domingo, 31 de julho de 2022

OS PITORESCOS XXXVI


Bem antigamente, meu avô paterno Gabriel de Souza Neves era cuiabano, filho de cuiabanos e se casou com uma carioca Eugênia de Vasconcelos. Era filha única de um gaúcho Américo de Vasconcelos e Leonarda Vasconcelos uruguaia.


Já meu avô materno Alberto Novis (médico) era cuiabano, filho do baiano Augusto Novis (médico) e da cuiabana Maria da Glória Gaudie da Costa Leite (Nharinha).


Casou-se com cuiabana Antonieta Corrêa de Almeida (Tutica).


Meus avós maternos tiveram 7 filhas e 1 filho (médico). Minha mãe nasceu na Usina do Itaicy (Santo Antônio do Leverger) que meu bisavô materno comprou de Totó Paes. Os outros nasceram em Cuiabá.


Meus avós paternos tiveram 13 filhos, sendo 5 mulheres e 8 homens, todos cuiabanos.


Meu pai era cuiabano e minha mãe do Itaicy. Tiveram 5 filhas e 4 homens (2 médicos). Todos cuiabanos.


Dos homens, um era casado com uma argentina, outro com portuguesa e dois com cariocas.


Das mulheres, duas são casadas com cuiabanos, duas com paulistas e uma com sul matogrossense.


Todos os seus netos são cuiabanos.


Dos meus três filhos (1 médico) e todos com formação universitária, são casados com paulistas.


Das minhas 5 netas (1 médica) e 1 neto, todos com formação superior, duas são casadas com cuiabanos e uma com português. A Família Novis Neves está na 6ª geração de médicos, em Cuiabá:


Augusto Novis, Alberto Novis, Oswaldo Novis, João Novis, Gabriel e Inon Novis, Fernando Novis, Atos Otávio Novis (Rio) e Natália Novis.


Tenho 3 bisnetos cuiabanos e 1 português. Assim são as famílias cuiabanas de tchapa e cruz.


A Família Novis Neves existe por causa da Guerra do Paraguai que trouxe para Cuiabá o Cirurgião da Marinha Imperial Capitão, Dr. Augusto Novis.


E o engenheiro militar gaúcho, Capitão Américo Vasconcelos, com mulher uruguaia Leonarda e filha única carioca Eugênia, para a construção do Jardim (Praça Alencastro) e Laboratório de Pólvora.


Na Cuiabá antiga as famílias eram tão numerosas que na hora de dormir os pais contavam seus filhos. Hoje, as famílias têm no máximo dois filhos, para desespero dos médicos parteiros. Minha enfermeira, técnica em enfermagem e cozinheira tem também dois filhos.


Bem antigamente, para ser bom advogado o aluno teria que ser um aluno brilhante de um excelente curso de Direito. Hoje, tem que estagiar em escritório de advogado famoso.


Na Cuiabá antiga, era muito difícil um graduado de Direito ser reprovado na prova da OAB. Hoje, difícil é quem passa nas primeiras tentativas.


Bem antigamente, os poucos médicos brasileiros eram formados em escola de medicina de Portugal. Aqui, no exercício da profissão, desconheciam as nossas doenças tropicais e eram como se fossem um presente de grego. Os nativos eram ajudados pelos curandeiros, benzedeiros e raizeiros.


Quando a Família Real veio para o Brasil, a Corte solicitou a criação de uma faculdade de medicina em 1808 em Salvador.


Na mesma data foi criada em Vila Bela da Santíssima Trindade, antiga capital de Mato Grosso, uma faculdade de medicina. Funcionou por pouco tempo pela distância do centro do poder.


E Cuiabá capital desde 08-04-1719, teve a sua faculdade de medicina funcionando em 1980, há 42 anos.


Na Cuiabá antiga, os cuiabanos estudavam medicina em Salvador, depois Rio de Janeiro. Hoje, ninguém precisa sair daqui para ser médico, pois a cidade possui três boas escolas.


Bem antigamente, os médicos usavam anel de esmeralda verde. Hoje, usam celulares ou notebooks. O curso de medicina tinha perfil masculino. Hoje, o número de mulheres é maior que dos homens. Era mais fácil atender os pacientes. Hoje, não sabemos o seu sexo de nascimento.


