectiva de que a nova universidade viesse a ser instalada lá. 


Contudo, o Conselho Federal de Educação assumiu parecer desfavorável a criação de uma Universidade em Mato Grosso porque ambas as cidades não atendiam aos requisitos mínimos necessários, tendo menos de 05 faculdades de áreas diversas do conhecimento já reconhecidas, nem apresentarem uma demanda de estudantes concluindo o ensino médio que justificasse os altíssimos investimentos para se criar e manter uma universidade.


Foi sugerida então a implementação deste projeto a longo prazo.


Numa primeira etapa, poderia ser criado cursos técnicos, para num segundo momento poder ofertar cursos superiores.


Diante deste desafio, o Governador criou uma comissão de estudos para poder viabilizar uma estratégia para a Fundação da Universidade Federal em Mato Grosso, coordenada pelo Secretário de Educação e Cultura Gabriel Novis Neves.


Com participação de: Dr. Atílio Ourives do ICLC (Instituto de Ciências e Letras de Cuiabá), Dr. João Pereira Rosa que era Diretor do ICBCG (Instituto de Ciências Biológicas de Campo Grande), Dr. José Scanpini, Diretor da Faculdade de Direito de Campo Grande, Dr. Breno Medeiros de Guimarães, Prefeito de Corumbá e também o Dr. Domingos Sávio Brandão Lima, Desembargador.


O Estudo desta Comissão foi encaminhado ao Ministro Paulo de Tarso de Morais Dutra, que prometeu um rápido encaminhamento antes de deixar o seu cargo, que veio a ser ocupado pelo Ministro Jarbas Passarinho.


O Governador Pedro Pedrossian se encontrou com o novo ministro que apoiou a iniciava, de modo que em seu retorno a Mato Grosso, ele já pudesse ir preparando as condições para implementação da Universidade, que ficou sobre a Coordenação do seu Secretário de Educação e Cultura Gabriel Novis Neves.


O Governador Pedro Pedrossian enviou então a Assembleia Legislativa um pedido de autorização para vender o prédio da Imprensa Oficial do Estado para o Banco da Amazônia S.A, obtendo os recursos iniciais necessários para a construção da cidade universitária.


Ele obteve apoio dos parlamentares para a aprovação, sendo o Presidente da Assembleia naquela oportunidade o Deputado Renê Barbour. 


Foi instituída a Fundação da Universidade Federal de Mato Grosso pela Lei n. 5.647, de 10 de dezembro de 1970. O Deputado Federal José Garcia Neto, quando da aprovação do texto na Câmara fez um retrospecto de toda esta luta e salientou a contribuição de várias autoridades como o Deputado Gastão Muller e o Senador Filinto Muller. 


O Ministro da Educação e Cultura, Jarbas Gonçalves Passarinho designou, por meio da Portaria n. 126 de 16 de março de 1971, o Secretário de Educação e Cultura do Estado de Mato Grosso, Gabriel Novis Neves para responder pela Reitoria da UFMT. 


Em 5 de maio de 1971, o Presidente da República, Emílio Garrastazu Médici, de acordo com o disposto no artigo 6º da Lei n. 5.647, de 10 de dezembro de 1970, nomeou os membros titulares do Conselho Diretor da UFMT: 

• Gabriel Novis Neves e Benedito Pedro Dorileo para mandato de 6 anos;

• José Vidal e Oswaldo de Oliveira Fortes, mandato de 4 anos;

• Bento Machado Lobo e João Celestino Corrêa Cardoso Neto, mandato de 2 anos. 


Estes são os principais autores desta longa epopeia em busca da oferta de cursos superiores em Mato Grosso, de forma a usufruirmos hoje, em Cuiabá, uma Universidade Federal.


Integrando os Institutos de Três Lagoas, Campo Grande e Corumbá foi criada a Universidade Estadual de Mato Grosso (UEMT) que, após a divisão dos estados veio a ser federalizada, passando a se chamar Fundação Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) ”. 


FONTES BIBLIOGRÁFICAS CONSULTADAS PELO AUTOR:

A História da UFMT: Faculdade de Direito, Pedra Angular da Universidade Federal de Mato Grosso (1961-1976) Editora Edufmat Digital 1ª Edição Ano 2022. Autores: Rodolfo de Carvalho Ancheschi e Nilce Vieira Campos Ferreira.

Mato Grosso: Estado Solução, Editora Entrelinhas, Ano 2014. Autor José Garcia Neto

Pedro Pedrossian - O Pescador de Sonhos, Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso do Sul, Ano 2006. Autor: Pedro Pedrossian


Gabriel Novis Neves 

17-07-2023