Os contos da escritora cuiabana Sueli Rondon são fatos verdadeiros da Cuiabá antiga.
Lembro-me perfeitamente, no meu longínquo passado, dos lugares e seus personagens.
Meu pai sempre se referia a uma tal de Maria Perna Grossa, mas sem entrar em detalhes.
Naquele tempo as mulheres usavam combinação e vestido longo até os pés.
O pouco que aparecia era chamado de perna, que era grossa comparada aos tornozelos.
“O Bolicho” é um conto delicioso, pois resgata a história dos antigos bolichos, substituídos pelos modernos armazéns.
Fazia compras caseiras para minha mãe, e baunilha para a sorveteria do bar do meu pai, pelos bolichos do hoje abandonado Centro Histórico de Cuiabá.
Lá se encontrava de tudo que se precisava em casa, inclusive ervas e folhas medicinais e fumo de rolo para fazer cigarro de palha.
Como tenho saudades da velha Cuiabá com seus lugares e personagens.
Da rua 13 de junho com suas lojas de tecidos e vestidos feitos, pendurados em suas portas.
Mas vamos a mais um conto da Sueli, desta vez sobre “As Costureiras”:
“Mãe, me faz um vestido?
Sim minha filha, assim que terminar esta encomenda eu faço.
Mãe, e o meu vestido?
Quando a senhora iniciará o feitio?
Calma minha filha, eu preciso primeiro terminar os vestidos das filhas da dona Zilda.
Você sabe como elas são enjoadas.
Vão procurar defeito para regatear o preço.
Está bem Mãe.
Pensou nas roupas desfraldadas ao vento, penduradas em cabides nas portas da Rua treze de junho.
A mãe disse um dia, filha agora tenho tempo, pode trazer o tecido.
Entreguei a encomenda em fim.
Ela se lembrou das roupas coloridas sem o corte perfeito penduradas nos portais da loja.
Olhou o rosto cansado da mãe e respondeu:
- Não precisa mãe, já resolvi.
Comprei um vestido pronto que estava na vitrine da rua Gabriel de Matos”!
Gabriel Novis Neves
21-07-2023
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