Na Cuiabá antiga, quem tinha barba era homem, e quem tinha seios era mulher. Hoje, tem mulher com barba e bigode casada com mulher, e homem com seios, casado com homem.


Bem antigamente, brincávamos com nossos colegas das escolas públicas e os chamávamos de neguinhos. Ninguém se zangava e a amizade conquistada era para o resto da vida. Hoje, é bulling e é motivo de processo por injúria racial.


Na Cuiabá antiga, muitos me chamavam de bugrinho e eu nunca me senti ofendido.


Bugre é como se chamam alguns índios, considerados por muitos, como população de segundo grau, preguiçosos que só sabem nadar, pescar e caçar.


Bem antigamente, os homens eram gentis com as mulheres e muitas recebiam poemas de presentes. Hoje, uma palavra mais gentil é considerada assédio sexual e escândalo pela imprensa.


Olavo Bilac, Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, Vinicius de Morais, Noel Rosa, Roberto Carlos, iriam se dar mal nos dias de hoje.


Na Cuiabá antiga, as mulheres recebiam um galanteio masculino com orgulho. Hoje, procuram a Delegacia das Mulheres para registrarem queixas de assédio sexual. As coisas ficaram tão chatas, que hoje ninguém namora ou paquera alguém. O termo é ficar. E casamento pode ser entre pessoas do mesmo sexo.


Bem antigamente atores e atrizes eram sempre héteros. Hoje, para serem aceitos para desempenharem essa arte milenar de representar, geralmente tem que ser bissexual, e declarar essa sua preferência em revistas, jornais e tevês. Curioso é que isso está acontecendo em outras profissões, chamadas de técnicas. O Pantanal com a sua novela, virou uma Torre de Babel sexual.


Gabriel Novis Neves

03-06-2022





sábado, 30 de julho de 2022

A HISTÓRIA DO CURRÍCULO


O currículo hoje é um “documento” tão importante em nossas vidas como o cpf, carteira de identidade, título de eleitor, comprovante do serviço militar e carteira de vacinação.


Esses documentos são os básicos para o sujeito ser cidadão.


Para trabalhar é necessário, em qualquer lugar, que se tenha o currículo.


Para conseguir uma vaga para menor aprendiz aos catorze anos de idade, já é solicitado, analisado e avaliado o proponente ao cargo pelo currículo.


Isso para os cidadãos comuns, não pertencentes aos QI (quem indica), aos beneficiários do nepotismo, ou aos da primeira classe (donos do poder).


Antes de terminar o ensino fundamental o aluno já aprende a construir o seu currículo, que é quase um relato de tudo que aconteceu em sua vida, incluindo as “Moções de Aplausos” recebidos das Assembleias Legislativas e Câmaras de Vereadores.


Dizem que a idade avançada paralisa o currículo, porém não acredito nessa sentença.


Só no mês de julho, aos 87 anos, dei duas engordadas no meu, de forma inesperada e desconhecida para mim.


A revisão de uma entrevista de cem páginas e a honraria recebida pela ABRAMES (Academia Brasileira de Médicos Escritores) do Rio de Janeiro.


Confesso que a revisão foi bem mais difícil, com letras tamanho doze, com vírgulas e pontos.


Nenhum parágrafo com frases parecendo mais curtas.


Certa ocasião, ainda na reitoria precisei do meu currículo.


Sou muito organizado para as coisas que julgo importantes na vida, não prestando atenção com aquilo que considero ser perfumaria, embora saiba do seu valor para a maioria.


Pedi a nossa querida amiga professora Eugênia Paredes que organizasse o meu currículo e lhe mostrei uma gaveta cheia de colares, medalhas, condecorações, homenagens, diplomas de palestrante etc.


A Regina, minha mulher tinha outros guardados em casa, desde os meus tempos de estudante no Rio.


Passados dois meses a Eugênia aparece no gabinete carregando uma volumosa pasta de papelão.


Dentro, um enorme e grosso volume em pasta com espiral.


Era o meu currículo.


Na época não existia computador.


Agradeci pelo carinho do trabalho, disse que entregaria ao MEC e pedi que me fizesse um simplificado para uso doméstico.


Há pouco simplifiquei o simplificado, e uso o currículo da vida apenas.


