terça-feira, 4 de julho de 2023

ANOS DECISIVOS DA MINHA VIDA - CRIADA A UFMT


Em 1969 a nossa casinha da Marechal Floriano não suportava mais eu, a Regina e os três filhos.


Tinha um pequeno dormitório onde não cabia outra cama, um quarto menor que só tinha lugar para dois berços.


A copa-cozinha ao lado, pequena sala de visitas, banheiro para uma pessoa e nos fundos, área de serviços e quarto da empregada, Mires, que era da Chapada e fazia os trabalhos da casa.


Durante o dia, a Regina “aloitava” com a escadinha de três filhos, e a noite quando eu voltava pra casa, ela estava cansadíssima.


Tomava banho, jantava e ia dormir me passando o “plantão” completamente extenuada.


A Monica não conseguia dormir à noite no berço.


Era só colocá-la dormindo, que ela acordava chorando sem parar.


Durante meses ela dormiu sentada no meu colo na “cadeira de balanço” que tenho até hoje.


A Monica usa essa cadeira de balanço para fazer os seus netos dormirem.


Observei na prática aquilo que estudei em psicologia médica.


O primeiro filho tem toda a afetividade dos pais.


Quando nasce o seu irmãozinho ele sente que vai ter que dividir esse espaço emocional e não aceita.


O segundo filho sabe que tem que lutar para conseguir parte desse espaço, já ocupado pelo seu primeiro irmão.


Começa a prestar atenção naquilo que seu irmãozinho mais velho faz e que preocupa seus pais, especialmente a sua mãe.


A Monica rejeitava as refeições que lhe eram oferecidas pela Regina e era magrinha.


O Ricardo logo percebeu como agradar a sua mãe e lambia os pratos das refeições e esvaziava as mamadeiras que lhe eram oferecidas e ganhou peso.


O Fernando, terceiro filho, “inventou uma diarreia crônica” que preocupava seus pais, pois seu tratamento era hospitalar (hidratação), quando recebia todas as atenções emocionais.


Meus filhos tiveram apelidos familiares e até hoje são chamados de Quinha, Caco e Neném, pela ordem cronológica dos seus nascimentos.


Em 1970 mudamos para um casarão, com quintal cheio de árvores frutíferas, na rua Marechal Deodoro, sem pavimentação, próxima à casa que morávamos.


Tinha compromisso com Pedrossian de ficar apenas dois meses como secretário de Educação do Estado.


Na semana que findava o meu prazo na SEC, irrompeu no ICLC (Instituto de Ciências e Letras de Cuiabá) uma greve dos seus três diretores.


Para não perder a sua autoridade o governador demitiu os três professores seus amigos, e pediu que eu escolhesse o novo Diretor Executivo do ICLC, terminando com o mal-estar.


Trouxe da Comarca de Dom Aquino, meu colega do Grupo Escolar e Colégio dos Padres – Atílio Ourives.


Por questão de lealdade e gratidão fiquei na SEC até o último dia do seu mandato de cinco anos de Governador do Estado.


No dia 10-12-1970, na Base Aérea da cidade de Campo Grande, o Presidente da República Garrastazu Médici e Ministro da Educação Jarbas Passarinho, assinaram o ato de criação da Fundação Universidade Federal de Mato Grosso, com sede em Cuiabá.


Presentes ao ato o Governador Pedrossian, maior protagonista dessa conquista dos estudantes e sociedade de Mato Grosso, com o seu SEC (eu) e autoridades.


À noite, com a casa já fechada, crianças dormindo, eu e Regina no dormitório prontos para dormir, ouvimos o barulho de forte foguetório e buzinar de carros em direção à minha casa.


A TV Centro América estava funcionando precariamente e tínhamos falta de notícias.


Nesse dia decolei de um mono-motor pilotado pelo Guilherme Alemão em direção a pista de pouso para aeronaves pequenas em Campo Grande.


A pista da Base Aérea estava fechada para pouso, apenas habilitada para o avião da Presidência da República.


Pedrossian chegou no dia anterior, e no horário previsto eu estava no local da solenidade, onde um sonho que se iniciou em 1808, ano da chegada da Família Real à Salvador (Bahia), iria ser transformado em realidade.


Chovia muito e queria trazer para Cuiabá uma xérox do ato de criação da FUFMT.


Entreguei ao Paulo Zaviaski, apresentador oficial do “Jornal da TV Centro América”, a cópia do ato mais importante do século XX para Cuiabá.


Começou a falação no Coreto do Jardim Alencastro reformado pelo Vuolo, com discursos de estudantes, líderes estudantis, associações de classe, povo e políticos em geral.


Todos se diziam “os pais da universidade” e, terminado o ato público de comemoração, uma enorme carreata foi até a minha casa.


Como a minha casa estava com as lâmpadas apagadas, o cachorro solto e latindo e "sem sinal de vida", a carreata prosseguiu pelas ruas de Cuiabá, com buzinaço e foguetório.


No dia seguinte os “pessimistas” diziam que já tinham vistos muitos atos criados, publicados no Diário Oficial da União e que não davam em nada.


Além do mais a nossa universidade havia sido criada em dez de dezembro e o orçamento para o próximo ano estava fechado e para funcionar, na melhor das hipóteses só em 1972.


Tinha também que resolver o problema político da nomeação do reitor, pois eram muitos os candidatos.


Comprei uma casa inacabada na rua Major Gama, no bairro do Porto, então 2º Distrito de Cuiabá.


Quando disse ao meu pai, ele me respondeu: “você vai morar na entrada do Morro do Tambor? “


Demorei três anos para concluí-la, e morei durante vinte anos no Porto.


Depois, me transferi para o apartamento onde moro, na antiga rua do Caixão.


Meus filhos se casaram jovens e eu fiquei só com a Regina.


O local no Porto não nos fornecia mais segurança e resolvemos viver enjaulados.


Gabriel Novis Neves

04-07-2023




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