Isso incomoda mais os outros, especialmente os meus colegas da academia, que supervalorizam esse documento, inclusive com repercussão proveitosa em seus salários.


Não se conformam de eu não ter imprimido nenhum livro, mesmo sabendo que quero atingir meu objetivo de chegar as três mil crônicas publicadas no meu blog, quando a primavera chegar.


Perdi o encanto pelo currículo acadêmico, ao iniciar a minha vida profissional.


Estudei na melhor escola de medicina da época.


Nesses anos todos nunca um cliente me perguntou em qual escola de medicina havia estudado.


Continuei estudando, mas isso só interessa ao currículo da vida, que é do saber.


Gabriel Novis Neves

22-07-22022


Eugênia, foi escolhida para inplantar o Projeto Pixinguinha na UFMT, em Cuiabá.














sexta-feira, 29 de julho de 2022

O VENDEDOR DE PIPOCAS DA UNIVERSIDADE


Um professor de sociologia da nossa universidade federal há 29 anos tem o hábito de comprar no campus pipoca com cheiro de bacon, que diz ser irresistível.


Conversando com o dono da carrocinha ficou sabendo que ele se chamava Vicente e desde os primórdios da instituição, mantém ali, a sua carroça para vender pipoca.


O professor perguntou se ele me conhecia.


Respondeu que sim, e que eu fui um verdadeiro pai para ele.


Certa ocasião o prefeito do campus o proibiu de vender pipocas, expulsando-o do seu local de trabalho.


Ele apelou para o meu irmão Pedrinho, seu freguês e amigo, para falar comigo para resolver a sua situação.


Sua permanência até hoje ele debita a esse fato.


O Pedrinho, seu amigo, era muito querido por todos na universidade.


Era economista, professor de estatística, escritor, contador de “causos”, caricaturista, desenhista, espírita e muito humanitário e solidário.


Faleceu de causa natural, aos 80 anos no Rio de Janeiro.


Vicente de Souza Santos, baiano de Nova Canaã, veio para Goiás, depois para Rondonópolis.


Solteiro, trabalhador braçal em fazendas, chegou em Cuiabá em 1974, na época da enchente do Rio Cuiabá, com 33 anos de idade.


Foi vendedor de bola na rua, pedreiro, limpador de ônibus da Viação Mota.


Seu cunhado lhe arrumou um carrinho de pipoca, e ele passou a vender na rua.


Um guarda da universidade lhe perguntou se ele já tinha vendido na universidade.


Foi então que ele passou a vender pipocas em frente ao Centro de Ciências Sociais, cuja coordenadora era a professora Luzia Guimarães.


Em 1979 começou a trabalhar na limpeza da UFMT, depois transferido para o Zoológico por solicitação do seu diretor, o mateiro Raul José Vieira.


Funcionário de dia, pipoqueiro à noite.


Trabalhou 31 anos na universidade como servidor, mas nunca parou de vender pipoca.


Aposentou-se aos 70 anos, mas a pipoca continua na sua vida.


Casado há 50 anos com uma goiana, teve um casal de filhos.


O rapaz foi assassinado por causa de drogas e tem 2 netos.


Diz não se esquecer de mim, posou para uma foto com o professor André Lacerda, seu antigo freguês e admirador.


Está um velhinho elegante, magro, discreto sorriso, e a cabeça toda branca, com a sua inseparável carroça de pipoca.


O professor André Lacerda, sorridente, o entrevistou, fotografou e tem por hábito conversar com pessoas humildes, que muitas vezes nos surpreendem.


Nos dão verdadeiras lições de vida, especialmente da tão falada e escrita gratidão, mérito para poucos, meu amigo Vicente.


Mesmo aposentado continua o seu Vicente contribuindo com a comunidade acadêmica.


Receba a gratidão e reconhecimento de serviços prestados do reitor fundador.


Gabriel Novis Neves

20-06-2022





quinta-feira, 28 de julho de 2022

PROFESSOR SEDUZIDO PELAS BELEZAS DE UTIARITI


O professor Danilo Perestrelo foi meu professor de medicina, na disciplina de clínica médica. Lecionava medicina psicossomática, uma novidade no Brasil.


Ele foi considerado o “pai da medicina psicossomática” no Brasil.


Autor de livros sobre como tratar de humanos.


Muito famoso, lecionava essa nova disciplina na UFRJ, atendia a um consultório muito frequentado e viajava pelo Brasil e exterior proferindo palestras.


Certa ocasião, em companhia da sua mulher, que era psicanalista e professora, foram me visitar na sala de partos, número dois da UFMT (Gabinete do Reitor).


Estavam fazendo uma visita ao Pantanal e à Chapada dos Guimarães.


Sabedor que um ex-aluno seu estava implantando uma universidade federal, se animou para uma conversa.


O casal de professores, estava encantado com tudo que viram de belo nos lugares onde foram levados, inclusive com a nossa culinária.


Trocamos ideias sobre a implantação de uma universidade federal, em uma região tão distante dos centros desenvolvidos.


Essa é a minha missão professor, respondi.


Meus assessores têm que ser “selváticos”, como Noel Nutels, irmãos Vilasboas e os padres jesuítas da selva.


Perguntei se conhecia um hospital indígena, tão diferente daquele que me haviam ensinado na faculdade.


Cheio de redes de cipó e trepadeiras e de algodão.


Muitas vezes o hospital indígena estava lotado com apenas um índio internado.


Nessas nações não se internava apenas o paciente, mas todo o grupo tribal.


O velho professor e sua mulher ficaram curiosos em poder conhecê-lo.


Providenciei os seus transportes, e cedo o aviãozinho da Missão Anchieta, decolou com o casal de pesquisadores psicanalistas, para retornar à tardinha.


No outro dia voltaram à sala de partos (Gabinete da Reitoria) para se despedirem, agradecer o passeio e comentá- lo.


Disse-me Perestrelo, do seu “deslumbramento” com a Chapada do “Véu da Noiva” e a beleza da natureza do pantanal.


Nada porém comparável ao respeito humano dos povos primitivos.


O cuidado para o tratamento humanizado que encontrou no hospital indígena, era desconhecido para ele.


A beleza das águas da cachoeira do Utiariti o fez, com a sua mulher, deixarem as suas roupas para mergulharem nelas!


Voltou para o Rio disposto a introduzir novas técnicas ao tratamento psicossomático.


Aprendeu muito na sua visita à selva.


Gabriel Novis Neves

25-02-2022


Professor Danilo Perestrello

Cachoeira de Utiariti


O Grupo de Utiariti

Índio da região

Enfermaria com rede para acompanhante

Enfermaria para Covid









quarta-feira, 27 de julho de 2022

CONSULTÓRIO TERAPÊUTICO


Cuiabá possuiu nos anos 90, um consultório médico e também de “terapia visual”, para gestantes.


O Ministério da Saúde, cientificado da sua existência, esteve aqui e o fotografou.


A idéia seria reproduzi-lo nos consultórios do PSF.


Não deu em nada, como sempre, pois o “custo era baixíssimo”.


Esse projeto foi pensado para fornecer ao máximo, informações visuais as gestantes que iam fazer o Pré Natal.


A coordenação geral foi do Fernando Pace.


Reuniu fotógrafos, artistas plásticos, ceramistas, artesãos, índios e madeireiros.


A gestante, geralmente muito jovem, visitava pela 1ª vez uma temida consulta com um médico do sexo masculino.


Logo ao entrar à sala de consulta via, em tamanho normal, uma foto em preto e branco de uma jovem mulher na janela de um prédio colonial.


Ela, com os cabelos negros a lhe cobrir parte do rosto.


Vestia uma bela e transparente camisola branca.


Ao defrontar com esse quadro que tomava toda a parede frontal da sala de consultas, ainda extasiada pela surpresa exclamava: como é linda!


Eu apenas respondia: e ela está gravida!


Naquele momento desfazia para a jovem gestante o conceito errôneo que apreendera que gravidez é sinônimo de ficar feia.


Acima de uma velha porta de igreja transformada em mesa, uma negra e índia em escultura de barro e, na parede, um quadro de mulher branca amamentando seu filho, mostrava que em todas as raças amamentar era importante.


Os índios xavantes me deram uma coleção de cerâmica, mostrando as mais variadas posições de parir.


De qualquer jeito, na hora do nascimento a criança nasce.


A gestante ficava ao final do pré-natal de no mínimo 8 consultas, totalmente dependente emocionalmente do seu prenatalista.


Angustiada queria saber, quando em trabalho de parto, onde me encontraria.


Nas minhas costas, bem acima da minha cabeça, pregada à parede uma escultura em gás neon de uma mulher grávida.


O significado era que eu só pensava nela.


No momento que precisasse de mim, me encontraria com facilidade.


Finalmente, queria saber o valor dos meus honorários médicos.


À minha esquerda na parede, um quadro de um artista plástico mostrava um centro obstétrico transformado em verdadeiro açougue de criaturas humanas.


Um terror. Assim era como o artista via o atendimento público.


Sem dignidade e respeito humano.


E o governo “sempre arrecadou com a cobrança de impostos muito dinheiro”.


Eu oferecia um tratamento humanizado, e isso é accessível a todos.


Tranquila ficava em casa aguardando o início do trabalho de parto para se internar e parir o filho comigo.


Hoje esse consultório está em minha casa.


Minhas clientes antigas, por certo terão recordação do consultório de terapia visual, que um dia Cuiabá teve.


Gabriel Novis Neves

25-01-2022











segunda-feira, 25 de julho de 2022

JÁ TIVE


São um advérbio e um verbo que, quando juntos, significam pelo menos uma frustração nesse imenso mundo de perdas que é a vida.


Quantas coisas eu já tive e não as tenho mais, como a inocência das crianças, a curiosidade dos adolescentes, o vigor da maturidade.


As conquistas amorosas que perdemos e muitas nem saudades deixaram. 


O trabalho que nunca faltou e as economias nem sempre guardadas para o futuro.


O ninho cheio pelo casamento, também já tive.


Os amigos que insistem em partir, muitas das vezes prematuramente.


Já tive amigos mais velhos e hoje o velho sou eu.


Já tive fantasias e ilusões, e agora vivo a saudável realidade do presente, quase finito.


Já tive período em que valorizava os bens materiais, chegando agora a necessitar apenas dos bens imateriais como único patrimônio.


O “já” isolado representa o futuro, logo, imediato, urgente, porém em companhia do verbo ter conjugado em tempo passado, representam, no máximo, lembranças.


Relembrando o meu passado é que vejo o quando de verdade contém essa expressão gramatical!


Gosto de pesquisar nos meus arquivos do computador; quantas crônicas, artigos e textos escrevi relatando fatos que já tivemos na nossa história de Mato Groso.


Em 1808 foi criada a faculdade de medicina, em Villa Bela da Santíssima Trindade, que por estar longe do Poder (Salvador), logo veio a morrer de inanição.


Vingou apenas sua irmã gêmea da Bahia, única escola que por muitos anos formava médicos no Brasil.


Essa sensação do já tive escola de medicina, demorou até 1980, quando foi implantada a nossa na UFMT.


Cuiabá já teve um imenso território em 1870, com extensa área de fronteira com a Bolívia e o Paraguai.


Mato Grosso já teve o território do Guaporé (Rondônia) e Mato Grosso do Sul.


Cuiabá já teve o rio Cuiabá, utilizado para a pesca, banho, hidroaviões e navios de pequeno porte.


Cuiabá já teve zoológico, uma universidade preocupada com o meio ambiente e desenvolvimento econômico e social da sua região.


Cuiabá já teve um consultório médico para gestantes, de terapia visual, o único do Brasil.


Cuiabá já teve casas com quintais verdes. 


Uma praça chamada de Jardim, onde todos iam passear, assistir retretas e namorar.


Cuiabá já teve aconchego, onde todos se conheciam e as famílias eram numerosas.


Enquanto o tempo, como um vento leva a vida, a memória traz de volta.


Descobrimos - e tenho certeza - que o tempo não passa para a memória.


O “já tive”, nos mostra em vida o quanto que perdemos; e o pior é que quando a gente morre, surge o já era.


Gabriel Novis Neves

16-07-2022


Jardim Alencastro, na perspectiva da calçada norte do Bar do Bugre 


CIDADE GRANDE E PEQUENA


Nasci em cidade pequena e nunca tive problemas para me comunicar.


Bastava sair de casa para encontrar quem desejava, não precisando de telefone que era preso na parede, ou de transporte coletivo só quando essa pessoa morava no Porto.


Morei no Rio de Janeiro, cidade grande no início da metade do século passado.


Todo mundo tinha uma pequenina caderneta com endereços e telefones residenciais.


Quando em dificuldade, o catálogo telefônico resolvia a situação, onde contávamos com os residenciais e comerciais, que eram atualizados todos os anos.


E as pessoas atendiam aos chamados.


Quando retornei à Cuiabá, minha mulher que era argentina carioca, tinha uma cadernetinha de endereços para uso na bolsa e uma agenda preta bem maior com espiral, onde por ordem alfabética anotava os endereços para uso cotidiano.


Até que apareceram os telefones móveis, chamados de celulares, e os contatos foram colocados no celular, aposentando as cadernetas de anotações de endereços.


As comunicações ficaram tão simplificadas neste século XXI, que até consultas médicas se fazem à distância.


Quero falar com um médico meu primo, cinco anos mais novo que eu, e não consigo.


Depois de muito insistir com amigos, consegui à noite realizar o meu desejo, é fui compensado com juros e correção monetária emocional.


Conversamos pelo celular por cerca de quarenta e cinco minutos.


Não nos víamos há mais de cinquenta anos, embora estivesse ido inúmeras vezes ao Rio, sempre com muita pressa e a agenda apertada para esses devaneios.


Depois que retornei à Cuiabá, emendei uma tarefa na outra sempre mais difícil, até a minha aposentadoria há seis anos.


Toda a minha carreira de médico e homem público foi realizada aqui.


Ele que é carioca, exerceu a medicina no Rio, onde conquistou todos os títulos universitários, aprimorando seus conhecimentos acadêmicos e culturais nos Estados Unidos e Europa.


Sérgio Novis, neurologista, foi meu calouro quando bolsista no Hospital e Pronto Socorro Municipal Souza Aguiar, equipe Cata Preta, do Rio de Janeiro.


Quando chegou, vivia colado às minhas saias, como dizem as mães cuiabanas aos seus filhos menores.


Depois, cresceu, adquiriu asas próprias e voou tão alto que me perdeu de vista.


Possui todos os títulos universitários de Neurologia da UFRJ, de Prof. Titular a de Prof. Emérito.


É membro da Academia Brasileira de Medicina.


O motivo da conversa, era literatura.


Eu acabara de publicar uma crônica sobre os médicos Novis de Cuiabá já em sua sexta geração, caminhando para a sétima daqui há três anos.


Não tinha informações para fazer o mesmo, com os Novis médicos da Bahia, cuja origem é de um cuiabano que como outros, foi estudar lá, casou-se e constituiu novo ramo da família Novis.


O patriarca dos Novis do Brasil, foi o Dr. Augusto Novis, baiano, o responsável por perpetuar a família, filho de um francês com baiana.


Após ter se formado em medicina, foi para à Marinha Imperial, sendo designado para servir em Cuiabá à época da Guerra do Paraguai.


Aqui se casou com uma cuiabana, e teve inúmeros filhos.


Dois dos seus filhos foram estudar medicina em Salvador, Alberto (meu avô) e Aristides (meu tio).


Aristides Novis médico, se casou por lá e constituiu família, tendo três filhos médicos: Aristides, Jorge e Aloysio Novis.


O Jorge e Aristides Filho, ficaram com o pai em Salvador exercendo com brilhantismo a carreira de médio e professor universitário.


Aloysio queria se especializar em otorrino, e foi aconselhado à ir ao Rio de Janeiro.


Ficou no Rio, onde foi professor titular da UFRJ e médico até se aposentar.


Seu filho Sérgio, carioca, concluiu a medicina, mora no Rio, é professor doutor em neurologia.


Sérgio Novis tem um filho e neto neurologistas, exercendo a profissão no Rio de Janeiro.


Compensou a luta por este resgate perdido dos Novis da Bahia, pois conheci o Jorge, Aloysio Novis e o meu querido Sérgio Novis.


O ramo baiano e o cuiabano, estão na sexta geração de médicos com a mesma genética.


Gabriel Novis Neves 

20-07-2022


Familia Aristides Novis
Seus filhos, 3 médicos:
Aristides Novis Filho
Aloysio Novis
Jorge Novis


Aloysio Novis


Equipe Cata Preta


Sérgio Augusto Novis



Sergio Novis, filho, neto e nora, neurologistas